Ribeirão Preto (SP) a Paraty (RJ) Julho 2018.
RIBEIRÃO PRETO (SP) A PARATY (RJ) JULHO 2018 | |||||
DATAS | TRECHOS | KM/DIA | TOTAL/DIA | ACUMULADOS | |
30/jun | R. Preto (SP) a Sertãozinho (SP) | 20 km | 20 km | 20 km | |
01/jul | Sertãozinho (SP) a Dumont (SP) | 14 km | 111 km | 131 km | |
Dumont (SP) a São Simão (SP) | 97 km | ||||
02/jul | São Simão (SP) a Santa Rosa do Viterbo (SP) | 20 km | 125 km | 256 km | |
Santa Rosa do Viterbo (SP) a Tambaú (SP) | 35 km | ||||
Tambaú (SP) a Casa Branca (SP) | 38 km | ||||
Casa Branca (SP) a Vargem Grande do Sul (SP) | 32 km | ||||
03/jul | V. G do Sul (SP) a São Roque da Fartura (SP) | 21 km | 84 km | 340 km | |
S. R. da Fartura (SP) à Divisa SP/MG | 9 km | ||||
Divisa SP/MG a Andradas (MG) | 54 km | ||||
04/jul | Andradas (MG) a S. José da Cachoeira (MG) | 10 km | 73 km | 413 km | |
São José da Cachoeira (MG) à Vila Albertina (MG) | 11 km | ||||
V. Albertina (MG) a Jacutinga (MG) | 14 km | ||||
Jacutinga (MG) a Ouro Fino (MG) | 30 km | ||||
Ouro Fino (MG) a Inconfidentes (MG) | 8 km | ||||
05/jul | Inconfidentes (MG) a Borda da Mata (MG) | 24 km | 105 km | 518 km | |
Borda da Mata (MG) a Pouso Alegre (MG) | 28 km | ||||
Pouso Alegre (MG) a Estiva (MG) | 33 km | ||||
Estiva (MG) a Cambuí (MG) | 20 km | ||||
06/jul | Cambuí (MG) a Santo Antº do Pinhal (SP) | 83 km | 83 km | 601 km | |
07/jul | Santo Antº do Pinhal (SP) a Aparecida (SP) | 61 km | 61 km | 662 km | |
08/jul | Aparecida (SP) a São Luis do Paraitinga (SP) | 83 km | 83 km | 745 km | |
09/jul | São Luis do Paraitinga (SP) a Ubatuba (SP) | 61 km | 61 km | 806 km | |
10/jul | Ubatuba (SP) a Paraty (RJ) | 70 km | 70 km | 876 km | |
TOTAL | 876 km | 876 km |
A viagem começou em Brasília (DF),
distante 700 quilômetros de Sertãozinho (SP), ponto de partida da aventura.
Embarquei no Real Expresso das 22h 30 para Ribeirão Preto (SP) e desembarquei no Terminal Rodoviário Multimodal da Califórnia Brasileira às 9h do dia seguinte. Desembalei a bike e pedalei por parcos 20 quilômetros até Sertãozinho (SP), hospedando-me no Hotel Agapito, na área central. O restante do dia foi dedicado a descansar da viagem.
Pedalei pelo Caminho da Fé por quatro edições,
entre 2008 e 2017, sendo, na época, fiel ao trajeto. Desta feita,
diferentemente das anteriores, decidi percorrer os arredores do Caminho da Fé,
atravessando várias localidades - até então - desconhecidas para
mim, possibilitando-me a oportunidade de conhecer, por
exemplo, Vila Albertina (MG) e Jacutinga (MG), núcleos humanos
adjacentes ao Circuito, mas que não pertencem ao tramo principal do Caminho da
Fé.
1º dia | Sertãozinho (SP) a Dumont (SP) | 14 km | 111 km |
01/07/2018 | Dumont (SP) a São Simão (SP) | 97 km |
Às 8h iniciei a jornada decidido a percorrer o primeiro trecho - Sertãozinho (SP) a Dumont (SP) - pelo Caminho da Fé. Foram 14 quilômetros transpassando canaviais a perder de vista, pedalando em leito natural e sob céu de inverno nos trópicos.
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Foto: Fernando Mendes. |
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Foto: Fernando Mendes. Trecho bastante monótono e com altimetria predominantemente plana. Sem
maiores dificuldades, cheguei à pequena Dumont (SP) - 9.708 habitantes.
IBGE 2018.
Eram 10h. A
origem do Município de Dumont é creditada ao pai de Alberto Santos
Dumont 1 - 2, que não é o inventor do avião, muito
menos do relógio de pulso, duas construções mitológicas que, infelizmente,
muitos têm como verídicas. Em
1879, Henrique Dumont (1832 – 1892), adquiriu a Fazenda Arindeuva, na
região de Ribeirão Preto. O desenvolvimento da propriedade, que passou a se
denominar "Fazenda Dumont", levou ao desdobramento dos cafezais e à
implantação de unidades a serviços de apoio, entre eles a construção de uma estrada
de ferro com 30 quilômetros, para escoamento da produção cafeeira. Promoveu,
ainda, o incentivo à introdução de imigrantes europeus em substituição ao
trabalho escravo. Motivado
por uma hemiplagia, 3 Henrique Dumont vendeu a
propriedade à Companhia Melhoramentos do Brasil, mantida por pouco tempo em seu
poder, transferido-a, em 1894, à companhia inglesa “Dumont Coffes Company”. Em
1942, retalhou-a em lotes vendidos a particulares. Disponível
em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/saopaulo/dumot.pdf
Acesso:
31/07/2018. 1 Existem ao menos documentos provando que os irmãos
Wright construíram aviões muito antes de Santos Dumont. [...] A distância do
principal voo do 14 – Bis foi 180 vezes menor que a do voo
mais longo dos Wright em 1905. Um ano antes de Santos Dumont criar o 14
– Bis, os irmão americanos voaram cerca de cinquenta vezes, percorrendo uma
distância de 39,5 quilômetros de uma só vez. [...] Em silêncio e secretamente
Santos Dumont deve ter percebido a verdade dolorosa: o 14 – Bis não
voava. No máximo, dava uns pulinhos. Guia Politicamente Incorreto da
História do Brasil / Leandro Narloch, São Paulo: Leya, 2011, pp 251 e 255. 2 O Brasileiro certamente contribuiu para o relógio de pulso voltar à moda, mas a invenção do aparelho é de muito antes. Relógios assim eram comuns desde os tempos de Shakespeare – a rainha Elizabeth I (1533 – 1603) tinha um. Em 1868, a empresa Patewk Philippe reinventou a peça, que também foi usada por militares nos campos de batalha do século XIX, como na Guerra Franco – Prussiana. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil / Leandro Narloch, São Paulo: Leya, 2011, p.252. 3 (Hemi- metade, - plegia paralisia) é a paralisia de metade sagital (esquerda ou direita) do corpo. Disponível em:< https://www.tuasaude.com/hemiplegia-um-tipo-de-paralisia-cerebral/>. Acesso: 31/10/2018. À exceção da Locomotiva Baldwin e, igualmente, à Paróquia Imaculada Conceição, fundada em 1968, não existem outras
atrações turísticas em Dumont (SP). "À noite, a pequena e pacata Dumont
(SP) deve ficar morta para o mundo", pensei enquanto pedalava rumo à
saída da cidade. Foto disponível em:<http://www.arquidioceserp.org.br/paroquias?id=828>. Acesso:
31/07/2018.
Às 10h 30, depois de ficar meia-hora em
Dumont (SP), deixei o leito do Caminho da Fé, ingressei na Rodovia SP -
291 e rumei para Pradópolis (SP) - 21.110
habitantes. IBGE 2018 - 15 quilômetros adiante. Asfalto e
acostamento excelentes e, para não fugir à regra, a paisagem é completamente
dominada por canaviais. Pedalava na direção sul, em longa reta cujo final
parecia terminar nas nuvens.
No trevo de acesso a Pradópolis (SP),
contornei-o em 90º, entrei na SP- 253 e a direção geral mudou para
leste. Os canaviais continuaram a predominar. Foram 22 quilômetros até atingir
outro trevo, desta feita, de acesso a Luis Antônio (SP).
Outro giro de 90º, ingresso na SP -
255 e mudança de rumo. Pedalava agora para o norte, por 16 quilômetros, mais canaviais
e outro trevo, giro de 90º e pedal pela SP - 328, Rodovia José Fregonesi que,
por 12 quilômetros no rumo leste, me conduziu a Cravinhos (SP) - 34.998 habitantes. IBGE 2018, que faz parte da Região Metropolitana de
Ribeirão Preto (RMRP).
O topônimo [Cravinhos] deriva da abundância de cravinas, ou seja,
pequenos cravos encontrados na fazenda Cravinhos, adquirida, em
1876, pelos irmãos Querino por ser uma região profícua ao plantio do café.
Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/saopaulo/cravinhos.pdf>.
Acesso: 31/10/2018.
Na travessia da área urbana para
atingir a Rodovia Anhanguera (SP - 330), passei pela Estação Ferroviária de
Cravinhos (SP), inaugurada em 23/11/1883 e fechada em 1º/05/1964. Encontra-se
em bom estado de conservação. Em 2015, passou a abrigar órgãos da
Prefeitura local. A estação de Cravinhos foi inaugurada finalmente
em 1883. "Naquela época, o povoado contava com várias casas
aglomeradas ao longo de uma estrada, a atual rua do Bonfim" (Folha da Manhã, 20/7/1958). "A estação (em 1883)
resumia-se a um pequeno e acanhado prédio, com compartimentos bastante
singelos, necessários aos serviços mais urgentes da Estrada" (F. Gomes, 1922). "Todo o material de construcção
foi fornecido gratuitamente pelos irmãos Dr. Luiz e Miguel Barreto, importantes
fazendeiros daquella localidade, tornando-se assim dignos de todo o
elogio" (Relatório da Mogiana, 1883). Citações disponíveis em:<https://www.estacoesferroviarias.com.br/c/cravinhos.htm>. Acesso:
31/10/2018.
Cravinhos fazia parte da Linha Tronco da Estrada de Ferro Mogiana que, entre 1883 e 1964,
ligava Campinas (SP) a Araguari (MG), passando por Mogi Mirim (SP), Mogi
Guaçu (SP), Cravinhos (SP), Ribeirão Preto (SP), Uberaba
(MG) e Uberlândia (MG). Disponível em:<http://www.estacoesferroviarias.com.br/mmg/mmg.htm>. Acesso: 31/10/2018.
Às
15h 10 entrei na Rodovia Anhanguera (SP -330), com acostamento de 3,0 metros de
largura e excelentes condições no piso. Depois de deixar várias estradas de
pista simples para trás, pedalava agora em uma das melhores rodovias do País. A
paisagem dos canaviais continuava a predominar. Apesar do colosso dessa
estrada, o pedal no trecho da Anhanguera foi de apenas 15 quilômetros. Rodovia Anhanguera (SP - 330). Foto: Fernando Mendes. Rodovia Anhanguera (SP - 330). Foto: Fernando Mendes. No
quilômetro 276, uma pausa na Parada do Suco. Laranja com acerola. Reposição de
Vitamina C. Eram 16h 10. Faltavam apenas dois quilômetros para o acesso a São
Simão (SP), alcançado às 16h 19. Abandonei
a Via Anhanguera e, pela alça de acesso, entrei na Rodovia SP - 253. Onze
quilômetros à frente, em forte declive, cheguei a São Simão (SP) - 15.257 habitantes. IBGE 2018, fundada
em 28/10/1824. Naquela época, a cidade chegou a contabilizar 30 mil habitantes e foi a
segunda maior do estado de São Paulo. Entre 1918 e 1919,
São Simão (SP) sofreu devido ao que se chamou de os "três gês"4. Foram três
catástrofes que abalaram a cidade.
4 Gripe
Espanhola, Geada e Gafanhotos. Disponível em: <MASSARO, Paulo Ferrari. Epopeia
de um povo (historia da cidade de Sao Simao). Sao Paulo, 1963.>.
Acesso: 31/10/2018.
Hospedei-me
no Hotel São Simão. Boa estada, silêncio e descanso garantido.
Despertei às 7h. Às 8h estava "explorando" a Igreja Matriz de
São Simão Apóstolo, fundada em 1884, de acordo com sítio: https://arquidioceserp.org.br/paroquias?id=902.
No
entanto, outra fonte - https://pt.wikipedia.org/ -, cite
1892 como o ano da inauguração. O relógio da torre foi instalado em 1954. Igreja Matriz de São Simão Apóstolo. Foto: Fernando Mendes. Igreja Matriz de São Simão Apóstolo.Foto: Fernando Mendes. Antes de partir, parada
providencial no Café São Simão. Saboreei delicioso expresso. Às 9h estava no
acesso à Rodovia SP - 253 e começava o pedal rumo a Santa Rosa de Viterbo (SP),
21 quilômetros à frente, em longa reta na qual subidas e descidas se intervalam
civilizadamente. Foto: Fernando Mendes. Às 10h estava na Rotatória João Gentil, que dá acesso a Santa
Rosa de Viterbo (SP) - 26.322 habitantes. IBGE 2018 -, cidade cujo nome foi
"importado" da Itália 5. HISTÓRIA DE SANTA ROSA ENVOLVE IMPERADOR E PAPA. Na Itália, no século XIII, Viterbo era a mais forte
cidade dos Estados Pontifícios, no caminho de Roma. Situada na região da Lazio,
Viterbo guarda o corpo do Papa Adriano, considerado o primeiro Papa após o
apóstolo Pedro. Naquela cidade [Lazio], aconteceu uma das mais
belas histórias de religiosidade: o nascimento e morte de Rosa, a menina
missionária que se tornou Santa e venerada com ardor até os dias de hoje em
Viterbo [Estado de São Paulo] e emprestou seu nome à cidade. A
canonização de Rosa nunca chegou a termo, dentro dos trâmites exigidos. Mesmo assim, foi integrada ao Martirológio
Romano e confirmada por sucessivos pontífices em diversos documentos. As matérias foram publicadas em 1982 pelo Jornal
Santa Rosa Notícias. A luta contra um Imperador tirano, os milagres, o exílio,
a expulsão de Rosa de sua cidade e o seu retorno triunfante são fatos daquela
época medieval. 5 Disponível em:<
http://santarosa.sp.gov.br/pagina/1_Historia-da-cidade.html>.Acesso:
31/10/2018.
O
ponto alto da cidade é a Igreja Matriz de Santa Rosa, fundada em 1909. Eram 11h 30 quando parei na Pastelaria Pequim. Resolvi degustar dois
pastéis para garantir nenhum sinal de fome até o almoço. Faltava meia-hora para
o início do jogo Brasil x México, pelas Oitavas de Finais da XXI Copa do Mundo
de Futebol. Como esse tipo de evento [há tempos] não me seduz, saboreei
tranquilamente os víveres do estabelecimento, enquanto testemunhava o frenesi
no trânsito. Todos com pressa de chegar às suas casas - "patriotismo"
à flor da pele - para ver os "heróis nacionais" em busca de uma
vitória para a alegria da Nação, na qual 50% dos habitantes não têm acesso a
saneamento básico, ou seja, condições
dignas de saúde pública relacionadas à água potável e ao tratamento de esgotos domésticos. A maioria dos torcedores patriotas sequer sabe cantar [e interpretar] o
Hino Nacional, bem como desconhecem os autores de letra e música da ode.
Lamentável. Parti rumo a Tambaú (SP), 40 quilômetros à frente, pontualmente às 12h,
quando a bola começou a rolar na Cosmo Arena, em Samara, a sexta maior cidade da
Federação Russa. Contornei a Rotatória João Gentil em 90º e rumei, pela Rodovia Padre
Donizetti, a SP – 332, na direção sul. Estrada vazia. Imperei absoluto. Somente
duas coisas param o Brasil: jogos pela Copa do Mundo e greve dos
caminhoneiros. Em maio deste ano [2018], durante a greve dos profissionais no
transporte de cargas, pedalei, em
quatro dias, de Brasília (DF), onde moro,
até Patos de Minas (MG). Foram 425 quilômetros e nem tchum de veículos
nas rodovias pelas quais transitei com minha bike. Eventualmente passava um
carro ou ônibus. Uma paisagem improvável num país de alma rodoviária. O que
parecia impossível aconteceu. A peleja contra os mexicanos durou duas horas, o mesmo tempo gasto para
percorrer o trajeto Santa Rosa de Viterbo (SP) a Tambaú (SP), - 23.182 habitantes. IBGE 2018 - a terra do Padre
Donizetti 6, um Padre Cícero local. Padre Donizetti Tavares de Lima, nascido na cidade
mineira de Cássia, no dia 3 de janeiro de 1882, teve um grande sonho: construir
uma igreja que homenageasse Nossa Senhora Aparecida, sua santa de devoção.
Porém não conseguiu realizar essa inspiração em vida. Após sua morte, em 16 de junho de 1961, uma
comissão presidida por Manoel Meirelles Alves deu início às providências para a
construção da igreja. O término foi em 1966. A beatificação do Padre Donizetti
ocorreu em Tambaú (SP), no dia 23
de novembro de 2019, e foi presidida pelo prefeito
da Congregação da Causa dos Santos e representantes do
Papa, Angelo Becciu.
6 Disponível
em:<http://www.padredonizettitambau.com/artigo/historia-do-santuario.html.
Acesso: 31/10/2018. No acesso à área central, quase atropelei um "herói patriota",
que se jogou à minha frente aos gritos de: "Brasil, Brasil, Brasil".
Fiz uma manobra brusca e evitei atropelá-lo e, por extensão, me esborrachar no
chão. Patriota sem noção. O trecho entre Santa Rosa de Viterbo (SP) e Tambaú (SP), pedalado em
duas horas, abriu-me o apetite. Fui ao Restaurante Vô Tarzan, anexo à Pousada
Tarzan, credenciada do Caminho da Fé e ponto de carimbo do passaporte. Bati um
almoço delicioso, servido em bandejas compartimentadas em baixo
relevo, iguais àquelas que fiz refeições nos tempos de serviço militar em
Brasília (DF).
Após o repasto, fui à Igreja Matriz de Nossa Senhora de Aparecida, “é muito feia”, na minha modesta opinião. Igreja Matriz de Nossa Senhora de Aparecida. Foto: Fernando Mendes. Igreja Matriz de Nossa Senhora de Aparecida. Foto: Fernando Mendes. Era hora de partir da cidade,
fundada em 1886 e atualmente a maior produtora de telhas do País. "As
várias chaminés que enchem o horizonte de Tambaú (SP) pertencem a uma centena
de olarias e outras pequenas fábricas que lembram o passado remoto de Rio das
Conchas, sua tradução em tupi, que vivia da exploração de cana-de-açúcar",
anotou Ferreira, Antonio Olinto - Guia Caminho
da Fé: para ciclistas e caminhantes/ Antonio Olinto e Rafaela Asprino - 4ª
edição - São Paulo, 2014, p.53. "Tambaú" é proveniente
do termo da língua geral meridional tambá'y, que significa
"rio das conchas" (tambá, concha
bivalve e 'y, rio).7
7 NAVARRO, E. A. Dicionário de Tupi Antigoː a
Língua Indígena Clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 599. Bem alimentado e com boas fotos de Tambaú (SP), segui pela Rodovia SP - 332 na proa de Casa Branca (SP), 32 quilômetros à frente, permanecendo na direção sul até o entroncamento com a SP - 215, em Santa Cruz das Palmeiras (SP) - 33.795 habitantes. IBGE 2018 -, onde a direção mudou para leste e o Sol ficou às minhas costas, maçaricando o pescoço e orelhas. Pit stop para renovar o protetor solar. Às
16h cheguei ao acesso a Casa Branca (SP) - 30.327 habitantes. IBGE 2018 -, o
vilarejo que se originou ao redor de uma casa branca que era utilizada pelos
bandeirantes como pousada no século XVII. Foi ponto de apoio àqueles que
viajavam às antigas minas de ouro em Goiás. Chegada a Casa Branca (SP). Foto: Fernando Mendes. Faltava pouco mais de uma
hora para o pôr do sol. Era preciso aproveitar a luz natural. Atravessei boa
parte da cidade, subi a Avenida Desterro, no bairro de mesmo nome e cheguei à
Igreja Nossa Senhora do Desterro, com seu inconfundível "mosaico mostrando
a difícil peregrinação de José e Maria fugindo da fúria doentia de Herodes
(...) tentando proteger a vida de Jesus ainda bebê", anotou, Ferreira, Antonio
Olinto - Guia Caminho da Fé: para ciclistas e caminhantes/ Antonio Olinto e
Rafaela Asprino - 4ª edição - São Paulo, 2014, p.55. Igreja Nossa Senhora do Desterro. Foto: Fernando Mendes. Após fotos da igreja, fui à parte posterior do templo e flagrei o pôr do sol, que deixou o céu rosa perolado. Impossível ficar indiferente a esse espetáculo grátis e diário. Pôr do Sol em Casa Branca (SP). Fotos: Fernando Mendes. Bati em retirada para Vargem Grande do Sul (SP), 24 quilômetros
adiante, pedalando sob céu com tons que variavam do alaranjado a muitas
outras cores, como as penas de um pavão. Coloquei o colete refletivo, fixei dois faróis no guidão e acionei as
luzes piscantes do capacete e canote do banco. Parecia a nave que veio resgatar
o E.T, aquele extraterrestre simpático, criado pelo Steven Spielberg e exibido nos cinemas a partir de 1982.
Pedalando na direção leste, os restos das cores do entardecer ficaram
atrás de mim, enquanto pedalava pela Rodovia SP - 125, a caminho de Vargem
Grande do Sul (SP) - 42.573
habitantes - IBGE 2018. Entardecer visto da SP - 125. Foto: Fernando Mendes. Avistada
ao fundo da paisagem, nos contrafortes 8 da Serra da Mantiqueira, as luzes
da cidade brilhavam, mesmo que de forma oscilante,
intermitente, bruxuleante.
8 Ramificações laterais, normalmente
localizadas no lado oposto àquele onde se encontra a porção mais íngreme de
uma cadeia de montanhas. FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da
Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 466. Pouco antes das 20h, abandonei a SP - 125 pegando um acesso à pista
lateral. Passei sob o viaduto no qual a estrada segue para São João da Boa
Vista (SP) e ingressei na Avenida Antonio Bolonha, que me levou ao Príncipe
Palace Hotel, anexo ao Posto Vargengrandense. Mesmo localizado dentro de um posto de combustíveis, os quartos ficam
virados para o lado oposto das áreas de
abastecimento. Silêncio garantido. Quarto e banheiro amplos, cama
espaçosa, ar condicionado, TV plana, wi-fi free, café da manhã top
e atendimento cordial. Recomendo. Embora a galera que pedala/caminha pelo Caminho da Fé tenha preferência
em hospedar-se na Pousada da D. Cidinha - 10 quilômetros à frente de
Vargem Grande - em caso de cansaço ou caída da noite, o Príncipe Palace Hotel é
uma ótima opção de estada. Fica a dica.
Jantei no Wanda Restaurante e Marmitaria. Refeição
deliciosa acompanhada de cerveja gelada e saborosa. Voltei ao
Príncipe Palace e fui para o descanso merecido, após 125 quilômetros desde a
saída de São Simão (SP). Etapa maravilhosa.
Às 9h atravessei o
tumultuado downtown de Vargem Grande pela Rua do Comércio, que
me pareceu ser a principal da área central. A Igreja Matriz de Santana, de
1891, passou à minha esquerda (través oeste). Igreja Matriz de Santana. Foto: Fernando Mendes. Igreja Matriz de Santana. Foto: Fernando Mendes. Segui
pela Rua do Comércio até atingir a SP - 215, que em forte ascensão e visual
incrível da Mantiqueira, é o caminho até São Roque da Fartura (SP), pequeno
distrito de Águas da Prata (SP). SP - 215. Foto: Fernando Mendes. Saí
da cota 733 metros e, por 21 quilômetros, pela SP -215, alcancei 1.332 metros
na chegada a São Roque da Fartura - 1.958 habitantes. IBGE 2010 - às 11h 08. Uma baita subida em
asfalto, que serpenteia as primeiras encostas (ou contrafortes) da Mantiqueira.
Paisagens deslumbrantes. Chegada a São Roque da Fartura (SP). Foto: Fernando Mendes. Parei
no Posto São Roque. Hora do almoço. Durante a refeição tive companhia: uma
maritaca, mascote do estabelecimento. Ao meio-dia continuei a jornada, subindo mais um
pouco. Após seis quilômetros da saída do Posto São Roque, a ascensão, que
estendeu-se por 27 quilômetros desde o ingresso na SP - 215, na saída de Vargem
Grande do Sul (SP), terminou. Estava a 1.540 metros de altitude. À minha volta,
mares de morros menores circundando as partes mais elevadas da Mantiqueira.
Colosso. Cota 1.540 m Foto: Fernando Mendes. Em seguida, uma
alucinante descida, com quatro quilômetros de extensão e sem necessidade de
girar os pedais. Findo o declive, atravessei a divisa São Paulo - Minas
Gerais. Eram 13h 14. Saí na cara do Portal de acesso a Poços de Caldas (MG) - 166.111 habitantes. IBGE 2018. Divisa SP/MG. Foto: Fernando Mendes. Portal de Poços de Caldas (MG). Foto: Fernando Mendes. Começou
a parte mais difícil do dia: pedalar pelo Contorno de Poços de Caldas (MG).
Onze quilômetros atravessando região densamente povoada, farta de moradias
inacabadas à beira da estrada, comércio fervilhando de gente sempre apressada,
trânsito intenso de veículos com os mais variados números de rodas e pedestres
desatentos no acostamento, com os ouvidos ocupados com fones a ouvir música e
alheios ao que acontece. Travessia tensa. Passado
o Bairro Jardim São Sebastião, num átimo, tudo mudou. O frenesi ficou para trás
e voltei a pedalar no sossego. Asfalto recém-aplicado e trechos
predominantemente planos até o acesso à Pousada Pico do Gavião, quando começou
a diversão [maior] do dia: 11 quilômetros em descenso até ingressar no
perímetro urbano de Andradas (MG) - 40.747
habitantes. IBGE 2018. Desci
da cota 1.400 metros à cota 900 metros em 11 quilômetros, com curvas bem
abertas e movimento pequeno de veículos, que me permitiu pedalar fora do
acostamento, no tapete de asfalto recém-inaugurado. Andradas
(MG) apareceu dentro de um enorme buraco. Cheguei ao Palace Hotel, na área
central, às 17h 36, junto com o pôr do sol. Que pedal maravilhoso. Jantei
deliciosa picanha no Restaurante Soberano,
regada a Chopp Ipa, cuja fórmula era utilizada pelos
soldados ingleses nas suas longas viagens marítima até a Índia. Detalhe: com um
toque especial da rapadura. A
noite estava quente, típica dos invernos na Terra
dos Papagaios.9
9 Antes de receber o nome de Brasil, nosso país
teve oito nomes. Em 1501, era chamado de Terra dos Papagaios.
Disponível
em http://www.sohistoria.com.br/curiosidades/nomes/. Acesso:
31/10/2018. Serra da Mantiqueira. Foto: Fernando Mendes.
Antes da partida
para o 4º dia de pedal, fui à Praça, na Rua da Saudade, visitar a Igreja Matriz
de São Sebastião, cuja construção teve
início em 1914 e término em 1941. Sua arquitetura é em estilo neoclássico
de grandes proporções. Igreja Matriz de São Sebastião. Foto: Fernando Mendes. Igreja Matriz de São Sebastião. Foto: Fernando Mendes. O Altar – Mor, de estilo moderno, é ornamentado por uma imagem de Jesus na Cruz e pinturas de cenas do Calvário. Foto: Fernando Mendes. Às 9h 30, seguindo as setas amarelas,
indicativa para ciclistas e caminhantes do Caminho da Fé, deixei Andradas (MG)
em espetacular manhã, com céu limpo e temperatura em agradáveis 23ºC. Por 10 quilômetros e em leito natural, percorri esse trecho do Caminho da Fé até uma bifurcação na qual uma placa mostra a indicação para Albertina (MG) e Jacutinga (MG) à direita. Estava no bairro São José da Cachoeira. À esquerda o caminho verte para Serra dos Limas e Barra, distritos de Ouro Fino (MG). Deixei o Caminho da Fé e prossegui por trajeto predominantemente plano, embora, ao fundo da paisagem, foi possível avistar um morro das arábias para vencer. Quando o terreno inclinou para cima, fartura de pedras soltas e muita areia, ingredientes malignos para ciclistas. Sem outra solução, desembarquei e empurrei. Foi mais seguro. Porém, mesmo que não houvesse pedras e areia e o piso fosse bem compactado, pedalar naquela inclinação e com dois alforjes, pareceu-me muito difícil. A caminho de Albertina (MG). Foto: Fernando Mendes. A caminho de Albertina (MG). Foto: Fernando Mendes. A caminho de Albertina (MG). Foto: Fernando Mendes. A caminho de Albertina (MG). Foto: Fernando Mendes. A caminho de Albertina (MG). Foto: Fernando Mendes. Às 12h 13, depois de descer a vertente do morro que sofri para subir,
pedalava pelo calçamento da pacata Albertina (MG) - 2.913 habitantes. IBGE 2010 - cujo topônimo (nome do
lugar) trás à lembrança a imagem de uma bela mulher. O Território de Albertina foi ocupado
primeiramente por Bento Braganceiro, que estando de passagem pela região para
efetuar marcações nas serras de São Paulo, resolveu fixar-se na localidade. Posteriormente, por causa da existência de terras
férteis, outros imigrantes foram atraídos e ali se fixaram. A
origem do topônimo é devida a uma moça chamada Albertina, de extrema beleza,
residente na zona rural. Quando alguém ia àquela região dizia: “vou ver
Albertina”10.
10 Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/minasgerais/albertina.pdf.
Acesso: 31/10/2018. Lugar de serras e boas nascentes, as lavouras em Albertina (MG) dão preferência à agricultura cafeeira, suporte da economia desse pacato município, localizado na divisa dos Estados de Minas Gerais e São Paulo. A Paróquia Senhor Bom Jesus é o ponto alto da localidade. No mês de agosto é realizada uma festa em seu louvor, tradição de 107 anos. Paróquia Senhor Bom Jesus. Foto: Fernando Mendes. A fome era tamanha e resolvi esse problema no Restaurante e Pizzaria São Benedito. Belo self service. Às 13h 43 e bem alimentado, tomei o rumo de Jacutinga (MG), dez fáceis quilômetros à frente, pela BR - 146, pedalados em asfalto com altimetria plana. Foto: Fernando Mendes. BR - 146. Trecho Albertina (MG) a Jacutinga (MG). Foto: Fernando Mendes. |
Na
saída de Albertina (MG), o acesso à BR 146 é feito em piso sextavado, com
blocos bem encaixados e com aparência nova. Após a ponte sobre o Rio São Paulo,
o sextavado cedeu lugar à cobertura asfáltica e, assim, se manteve até chegar a
Jacutinga (MG) - 25.684 habitantes. IBGE 2018. Eram 14h 15.
Jacutinga (MG) foi fundada em 1835, data
da construção da primeira capela do então povoado chamado "Ribeirão de
Jacutinga". O nome foi assim designado pelas muitas jacutingas que
habitavam a região.
Disponível
em http://www.camarajacutinga.mg.gov.br/index.php?abre=acidade=jacutinga=historia.
Acesso: 31/10/2018.
Os imigrantes italianos se instalaram na
cidade e trouxeram a habilidade de tecer e bordar. Ao final da década de 1960,
um jovem italiano, Antônio Pieroni, trouxe para Jacutinga a primeira máquina
manual de fazer tricô: a Lanofix.
A população abraçou a nova vocação econômica e, durante quase cinquenta anos, conseguiu transformar o município em referência nacional na fabricação de malhas e tricô.
Em consequência, surgiu o turismo de negócios, fomentado pelas compras nas mais de mil pequenas empresas existentes na cidade.
Disponível em:
https://www.web4business.com.br/sites/abertura-de-site-em-jacutinga/. Acesso:
31/10/2018.
A jacutinga, também chamada jacuapeti, jacupará ou peru-do-mato, é uma ave da família dos cracídeos que habitam as florestas virgens das regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Mede algo próximo dos 75 centímetros e alimenta-se de bagas (fruto carnudo). Até as décadas de 1950 e 1960, era relativamente comum nesse habitat. É uma espécie arborícola (que vive em árvores).
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira.
1986. p. 980. Consulta em: 31/10/2018.
Deixei a cidade com nome de ave da
família dos cracídeos às 14h 30 para cumprir 30 quilômetros até Ouro Fino
(MG). Pedalava por subidas longas, porém pouco inclinadas, no asfalto da
Rodovia MG - 290.
Às
16h comecei a contemplar bairros periféricos de Ouro Fino (MG), com casas
simples penduradas nas encostas de morros que abundam na região. Depois de uma
grande curva à direita, avistei, lá embaixo, o Menino da Porteira, monumento de cimento armado com 10 metros de altura e 16 metros de
comprimento e inaugurado pelo Cantor Sérgio Reis, em 1950.
A composição da canção Menino da Porteira é de Luiz Raymundo / Teddy
Vieira de Azevedo e imortalizada na voz do cantor
sertanejo Sérgio Reis.
Parei para fotos.
Passei por ali nas quatro ocasiões que percorri o Caminho da Fé. Quantas vezes
passar por Ouro Fino (MG), esse monumento será registrado em fotos. Impossível
ficar indiferente à estátua de um menino bem caracterizado, com pé no
chão, calça dobrada até a panturrilha, chapéu de palha, a mão estendida e um
sorriso de quem diz: "obrigado boiadeiro, que Deus vá lhe acompanhando",
anotou Ferreira, Antonio
Olinto - Guia Caminho da Fé: para ciclistas e caminhantes/ Antonio Olinto e
Rafaela Asprino - 4ª edição - São Paulo, 2014, p.101.
Não entrei na cidade. O adiantar da hora me fez
seguir para Inconfidência (MG). Eram 16h 30. Os oito quilômetros até
Inconfidência (MG) foram terríveis. O acostamento sumiu e o movimento de
veículos, até então moderado, ficou intenso e frenético. Por várias vezes tive
que parar a bike no mato, descer e deixar uma horda de autos passarem. Sufoco.
Mas cheguei a Inconfidentes (MG) - 7.297
habitantes. IBGE 2018 - em segurança.
Fui ao Bar do Maurão, sujeito boa praça, um ícone do Caminho da Fé. Percorreu [a pé] o trajeto até Aparecida (SP) 25 vezes, sempre na companhia da família. Os pastéis servidos em seu estabelecimento são os melhores da região e a Cerveja Peregrina é de autoria dele. Uma delícia.
Ficaria horas a conversar com Maurão.
Sujeito simpático, carismático, tranquilo, muito educado e recebe com
fraternidade os ciclistas e os peregrinos que percorrem Caminho da Fé.
Portanto, parada em seu estabelecimento é obrigatória. Não apenas pelo carimbo
no passaporte, mas pelo acolhimento e as iguarias servidas.
Hospedei-me na Pousada Martineli. Excelente estada. Os 73 quilômetros do dia acumularam saber, prazer, lugares, até então, desconhecidos e muitas, muitas fotos. Cheguei à metade do caminho. Paraty (RJ) a 463 quilômetros.
5º dia | Inconfidentes (MG) a Borda da Mata (MG) | 24 km | 105 km |
Borda da Mata (MG) a Pouso Alegre (MG) | 28 km | ||
05/07/2018 | Pouso Alegre (MG) a Estiva (MG) | 33 km | |
Estiva (MG) a Cambuí (MG) | 20 km |
A etapa, com três dígitos na
distância, requereu sair cedo de Inconfidentes (MG). E assim, prevalecendo a
disciplina e antes que a coragem me abandonasse, parti às 8h 30. Segui pela
Avenida Alvarenga Peixoto, que intercepta, em ângulo de 90º, a Rodovia MG -
190. Virei à esquerda e pedalei por plácidos 20 quilômetros, com altimetria
plana, até Borda da Mata (MG) - 19.202 habitantes. IBGE 2018 – a capital
nacional do pijama. Cheguei às 9h 30.
Parada
obrigatória no Café Vovó Iza para degustar o primeiro expresso do dia na
companhia de alguns pães de queijo. Depois, fui à área central para fotos da
Basílica Nossa Senhora do Carmo, construída
na década de 1960, em estilo lombardo-romano 11.
11 Lombardo - romano refere-se à arquitetura do reino dos lombardos na Itália setentrional, que durou de 568 a 774 (com permanência residual no sul da Itália até os séculos X e XI) e que foi encomendada por reis e duques lombardos. Marcou a transição da Antiguidade para a Idade Média europeia, com base na herança da Roma Antiga.
Disponível
em: http://whc.unesco.org/en/list/1318. Acesso: 31/10/2018.
Às
10h voltei à Rodovia MG - 290 e pedalei 27 quilômetros num percurso com
altimetria variando subidas e descidas leves, intervaladas por curtas planuras
até Pouso Alegre (MG) - 148.862
habitantes. IBGE 2018 - chegando, ao Restaurante Fernandão, às
12h 05. Parada para o almoço. A fome era grande. Pouso Alegre (MG) é a
antiga Registro do Mandu. 12
12 Uma razão que
concorreu bastante para o rápido povoamento do lugar foi o vau (lugar raso para
travessia) do Rio Mandu existente no local, onde o caminho cruzava com o rio,
que se tornou uma passagem obrigatória, pela qual transitavam os viajantes que
vinham de São Paulo e se dirigiam ao sertão das Gerais, à procura de ouro e
pedras preciosas.
Era um prolongamento do caminho
que vinha de São João del Rei (...) e tornou-se o trajeto mais curto e [único]
entre São Paulo e Vila Rica.
Vários posseiros se fixaram às
margens do Rio Mandu, aumentando o número de moradores do lugar, que recebeu o
nome de Pouso do Mandu.
Crescendo a sua importância, foi
criado no local, pelo governador da Capitania de Minas Gerais, por volta de
1755, um posto fiscal ou Registro, destinado a evitar o desvio
clandestino de ouro das minas de Santana do Sapucaí e Ouro Fino, para São Paulo
e Santos, visando, com isso, cobrar o quinto devido à Coroa Portuguesa.
A presença de um Fiel, acompanhado
de guardas, neste posto, indica que se tratava de um Registro [do Mandu] de grande
movimento e, consequentemente, de um povoado em franca expansão.
Disponível em:
<http://www.tvuai.com.br/pousoalegre/pa153/fundacao2.html>. Acesso:
31/10/2018 (com adaptações).
Rodovia MG - 290. Foto: Fernando Mendes.
O Restaurante
Fernandão fica estrategicamente localizado no entroncamento das Rodovias MG -
290 e da BR - 381, a Rodovia Fernão Dias, homenagem ao bandeirante Fernão Dias
Paes, o caçador de
esmeraldas, "que nunca teve o sobrenome Leme", anotou Lucas
Figueiredo na Obra Boa ventura! A Corrida do Ouro no Brasil, Record -2011, p.
93.
Almoço regado a duas Coca-Colas geladíssimas, com caquinhos de gelo boiando no copo. Refeição deliciosa. Após, como de hábito, café expresso e pernas no pedal. Eram 13h 05. Passei a pedalar pela BR - 381, duplicada, pedagiada e com acostamento largo. A Mantiqueira está presente e é serpenteada pela estrada [BR - 381], considerada a 2ª mais movimentada do País. O 1º lugar é ocupado pela Via Dutra, a rodovia Rio - São Paulo.
Às 14h 52, em Estiva (MG)
- 11.321 habitantes. IBGE 2018 - passei sob a passarela na qual peregrinos
e ciclistas, que fazem o Caminho da Fé, utilizam-na para atravessar a Rodovia
Fernão Dias a caminho da Serra do Caçador.
Faltavam 20 quilômetros para chegar a Cambuí (MG) e encerrar a jornada daquele 5º dia de pedal. Apesar da quilometragem extensa [105 km], às 16h estava fazendo check-in no Hotel do Zé Maria, na área central de Cambuí (MG) - 29.278 habitantes. IBGE 2018. Ainda deu tempo de fotografar o entardecer. Da janela do quarto, vi a luz do dia passar para o azul do crepúsculo [vespertino] e o negro e estrelado da noite.
Após jantar no Restaurante do Zé Maria, anexo ao hotel, caminhei pela praça da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, fundada em 1850.
Foi
um dia de pedal ligeiro e estradas ótimas. Tudo fica mais fácil pelo asfalto.
6º dia |
Cambuí
(MG) a Consolação (MG) |
19 km |
83 km |
06/07/2018 |
Consolação (MG) a Paraisópolis (MG) |
20 km |
|
Paraisópolis (MG) a S. Antonio do Pinhal (SP) |
44 km |
O trecho entre Cambuí (MG) - saída às 9h - e Consolação (MG) - chegada às 11h 13 -, com 19 quilômetros de extensão, foi percorrido em leito natural. Traçado predominantemente plano, com exceção de uma ascensão de 300 metros a poucos quilômetros do perímetro urbano de Consolação (MG) - 1.782 habitantes. IBGE 2018.
Atravessei o pequeno município mineiro, cujo povoamento da região iniciou-se em 1813. Toda extensão é feita sobre pedras em forma de sextavados regulares. Parada para contemplar a Paróquia de Nossa Senhora da Consolação (1857).
O trecho a seguir - Consolação (MG) a
Paraisópois (MG) - com 20 quilômetros, percorridos em asfalto na Rodovia MG -
295, iniciado às 11h 44, foram vencidos placidamente em 1h e meia. Asfalto
muito gasto e altimetria civilizada.
Cheguei a Paraisópolis (MG) - 20.940 habitantes. Censo IBGE 2018 - às 13h 11. Fui à Praça Presidente Vargas - área central - fotografar a Paróquia São José e arredores.
Às 15h, quando a bola começou a
rolar na Arena Kazan, de propriedade do Rubin Kazan, o principal time de
futebol da região, localizado na cidade de Cazã, na Rússia, ingressei na MG - 295, sem
trânsito e sem acostamento.
Um quilômetro à frente da divisa estadual, parei no Restaurante "Do Compadre". Precisava de água. Ao penetrar no estabelecimento, senti o ambiente muito quieto. Enquanto me dirigia ao balcão para comprar água, passei por vários rostos, que variavam de tensos a desesperançosos. Outro 7 a 1? Não pode ser. O raio não cai no mesmo lugar duas vezes. Olhei para o monitor de TV bem acima do caixa quando pagava a conta. 35 minutos de jogo no 1º tempo e a Bélgica ganhava por 2 a 0.
O 1º gol da Bélgica foi contra. Outro vexame dos nossos
"craques"; outra decepção para os torcedores "patriotas".
Quando parei novamente, lá pelas 16h 40, faltando pouco mais de cinco minutos para o encerramento do certame, o placar era Bélgica 2 X 1 Brasil. Pela quarta vez consecutiva, nossos "heróis" caíram diante de uma seleção europeia: França (2006), Holanda (2010), Alemanha (2014) e Bélgica (2018). O hexa ficará (?) para o Catar em 2022.
Por isso que Copa do Mundo deixou de me seduzir faz tempo. No dia do 7 X 1, o maior vexame do Brasil em 22 Copas do Mundo, eu pedalava pela Estrada Real alheio àquilo que alguns ainda insistem em chamar de "futebol moloque", "futebol arte", melhores do mundo" e outras baboseiras.
A Pedra do Baú apareceu esplêndida no través leste.
E continuei a pedalar. A Rodovia passou a ser a SP - 042, com asfalto excelente e acostamento largo e nivelado com a pista de rodagem. Não avistei carros com buzinas estridentes e "envelopados" em bandeiras do Brasil. À medida que a tarde caía o ânimo da galera caiu junto.
Às 17h, cheguei ao
trevo de acesso a Santo Antonio do Pinhal (SP). Naquele ponto, girei 270º numa
rotatória e abandonei a SP - 042 e ingressei na SP - 046. Parada para degustar
delicioso expresso no Empório da Vovó.
O sol havia escorrido para a parte posterior da Mantiqueira, e a noite caía como a Seleção Brasileira acabara de cair.
Em meio ao lusco -
fusco (momento de transição entre o
dia e a noite) pedalei pela SP - 046, com muitas curvas e sem acostamento,
chegando ao Portal de Santo Antonio do Pinhal (SP) - 6.794
habitantes. IBGE 2018 -, às 17h 49.
Desde o início da viagem, havia pedalado 601 quilômetros. Paraty (RJ) a 275 quilômetros.
A cidade fervilhava de gente. Bati numas cinco pousadas sem êxito. Mas encontrei estada na São Benedito. Muito bem decorado e bastante confortável. Fica na área central. Recomendo.
Jantei na Pizzaria Krokodillos, a 300 metros da pousada. A entrada é feita por meio da enorme boca do réptil. Nos dentes, foram adaptadas lâmpadas para iluminação à noite.
7º dia |
Santo Antonio do Pinhal (SP) ao Trevo SP - 132 |
13 km |
61 km |
07/07/2018 |
Trevo SP -
132 a Aparecida (SP) |
48 km |
Santo Antonio do Pinhal (SP) - 6.794 habitantes é uma mini Campos
do Jordão (SP) - 51. 763 habitantes.
Sua área territorial é de 133 mil km2; a vizinha [Campos do Jordão]
tem pouco mais que o dobro: 289 mil km2.
Mesmo estando numa época denominada "alta estação", por conta das baixas temperaturas e do recesso escolar, Santo Antonio do Pinhal (SP) não apresenta a muvuca verificada em Campos do Jordão (SP).
Isso significa restaurantes sem fila de espera, trânsito tranquilo, noites silenciosas e, principalmente, preços [de tudo] mais civilizados. Por essas razões, optei não passar - muito menos pernoitar - em Campos do Jordão (SP).
Num país quase tão quente quanto à Índia, o Egito ou Senegal, Campos do Jordão (SP) tornou-se o destino preferido no inverno para muitos, desejosos em sentir "um friozinho" e justificar a compra daquele casaco de pele em Nova York - que jamais será usado nos invernos dos trópicos.
Em julho de 2008, ocasião na qual percorri o Caminho da Fé pela primeira vez, pernoitei em Campos do Jordão (SP). Senti-me extorquido nos restaurantes e bares. Felizmente existe o Refúgio do Peregrino, que recebe ciclistas e caminhantes e cobra um preço civilizado, além do acolhimento que é especial.
Paróquia Santo Antonio do Pinhal. Foto Fernando Mendes.
A Igreja Matriz de Santo Antônio de Pádua foi construída em
madeira, no ano de 1811. Em 1924 foi iniciada, no mesmo local, a construção do
templo atual, em taipa de pilão.
Disponível em: <https://diocesedetaubate.org.br/santoantoniodopinhal/>.
Acesso: 31/10/2018.
Às 9h 30, comecei a etapa do 8º dia de pedal rumo a Paraty (RJ). Fotografei as igrejas e, pela Avenida Antonio Joaquim de Oliveira, que dá acesso à
Rodovia SP - 046, cheguei à Estação Ferroviária de Eugênio Lefevre.
Estação Eugenio
Lefevre 13 14 é uma estação Ferroviária pertencente à Estrada
de Ferro Campos do Jordão 15 e está localizada na Estância Climática de Santo
Antônio do Pinhal (SP).
13 A estação foi inaugurada em 1916. A linha férrea foi planejada pelos médicos sanitaristas Emílio Ribas e Victor Godinho.
Fonte: Estação Eugenio Lefevre Santo Antônio do Pinhal. Pinhalnet.
Consultado
em 31 de outubro de 2019.
Um ano depois, com problemas financeiros, a ferrovia foi encampada pelo Governo do Estado.
As primeiras locomotivas eram movidas a vapor. Em 1916, foram substituídas pelas movidas a gasolina e pelas elétricas em 1924.
A partir da década de 1980, passou a
ser uma ferrovia apenas de turismo, sendo que o trecho da baixada, até
Piracuama, atende até hoje trens de subúrbio da cidade de Pindamonhangaba.
No trecho da ferrovia localizado na área
urbana de Campos do Jordão (SP), bondes elétricos fazem percursos turísticos.
Pontualmente às 11h, ingressei na
Rodovia SP - 123 e desci a vertente oriental da Mantiqueira num trecho de 7,7
quilômetros, 100% em declive acentuado, com curvas abertas, acostamento muito
bom e movimento intenso de veículos em ambas as direções.
Atravessei o Túnel Floriano Rodrigues Pinheiro - pit stop para fotos - e continuei a descida até alcançar, às 11h 25, o trevo de acesso à Rodovia SP – 132, que dá acesso a Pindamonhangaba (SP), 18 quilômetros à frente.
Três municípios do Vale
do Paraíba, São José dos Campos (SP), Taubaté (SP) e Jacareí (SP), estão entre os
100 que mais concentram riquezas no País.
O PIB (Produto Interno Bruto) das três maiores cidades do Vale do Paraíba cresceu até 45% no período 2012 - 2017, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/pib-das-tres-maiores-cidades-do-vale-cresce-ate-80-em-cinco-anos-diz-ibge.ghtml. Acesso: 31/10/2018.
Na
chegada a Pindamonhangaba (SP), avistei, a 200 metros da estrada, na margem
esquerda do Rio Paraíba do Sul e isolada
no interior de uma propriedade particular, a graciosa Igreja de Santa Rita, construída por volta de 1900 pelo negociante
português Antônio Madureira, com o auxílio de devotos.
Depois de atravessar
a movimentada Pindamonhangaba (SP), parada no Restaurante Três Irmãos para
merecido almoço. Eram 13h. O estômago clamava por víveres.
E por uma longa reta, sentindo o calor
que se desprendia do asfalto, percorri a etapa final em pouco mais de duas
horas, avistando o Santuário Nacional às 15h 06.
Embora não tenha pedalado pelo Caminho da Fé, percorri as áreas adjacentes a ele, obtendo os carimbos nos pontos indicados na planilham. Assim, consegui meu 4º certificado de conclusão da peregrinação sobre duas rodas.
Foto: Fernando Mendes.
O rolezinho pelas dependências do Templo é de lei. Assisti ao final da missa das 15h e hospedei-me na Pousada do Papa. Fervilhava de peregrinos, romeiros e turistas. Havia poucos quartos disponíveis. Precisava de apenas um.
Foto: Fernando Mendes.

Fotos: Fernando Mendes.
Foto: Fernando Mendes.
Quarto no 5º andar, alto bastante para sentir o vento de
fim de tarde que refrescou o calor desde o ingresso no Vale do Paraíba.
Lanchei num estabelecimento do tipo porcalhão, ao lado do hotel. Estava com preguiça de caminhar até a área central e jantar num restaurante. Terminei a noite detonando algumas cervejas numa loja de conveniência anexa ao Posto BR.
Paraty (RJ) a 214 quilômetros.
8º dia |
Aparecida (SP) a Taubaté (SP) |
41 km |
83 km |
08/07/2018 |
Taubaté
(SP) a São Luis do Paraitinga (SP) |
42 km |
O movimento na Dutra, como de hábito, era intenso. Decidi percorrer o trecho de 39 quilômetros entre Aparecida (SP) e Taubaté (SP) sem parar. E assim o fiz em 1 hora e meia. Na saída 111 da Dutra, acessei, pela alça lateral, a Rodovia SP - 125, também conhecida por Rodovia Oswaldo Cruz, que liga Taubaté (SP), no Vale do Paraíba, a Ubatuba (SP), no litoral norte, passando por São Luiz do Paraitinga (SP).
Acostamento razoável e movimento
intenso. Nada de estresse. A Serra do Mar, flanqueada a leste, domina a
paisagem com seus mares de morros arredondados; alguns totalmente carecas e
outros com resquícios de Mata Atlântica.
Após a passagem do trevo de acesso à Rodovia Carvalho Pinto, o movimento da direção contrária ficou bem reduzido. Nas poucas decidas, o acostamento se faz presente; nas subidas, transformou-se em 3ª faixa. Olho no retrovisor o tempo todo.
E pedalando forte nas subidas e deixando a inércia
agir nas descidas, cheguei a São Luiz do Paraitinga (SP) - 10.864 habitantes. IBGE 2018 - às
17h e em segurança.
O Centro Histórico, tombado como Patrimônio Cultural Nacional, encanta quem chega. Casas e sobrados estão bem conservados. Um mosaico de cores bem distribuídas e aquele ar bucólico, que somente as cidades pequenas possuem. Muita gente nas ruas aproveitando o feriado.
O nome
"Paraitinga" é uma referência ao Rio
Paraitinga. "Paraitinga" é originário do tupi
antigo paraitinga, que significa "rio ruim e claro" (pará, "rio grande" + aíb, "ruim" + ting, "branco" + a, sufixo). 16
São Luiz do Paraitinga foi fundada em 1769 por bandeirantes oriundos
de Taubaté, Mogi das Cruzes e Guaratinguetá, sendo
elevada à condição de vila e sede de conselho em 1773.
Tornou-se cidade em 1857 e declarada estância turística no ano de 2002.
Em 1873, recebeu o título de Imperial Cidade, conferido pelo
Imperador D. Pedro II.
Disponível em: http://www.paraitinga.com.br/slparaitinga/A_Cidade/Historico/88/Hist%C3%B3rico%20da%20>.
Acesso em 31 de outubro de 2018.
A Paróquia São Luís de Tolosa é dedicada a Luiz de Tolosa 17, construída no
século XIX, demonstra uma grande importância na vida religiosa da cidade. Ficou
marcada na enchente de janeiro de 2010 que assolou o município, quando desabou
em sua totalidade.
17 Luís de Tolosa foi um príncipe, filho de Maria da Hungria e de Carlos II de Nápoles e bispo da Igreja Católica. Também era conhecido como Louis d'Anjou.
Foi consagrado Bispo de Tolosa pelo Papa Bonifácio VIII em 30 de dezembro de 1296.
Sua canonização foi promovida pelo Papa Clemente V em 1307, e solenizada pelo Papa João XXII em 7 de abril de 1317.
Fonte: Giorgio Serafini, Ludovico patrono
di Serravalle Pistoiese, Pistoia, 1986, p.24
Hospedei-me na Pousada Primavera. Espetáculo de lugar. Jantei na Padaria São Luiz. Estabelecimento maravilhoso com cardápio variadíssimo e comidas deliciosas. Recomendo ambos.
9º dia |
S. Luis do Paraitinga (SP) ao Trevo BR - 101 |
52 km |
61 km |
09/07/2018 |
Trevo BR -
101 a Ubatuba (SP) |
9 km |
Antes de partir no rumo de Ubatuba (SP), 61 quilômetros à frente, parada na Beto´s Cafeteria. Apesar do magnífico dejejum, a Pousada Primavera não tem aquele maquinário moderno, no qual degusta-se deliciosa chávena de café expresso.
Saboreei delicioso Café Cristina, produzido a 1.300 metros de altitude, na Fazenda São Sebastião, nas Terras Altas da Mantiqueira, município de Cristina (MG). 18
Fonte: «História de Cristina - Prefeitura Municipal de Cristina».
Consultado em 31 de outubro de 2018.
Um último rolé pela
praça Dr. Oswaldo Cruz, fotos da igreja e das construções históricas próximas
ao templo.
Às 11h 21,
pedalando pela Via de Acesso Vereador José Pinto de Souza, um
"atalho" que dá acesso à Rodovia SP - 125, cinco quilômetros à frente
do acesso principal à cidade de São Luiz do Paraitinga (SP).
O trecho mais esperado do dia foi a descida de 12 quilômetros da Serra de Ubatuba, ou seja, da vertente oriental da Serra do Mar, com diversas curvas em 180º. O tempo estava nublado e o movimento na estrada era calmo, mas, aos poucos, percebi que, na direção contrária, crescia o trânsito de veículos retornando do litoral. Era o último dia do feriado "esticado".
Às 12h 30 e a poucos metros da ponte sobre o Rio Paraibuna, parei no Posto Ruffos. Almoço de qualidade. Na saída, o dono do estabelecimento alertou-me acerca das condições do tempo: "quando aqui [no Vale do Paraíba] está nublado, é porque a descida da serra será com chuva". É sempre bom dar ouvidos a uma pessoa da terra, que conhece as condições do tempo melhor do que qualquer instituto de meteorologia. Por vias das dúvidas, vesti o casaco para chuva e segui.
Faltavam 13 quilômetros para o início da descida da serra. Percebi a formação de neblina. Excesso de umidade vinda do Atlântico. E começou uma leve garoa que, em poucos minutos, transformou-se em chuva moderada. Parei e acoplei par de faróis ao guidão, liguei as luzes traseiras e as sinalizações do capacete. Um engarrafamento começou a se formar na pista contrária. Na direção que eu seguia, o trânsito começou a ficar moroso por conta da chuva e do traçado sinuoso, que tem início no limite dos municípios de São Luiz do Paraitinga (SP) e Ubatuba (SP). Eram 16h. O dia havia virado noite.
SP - 125. Foto: Fernando Mendes.
Essas foram as
últimas fotos do trecho. A partir desse ponto, a chuva engrossou e ficou inviável
usar a câmera sob tamanho aguaceiro que desabou enquanto descia a serra.
Visibilidade bastante reduzida, igual à velocidade. O trânsito na direção contrária parou totalmente. Alguns carros estavam avariados, pois a temperatura do motor subiu muito em virtude da força imposta na subida. Vários veículos parados e com o capôs [ou capots] aberto e muita, muita fumaça subindo e indo de encontro aos pingos da chuva que, àquela altura, assemelhavam-se ao tamanho de jabuticabas.
E como tudo que está pior pode piorar, a estrada no trecho de serra não tem acostamento. Caos total. Felizmente na direção que eu seguia, apesar do trânsito lento, não havia retenções. E veio uma sucessão de curvas em 180º. Sensação de que a bike iria escorregar e deitar. Adrenalina.
Em
situação de perigo, como na descida da serra de
Ubatuba, o sistema nervoso simpático estimula a sua maior produção, o que
desencadeia várias reações no
organismo.
Disponível em: <https://www.biologianet.com/anatomia-fisiologia-animal/adrenalina.htm>. Acesso: 31/10/2018.
Sentindo a chuva
na cara, contornando as curvas fechadas e vendo o engarrafamento de automóveis
na subida, diferentemente dos ocupantes dos veículos avariados que, àquela altura estavam encharcados e com cara de poucos amigos, eu seguia alegre e vibrando
com a descida.
Às 18h cheguei ao entroncamento da Rodovia SP - 125 com a BR -101. Estava em Ubatuba (SP) - 89.747 habitantes. Censo 2018.
Parecendo um pardal na chuva e feliz igual pinto no lixo, o desejo, de anos a fio, de descer a serra de Ubatuba pedalando minha bike foi concretizado.
Paraty (RJ) a 70 quilômetros. 808 quilômetros ficaram para trás desde a saída de Sertãozinho (SP).
Hospedei-me no Ecotrip Hostel, em quarto individual, tomei prolongado banho quente para espantar o frio, jantei no Restaurante Regina e, na volta, a chuva caiu com força. A previsão do tempo para o dia seguinte era de mais chuva em todo litoral norte de SP e Costa Verde, onde fica Paraty (RJ).
Ao deitar, fiquei revendo a descida da serra. Adormeci antes da quinta curva.
10º dia |
Ubatuba (SP) a Paraty
(RJ) |
70 km |
70 km |
10/07/2018 |
Amanheceu com a
chuva de ontem. Embora com intensidade menor em relação à chegada do dia
anterior, o último dia de pedal foi bastante molhado. No ingresso à BR -101, às
9h 52, nítida redução no volume de chuva. Mudou para uma garoa paulistana.
Disponível em: https://www.google.com.br/maps/dir/Ubatuba,+SP/Paraty,+RJ>.
Acesso: 31/10/2018.
Disponível em: https://www.google.com.br/maps/dir/Ubatuba,+SP/Paraty,+RJ>.
Acesso: 31/10/2018.
Engana-se quem
pensa, entende ou imagina que o trecho Ubatuba (SP) a Paraty (RJ), por
acompanhar a linha da costa, apresenta altimetria predominantemente plana. O
gráfico altimétrico acima, comprova o contrário.
A estrada Rio - Santos, trecho da imensa BR -101, fica espremida entre a serra [do Mar] e o Atlântico, na etapa Ubatuba (SP) a Paraty (RJ). O traçado é bastante sinuoso na transição entre uma praia e outra. Traçado retilíneo, somente ao longo das praias quase às margens da rodovia. Mas naquele dia, banho de mar estava fora de cogitação.
Na passagem das Praias Vermelha e Alta para a Praia de Itamambuca, uma subida das arábias. Paisagem maravilhosa, apesar do tempo fechado. A chuva voltou com força. O movimento de veículos era pequeno.
As últimas
pedaladas, depois de 876 quilômetros em 11 dias, desde a saída de
Sertãozinho (SP), foram preguiçosas e contemplativas. Cheguei ao trevo de
acesso à cidade. Virei à direita e ingressei em Paraty (RJ) - 42.630 habitantes. Censo 2018.
Pela Avenida Roberto da Silveira cheguei ao Portal. Mais uma aventura bem sucedida e concluída conforme planejada e executada.
Hospedei-me na Pousada da Chácara. Recomendo.
Mais tarde fui ao Bar Cupê, o meu favorito, e deliciei-me com escondidinho com
carne seca e muitas, muitas canecas de chopp geladíssimo. Merecido.
No dia seguinte, fiquei a passear pelo Centro Histórico, almoço no Restaurante do Beto e, após muitas fotos, jantei no Cupê e voltei à Pousada da Chácara. Sono maravilhoso
Depois do almoço, embarquei para São Paulo (SP) no Reunidas Paulista das 13h 30, chegando ao Terminal Tiete às 19h 30.
Às 22h 30, no Real Expresso, linha Santos (SP) para Brasília (DF), prossegui viagem até a Capital Federal, desembarcando às 14h 30.
Brasília - DF, 31/10/2018.
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