Viagem de Bike Brasília (DF) - Uberlândia (MG) - Romaria (MG) - Coromandel (MG) - Paracatu (MG) - Brasília. Fevereiro 2010.
CARNAVAL - 2010
BRASÍLIA - CATALÃO (GO) - UBERLÂNDIA (MG) - ROMARIA (MG) - COROMANDEL (MG) - GUARDA MÓR - PARACATU (MG) - BRASÍLIA (DF).
DATA | DE | PARA | KM | ACUMULADO |
11/02/2010 | BRASÍLIA (DF) | POSTO CORUJÃO (GO) | 74 | 74 |
12/02/2010 | POSTO CORUJÃO (GO) | SONHO VERDE (GO) | 92 | 166 |
13/02/2010 | SONHO VERDE (GO) | CATALÃO (GO) | 153 | 319 |
14/02/2010 | CATALÃO (GO) | UBERLÂNDIA (MG) | 100 | 419 |
15/02/2010 | UBERLÂNDIA (MG) | ROMARIA (MG) | 92 | 511 |
16/02/2010 | ROMARIA (MG) | COROMANDEL (MG) | 80 | 591 |
17/02/2010 | COROMANDEL (MG) | GUARDA MOR (MG) | 98 | 689 |
18/02/2010 | GUARDA MOR (MG) | PARACATU (MG) | 78 | 767 |
19/02/2010 | PARACATU (MG) | CRISTALINA (GO) | 106 | 873 |
20/02/2010 | CRISTALINA (GO) | BRASÍLIA (DF) | 133 | 1.006 |
MÉDIA: 100,6 KM/DIA | 1.006 |
1º DIA: 11/02/2010 – QUINTA-FEIRA
DE BRASÍLIA (DF) AO POSTO CORUJÃO (GO). 74 km.
Nunca gostei de pular Carnaval, mas pedalar nos quatro dias de folia é tudo de bom. E assim, na quinta-feira, antevéspera das Festas de Momo 2010, trabalhei na escola até às 12h 50, voltei para casa, deixei o carro na garagem e, às 14h, comecei a viagem [de bike], divida em três etapas: Brasília (DF) a Uberlândia (MG), em 4 dias; Uberlândia (MG) a Paracatu (MG), em 4 dias e Paracatu (DF) a Brasília (DF), em dois dias. Total de dez dias, 1.006 quilômetros.
Almocei em casa e saí, tomando o rumo da Saída Sul pelo Eixo Rodoviário, sob calor intenso e ameaça de chuva, que não tardou a cair com força na altura do Park Way, próximo à entrada da Mansão das Águas. Mas foi uma chuva rápida, que fez o calor desprendido do asfalto aumentar.
Às 15h 30, depois de pedalar os primeiros 30 quilômetros, passei pelo Posto da Polícia Rodoviária Federal, que marca o início da BR-040, km zero.
Oito quilômetros à frente, atravessei a divisa DF/GO e ingressei no município de Valparaíso (GO), com seu habitual trânsito frenético de veículos [na pista] e [no acostamento] pedestres, carroças e ciclistas na contramão.
E esse quadro não se alterou nos 22 quilômetros seguintes, até alcançar Luziânia (GO), onde a pista duplicada cede lugar à pista simples ou mão dupla. Parei para hidratação e comer deliciosa salada de frutas num posto à beira da rodovia. Eram 17h 12.
Para o Posto Corujão, local do primeiro pernoite, faltavam apenas 14 quilômetros, percorridos rapidamente em meia hora. Quando saio para minhas viagens na hora do almoço, o Hotel Corujão é a melhor [e única] opção para pernoite.
Acomodei-me num quarto muito abafado – talvez por ter ficado fechado o dia todo –, tomei banho e, mesmo com ventilador do teto ligado, foi impossível tirar uma soneca antes do jantar.
Desci para o restaurante e tomei duas cervejas bem geladas, enquanto a comida era preparada. Jantei às 19 horas. Ainda estava bastante claro por conta do horário de verão. Continuei no restaurante curtindo o ar condicionado. Tomei mais uma para relaxar de vez e voltei ao quarto, ou melhor, ao forninho.
Foi uma noite mal dormida. O ventilador muito barulhento concorria com o barulho na área externa do hotel. Pelotas de silicone nos ouvidos e mesmo assim o barulho incomodou até o cansaço me vencer e o sono chegar.
2º DIA: 12/02/2010 – SEXTA-FEIRA
POSTO CORUJÃO (GO) AO HOTEL SONHO VERDE (GO). 92 km.
BR - 050. CRISTALINA (GO) KM 103. Foto: Fernando Mendes. |
Acordei às 6h. Forte claridade entrava pelas beiradas de um arremedo de cortina. O forninho estava uma brasa. Precisava sair dali logo.
Arrumei tudo, tomei café e antes das 7h estava girando e sentindo o ar fresco pelo corpo, depois de uma noite encalorada. Na pressa em sair, esqueci-me de encher as garrafas com água. Fui assim mesmo. Ainda havia um resto de ontem, suficiente até a primeira parada, ocorrida no Mercado do Zé Maria, 20 quilômetros à frente.
Atravessei a ponte sobre o Rio São Bartolomeu que, naquele ponto, marca a divisa dos municípios de Luziânia (GO) e Cristalina (GO). Passava das 9h quando retornei ao pedal.
Encarei uma subida honesta, com 3ª faixa e acostamento diminuto. Logo a Pamonharia Acantus passou em meu través leste e a estrada inclinou para baixo, com descida forte até a ponte sobre o Rio Furnas. Desse ponto até Cristalina (GO) – 30 quilômetros à frente – vem uma sequência de longas subidas, entre fortes e moderadas, que terminam na cidade dos Cristais, na cota 1.250m. Punk.
Às 12h 30, almoço no Posto JK. Parada obrigatória. Saquei uns reais no caixa do BB, voltei à estrada às 13h 11 e deixei a BR -040, virando à direita, antes do viaduto, para ingressar na BR-050, agora com direção geral sul.
A partir de Cristalina (GO), as subidas cessam. O traçado da rodovia é plano e com pequenos declives. O calor era abrasador e o céu muito nublado, sinalizava chuva. Mas ela não deu o ar da graça. Faltavam 32 quilômetros para o Hotel Sonho Verde.
Aproveitando o traçado plano, pedalei em ritmo constante e rápido e cheguei às 15h. Fui para o quarto, banhei e desfrutei do ar condicionado até despertar para o jantar.
Precisava disso depois da noite no forninho. Jantei suculenta macarronada e café expresso de sobremesa. Saí para dar uma volta. Ainda não havia escurecido totalmente.
No oeste, as últimas claridades pareciam não ter pressa de ir embora. Não havia Lua, mas as estrelas começavam a forrar o firmamento. Afastei-me bastante das luzes da área externa do hotel e fui contemplando o céu do Planalto Central. Um espetáculo gratuito que não podemos desfrutar em áreas urbanas. Fui dormir depois das 22h. Que sono gostoso.
BR - 050. Foto: Fernando Mendes. |
3º DIA: 13/02/2010 – SÁBADO
HOTEL SONHO VERDE (GO) A CATALÃO. 153 km.
A Alvorada foi cedo. Naquele sábado, diferentemente dos primeiros dois dias de pedal, teria pela proa 153 quilômetros até Catalão (GO). Se às 7h o calor podia ser sentido, imaginei o que me aguardava.
Saí pouco depois das 8h. O Sol erguia-se à minha esquerda, numa imensa pelota de fogo. Meu termômetro portátil que, a partir deste ponto da narrativa chamarei de Gato Frajola, marcava 25°C àquela hora que, na verdade, eram 7h, por conta do horário de verão.
Aproveitando as longas retas, imprimi ritmo rápido nos primeiros 21 quilômetros, quando cheguei ao Posto Ponte Alta. Eram 9h 08. E tome água e protetor solar na carcaça. Numa torneira próxima às bombas de combustíveis, molhei a cabeça e deixei a água descer pelo corpo. A camisa ficou ensopada, mas logo estaria seca novamente.
Às 9h 22, depois de um belo banho de torneira, voltei a ralar, sentindo belo frescor no corpo. Durou pouco. O movimento naquele sábado de Carnaval estava intenso; o calor também. E vieram as primeiras subidas, sempre longas e a 3ª faixa “engoliu” o acostamento. Olho no retrovisor o tempo todo.
BR-050. Foto: Fernando Mendes. |
Na Pamonharia Paineira, outro banho, desta feita de mangueira. Não me fiz de rogado. Quando avistei a torneira: posso molhar a cabeça? Pode, mas a água deve estar quente. E estava. Mas refrescou um pouco.
Molhado, não quis entrar no estabelecimento. Pedi duas garrafas de 1,5 litro com água, peguei-as pela janela lateral e fui tocando em frente. Eram 10h 37.
Indiferente ao calor saariano, pedalei por duas horas seguidas até o Posto Paulistano. Parada para o almoço. Será que teria apetite? E tive. Delicioso prato comercial com arroz, feijão, salada, bifão, ovo e farofa. Como de praxe, duas Cocas e coragem para voltar à lida do pedal. Faltavam 62 quilômetros para Catalão (GO).
Mas antes de recomeçar, deitei-me num banco à sombra de uma árvore e, de ladinho, cochilei por uns 20 minutos. Era o que eu precisava. Levantei-me e segui.
Era pouco mais de meio-dia e meia. Sabia que a partir desse ponto, começa o sobe e desce que se estende até Catalão (GO).
Passei por Campo Alegre (GO) às 14h. A temperatura estava em 36°C. Calor senegalês. No Posto Xará detonei uns cinco copos de suco de goiaba. O néctar dos deuses de tão saboroso. Próxima parada: Pires Belo (GO), distrito de Catalão (GO), 37 quilômetros à frente, com sobe e desce constantes. Gastei duas horas e meia. A média horária caía, o calor aumentava.
Pires Belos, Distrito de Catalão (GO). Foto: Fernando Mendes. |
BR-050, km 180, nas proximidades da Pamonharia Paineira .Foto: Fernando Mendes. |
BR-050. Foto: Fernando Mendes. |
Outro banho de torneira, desta vez bem prolongado e com direito a molhar o corpo todo. Faltavam 36 quilômetros para Catalão (GO). Saí às 17h e senti que o gás estava acabando. Decidi não forçar a barra. Até escurecer, teria, pelo menos três horas de luz natural. Às vezes é preciso reconhecer os limites.
Imprimi um ritmo mais leve, mesmo nas subidas, que foram muitas até chegar. Às 19h 10, finalmente abandonei a BR-050 à direita e segui rumo ao centro.
Hospedei-me no Hotel Champion. Tentei tomar banho frio. Nada feito. Motivo: a água da caixa estava tão quente, que não esfriava. Resultado: cinco minutos após banhar, estava suando em bicas. O ar refrigerado do quarto resolveu o problema.
Jantei no hotel e adormeci enquanto rezava. O calor do dia seguinte foi pior.
4º DIA: 14/02/2010 – DOMINGO.
CATALÃO (GO) A UBERLÂNDIA (MG). 100 km
Dormi das 21h às 9h do dia seguinte. Precisava. O ar condicionado do quarto estava uma maravilha.
Quando saí para o café, senti-me numa sauna. Verifiquei a temperatura e Gato Frajola marcava incríveis 27°C. Tive a noção do que seria aquele dia.
Parti às 10h 11. Ingressei na BR-050, passei pela fábrica da Mitsubishi e, logo depois, pela Polícia Rodoviária Federal.
A estrada, recém-asfaltada, estava um colosso para pedalar. O movimento era muito reduzido.
O calor era abrasador. Faltavam uns 20 quilômetros para a divisa GO/MG, local de parada obrigatória para almoço num restaurante à beira do Rio Paranaíba.
Comi deliciosas iscas de surubim, com arroz, feijão e salada, regada a várias Cocas. Sentia o moral baixo, enquanto a temperatura subia. Àquela altura, com o Sol no zênite, Gato Frajola registrava 38°C.
BR - 050. Foto: Fernando Mendes.
Parei no Posto Cerradão. Eram quase 17h. 36°C. Senti que precisava parar por mais tempo. Banhei no chuveiro do banheiro, deixando a água cair prolongadamente na cabeça e nuca.
Deite-me num banco e ali fiquei descansando. Comecei a ter calafrios, sintomas de insolação. Tomei outro banho e senti-me melhor. Mas esperei o Sol baixar um pouco para encarar os 30 quilômetros finais até Uberlândia (MG).
Voltei a pedalar às 18h, na hora do Ângelus. O trecho final até Uberlândia (MG) é dividido da seguinte maneira: 15 quilômetros em descida, até a ponte sobre o Rio Araguari, e mais 15 quilômetros até o início do perímetro urbano de Uberlândia (MG).
Na descida, deixei a bike engolir o asfalto rapidamente; na subia, pedalei vagarosamente, sentindo os efeitos no corpo do forte calor que, àquela hora, era muito intenso.
Cheguei ao Carlton Hotel, no centro da cidade, às 19h 47, a tempo de flagrar o pôr do sol. Sentia-a me exausto. Precisava de um banho frio e comida quente.
Jantei lá pelas 20h e custei a dormir. Noite sem sonhos e sono agitado, acordando várias vezes para beber água.
E assim terminei a 1ª parte do Giro de Bike Carnaval 2010. Até Uberlândia (MG), foram 419 quilômetros. Faltavam 587 quilômetros para completar o percurso que planejei.
Foto: Fernando Mendes.
5º DIA: 15/02/2010 – 2ª FEIRA.
UBERLÂNDIA (MG) A ROMARIA (MG) 92 km.
Apesar da noite difícil, acordei sentindo-me descansado. Tomei café caprichando nas bananas e na granola. Devo ter tomado 1 litro de suco de laranja, enquanto detonava três pães.
Às 10h, comecei a atravessar a saída da cidade, felizmente pouco movimentada naquele dia. Pedalei pelos últimos quilômetros da BR-050.
Uma hora depois, pela alça de acesso, ingressei na BR-365, agora com direção geral leste, para alcançar Romaria (MG), 70 quilômetros à frente.
O Sol passou a ficar nas minhas costas e sentia as panturrilhas e a nuca sendo torradas. Reforcei o protetor solar. Meu fiel termômetro portátil - Gato Frajola - acusava 36°C.
Passei pelo lago formado pelo barramento do Rio Araguari, que deu origem à Usina Hidrelétrica de Miranda. A água estava de um azul maravilhoso. Não vacilei. Parei a bike na cabeceira da ponte sobre o lago e mergulhei. Vontade de ficar ali o dia todo. Que bálsamo à alma. Foram 15 minutos de um banho inesquecível. Nem me preocupei em enxugar-me. O sol fez essa tarefa em poucos minutos, assim que voltei a pedalar.
Às 15 horas, parei num posto em Indianópolis (MG) para almoçar. Sentia-me melhor em relação ao dia anterior. Parece que o calor não me castigava tanto. Alimentei-me bem e hidratei-me o necessário. Era a hora mais quente do dia: 37°C. É assim o verão nos trópicos: quente e chuvoso.
Mas as chuvas não deram o ar da graça. Que falta fez para mim, para os agricultores, para o gado e demais formas de vida que vivem no cerrado do Triângulo Mineiro.
Foto: Fernando Mendes.
Diferentemente dos que muitos dizem ou entendem, o Triângulo Mineiro não é formado somente pelos municípios de Araguari, Uberlândia e Uberaba. Na verdade, a região é formada por 35 municípios. Ei-los na tabela que se segue.
O TRIÂNGULO MINEIRO É FORMADO POR 35 MUNICÍPIOS. | |||||
MUNICÍPIO | POPULAÇÃO | MUNICÍPIO | POPULAÇÃO | ||
01 | Água Comprida | 2.070 | 22 | Ituiutaba | 102.020 |
02 | ARAGUARI | 114.970 | 23 | Iturama | 34.889 |
03 | Araporã | 6.208 | 24 | Limeira do Oeste | 6.945 |
04 | Cachoeira Dourada | 2.520 | 25 | Monte Alegre de Minas | 19.743 |
05 | Campina Verde | 19.341 | 26 | Pirajuba | 4.803 |
06 | Campo Florido | 6.988 | 27 | Planura | 10.544 |
07 | Canápolis | 11.421 | 28 | Prata | 25.973 |
08 | Capinópolis | 15.358 | 29 | Santa Vitória | 18.274 |
09 | Carneirinho | 9.514 | 30 | São Francisco de Sales | 5.815 |
10 | Cascalho Rico | 2.875 | 31 | Tupaciguara | 24.270 |
11 | Centralina | 10.268 | 32 | UBERABA | 320.360 |
12 | Comendador Gomes | 2.982 | 33 | UBERLÂNDIA | 646.673 |
13 | Conceição das Alagoas | 23.495 | 34 | União de Minas | 4.401 |
14 | Conquista | 6.559 | 35 | Veríssimo | 3.530 |
15 | Delta | 8.321 | Total | 1.228.240 | |
16 | Fronteira | 14.426 | PIB R$ 25.389.280.000,00 (IBGE/2013). PIB per capita R$ 17.799,65 (IBGE/2013) FONTE: IBGE 2013. | ||
17 | Frutal | 53.998 | |||
18 | Gurinhatã | 6.080 | |||
19 | Indianópolis | 6.252 | |||
20 | Ipiaçu | 4.113 | |||
21 | Itapagipe | 13.796 |
Ponte sobre a Represa UHE Miranda. Foto: Fernando Mendes
BR 365. Foto: Fernando Mendes
No trevo, tomei à esquerda e ingressei na Rodovia MG-190 e, seis quilômetros à frente, nova quebrada à esquerda, onde acessei a Av. Padre Eustáquio, que me levou à Pousada São José, localizada junto à Basílica de Nossa Senhora da Abadia.

Chegada a Romaria (MG). Foto: Fernando Mendes.
A devoção a Nossa Senhora da Abadia é originária de Portugal. Às 19h, de banho tomado e estômago abastecido, saí para conhecer a Basílica. Muito linda.
Basílica Nossa Senhora da Abadia. Foto: Fernando Mendes.
Basílica Nossa Senhora da Abadia. Foto: Fernando Mendes.
Basílica Nossa Senhora da Abadia. Foto: Fernando Mendes.
A noite estava pouco abafada. Aproveitei para fotografar a Basílica e caminhar um pouco.
Encerrada a sessão de fotos, tomei duas geladas num boteco pé sujo, no qual muitas pessoas se refrescavam do intenso calor.
Voltei à Pousada São José e desabei na cama. Adormeci com o ventilador de frente para mim, sobre uma cadeira.
6º DIA: 16/02/2010 – 3ª FEIRA.
ROMARIA (MG) A COROMANDEL (MG). 80 km.
Acordei cedo, tomei café e saí à rua para fotos diurnas da Basílica.
Basílica Nossa Senhora da Abadia. Foto: Fernando Mendes.
Basílica Nossa Senhora da Abadia. Foto: Fernando Mendes.
Basílica Nossa Senhora da Abadia. Foto: Fernando Mendes.
Basílica Nossa Senhora da Abadia. Foto: Fernando Mendes.
Saída rumo a Coromandel (MG). Foto: Fernando Mendes.
Depois de rezar bastante e pedir proteção e inspiração pelo caminho, entre outras coisas, deixei Romaria (MG) às 12h 26. O calor era abrasador.
Gato Frajola marcava 33°C. Voltei à MG-190, com movimento se intensificando à medida que o Carnaval chegava ao fim, e encarei os 24 quilômetros até Monte Carmelo (MG) em pouco mais de duas horas.
O trecho é plano, o asfalto razoável e o acostamento ruim. Num posto BR almocei um belo comercial com bisteca de porco. Às 15h e com Gato Frajola marcando 35°C, deixei a terra das cerâmicas para tentar fazer os 34 quilômetros até Abadia dos Dourados (MG) no stop. Nada feito.
Vieram subidas diversas, poucas retas e descidas. Parei várias vezes para hidratação. Nesse trecho, consumi 2 litros de água e o estoque acabou faltando cinco quilômetros para Abadia. Salvou-me uma vereda à beira da estrada.
Vereda é um tipo de formação vegetal do Cerrado que ocorre nas florestas-galeria. Caracterizada pelos solos hidromórficos (solo que, em condições naturais, se encontra saturado por água), podem apresentar buritis (da família das palmáceas), em meio a agrupamentos de espécies arbustivo-herbáceas e são seguidas pelos campestres. No cerrado brasileiro são denominados campo limpo. São caracterizadas por uma topografia amena e úmida, mantendo parte da umidade em estratos de solo superficial e garantindo a umidade mesmo em períodos de seca, tornando-se um refúgio da fauna e flora, assim como local de abastecimento hídrico para os animais [e ciclistas]. Recebem este nome por serem caminho para a fauna. Comumente encontradas nos Estado de Minas Gerais, Bahia e na Região Centro-Oeste.
Diponível em: <https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia16/AG01/arvore/AG01_65_911200585234.html>. Acesso: 02/2010.
Vereda. Foto: Fernando Mendes.
Após a vereda e antes de Coromandel (MG), atravessei o mais belo trecho do passeio: o Chapadão do Pau Terra. As fotos falam melhor que a descrição.
CHAPADÃO DO PAU TERRA. Foto: Fernando Mendes.
CHAPADÃO DO PAU TERRA. Foto: Fernando Mendes.
Rodovia MG 188.
Primeiro veio uma sequência sinistra de subidas. Após, um platô pelo qual pedalei devagar, bebericando as belezas da paisagem que se descortinavam aos meus olhos. Que lugar belíssimo. E, por fim, veio uma descida animal, que me levou a um vale com cerrado nativo em ambos os lados da estrada.
Encarei, depois, uma subida leve [e longa] até chegar ao trevo de acesso a Coromandel (MG). Eram 17h. O dia estava ganho. Hospedei-me no Hotel do Alemão. Inicialmente fiquei preocupado com barulho de Trios Elétricos e afins. Era o último dia de Carnaval. Mas para minha alegria, o povo de “Coró”- como os nativos chamam carinhosamente a cidade – passam o Carnaval em Paracatu (MG). Sangue de Jesus tem Poder.
À noite, sob um bafo esquisito, fui à caça de víveres. A maior parte do comércio estava fechado. A única opção foi pizza, num estabelecimento cujo ar refrigerado estava quebrado. Degustei suando em bicas.
Saquei uns reais no BB e cama. Até ali, 591 quilômetros percorridos. Faltava um dia para a Lua Nova. Faltavam 415 quilômetros para Brasília (DF).
Chegada a Monte Carmelo (MG). Foto: Fernando Mendes
Rodovia MG 188. Foto: Fernando Mendes.
Chegada a Coromandel (MG). Foto: Fernando Mendes.
7º DIA: 17/02/2010 – 4ª FEIRA DE CINZAS.
COROMANDEL A GUARDA MÓR (MG). 98 km.
Na quarta-feira de cinzas, contrariando aquela máxima “sempre chove nesse dia”, o sol veio do Japão com força máxima.
Gato Frajola marcava, na saída de Coromandel (MG), 29°C, às 9h 32. Não existem pontos de apoio ao longo dos 98 quilômetros entre Coromandel (MG) e Guarda Mór (MG). Pedalava agora pela Rodovia MG-188.
Após os primeiros 20 quilômetros, atravessei a ponte sobre o Rio Paranaíba. Tentei banhar. Não logrei êxito. Naquele ponto, o rio não tem margens; tem barrancos muito altos. Se entrasse na água, poderia não conseguir escalar o barranco e voltar à margem. Além disso, a correnteza pareceu-me muito forte, talvez uns 6 nós (aproximadamente 11 km/h). Por prudência, não entrei. Tirei umas fotos e segui.
Foto: Fernando Mendes.
Rio Paranaíba. Foto: Fernando Mendes.
Nos alforjes, carregava quatro garrafas de água mineral de 1,5 litro. Ou seja, seis quilos a mais. E apareceu um bar às margens da estrada. Muito humilde, mas continha oque precisava: cebolitos e Coca. Eram 11h 24.
Gato Frajola marcava 33°C. Não havia refeição a ser servida. Encarei também uma coxinha [com cara de ontem] e esperei até o relógio marcar 12h. Foi difícil aquele dia sem almoço. Mas garanti uma forragem estomacal para as próximas horas.
Pedalei forte por duas horas, com pequenas paradas para hidratação. "Meu reino por uma ducha". A água das garrafas estava quente. Mas bebia assim mesmo. Parada para comer torrone e beber água [quente].
Faltavam 40 quilômetro ou duas horas para Guarda Mór (MG). Eram 15h 30. Gato Frajola marcou a maior temperatura daquele dia: 36°C.
O trecho final, com longas retas e algumas subidas leves, foram percorridos em duas horas e, às 17h 52, entrei vagarosamente na pequena Guarda Mór (MG). Parei numa padaria e deliciei dois pães [do tipo francês] com mortadela e margarina. Uma Coca de 1 litro deu o toque final. Senti-me melhor e saí à caça de hospedagem.
Na caça, passei por um estabelecimento que eu procurava há dias: Ponto do Açaí. Estava aberto. Fui ao Hotel Araújo, banhei e voltei ao açaí. Tigela de 500 ml prazerosamente consumida bem devagar. Era a energia que precisava.
Quando voltei à rua, vi o fino halo da Lua Nova no poente. Foi um dia quente e de pedal duro. Mas agora as coisas voltavam ao normal. O calor era forte, mesmo depois que o sol se pôs. Deixei para jantar às 21h. Comida deliciosa e pudim de sobremesa. Precisava de açúcar.
CHEGADA A GUARDA MÓR (MG). Foto: Fernando Mendes
Voltei ao Hotel Araújo, assisti ao jogo Botafogo e Flamengo, pelas semifinais do Carioca 2010 e tentei dormir, mas o quarto estava abafadíssimo e o ventilador fazia mais barulho do que ventilava.
Mesmo com as janelas abertas, o panorama nada mudou exceto pelos mosquitos, que fizeram a festa. Sangue novo no pedaço fez a alegria deles.
A noite foi de sono agitado sobre uma cama que, de tão pequena, parecia ser de criança [ou anão]. No armário havia dois cobertores.
Difícil imaginar que naquele lugar faça frio. Talvez no próximo inverno volte lá para comprovar e, quem sabe, usar o cobertor.
8º DIA: 18/02/2010 – 5ª FEIRA.
GUARDA MÓR (MG) A PARACATU (MG). 78 km.
Na saída do hotel, o recepcionista me informou acerca de uma serra bem inclinada na chegada a Paracatu: “depois da ponte sobre o Ribeirão Santa Izabel, prepare as pernas”. “São quatro quilômetros bem inclinados”. Agradeci e fui-me.
Antes de pegar a estrada (MG-188), parei para tigela de açaí e fiquei feliz. Eram 10h e Gato Frajola marcava 26°C. Nenhuma previsão de chuva.
Na saída fui brindado com longas retas repletas de sobe e desce suaves. Plantações de soja em ambos os lados da estrada. Ali, um dia, houve um cerrado nativo, substituído pela marcha do progresso.
As plantações vão até onde a vista alcança. Pouparam apenas as veredas. Meno male.
Ao meio-dia, passei pelo Hotel Fazenda Paracatu Traíras. Entrei para conhecer e qual não foi a minha surpresa ao ver a piscina, de água corrente e alimentada por uma roda d´água.
Pedi permissão e mergulhei. E a vontade de ficar ali o dia todo foi maior do que continuar a viagem. Dois cachorrinhos, filhotes de Labrador, entraram na parte rasa da piscina e fizeram a festa. Uma arara, mascote da casa, ficou muito bem nas fotos.
Hotel Fazenda Paracatu Traíras. Foto: Fernando Mendes.
Hotel Fazenda Paracatu Traíras. Foto: Fernando Mendes.
Hotel Fazenda Paracatu Traíras. Foto: Fernando Mendes.
Hotel Fazenda Paracatu Traíras. Foto: Fernando Mendes.
Hotel Fazenda Paracatu Traíras. Foto: Fernando Mendes.
Serviram-me almoço. Coisa básica, mas uma delícia: arroz, feijão, salada e ovo. Deitei-me numa rede, os cães se aninharam nas minhas pernas e dormimos.
Acordei às 14h. Faltavam 43 quilômetros para Paracatu (MG). Merecia aquele oásis. Que bálsamo para o corpo em dia tão quente.
Mas a alegria durou pouco. Dez quilômetros após deixar o Traíras, o pneu traseiro furou. Bem na hora mais quente do dia e justamente quando a bomba de ar resolveu dar pau.
Troquei a câmara furada pela nova. Mas na hora de encher o pneu, deu zebra. Não havia a pressão necessária para inflá-lo. Passou um nativo e me disse que logo ali [de mineiro] havia um bar e o dono tem um compressor. Agradeci e segui. Mas o “logo ali” do mineirinho, fez jus à fama.
Empurrei a bike por quase uma hora até chegar ao tal bar. Se a estimativa de distância foi ruim, a informação, quanto ao compressor, foi de grande valia.
Pneu cheio voltei a rodar, mas sem nenhuma intenção de recuperar tempo perdido. Estava quente para cachorro. Empurrei a bike por seis longos quilômetros e o sol castigando a carcaça.
Nesse bar, renovei o estoque de água e degustei deliciosos pastéis, recheados com carne moída e ovo. Quando voltei à MG-188 sentia-me apreensivo com a tal serra antes de Paracatu (MG).
Às 16h voltei à MG-188 e, após uma descida alucinante, finalmente atravessei a ponte sobre o Ribeirão Santa Izabel. E começou a subida da tal serra. E que subida.
Com inclinação perto dos 7%, asfalto salpicado de pequenas pedras e sem acostamento, fui escalando, escalando e, ao chegar ao topo, às 17h 33, Paracatu (MG) apareceu lá embaixo, acomodada num vale.
Parei e suspirei. A pior parte daquele dia foi vencida. Desci sem pedalar até a entrada da cidade. Acomodei-me no Hotel Veredas, com cama de casal e ar condicionado.
No jantar, deliciosa macarrona à bolonhesa regada a duas cervejas bem geladas. Minha casa a 234 quilômetros ou dois dias de pedal. Estava sentindo o final da viagem.
767 quilômetros foram pedalados. Nem parecia. Sentia-me muito bem, no corpo e na alma.
Antes de deitar, fiquei na janela do Veredas contemplando a Lua Nova, agora um pouco mais “cheia” e muito charmosa.
Dormi muito bem, mas muito bem mesmo. Compensei as duas últimas noites mal dormidas e encaloradas. Precisava disso, merecia isso. Sonhei com banho de mar.
9º DIA: 19/02/2010 – 6ª FEIRA.
PARACATU (MG) A CRISTALINA (GO). 106 km.
O café da manhã foi farto e demorado. Por essa razão, saí depois das 10h. Gato Frajola, tão preciso quanto a noite após o dia, marcava 27°C.
Alcancei a BR-040, na altura do Posto Moirão e tomei a proa norte, que me levou a Cristalina (GO), 106 quilômetros à frente.
Terminado o perímetro urbano, passei pela periferia da cidade, em longa descida, que logo empinou para cima e terminou na entrada da mina Kinross, multinacional canadense que explora ouro na região.
A seguir começou a subida da Serra da Tiririca, belo aquecimento para as pernas. Próximo ao término da subida, uma abençoada bica d’água é a pausa que refresca. Molhei a cabeça, os braços e a nuca. Renovei o protetor solar, enchi as garrafas e rumei, sempre em frente.
A primeira parada foi no Posto Ranchão, 30 quilômetros à frente. Eram 11h 33. Não almocei. Apenas comi um espetinho de frango com água mineral gasosa misturada à água mineral sem gás.
Faltavam 14 quilômetros para a divisa MG/GO. Às 12h continuei o giro, às 12h 19 o Posto Fiscal passou no meu través leste e uma longa descida me levou até a ponte sobre o Rio São Marcos que, naquele ponto, faz a divisa natural entre MG/GO.
Eram 13h quando entrei em Goiás. Fazia muito calor e o estômago pedia uma trégua no pedal para ser forrado. Almocei na Lanchonete São Marcos. Almoço da hora: arroz, feijão, bifão de porco, salada, batatas fritas e ovo.
Às 14h 14, a 62 quilômetros de Cristalina (GO), voltei a pedalar lentamente. Via o calor subir do asfalto e distorcer as imagens que se formavam. Consultei Gato Frajola e a temperatura estava em 34°C. Nada de chuva.
Um mar de soja descortinou-se à minha frente após o fim da subida, numa curva bem aberta. E a paisagem nesse trecho é bastante monótona. Relevo bem plano, longas retas, muita soja e, ao longe, algumas veredas que, se não fossem as leis ambientais vigentes, teriam sido engolidas pelas plantas pertences à família Fabaceae (soja).
Na Pamonharia Gameleira, um oásis cercado de plantações, parada obrigatória. Muita água na cabeça aproveitando uma bica no quintal. Desse ponto em diante – e até a chegada a Cristalina (GO) –, a estrada vai subindo lentamente, saindo da cota 890m indo até 1.250m. Essa ascensão se faz em 30 quilômetros. Talvez por isso não se perceba, mas sobe-se o tempo todo.
Voltei à BR-040 15h 30. Pretendia percorrer o trecho em ascensão em rota em duas horas.
BR 040, a caminho de Cristalina (GO). Foto: Fernando Mendes.
BR 040, a caminho de Cristalina (GO). Foto: Fernando Mendes.
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BR - 040, divisa MG/GO. Foto: Fernando Mendes. |
Chegada a Cristalina (GO). Foto: Fernando Mendes.
Às 17h 47, depois de percorrer a ascensão de 360 metros em 30 quilômetros, cheguei à cota máxima do dia e da viagem: 1.250 metros acima do nível do mar.
O Hotel Catavento estava à minha direita, no través leste. Ainda estava claro (por conta do horário de verão) e muito quente. Antes de ir para o quarto, tomei uma gelada no restaurante do Catavento, belisquei umas batatas fritas e fiquei ali, sozinho, relaxando e repassando todas as etapas dessa viagem, marcada por temperaturas senegalesas.
E nada de chuva. Absorto em pensamentos tão meus, nem reparei que o manto da noite caía. As últimas claridades no oeste deram ao céu do Planalto Central cores em diferentes tons de azul e rosa.
Mas a personagem daquele fim de tarde foi a Lua Nova, sempre sorrindo para mim, igual ao Gato do desenho da Alice.
Voltei ao restaurante banhado e barbeado. Jantei risoto de camarão regado a duas cervejas long neck . Foi o meu último pernoite. Dormi um sono maravilhoso, embalado pelo ar condicionado e pelas lembranças do caminho percorrido até ali. Nem sempre estar sozinho significa sentir-se sozinho.
10º DIA: 20/02/2010 – 6ª FEIRA.
CRISTALINA (GO) A BRASÍLIA (DF). 133 km.
Último dia de pedal. Faltavam apenas 133 quilômetros para minha casa. Tomei farto café da manhã e saí para cumprir a derradeira etapa do Giro de Bike Carnaval 2010.
Deixei a cidade dos cristais às 9h 09. Gato Frajola marcava 21°C. Que maravilha. Ventava a favor e o movimento na BR-040 era intenso.
Deixava a cota altimétrica de 1.250m e começava um trecho, de 25 quilômetros, com retas e descidas, que terminam na cota 770m, na ponte sobre o Rio Furnas.
Percorri essa etapa em uma hora. Excelente média, que logo caiu, pois, passada a ponte, vem uma subida em três degraus até a Pamonharia Acantus. Parada para hidratação e renovar o protetor solar.
A temperatura subiu para 27°C e o calor voltou a castigar. Às 11h 13 prossegui na proa noroeste, atravessei a ponte sobre o Rio São Bartolomeu e encarei uma sequência de subidas fortes por mais de meia hora.
Cheguei ao Posto Corujão às 12h 44. Hora do almoço. Após a refeição, merecido descanso de 20 minutos. Até Luziânia (GO) a estrada é plana e o trecho foi vencido facilmente.
A partir daí, entrei na região do Entorno do Distrito Federal. Trânsito frenético e acostamento cheio de falhas e valas. Pior pedaço da viagem. Atenção total. Fui devagar e às 17h atravessei a divisa GO/DF.
Faltavam 38 quilômetros. Passei pelo Catetinho e fiz a última parada no Park Way, para degustar deliciosa e refrescante água de coco.
Cheguei à minha casa às 17h 30. Missão cumprida e comprida. Da maneira que planejei, executei, apesar do calor insano e da falta de chuvas.
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