Pedalando pela Bacia do Rio Paraná. Julho 2004.


PEDALANDO PELA BACIA DO RIO PARANÁ
1ª PARTE
ELABORAÇÃO DO ROTEIRO, PESQUISAS SOBRE AS CONDIÇÕES DAS ESTRADAS,
HOSPEDAGENS E ATRAÇÕES TURÍSTICAS.


A região na qual corre o Rio Paraná e seu principal afluente – o Rio Tietê – tem enormes potencialidades  naturais e econômicas conhecidas, até então, por meio dos livros de Geografia. 

Então decidi viajar [de bike] às várias áreas dessa Região Hidrográfica para conhecer as "potencialidades  naturais e econômicas", ei-las: o encontro dos Rios Paranaíba e Grande, os formadores do Rio Paraná, visitar as UHE´s (Usinas Hidrelétricas) de Ilha Solteira e Jupiá, formadoras do Complexo Hidrelétrico de Urubupungá, testemunhar o encontro do Rio Tietê com o Rio Paraná e, assim, ir além dos livros didáticos.

No Brasil, a divisão hidrográfica registra 12 Regiões (ou Bacias) Hidrográficas. A [Bacia] do Paraná abrange uma área de 879.860 km2.



DIVISÃO HIDROGRÁFICA NACIONAL

ÁREA (KM2)
1.    REGIÃO HIDROGRÁFICA AMAZÔNIA
3.870.000
2.    REGIÃO HIDROGRÁFICA DO SÃO FRANCISCO
640.000
3.    REGIÃO HIDROGRÁFICA ARAGUAIA – TOCANTINS
967.059
4.    REGIÃO HIDROGRÁFICA DO PARANÁ
879.860
5.    REGIÃO HIDROGRÁFICA DO PARAGUAI
361.350
6.    REGIÃO HIDROGRÁFICA DO URUGUAI
147.612
7. REGIÃO HIDROGRÁFICA DO ATLÂNTICO NORDESTE OCIDENTAL
254.100
8.    REGIÃO HIDROGRÁFICA DO ATLÂNTICO NORDESTE ORIENTAL
287.348
9.    REGIÃO HIDROGRÁFICA DO ATLÂNTICO LESTE
374.677
10.    REGIÃO HIDROGRÁFICA DO ATLÂNTICO SUDESTE
229.972
11.    REGIÃO HIDROGRÁFICA DO ATLÂNTICO SUL
185.856
12.    REGIÃO HIDROGRÁFICA DO RIO PARNAÍBA
344.112
FONTE: AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. ANA.


Na primeira etapa de preparação da viagem, debrucei-me sobre mapas rodoviários para roteirizar os caminhos, escolher as atrações a conhecer, estimar o tempo gasto para chegar aos lugares e informar-me acerca das atrações, horários de visitas e passeios.

Passei à segunda etapa, mais trabalhosa e detalhada, elaborando o roteiro da viagem.



PEDAL PELA BACIA DO RIO PARANÁ

Dia

de
para

km

03/07/2004
Brasília (DF)
Ponte Alta (GO)
188
04/07/2004
Ponte Alta (GO)
Catalão (GO)
130
05/07/2004
Catalão (GO)
Uberlândia (MG)
102
06/07/2004
Uberlândia (MG)
Iturama (MG)
ÔNIBUS
07/07/2004
Iturama (MG)
Paranaíba (MS)
124
08/07/2004
Paranaíba (MS)
Santa Fé do Sul (SP)
82
09/07/2004
Passeio no barco
“A Professorinha” em Rubinéia (SP)
10/07/2004
Santa Fé do Sul (SP)
Ilha Solteira (SP)
76
11/07/2004
Visita à UHE Ilha Solteira (SP)
30
12/07/2004
Ilha Solteira (SP)
Três Lagoas (MS)
92
13/07/2004
Dia em Três Lagoas (MS)
14/07/2004
Três Lagoas (MS)
Valparaíso (SP)
121
15/07/2004
Valparaíso (SP)
Lins (SP)
136
16/07/2004
Lins (SP)
Itápolis (SP)
126
17/07/2004
Itápolis (SP)
São Carlos (SP)
126
TOTAL PERCORRIDO
1.333


PEDALANDO PELA BACIA DO RIO PARANÁ.
2ª PARTE.
OS CAMINHOS QUE SEGUI E 
OS RUMOS QUE TOMEI.
AS ESTRADAS QUE ESCOLHI E OS LUGARES PELOS QUAIS PASSEI.


Na terceira etapa, escolhi os hotéis para pernoites e respectivos preços. A viagem pela Bacia do Rio Paraná foi a mais longa e ousada que realizei [até então] em cima da minha bicicleta. 

É muito boa a sensação de planejar e, posteriormente, realizar aquilo que [há muito] foi pretendido.

O Distrito Federal, por situar-se em uma das porções mais elevadas do Planalto Central do Brasil, é o divisor natural de três grandes bacias hidrográficas: a Bacia do Tocantins, ao Norte; a Bacia do São Francisco, a Leste e a Bacia do Paraná a Sudoeste.
De um mesmo ponto, verte água em direções opostas formando tributários que alimentam essas bacias. É o fenômeno das Águas Emendadas. (1).


(1) Rica em espécies de fauna, flora, refúgio de mamíferos, aves e répteis e salpicada de flores mimosas e árvores típicas do cerrado, Águas Emendadas ocupa uma área de 10.547 hectares, e de seu subsolo brotam as duas bacias hidrográficas mencionadas. De um mesmo ponto nasce o Córrego Vereda Grande, que corre no sentido noroeste, para desaguar no Rio Maranhão, que vai formar o Rio Tocantins, engrossando a Bacia Amazônica; e numa linha reta, no sentido oposto, para sudoeste, segue o Córrego Fumal, até desembocar no Rio São Bartolomeu, que por sua vez engrossa o Corumbá, ajudando a formar o Paranaíba, depois o Paraná e enfim a Bacia Platina. E, com alguma boa vontade, há quem afirme ainda que até o Rio São Francisco bebe daquelas águas, para se fortalecer e depois cortar meio Brasil até desaguar no Oceano Atlântico.

Disponível em: http: galileu.globo.com/edic/103/nos_
brasilia1.htm. Acesso em: 31/07/2004.


PEDALANDO PELA BACIA DO RIO PARANÁ. 
3ª PARTE.
RELATO DETALHADO, DIA A DIA, DOS TRECHOS PERCORRIDOS, DOS LUGARES CONHECIDOS E DA IMPORTÂNCIA EM PLANEJAR UMA VIAGEM, INDEPENDENTE DO VEÍCULO A SER UTILIZADO.



  1º Dia. 03/07/2004 
Brasília (DF) ao Posto Ponte Alta (GO)
 188 quilômetros.



Deixei a minha casa às 7h 23 de uma fria e ensolarada manhã de sábado, dia 03 de Julho, e ingressei no Eixo Rodoviário Norte, na altura da EQN 207/208. 

Rumei em direção à Rodoviária, contornei-a e alcancei o Eixo Rodoviário Sul, percorrendo seus sete quilômetros, até atingir a baixada do zoológico e atravessar a ponte sobre o Córrego Riacho Fundo, que deságua no Lago Paranoá. 

Depois de uma leve subida, cheguei ao trevo de acesso ao Aeroporto JK. Virei à direita e acessei a DF-025, rodovia local que me levou até o entroncamento com a BR-450 e, 12 quilômetros à frente, após a passagem pelo Posto da Polícia Rodoviária Federal, comecei a girar pela BR-040. Eram 9h. 

Havia pedalado, até aquele ponto, exatos 30 quilômetros. Faltavam 158 para chegar ao Posto Ponte Alta, localizado no município de Ipameri (GO), local do primeiro pernoite da viagem.

O Posto da Polícia Rodoviária Federal fica no canteiro central e marca o km zero, ponto inicial das Rodovias BR-040 e 050 que, até Cristalina (GO), são sobrepostas. Em Cristalina (GO) acaba a sobreposição e a BR-040 segue para BH e RJ e a BR-050 segue para Triângulo Mineiro, Ribeirão Preto (SP), Campinas (SP), São Paulo (SP), terminando em Santos (SP).

 Atravessei a zona urbana de Valparaíso (GO), o primeiro município goiano após a divisa DF/GO. O trânsito é muito confuso, o acostamento é disputado por pedestres, carroças e outros ciclistas, que erroneamente insistem em pedalar pela contramão. Vans piratas e ônibus intermunicipais disputam passageiros parando em qualquer lugar para embarque e desembarque. Por isso é preciso paciência e atenção.

Essa região do Entorno do DF, lembra a Baixada Fluminense, com muitas casas inacabadas à beira da rodovia, hotéis de quinta categoria, oficinas mecânicas [algumas suspeitas], borracheiros, desmanches de carros, Casas Bahia, Assembleias de Deus, inferninhos, pichações que não pouparam  muros, pilares de pontes ou placas de sinalização. Eternos problemas das periferias empobrecidas do País. Populações carentes e esquecidas pelo Poder Público, exceto em época de eleições. 

Essa parte do Entorno Sul do DF, próximas à Capital Federal, assemelha-se a Bangladesh ou ao Iraque.

Deixei tudo isso para trás e segui firme, pedalando forte até Luziânia (GO), alcançada às 10h 17. Parei no Posto Nelore, detonei duas cumbucas de salada de frutas e rumei para Cristalina (GO), 72 quilômetros à frente. Eram 10h 30 e faltavam 126 quilômetros para o primeiro pernoite. 

Desse ponto em diante, a rodovia deixa de ser duplicada. O asfalto está gasto e repleto de trincamentos pronunciados. Mas o acostamento, diferentemente da estrada, oferece excelentes condições de pedal, permitindo-me manter a média horária próxima aos 20 km/h. Não ventava. A temperatura era de 16ºC, quase a mesma quando parti de Brasília (DF).

Posto Nelore. Luziânia (GO). Foto: Fernando Mendes.

Às 11h 08 o Posto Corujão passou no meu través oeste e, em seguida, desci a Serra do Mane Preto, uma borda de chapada com três quilômetros em declive acentuado e duas curvas abertas em forma de “S”.

A segunda parada foi no Mercado do Zé Maria, ao lado da ponte sobre o Rio São Bartolomeu, que marca a divisa dos municípios de Luziânia (GO) e Cristalina (GO). Eram 12h 10. Tomei água e renovei o protetor solar. 

Toquei em frente e encarei forte declive, que termina após atravessar a ponte sobre o Rio Furnas. Logo após veio uma subida forte, que terminou no Posto 81, local de parada obrigatória por causa dos maravilhosos sucos de frutas que são servidos. O preço também é convidativo, apenas R$ 0,50 o copo de 200 ml. Não tinha tamarindo. Tomei de goiaba. 

Fiz um bom alongamento para encarar o trecho até Cristalina (GO), com 22 quilômetros de subidas, algumas fortes, outras nem tanto. Deixei o Posto 81 às 13h 35. Às 15h 05, dentro do previsto, cheguei a Cristalina (GO). Parada obrigatória no Posto JK. Era hora do almoço. 

Deixei o Posto JK, que fica em frente ao ponto no qual as duas rodovias [BR - 040 e BR - 050] desmembram-se. Eram 15h 25 e o rumo seguido passou a ser Sudoeste (SW), tendo o sol à esquerda, escorrendo rapidamente para o horizonte. 

Enquanto pedalava, contemplava-o. No inverno os dias são mais curtos. O pôr do sol, segundo meu Garmin (GPS de pulso), estava previsto para às 17h 43. Não havia tempo a perder. Havia 53 quilômetros a pedalar.

O trecho final do primeiro dia de viagem – Cristalina (GO) ao Posto Ponte Alta (GO) –, agora pedalando pela BR-050, é formado por uma grande reta, com declives suaves, percorridos em 3 horas, com uma parada na Pamonharia Sonho Verde. Encerrei a jornada às 18h 25. A estada foi no Hotel Ponte Alta, homônimo do posto de combustíveis.

BR - 050 em Cristalina (GO). Foto: Fernando Mendes.


Enquanto desarrumava os alforjes e preparava-me para merecido banho, fiquei olhando pela janela do quarto a transição natural da luz do dia para o azul do crepúsculo e o negro estrelado da noite.

Foto: Fernando Mendes.

Ponte Alta é um oásis em meio ao cerrado tomado pela soja. Trata-se de um dos poucos pontos de apoio da BR-050 a partir de Cristalina (GO). Por ali a parada é quase obrigatória para quem viaja.

 As empresas de ônibus, que ligam o Sul ao Norte e ao Nordeste do País, utilizam-se desse posto como parada obrigatória.

Depois do banho e da sessão de alongamentos, fui ao restaurante para um merecido jantar. Fiquei observando o movimento de ônibus, que aumentava à medida que a noite avançava. “Em se tratando de um período de início de férias escolares” – falou-me um fiscal de uma das empresas, “chegam a passar pelo Posto Ponte Alta até 90 ônibus por noite”, concluiu com certa alegria, pois em uma época de consumo em baixa, movimento em alta significa emprego garantido.

Quando voltei para meu quarto, lembrei-me do Brasil dos tempos da inflação. Falava-se, à época, que o “maior problema do País era a inflação”. “Inflação no Brasil era caso de polícia”. “Se a inflação é alta é porque alguém ganha dinheiro com ela” e tantas outras frases que, de tão repetidas, foram incorporadas ao cotidiano durante a década de 1980.

 Ironicamente, quando o dragão da inflação foi-se, surgiu outro monstro, tão tenebroso, perverso e retrógrado quanto à fera que cospe fogo pelas ventas: o desemprego. 

O Plano Real, instituído em 1º/07/1994, acabou com a maldita, mas criou um mecanismo extremamente perverso para evitar a volta da alta descontrolada de preços: a  elevação dos juros básicos. O consumo caiu e, dessa maneira, impediu a explosão de demanda que, segundo alguns economistas, poderá trazer a inflação de volta. 

Em outras palavras, o governo tem medo que a demanda reprimida traga à tona aquele cenário horrendo do passado. Preços que não paravam de subir (inflação inercial), remarcações, aplicações no “over” que faziam as empresas engordarem suas receitas financeiras acima das receitas operacionais, especulação, planos econômicos malucos, ágio, mais planos econômicos malucos, confisco de ativos para enxugar excesso de liquidez, outro plano econômico maluco (esse vai dar certo, e não dava), corte de [mais] três zeros. Quem não se lembra disso?

No entanto, o mecanismo criado pelo Pano Real para estabilizar a economia e, por extensão, liquidar a inflação, aumentou o desemprego, que atingiu a marca recorde de 13,1%, em maio deste ano [2004], segundo o IBGE. O que pode ser pior para a Nação?  Desemprego ou inflação?

Quando vejo esse cenário, com pessoas temendo o fantasma do desemprego, levando, segundo o IBGE, até 1 ano e 8 meses para voltar ao mercado de trabalho, sou tomado por uma sensação de total descrença no Brasil. O que ainda falta acontecer? Será que nunca sairemos da crise? Décadas a fio estamos escutando a retórica: “o Brasil está atravessando uma crise”

 Lamentavelmente, países com potencialidades inferiores deixaram esses cenários de crise, inflação e desemprego para trás. E quando será a nossa vez? 

Àqueles que leem esse relato, não desanimem. Somos o único país que conquistou cinco Copas do Mundo. Será que faz diferença em meio ao caos? 

Temos tecnologia de ponta, parque industrial de primeiro mundo, pauta de exportação que deixa muitas nações desenvolvidas no chinelo e empresas detentoras de tecnologia de ponta, como a Petrobrás, a Embraer, a Embrapa, a CSN, e a Emater. 

Na contramão da civilidade, temos desigualdades sociais abissais, que estão entre as maiores da Terra, uma concentração de renda acima da injustiça, uma legião de 20 milhões de analfabetos, 2 milhões de pessoas mortas, entre 1984 e 2003, vítimas da violência urbana, impunidade, corrupção, 20 milhões de trabalhadores à procura de trabalho e tantas outras mazelas centenárias. 

De um lado uma nação de tantos contrastes naturais – belíssimos – do outro lado, vergonhosos contrastes socioeconômicos. Lamentável. 

"Ó mundo tão desigual, tudo é tão desigual, ô ô. De um lado este carnaval, de outro a fome total, ô ô". 

Canção: "A Novidade". 

Compositores: Felipe de Nóbrega Ribeiro, Herbert Vianna, Sebastião Gonçalves Pimenta, Gilberto Gil.


Dormi muito mal naquela noite. A cama estreita e a infernal ladainha canina nos arredores do hotel. Embora a temperatura externa fosse baixa, o quarto estava abafado. Liguei o ventilador na baixa rotação para amenizar a situação. 


2º Dia. 04/07/2004
Posto Ponte Alta (GO) a Catalão (GO)
132 quilômetros.

A ladainha canina foi substituída pelo o cantar dos galos. Havia restos de madrugada no céu, denunciados por um fiapo de claridade no leste. 

 Levantei-me com a sensação de não ter dormido nada e, para piorar, o uivo do vento na fresta da janela sinalizava um dia difícil pela frente. 

 Tomei o café da manhã vendo o sol erguer-se no horizonte. Não havia nuvens e o dia prometia. O meu destino foi Catalão (GO), distante 132 quilômetros. Pretendia fazer esse trecho em 8 horas. Fiz em 9 horas.

 Deixei o Posto Ponte Alta às 7h 13 e ingressei na BR - 050. Pedalava forte sentindo temperatura baixa (13º C) e a força do vento lateral. 

 O traçado da rodovia, nos primeiros 11 quilômetros, é totalmente plano, em pouco tempo a média horária chegou a 22 km/h e o vento não atrapalhou tanto quanto eu esperava. 

 A Lua Cheia estava à minha direita, indo em direção ao poente (oeste) e o sol, à minha esquerda (leste), erguia-se mansamente,  aquecendo a fria manhã de 4 de Julho, 228º aniversário da independência dos Estados Unidos da América (EUA).


BR - 050, km 180. Foto: Fernando Mendes.

Às 8h 17, após 21 quilômetros percorridos, rápida parada na Pamonharia Paineira para hidratação e aquisição de água. 

Às 8h 21 voltei à estrada. Girava forte os pedais para não perder o pique e o calor do corpo. Ventava muito. À sombra, a sensação térmica era de 10º C. 

Rumei a Campo Alegre (GO), 37 quilômetros à frente da Pamonharia Paineira. Cheguei às 10h 15. Parada no Posto Xará. O estômago clamava por víveres. "Fique quieto. Está cedo para almoçar", foi o comando para acalmá-lo.

 No retorno ao pedal, comecei a sentir sono, resultado da noite mal dormida entre ladainhas caninas e cantos galináceos. 

O vento continuava inclemente. A média começou a cair consideravelmente. 

 Às 11h 42 parei no Posto Paulistano e detonei uma Coca-Cola com pedrinhas de gelo próximas ao gargalo, enquanto degustava delicioso PF com bifão acebolado, arroz, feijão, ovos e salada. 

A sensação de sonolência começou a dar nítidos sinais. Fui ficando lerdo, com preguiça de pedalar e o vento castigando. Senti vontade de cochilar. "Cochile um pouco, antes que caia da bicicleta". Não dei ouvidos. Venceu a disciplina. Voltei à estrada.


À duras penas cheguei à pequena Pires Belos (GO), 20 quilômetros adiante. Eram 13h 19. Parada no Posto Pacheco. Sentei-me à mesa do restaurante, baixei a cabeça e dormi por uma hora. Precisava.

Ao despertar, braços e pernas estavam dormentes. Se tivesse que sair correndo por algum motivo, não seria possível. Estava paralisado. 

Aos poucos a dormência foi diminuindo e a circulação voltou ao normal. Sentia-me disposto a pedalar. Voltei aos trabalhos. Eram 14h 30. Catalão (GO) estava 35 quilômetros à frente. Trecho tranquilo e chegada às 16h 15.

Hospedei-me no Hotel Champion, o mesmo que fiquei no ano passado quando viajei (também de bicicleta) de Brasília a Araxá (MG). 

Às 19h degustei deliciosa pizza portuguesa na Pizzaria da Gula, a pequena distância - duas quadras - do Hotel Champion. 

Era domingo e, embora a TV do quarto sintonizasse alguns canais a cabo, optei pela leitura. 

Abri o livro “Expedições Urbenauta: São Paulo, Uma Aventura Radical”, de Eduardo Emílio Fenianos. 

O autor, durante 120 dias, navegou por todos os bairros do Município de São Paulo, assim como pelas porções ainda naturais. Começou pela Praça da Sé (marco zero da cidade) e terminou na mesma Praça, 120 dias depois. Obteve patrocínio da Rádio Eldorado FM, que divulgava boletins diários e ganhou um espaço na Globo, no SP -TV. Dessa forma, conseguiu que sua aventura, em homenagem aos 450 anos da maior cidade da América Latina, ficasse conhecida. Propôs-se, também, a não dormir na própria casa, muito menos em hotéis. Os pernoites foram feitos nas casas dos bairros pelos quais passou. Os moradores cederam um lugar para o autor dormir. E assim se seguiram 120 dias de aventuras por uma São Paulo que nem todos os paulistanos conhecem, como o desconhecido bairro de Marsilac, o mais distante da Praça da Sé e mais próximo do litoral, local da Reserva Indígena Curucutu (coruja orelhuda), local da Tribo Guarani Tenon Doporã. O livro nos mostra uma São Paulo bem diferente daquela que conhecemos ou ficamos sabendo como é. O autor viveu um dia de motoboy no caótico trânsito paulistano, foi a bailes fuck, navegou pelo Tietê e viu a Marginal de um ângulo que poucos viram. Viu um mar de garrafas de plástico boiando no Rio Pinheiros e conheceu ruas que sequer aparecem nos mapas da Prefeitura. Percorreu a Cantareira, navegou pelos rios Juqueri, Embu Guaçu e Capivari e atravessou as represas de Guarapiranga e Billings. Enfim, o autor percorreu os 96 distritos da cidade divididos em cinco grandes regiões – as zonas cardeais, que constituem a primeira referência geográfica dos habitantes de São Paulo: Zona Sul, Zona Oeste, Centro, Zona Norte e Zona Leste. 

À noite eu lia a aventura do Urbenauta e, de dia, realizava a minha aventura.

Dormi muito bem. Nada de ladainhas caninas e outros barulhos noturnos. 

            3º Dia. 05/07/2004. 
Catalão (GO) a Uberlândia (MG). 100 quilômetros.


Acordei por volta das 6h 30, tomei café e, às 7h 33, com céu azul, ausência de nuvens e temperatura em 13º C, segui pela Avenida José Marcelino e alcancei a BR - 050. Não ventava.

A direção geral continuava sendo sul. Vi [novamente] a Lua Cheia se pondo no oeste (à direita), enquanto o sol erguia-se no leste (à esquerda).

Até a divisa dos Estado de Goiás e de Mina Gerais, percorri 34 quilômetros, com predomínio de descidas. Em uma hora e meia, estava na ponte sobre o Rio Paranaíba que, naquele ponto, marca a divisa dos Estados de Goiás e de Minas Gerais e das Regiões Centro-Oeste e Sudeste, respectivamente. Eram 9h 17.

BR - 050 divisa GO/MG. Foto: Fernando Mendes.

Após a travessia do Rio Paranaíba e girando por terras mineiras, curva à direita e uma subida de quatro quilômetros até o trevo de acesso à UHE (Usina Hidrelétrica) de Emborcação, administrada pela Cemig (Centrais Elétricas de Minas Gerais). 

BR - 050. Foto: Fernando Mendes.

A seguir, veio um trecho plano e uma descida mixuruca de apenas um quilômetro. Depois, uma subida de três quilômetros até o Posto Fiscal e mais uma subida de oito quilômetros até o trevo de acesso a Monte Carmelo (MG) e Cascalho Rico (MG). 

Finalmente uma descida, de três quilômetros, que termina na ponte sobre o Rio Jordão, de águas transparentes contrastando com o azul do céu. 

Preparei-me, a partir daquele ponto, para os 12 quilômetros de ascensão contínua até ingressar no perímetro urbano de Araguari (MG), alcançado às 13h. Predomínio de fortes subidas nos primeiros trechos da BR - 050 em Minas Gerais.

No Posto Mineirão almocei com força. As subidas insanas abriram-me o apetite. 

 Segui para Uberlândia (MG), distante apenas 21 quilômetros, com subidas à espera. Boa opção para a química digestiva.


Ao passar por uma barraca de frutas na saída de Araguari (MG), imediatamente acionei os freios e meus olhos ficaram vidrados nas melancias expostas em uma barraca no acostamento da BR-050. 

Não resisti e comi a parte que me pareceu maior. Estava doce e muito suculenta. Tudo isso por apenas R$1,00. 

"Leve uma caso sinta fome antes de terminar a grande subida na chegada a Uberlândia (MG)" Ignorei meu estômago, outra vez. Carregava 10 quilos de bagagem em dois alforjes. Com os meus 90 quilos e uma melancia, ficaria um pouco mais pesada.

Iniciei a descida que serpenteia depressão na qual se assenta o Rio Araguari, divisor natural dos municípios de Araguari (MG) e Uberlândia (MG).

 Acostamento péssimo e asfalto ruim. Nessas condições percorri um descenso de 12 quilômetros, com algumas curvas fechadas e outras nem tanto. Atravessei a ponte sobre o Rio Araguari, estreita e sem refúgio. 

Outro forte aclive.  Cascudos 15 quilômetros até alcançar o início do perímetro urbano de Uberlândia (MG). Eram 15h quando parei no Posto Décio Buriti. Havia percorrido, desde a saída de Catalão (GO), 100 quilômetros.

A me ver entrar no restaurante, o Sr. Décio ficou surpreso com minha aventura, fez aquelas perguntas de sempre “de onde vem, aonde vai” “está animado” “é muita coragem” e por ai vai. 

Alertou-me para o fato de a Rodovia (BR – 497), que liga Uberlândia (MG) a Prata (MG) ser muito perigosa para transitar de bicicleta. Não tem acostamento, é estreita e muito, muito movimentada, principalmente pelos veículos pesados. 

Diante desses entraves, desisti de seguir viagem, naquele dia, até Prata (MG), onde chegaria sob o manto da noite. Faltavam duas horas para o pôr do sol. "É melhor pernoitar no hotel do posto e amanhã me viro para voltar ao cronograma". Decisão segura.

Hospedei-me no Hotel do Posto Décio Buriti e refiz os planos para o dia seguinte, enquanto jantava deliciosa lasanha.

Após a refeição, fui de ônibus até rodoviária de Uberlândia (MG). Comprei passagem para Iturama (MG). Saída no dia seguinte às 15h 30. 

Dessa forma, o trecho entre Uberlândia (MG), Prata (MG) e Iturama (MG), foi percorrido de ônibus e, assim, voltei ao cronograma.

Voltei ao hotel convencido de que tomei a decisão certa. 



            4º Dia. 06/07/2004. 
Uberlândia (MG) a Iturama (MG)
247 quilômetros (ônibus)


Pela manhã, como não pedalei, lavei as roupas usadas na lavanderia do hotel. Com o sol e vento constante, as roupas secaram rapidamente. Passei o resto da manhã lendo o livro do Urbenauta.

Às 13h 30, pedal até a rodoviária de Uberlândia (MG), distante 11 quilômetros do local no qual me hospedei. 

De Uberlândia (MG) Iturama (MG), aquele sobe e desce de gente. A viagem se arrastava, mas eu estava tranquilo. Chegaria por volta das 20h e o hotel estava reservado. Foi preciso ter paciência para encarar o pinga-pinga.

Depois de uma parada de 20 minutos na rodoviária em Prata (MG), a viagem prosseguiu rumo a Campina Verde (MG), uma pacata cidade com muita gente de bicicleta pelas ruas. 

O pior trecho foram os 60 quilômetros em leito natural que separam Honorópolis (MG) de Iturama (MG). Foi preciso trocar o ônibus por um modelo antigo, da década de 1980, com molas no lugar da suspensão a ar e, assim, enfrentar a buracolândia que veio pela frente.  Pela janela do coletivo notei que seria difícil vencer aquela etapa. 

 
Ao entrar no coletivo, percebi o forte cheiro de poeira no seu interior. Bati com a palma da mão no assento e a poeira se levantou. 

Eram 18h quando a pacata Honorópolis (MG) ficou para trás e a viagem começou numa estrada estreita, empoeirada, farta em costelas de vaca e com intenso movimento de caminhões boiadeiros.


Embora a luz natural fosse fraca, pude perceber que nas laterais daquilo que chamam de BR 497 havia muita areia, parecia talco. A bike não desenvolveria nada naquele tipo de leito. 

A trepidação embaralhava meus pensamentos. Concluí que a melhor opção foi atravessar esse trecho de ônibus. 

Às 20h, o ônibus chegou à rodoviária de Iturama (MG). Uma viagem de apenas cinco horas, pareceu ter demorado dez.

 A bicicleta estava imunda de terra. Ao chegar ao Hotel Nacional, tive que lavá-la e deixá-la na garagem para secar.

Tomei banho e saí para jantar. Comida ruim. O que salvou foi o sorvete cascão de três bolas. Fazendo um balanço do dia, até que não foi dos piores. Voltei a ficar em dia com o planejamento, o pior pedaço foi percorrido de ônibus e o Estado de Mato Grosso do Sul estava 88 quilômetros à frente. 

Fui dormir mais animado. Não consegui saber o resultado do jogo do Fluminense com o Goiás, pela 13ª rodada do Brasileirão 2004.

5º Dia. 07/07/2004
 Iturama (MG) a Paranaíba (MS)
124 quilômetros

Pela manhã, enquanto arrumava as tralhas para partir, assisti, na TV Record, durante o Jornal Fala Brasil, a sonora goleada do Goiás sobre o Fluminense por 4 X 0. Vida que segue. Ou melhor, viagem que segue.

Deixei Iturama (MG) às 8h 50 para percorrer 124 quilômetros, pela BR-497, em asfalto, até Paranaíba (MS). Um pedaço do Brasil que quase ninguém conhece. 

Quando comentei acerca da minha viagem de bike pela Bacia do Rio Paraná, alguns estranharam o fato de eu dizer que estava indo para o Mato Grosso do Sul (MS) por Minas Gerais (MG). “E faz divisa”?, indagavam. “Faz, ora pois”, respondia. 

Foto: Fernando Mendes.
















A BR-497, na saída de Iturama (MG), tem asfalto liso e acostamento em ótimo estado. Depois de pedalar os oito primeiros quilômetros, mudança radical após o trevo de acesso à UHE de Água Vermelha, localizada no Rio Grande e administrada pela AES Tietê.

 O asfalto é crespo e muito desgastado. Arrepios em pensar num tombo. Mas a paisagem de fazendas, com vacas mastigando capim atrás das cercas, quase à beira da estrada, compensou o trecho ruim, deserto e pouco movimentado. 


Venci 49 quilômetros até chegar à única cidade daquele trajeto: a pacata e bucólica Carneirinho (MG). A rua principal é asfaltada e as transversais estão sem pavimentação. Tem Casas Bahia, agência do Bradesco e Assembleia de Deus. Essa tríade é infalível, por menor que a localidade seja. Lugar no qual o tempo parece demorar a passar. Todos se conhecem. 

Às 12h 40 voltei à BR-497 e encarei 41 quilômetros até a divisa (não existe?) dos Estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul e, finalmente, conhecer a magnífica Ponte de Porto Alencastro. 

Ao assistir a reportagem, vinculada ao JN, na qual vi o espetáculo dessa obra, inaugurada em outubro de 2003, decidi conhecer a região.


Quando faltava um quilômetro para atravessar de Minas Gerais para o Mato Grosso do Sul, avistei a parte superior dos pilares da ponte que, de tão elevados, podem ser vistos a grande distância.

Às 14h 47 parei no vão central da (2) Ponte Porto Alencastro, que liga uma margem à outra do Rio Paranaíba. Muitas fotos de vários ângulos. Obra colossal. Atravessei-a vagarosamente para sentir e curtir cada pedalada. 

(2) Inaugurada em 11 de outubro de 2003, no município de Paranaíba (MS), a ponte de Porto Alencastro, sobre o rio Paranaíba, está situada na divisa dos Estados do Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. 

Liga Paranaíba (MS) - margem direita a Iturama (MG) - margem esquerda - e está na importante rota de escoamento da produção agrícola, encurtando em 300 quilômetros, o caminho até os portos do Atlântico e os estados do Sudeste, nos quais estão os principais mercados consumidores do País.

A obra foi iniciada na década de 1980, mas a construção foi paralisada porque o governo de Minas Gerais não liberou os recursos relativos à sua contrapartida do projeto.

A estrutura estaiada da ponte é de metal e concreto. Tem 662,7 metros de comprimento e 16 de largura, ligando a margem sul-mato-grossense à margem mineira do rio Paranaíba. 

A conclusão da obra colocou fim a cinco ciclos de parada e retomada dos trabalhos, iniciados em 4 de novembro de 1993, no governo Itamar Franco e inaugurada no governo Lula.

 A ponte de Porto Alencastro consolida, por meio da BR-497, a ligação terrestre entre Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, até então amparada em balsas. 

Disponível em:. Acesso em: 31/07/2004. (com adaptações).






Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Viajar significa busca. Quem viaja quer a descoberta. Foi como se eu estivesse descobrindo o que via e precisava contar a todos o que acabara de conhecer.

Disponível em: <http://wikimapia.org/4415465/pt/Ponte-sobre-o-Rio-Parana%C3%ADba-Ponte-de-Porto-Alencastro>.  Acesso: 31/07/2004.

Atravessar essa divisa de Estados, não significou apenas mudar de Minas Gerais para o Mato Grosso do Sul. Significou, também, mudar da Região Sudeste para o Centro-Oeste e passar do 2º para o 3º fuso horário do País. Agora, encontrava-me com 1 hora a menos que Brasília (DF) e 4 horas a menos que Londres (GMT ou UCT).

Depois de curtir lentamente a travessia, parei na saída da ponte, ajustei o relógio para a hora local e dirigi-me a um pequeno restaurante às margens do Rio Paranaíba, o mesmo Paranaíba que divide GO de MG e que atravessei no segundo dia de viagem, após deixar Catalão (GO).

Degustei uns pastéis deliciosos acompanhados de uma gelada Coca-Cola. No rádio do estabelecimento, o cantor Leonardo soltava a voz: ♫♫♫♫ “Eu não sei aonde vou. Pode até não dar em nada. Minha vida segue o Sol, no horizonte dessa estrada” ♫♫♫


Quando voltei à estrada, eram 13h 30 (hora do Mato Grosso do Sul). Faltavam 18 quilômetros para chegar a Paranaíba (MS). Pela primeira vez, desde a criação do Estado do Mato Grosso do Sul, em 11 de outubro de 1977, pela Lei Complementar nº. 31, sendo efetivamente implantado em 1º de Janeiro de 1979,  pisei em terras sul-mato-grossenses. 

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

O Mato Grosso do Sul (MS) abrange uma área de 358.158,70 km2, correspondente a 18% da região Centro-Oeste, da qual faz parte, e a 4% do território nacional. Tem 2,6 milhões de habitantes (IBGE 2000), distribuídos em 79 municípios. 

 Em pleno desenvolvimento na década 1990, o Estado apresentou taxa média de crescimento econômico de 4,5%, enquanto nas demais áreas do País o índice ficou em torno de 2,6% ao ano. 

 De economia agropecuária, Mato Grosso do Sul (MS), tem 22 milhões de cabeças de gado, fato que o coloca em primeira posição no Brasil na criação e abate de bovinos.


De Iturama (MG) a Paranaíba (MS) o rumo é oeste. O sol estava bem à minha frente, a dois palmos do horizonte, dificultando um pouco a visibilidade. 

Faltavam apenas 18 quilômetros para chegar a Paranaíba (MS). Naquele ponto, a BR-497 cede lugar à MS-240, rodovia estadual, muito estreita e acostamento em péssimo estado. O movimento de veículos era pequeno.
  
Apesar de a Ponte Porto Alencastro estar pronta, o movimento em direção a Minas Gerais e vice e versa não cresceu. “Enquanto o trecho Iturama (MG) a Campina Verde (MG) estiver aquela vergonha, o movimento por aqui vai continuar muito fraco”, sentenciou Alex, um ciclista que mora em Paranaíba (MS) e que pedala diariamente na MS-240. 

Conhecemo-nos quando ele passou por mim e fez aquelas perguntas de praxe: "de onde vinha" e "aonde estava indo", "quantos dias gastei para chegar ali", etc. Ficou surpreso quando falei de onde estava vindo. 

Fomos conversando até chegarmos à entrada da cidade. Levou-me ao Hotel Star e ficou de passar no dia seguinte para levar-me à loja de um conhecido. Necessidade de reparos na roda traseira. Um buraco empenou-a de tal forma que mais parecia o “S” da Sadia. 

Do jeito que estão algumas rodovias do País, não são apenas os veículos que sofrem com a buracolândia.

À noite fui jantar no Restaurante Paracatu, uma das melhores refeições que fiz durante a viagem. O dono do estabelecimento é conhecido como "Sr. Paracatu", um mineiro muito boa pessoa. 

Enquanto jantava, sentou-se à mesa e quis saber tudo acerca de viagens de bicicleta. Falou também do município de Paranaíba (MS), da produção leiteira, das indústrias de laticínios que estão se transferindo para a região e orgulha-se de morar em uma cidade, na qual o percentual de desemprego apresenta-se muito abaixo da média nacional.

Depois de animada prosa, voltei ao hotel e percebi que a praça fervilhava de "peões" e peãs". Era semana da Festa do Peão, que reúne os maiores cantores sertanejos do País, rodeio, vaquejada e todas aquelas atrações desse tipo de evento. Veio gente de vários estados, principalmente do Mato Grosso (MT), Minas Gerais (MG) e São Paulo (SP), além dos moradores locais.


Carros com placas dos mais variados lugares. Muitas Pick-Up, símbolo maior de status dos Agro-Boys tupiniquins, com som na maior altura, tocando as músicas nas vozes dos mais famosos cantores sertanejos nacionais: Rio Negro & Solimões, Daniel, Zezé di Camargo & Luciano, Gean & Giovani, Leonardo, Chitão & Xororó e alguns novatos.

Fiquei meia-hora na praça, enquanto saboreava cocadas deliciosas. 

A hora avançava e o movimento crescia. Difícil dormir com todo aquele barulho, principalmente quando o locutor do rodeio abriu o espetáculo e anunciou: “Seguuuuuuuuuuuuuuuuuuura Peão” e o som tocou alto, com Rio Negro & Solimões cantando “♫♫♫♫e bate a mão e bate o pé♫♫♫♫”.

A festa rolou a noite toda, com som alto e o locutor do rodeio parecia estar dentro do meu quarto. Por sorte levei bolinhas de silicone,  usadas para vedar os ouvidos e não entrar água nos banhos de piscina e barulhos ensurdecedores.

Quando liguei para reservar a estada no Hotel Star, a proprietária falou-me da festa e do barulho. Fui prevenido. Dormi a noite toda sem ser incomodado pela algazarra na praça.



6º Dia. 08/07/2004.
Paranaíba (MS) a Santa Fé do Sul (SP). 82 quilômetros.


Acordei lá pelas 9h da manhã. Como o trecho a percorrer naquele dia 8 de Julho, de Paranaíba (MS) a Santa Fé do Sul (SP), foram diminutos 82 quilômetros, decidi sair ao meio-dia, hora local, 13h no horário de Brasília (DF). 

Tomei café, fui ao BB sacar alguns reais e esperei o Alex, que me levou à loja para desempenar a roda da bicicleta. Havia um raio danificado e o pneu traseiro amanheceu murcho, resultado de um prego que penetrou de raspão na câmara de ar, por isso esvaziou tão lentamente. 

Fomos a alguns poucos pontos turísticos da cidade. Tirei fotos da Igreja Matriz e do chafariz. Voltei ao hotel, arrumei as tralhas e, ao meio-dia, deixei Paranaíba (MS) pela saída oeste e rumei pela BR-158 em direção à divisa do Mato Grosso do Sul (MS) com São Paulo (SP). O dia, que amanheceu ensolarado, apresentava-se, naquele momento, muito nublado.
   
A BR-158 é uma importante rodovia longitudinal que dá acesso a Minas Gerais (MG) e a Goiás (GO). É muito movimentada, principalmente na época de escoamento de soja. Pela importância que essa estrada tem, esperava que estivesse em boas condições de trafegabilidade, afinal é uma artéria das mais importantes na ligação norte - sul do País, estendendo-se por 3.964 quilômetros entre Marabá (PA) a Santana do Livramento (RS), fronteira com o Uruguai.

As condições da BR - 158, nos 48 quilômetros que a percorri até o trevo de acesso a Aparecida do Taboado (MS), são muito ruins. Poucos buracos em asfalto gasto. Remendos no piso, tornado a viagem muito perigosa. 

O acostamento está cheio de restos de asfalto das repetidas operações tapa - buracos, formando vários morrotes que fizeram a bicicleta quicar igual à pedras atiradas paralelamente à lâmina d´água de uma lagoa.

 O tempo começou a “virar”. Um forte vento lateral balançava o mato que cresce às margens da estrada. Não demorou a chover. Uma chuva fina, que pouco molhou o asfalto. O vento estava insuportável. 


O movimento de carretas era grande e o acostamento melhorou depois que cruzei a ponte sobre o Rio Quitéria, que divide os municípios de Paranaíba (MS) e Aparecida do Taboado (MS). 

Disponível em: <http://viajandotodoobrasil.com.br/bwg_gallery/aparecida-do-taboado/>. Acesso: 31/07/2004.

Eram 15h (hora local - 16h em Brasília -DF) e faltavam menos de 25 quilômetros para atravessar a majestosa Ponte Rodoferroviária sobre o igualmente majestoso Rio Paraná e entrar no Estado de São Paulo. Rodovia na parte superior, ferrovia na inferior. Obra maravilhosa.

Disponível em: <http://vfco.brazilia.jor.br/ferrovias/Ferronorte/ponte-Rodoferroviaria-rio-Parana-acesso-rodoviario.shtml>. Acesso: 31/07/2004.

Disponível em: <http://vfco.brazilia.jor.br/ferrovias/Ferronorte/ponte-Rodoferroviaria-rio-Parana-acesso-rodoviario.shtml>. Acesso: 31/07/2004.

Às 15h 42 (hora do Mato Grosso do Sul e 16h 42 hora de Brasília), atravessei o perímetro urbano de Aparecida do Taboado (MS) e, logo após, diante de mim, a majestosa e imponente a Ponte Rodoferroviária que separa o Estado de Mato Grosso do Sul (MS), município de Aparecida do Taboado - margem direita - do Estado de São Paulo (SP), município de Santa Clara do Oeste - margem esquerda. 

Foi emocionante atravessar seus 3.800 metros de extensão. Chovia pouco e ventava bastante. Lá embaixo, as águas do Rio Paraná estavam encarapitadas, com pequenas ondas de cristas brancas, formadas pela ventania. 

Escureceu e começou a chover. Pouco me importei com a chuva, muito menos com o vento. O importante é que eu estava lá.

Mal podia acreditar que estava lá, como havia idealizado há muito tempo. Ao planejar a viagem, vi muitas fotos dessa ponte, mas nada se compara em vê-la [ao vivo] e atravessá-la pedalando.



Disponível em: <https://mapio.net/pic/p-42496480/>. 
Acesso: 31/07/2004.

Nunca imaginei que poderia ir tão longe com minha bicicleta. Estava passando por um pedaço do Brasil que poucos brasileiros conhecem. E esse foi um dos objetivos da viagem. Ir a lugares nos quais poucas pessoas sabem onde ficam. 

Quando terminei a travessia, encontrava-me em Santa Clara do Oeste (SP), margem esquerda do Rio Paraná. Olhei para trás e contemplei, mais uma vez, aquela obra fantástica. Adiantei o relógio em uma hora. Voltei ao 2º fuso horário (hora de Brasília - DF). Eram 17h.

 15,8 quilômetros à frente, em pedal pela Rodovia SP - 320, cheguei a Santa Fé do Sul (SP), alcançada às 17h 27. A missão daquele dia estava cumprida. 

Hospedei-me no Hotel Túris, muito derrubado, mas estava reservado e fiquei por lá mesmo. Pernoitei em lugares piores. 

Na chegada, a chuva parou. Ao sair para jantar, o céu estava estrelado, prenúncio de melhoras no tempo. E era indispensável que fosse assim, afinal estava programado, para a manhã seguinte, um passeio de barco pelo lago da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira. Chuva, nem pensar. 

Jantei comida chinesa assistindo ao JN. Depois da refeição, fui ao Siber Café enviar notícias para casa. 

Voltei ao Hotel Turis por volta das 22h. Não li dez linhas da aventura do Urbenauta. Apaguei.


7º Dia. 09/07/2004.
Passeio no Barco "A Professorinha".

Às 8h da manhã, o Sol brilhava entre nuvens. Tomei café, peguei a bicicleta e rumei, por 11 quilômetros, entre eucaliptos que margeiam a rodovia, até a pequena Rubinéia (SP), local de embarque na Professorinha, uma balsa empurrada por um rebocador, que faz o passeio pela represa da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira (*).

(*) Inaugurada em 1973, com potência instalada de 3.444 MW e um reservatório (ou barragem) que alagou uma área de 1.195 km 

Disponível em:<ww.cesp.com.br>. Acesso em 14/02/2004.

A Professorinha estava ancorada no CPP (Clube do Professorado Paulista), localizado às margens da represa. Tomei conhecimento desse passeio pela Internet, pesquisando as atrações turísticas em Rubinéia (SP). 


Barco "A Professorinha". Disponível em: <cpp rubinéia. com.br>. 
Acesso: 31/07/2004.

Cheguei às 10h, horário marcado para a partida, que aconteceu às 12h. O grupo de italianos que fretou a embarcação chegou atrasado. Eu não poderia embarcar. "Os ítalos fecharam pacote", justificou a funcionária "plantada" na entrada lateral da embarcação. "Pedalou tudo isso para chegar aqui e ficar parado como uma estátua"? "Reaja". "Faça alguma coisa para embarcar, falou meu lado ansioso". Pedi para falar com o capitão. Enquanto contava minha (saga?) até chegar à Professorinha, um marujo juntou-se à conversa. Gostaram do que ouviram.

Então o Sr. Jesus e o Sr. Osmarino, marujo e capitão, respectivamente, me convidaram a participar do passeio, “afinal não é todo dia que recebemos um ciclista que vem de Brasília para conhecer a nossa região”, falou o capitão. Alvíssaras.


Agradeci a preferência e embarquei com a bike,  estacionada junto à popa do barco. O tempo ficou nublado e o maldito vento voltou a soprar forte. As bandeiras do Brasil, do Estado de São Paulo e do Município de Rubinéia (SP), localizadas na proa da Professorinha, tremulavam fortemente, parecendo que rasgariam. 

Nuvens cor de chumbo e baixas, os nimbos, as nuvens do mau tempo, concentravam-se ao norte, justamente na direção na qual a Professorinha seguia quando zarpamos ao meio-dia.
  
Foi possível avistar a Ponte Rodoferroviária que atravessei - pedalando - no dia anterior . À medida que o barco avançava, a ponte ficava mais imponente. Vista de baixo, parece mais bonita e esplendorosa. 

Ao passar sob a estrutura metálica, ouvi o apito da locomotiva, que puxava um comboio a perder de vista e desfilava vagarosamente na direção do Mato grosso do Sul.  O trecho está sob a concessão da empresa privada Ferronorte, em substituição à Ferroban, desde novembro de 1998, e detêm a exploração da ferrovia entre Santa Fé do Sul (SP) e Rondonópolis (MT). 


A Travessia do Rio Paraná sempre foi um grande gargalo para o escoamento de cargas e da produção em geral do Centro - Oeste para os portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), pois, em muitos locais, a travessia [do Rio Paraná] era realizada por meio de serviços de "ferry-boats", as populares balsas.

Para eliminar esse gargalo, tornou-se imprescindível a edificação de uma ponte rodoferroviária que eliminasse a demorada travessia por meio de barcaças. 

Iniciadas as obras, várias vezes paralisadas e retomadas, de acordo com os ventos políticos e econômicos que sopravam sobre o projeto, finalmente a empreitada foi concluída em 29.05.1998.


Disponível em: <https://www.oocities.org/estrada_de_ferro/f-obras-da-ponte.htm>. Acesso: 31/07/2004.

Mas o ponto alto [e mais esperado do passeio de barco] foi ver a confluência dos rios Paranaíba e Grande, os formadores do colossal Rio Paraná. Esse encontro se dá logo após a passagem sob a Ponte Rodoferroviária. O barco foi até o marco zero, onde dois rios se juntam para formar um, ou seja, 1 + 1 = 1.

O Rio Paraná, diferentemente dos rios Amazonas, São Francisco e Tietê, não tem nascente, que nada mais é do que: "água que aflora à superfície e dá origem, no início, a um pequeno filete de água que se desenvolve, avoluma-se e forma um grande rio. (Nota do Autor).

O Paraná se forma da confluência, da união ou da junção de dois extraordinários rios em extensão e volume de água: o Paranaíba e o Grande. 

No nariz do mineiro, os Rios Paranaíba e Grande se encontram, e dão origem ao "nascimento" do Rio Paraná.

A configuração do Estado de Minas Gerais é  semelhante a uma pessoa vista de lado, ou de perfil. Naquilo que parece ser o “nariz do mineiro", os rios Paranaíba e Grande, que fluem para o oeste, se encontram, no ponto extremo do "nariz de Minas Gerais", dando origem à formação do Rio Paraná.

A Professorinha foi até a ponta do “nariz”. À oeste, Mato Grosso do Sul, município de Aparecida do Taboado; ao norte, Carneirinho, município de MG e à leste, Santa Clara d'Oeste, município paulista.

A geografia daquela região é perfeita. Vi ao vivo, aquilo que conhecia, até então por meio de mapas e livros didáticos.

Às 14h, paramos no cais da casa do jogador Luizão (ex-Corinthians, ex-Vasco e atual Botafogo). A família do atleta estava reunida em animado churrasco, embora o protagonista não estivesse presente. 

Fomos apresentados a todos, tomamos cerveja, beliscamos uns pedaços de carne e retornamos à embarcação para o almoço. E que almoço. Moqueca de Pintado acompanhada de vários tipos de saladas, arroz, pirão e batatas. 

"Bati" dois pratos. Almocei na mesa com o Osmarino (Capitão) e Seu Jesus (Prático). Entreolharam-se quando me viram repetir e comentaram: “viajar de bicicleta deve dar muita fome”. “De certo que sim”, respondi prontamente.

Depois do almoço os italianos caíram na samba. Desajeitados, mas animados. Dançaram e beberam muitas cervejas. 

O guia deles foi um padre da comarca local, tomou cerveja e balançou o esqueleto. Que dia maravilhoso em companhia de pessoas tão animadas em um lugar tão especial. 

Valeu ter pedalado [até ali] 890 quilômetros para ver, viver e sentir tudo que aquele dia 9 de Julho, 72º aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932, proporcionou-me. Por isso nunca me sinto sozinho quando viajo, mesmo indo sem companhia.

Às 16h 45, a Professorinha atracou no cais do CPP, despedi-me de todos, prometendo voltar. Agradeci ao Capitão e ao Prático o convite, paguei a eles os R$ 30,00 do passeio (que pechincha), montei na bicicleta e fui conhecer as praias do Rio Paraná, localizadas às margens de um trecho da represa de Ilha Solteira. 

Praia no Rio Paraná.
Fotos: Fernando Mendes.

O tempo havia melhorado consideravelmente, mas o vento não seduzia ninguém a um mergulho naquelas águas transparentes. 

Era final de tarde e o sol escorria rapidamente para o horizonte. As sombras das palmeiras se alongavam até tocar nas águas da represa. Entardecer digno de um dia especial. Tirei várias fotos e retornei ao hotel, pedalando devagar, igual à Professorinha navegando pelo Rio Paraná. 

 O lugar superou todas as minhas expectativas. Quando houver outra oportunidade, voltarei a Rubinéia (3) e farei todos os passeios novamente. Conheci mais um pedaço do Brasil que poucos brasileiros conhecem.

(3) Em 1973, o barramento do Rio Paraná, que originou o lago da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, submergiu a cidade de Rubinéia (SP). Outra cidade surgiu próximo ao local. A transferência da população para a "Nova Rubinéia" foi feita em tempo hábil, antes de a maioria das edificações serem engolidas pelas águas do Rio Paraná. A antiga cidade ficou submersa.

A equipe de mergulhadores de Fernandópolis (SP), formada pelos empresários Clacir Colassiol, Adão José Martins e Gilberto Musto, realizou dezenas de mergulhos a fim de explorar o local, que está a 12 metros de profundidade. Tecnicamente os mergulhos são "rasos" proporcionando um período maior de permanência dos mergulhadores junto às ruínas, facilitando a pesquisa.

Mergulho na Rubinéia (SP) submersa.



Disponível em:<https://www.brasilmergulho.com/mergulhadores-exploram-rubineia-submersa/>. Acesso: 31/07/2004.



8º dia. 10/07/2004.
Santa Fé do Sul (SP) a Ilha Solteira (SP).
63 quilômetros.

 Dia 10 de julho, sábado, deixei a simpática Santa Fé do Sul (SP) às 8h 42. Subi a Avenida Conselheiro Antonio Prado, que termina no trevo de acesso à SP-595, a Rodovia dos Barrageiros. 

Essa desconhecida estrada liga Santa Fé do Sul (SP) a Ilha Solteira (SP), município criado a partir da construção, no período da ditadura militar brasileira (1964-1985), da UHE de Ilha Solteira, uma das maiores hidrelétricas da Terra.

Apenas 63 quilômetros entre as duas cidades, com asfalto em péssimo estado, na transição de gasto para esburacado. O acostamento é de terra, com muitas pedras grandes e soltas, tornando a pedalada lenta e penosa. 

O tempo não era dos mais animadores. Estava nublado e fazia muito frio por causa do vento gelado que soprava – para variar um pouco – na direção contrária à rota que seguia. Parei no terceiro quilômetro e vesti calças compridas. Minhas pernas estavam geladas. Quem diria. 

Começou a chover de forma leve. Não durou mais do que 15 minutos. Como o movimento era pequeno, o silêncio permitia-me ouvir os sons da natureza. Bandos de maritaca cruzavam a estrada a baixa altitude. Pareciam felizes com a chuva fina. 

 Numa árvore avistei uma arara, que lutava para se equilibrar em fracos galhos. Tirei a teleobjetiva de um dos alforjes e consegui fotos sensacionais dessa ave tão bela. Penas azuis e amarelas. Bateu asas quando passou um ônibus. Segui sacolejando em meio a tantos buracos e pedras.


Foto: Fernando Mendes.

O sol apareceu entre nuvens, mas a temperatura continuava baixa. Ventava muito e o capim alto nas margens da estrada balançava de um lado para outro, ficando descabelado. 

Pedalava tranquilamente, apesar dos solavancos. Estrada ruim, tempo ruim, tudo estava ruim. Por volta das 12h o céu escureceu rapidamente. O dia virou noite. Uma tempestade aproximava-se velozmente. Vinha do norte para o sul, ou seja, de encontro a mim.

Das nuvens cinza, faiscavam raios e o barulho dos trovões era ouvido, segundos depois. Parei e passei a cronometrar o tempo entre o flash do relâmpago e o barulho da trovoada. Quanto menor o tempo entre um e outro, mais próxima a tempestade estava de mim.

Ao atravessar a ponte sobre o Rio São José dos Dourados (SP), avistei uns botecos que margeiam a rodovia, mas decidi ir em frente. “Que venha a chuva", desafiei. Porém ficou na ameaça. O vento mudou de direção e empurrou a tempestade para o norte e o dilúvio que se anunciava, não chegou a acontecer.

Foto: Fernando Mendes.

  Mais tarde, acomodado no hotel em Ilha Solteira (4), assisti no noticiário da EPTV, "forte temporal, por volta das 12h, fez muitos estragos em Votuporanga (SP) e Fernandópolis (SP)", informou a repórter que fazia a cobertura do caso nas ruas de Votuporanga (SP).


Almocei e dormi. Acordei às 18h com o barulho da chuva. Fiquei deitado escutando a água cair com força. Dormi novamente. Acordei quando começava o JN. Depois das notícias, saí para comer pizza e enviar notícias para casa. 

(4) Ilha Solteira tem este nome em virtude de ser uma ilha localizada no Rio Paraná, muito próxima à Usina Hidrelétrica, e que está condenada ao desaparecimento 
em virtude da erosão provocada pelas enchentes do Rio Paraná.

Disponível em<: font="" wfd-id="962"> https://redeglobo.globo.com/sp/tvtem/cidade-limpa/noticia/confira-a-programacao-de-coletas-do-cidade-limpa-2019-em-ilha-solteira.ghtml>. Acesso: 31/07/2004.


A Ilha "Solteira" em meio ao Rio Paraná.

Disponível em<: font="" wfd-id="952"> https://redeglobo.globo.com/sp/tvtem/cidade-limpa/noticia/confira-a-programacao-de-coletas-do-cidade-limpa-2019-em-ilha-solteira.ghtml>. Acesso: 31/07/2004.


9º dia. 11/07/2004.
Visita à UHE de Ilha Solteira (SP).

Comecei a pedalar bem cedo, às 7h 30. Deixei o hotel e segui para a Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira. Era dia de visita, marcada para às 9h. 

Percorri os 15 quilômetros que separam a área central da cidade da guarita que dá acesso às dependências da Usina Hidrelétrica. O dia estava esplêndido. Céu azul, sem nuvens e as águas da represa estavam prateadas, ao refletir os raios solares. 

Foto: Fernando Mendes

Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira é a maior do Estado de São Paulo e a sexta maior do Brasil. Está localizada no Rio Paraná, entre os municípios de Ilha Solteira (SP) e Selvíria (MS).

A potência instalada é de 3.444 mW, com vinte geradores assim distribuídos, quanto à potência nominal unitária:

Geradores
Potência
Geradores 1 a 4
176.000 kW
Geradores 5 a 10, 12, 14, 15, 17 e 18
170.000 kW
Geradores 11, 13, 16, 19 e 20
174.000 kW
Potência nominal total instalada
3.444.000 kW
Fonte: CESP, Cia. Energética de São Paulo.


A altura da barragem é de 78 metros e o reservatório alagou uma área de 1.231 km2. Comparativamente, a área alagada da Represa de Ilha Solteira equivale a 32 vezes à área [alagada] do Lago Paranoá (38 km2), localizado no Plano Piloto de Brasília.

Disponível em: <https://www.ctgbr.com.br/wp-content/uploads/2018/07/20170706ctgilhasolteira_01diadrone014.jpg>. Acesso: 31/07/2004.

O volume de água do reservatório de Ilha Solteira é da ordem de 21 bilhões e 166 milhões de m3 de água, sendo a 9,5 vezes maior que o volume de água da Baía da Guanabara (2,2 X 109 m3).

Cheguei ao centro de visitantes com uma hora de antecedência, tendo tempo bastante para explorar as dependências externas da usina. Os funcionários da CESP ficaram bobos quando disse ter vindo de Brasília (DF) pedalando. Logo rolou uma animada conversa sobre a viagem.

A visita começou com uma apresentação de dados da Usina e o histórico da construção. Utilizando-se de um programa PPS, as imagens iam sendo passadas e didaticamente explicadas. 

 A exposição me fez lembrar os tempos que eu viajava para a Usina Hidrelétrica de Três Marias (MG), em companhia de meus alunos. 

Depois do auditório, fui conhecer o interior das instalações. Visitei a sala dos geradores, a central de controle e o centro de manutenção de todos os equipamentos que compõem o complexo.

Terminada a exploração, agradeci a todos e fui conhecer as redondezas. Como a eclusa (5) de Ilha Solteira não foi concluída, tendo sido construído apenas a cabeça de montante (rio acima) da câmara, a navegação na Hidrovia Tietê-Paraná por aquelas bandas está desativada e não há previsão para a conclusão da obra.

(5) Eclusa é uma obra de engenharia que permite às embarcações superar desníveis em cursos de água, ou seja, subam ou desçam os rios em locais nos quais hajam desníveis. 
São construídas em barragens, quedas de águas, corredeiras ou anexas às  usinas hidrelétricas.
Viabiliza a transposição de obstáculos que existem entre os trechos navegáveis dos rios, possibilitando o trânsito de embarcações que sobem ou descem um rio.
Disponível em: https://www.perfilnews.com.br/usina-de-ilha-solteira-tera-construcao-de-eclusa. Acesso: 31/07/2004 (com adaptações).

COPIE E COLE, NO NAVEGADOR DO SEU PC, O LINK ABAIXO PARA VER COMO FUNCIONA UMA ECLUSA.

C:\Users\Public\Documents\Fernando Mendes\Viagens de Bike\2004 Inverno. Passeio Pela Bacia do Rio Paraná\Como funciona uma Eclusa.gif

Fui a um porto abandonado às margens do Rio Paraná, a jusante (rio abaixo) da Usina. De lá tive uma visão privilegiada de toda a hidrelétrica.


Foto: Fernando Mendes

Rendeu belas fotos. Voltei à cidade pedalando devagar para curtir a paisagem. O tempo começou a fechar. Nuvens negras vinham de todos os lados. Almocei e fui para o hotel, hibernar. Meu dia estava ganho. Meu sonho de infância – conhecer Ilha Solteira – estava realizado. 

Desde 16 de Janeiro de 1974, ocasião na qual o ex-Presidente Médici e o ex- Governador de São Paulo Laudo Natel inauguraram as primeiras unidade geradoras de operação industrial da UHE de Ilha Solteira, tive vontade de conhecer aquele lugar. 

Lembro-me das fotos na Revista Manchete. Fiquei vidrado quando as vi. Na época, com 14 anos, o desejo de ser professor de Geografia devia estar se manifestando, porém eu ainda não sabia bem o porquê do fascínio por viajar, conhecer lugares, sair por aí. Hoje, eu sei.

Quando acordei, chovia a cântaros. Esperei o dilúvio parar enquanto assistia ao VT de Fluminense e São Caetano, partida realizada no dia anterior. Mas como eu não sabia o resultado, foi como se estivesse assistindo ao vivo. O Flu venceu por 1 X 0. 

Saí depois que a chuva cessou. Senti a temperatura cair. O termômetro da rua marcava 16ºC. Mais tarde, quando voltei ao hotel, marcava 13º C. Inverno de país tropical. Apaguei.
  
                 10º dia. 12/07/2004.Ilha Solteira (SP) 
a Três Lagoas (MS). 92 quilômetros.

Quando acordei no dia seguinte, levei um susto ao ver o relógio marcando 9h. Dormi demais. Tomei café e parti em direção a Três Lagoas (MS)Eram 10h 20 quando deixei a simpática Ilha Solteira (SP) e voltei à SP-595, a Rodovia dos Barrageiros, para pedalar os 92 quilômetros daquela segunda-feira, dia 12 de Julho.

Fazia frio quando dei as primeiras pedaladas, mas logo estava aquecido e não tardou a rolar a primeira gota de suor pelo rosto. Apesar da temperatura baixa e do céu escuro, não choveu. 

Decidi conhecer a pequena Itapura (SP), local no qual o Tietê (6) lança suas águas no Rio Paraná. A cidade é muito pequena e fica afastada poucos quilômetros do SP-595. 

Tentei conferir e registrar o tão imponente encontro de dois colossais rios do sistema hidrográfico brasileiro. Não logrei êxito.

O acesso de dá por meio de uma porteira, que estava com a fechada a cadeado. Um nativo que passava pelo local disse-me que o proprietário não permite a entrada de visitantes. Dei meia volta e retomei o caminho para Três Lagoas (MS).

(6) O Rio Tietê possui 1.036 quilômetros de extensão. Nasce no município de Salesópolis, na Grande São Paulo, numa altitude de 1.030 m a 22 quilômetros do Oceano Atlântico, tão perto do mar, mas ”corre” na direção oposta, para oeste, se interiorizando e desembocando no Rio Paraná, entre os municípios de Itapura (SP), Ilha Solteira (SP) e Castilho (SP). É um rio histórico que permitiu a entrada dos Bandeirantes e Monções e o desenvolvimento da cafeicultura e da industrialização.

Disponível em:<.www.infoescola.com/hidrografia/rio-tiete/>. 
Acesso: 31/07/2004.

Voltei à SP-595, girei mais alguns quilômetros, ingressei na SP-300, a Rodovia Marechal Rondon, para alcançar Três Lagoas (MS), atravessando a divisa dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul (MS). Novamente atrasei o relógio em uma hora. 

 A transposição do Estados de São Paulo (SP) para o Estado de Mato Grosso do Sul (MS) é feita percorrendo a crista da barragem (3.000 metros de extensão) que originou o lago da Usina Hidrelétrica de Jupiá. 

 Juntamente com Ilha Solteira, Jupiá forma o Complexo de Urubupungá, constituído por essas duas gigantescas hidrelétricas.

Parei para tirar belas fotos do lago, com águas prateadas devido à posição do sol.  

Atravessei a ponte pedalando com escolta de um motoqueiro da empresa [terceirizada] de vigilância que presta serviços à CESP.

UHE Jupiá. Foto: Fernando Mendes

Crista da Represa de Jupiá. Foto: Fernando Mendes.











O guarda de plantão anotou os dados da minha Carteira de Identidade e, a seguir, o motoqueiro chegou, apresentou-se e seguiu na frente, bem devagar. Fui logo atrás. 

A ponte tem três quilômetros de extensão e foi construída sobre a barragem de Jupiá. Como não existe acostamento e o movimento de caminhões é enorme, a travessia de ciclistas – coisa rara por aquelas bandas – tem que ser escoltada. 

Pelo retrovisor observei que uma fila muito grande – principalmente caminhões – formou-se atrás de mim. Como não pode haver ultrapassagens naquele trecho, a fila cresceu ainda mais, enquanto eu e a escolta seguíamos, até atingir o final da ponte. 

Ao chegar ao lado mato-grossense, agradeci ao motoqueiro e parei no acostamento. 

Novamente estava no Mato Grosso do Sul, agora na região de Três Lagoas (MS), no 3º fuso horário brasileiro. Uma hora a menos que Brasília e quatro a menos que Londres. 

Nunca pensei que conseguiria chegar tão longe de casa, montado em uma bicicleta e contemplando uma região tão bonita e tão desconhecida da maioria dos brasileiros.

Após a travessia, a SP-300 (Rodovia Marechal Rondon) cede lugar à BR-262, que vai até Corumbá (MS), na porção sudoeste do Estado, fronteira com a Bolívia. 

Pedalei até o trevo de acesso à cidade, contornei-o à esquerda, passei pela fábrica de biscoitos Mabel e alcancei a entrada principal da cidade.

O Alex me disse que Três Lagoas (MS) é a capital nacional das bicicletas e logo pude constatar isso, pela quantidade de ciclovias que a cidade possui. Fui vendo muitos ciclistas pedalando para cima e para baixo. Muitos com uniformes das empresas ou escolas nas quais são lotados. 

No cruzamento das principais vias da cidade, existe um Cristo Redentor. Naquele ponto, virei à direita e outra ciclovia apareceu, conduzindo-me até o Hotel Ipê Parque, ao lado da Rodoviária. Cheguei às 16h, hora local (17h em Brasília).

Mais um ritual de desarrumar as tralhas, alongamentos, banho, lavar a roupa usada naquele dia e sair para comer. Como ainda era muito cedotirei um cochilo depois das obrigações cumpridas. 

Quando despertei às 18h (19h em Brasília) era noite. Saí em busca de víveres. Na rodoviária tem um pé sujo que me serviu uma janta de qualidade por apenas R$ 7,00.

Num Siber Boteco enviei notícias do dia. Caminhei muito para chegar ao que me indicaram, mas valeu a pena. Além de os computadores serem ágeis, tomei um café expresso de qualidade. Voltei para o hotel depois das 22h. 

A cidade parece dormir com as galinhas. No Centro, onde eu me dirigi para encontrar o tal Siber, as ruas têm asfalto novo e ruas largas. Algumas três faixas de rolamento. Mas para as bandas da Rodoviária, o asfalto é crespo, muito gasto, cheio de buracos e ondulações. 

 Três Lagoas (MS) é uma cidade de fortes contrastes, a começar pelas lagoas – em número de três – onde apenas uma pode ser visitada, a Lagoa Maior. As outras duas ficam em área de difícil acesso.


        11º dia. 13/07/2004. Passeios por Três Lagoas (MS)
                 
Pela manhã, fui até a Lagoa Maior, cujo entorno tem pista para caminhada e quadras poliesportivas, em área bastante arborizada. Período de férias escolares, muitas crianças e adolescentes jogavam – pasmem – basquete. Não vi ninguém jogando a famosa “pelada”.

Por todos os lados são avistados cavaletes com dezenas de bicicletas, o principal meio de transporte da cidade. “Nenhuma delas fica amarrada ou presa a um cadeado”. “Aqui em Três Lagoas, furtos de bicicletas são raros” disse-me um dos guardas da prefeitura, que controlava o trânsito na esquina próxima ao acessos à Lagoa Maior. Os atropelamentos, não são tão raros assim, apesar das ciclovias. 

 Observei que alguns ciclistas não utilizavam os espaços reservados às bicicletas. Pedalavam em meio aos carros e ao trânsito frenético da cidade.


Parei em uma sorveteria após conhecer a Lagoa Maior. Eram 10h – hora local – e fazia calor. “Que outros pontos turísticos existem na cidade” perguntei à dona do estabelecimento, que rapidamente respondeu-me de forma irascível: “nenhum”. “Aqui em Três Lagoas não tem nada par ser visto”. “O Senhor escolheu a cidade errada para passear”. Não fiquei surpreso. Sabia disso. 

Insisti mais um pouco e ela falou-me das praias no Rio Paraná, “lá para as bandas da ponte velha, por onde passa o trem”. Depois do sorvete, toquei para a velha ponte ferroviária, por onde passa o trem.

No dia anterior, ao atravessar a divisa SP/MS, avistei essa tal ponte ferroviáriaparalela à rodovia. Tem um aspecto de abandono. É a porta de entrada dos trens vindos de Bauru (SP), que vão até Corumbá (MS).

  A linha férrea atravessa um bairro muito pobre na periferia da cidade. As casas são de madeira e foram construídas pela falecida FEPASA (Ferrovias Paulistas S/A) nos tempos áureos dos trens no Brasil. Hoje, a Novoeste administra esse trecho.


Na estação, com aspecto de abandono, muitos vagões deterioram-se, expostos à ação do tempo. Não têm mais condições de tráfego e alguns viraram moradias para os sem-teto. A estação também. 

Havia muitas crianças jogando bola em um campinho de terra adjacente à linha férrea. Pararam o jogo para ver a minha bicicleta. Gostaram do marcador de quilometragem e do guidão alto, pouco comum nas bicicletas locais. 

Fui empurrando a bike pelos trilhos e logo avistei a (7) ponte metálica que atravessa o Rio Paraná.  

Foto: Fernando Mendes.

(7) A transposição do Rio Paraná foi um desafio para o início do século XX, tanto pela parte técnica como pela falta de capital.

Até 1926, a travessia era por ferry-boat.

O sistema funcionou até 1926 quando ocorreu a inauguração da ponte metálica sobre o Rio Paraná, a Ponte Francisco Sá.

Disponível em:< www.transportes.gov.br.> Acesso: 31/07/2004.


Encostei a bicicleta na estrutura metálica e resolvi atravessá-la a pé, até o lado paulista. Entre um dormente e outro, um vão. O rio pode ser visto lá embaixo. Cada passo teve que ser executado com cuidado, para não cair no vazio. 


UHE de Jupiá. Foto: Fernando Mendes.

A câmera fotográfica ficou presa ao pescoço e fui, devagar, pé ante pé, até o outro lado. No meio do caminho, foi possível avistar a Usina Hidrelétrica de Jupiá, ao funda da paisagem. Tirei belas fotos e voltei.
Foto: Fernando Mendes.


Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Quem disse que Três Lagoas (MS) não tem bons pontos turísticos?

Almocei em um restaurante às margens do Rio Paraná. Filé de Tucunaré com pirão. Meu dia estava ganho. Voltei ao hotel pedalando devagar

Dormi resto da tarde. Foi um dia e tanto. Acordei ás 19h (20h em Brasília) e o JN estava começando. Com uma hora a menos, as afiliadas de TV têm que adaptar-se aos horários dos programas ao vivo. Nem jantei naquela noite. Apenas fiz um lanche e voltei para o hotel. 
                   12º dia. 14/07/2004.

Três Lagoas (MS) a Valparaíso (SP). 121 quilômetros.


Dia 14 de Julho, 215º aniversário da Revolução Francesa, modelo clássico de revolução burguesa, que derrubou o regime absolutista, caracterizado pela concentração da autoridade política na pessoa do rei (soberano).

O sol brilhou forte em meio ao céu de brigadeiro. Deixei o Hotel Ypê Parque às 9 h (10h em Brasília - DF), desci a rua da rodoviária, dobrei à esquerda e ingressei na avenida principal, que me levou à saída da cidade, no trevo de acesso à ponte que une dois estados: o Mato Grosso do Sul a São Paulo (e vice e versa).

Novamente repetiu-se o ritual de esperar pelo motoqueiro da CESP para escoltar-me durante a travessia da crista da Barragem da UHE de Jupiá. 

Quando cheguei do outro lado, estava de volta ao fuso horário -3h GMT. Adiantei o relógio em uma hora e dei as primeiras pedaladas pela colossal Rodovia Marechal Rondon, a SP-300. Eram 11h. Iniciei o trecho do 12º dia de jornada numa manhã ensolarada.

A Rodovia Marechal Rondon (SP-300) liga São Paulo [Capital] à divisa com o Mato Grosso do Sul. Os marcos quilométricos têm a marcação decrescente do interior à capital. O primeiro marco indica km 666, ou seja, a cidade de São Paulo está a 666 quilômetros de distância. 


Ao ingressar na SP-300 encarei 100 quilômetros, numa estrada com asfalto novíssimo, diferentemente das rodovias esburacadas do Mato Grosso do Sul. 

A Marechal Rondon tem acostamento excelente. O traçado têm aclives e declive suaves. A direção geral passou a ser leste e, à medida que avançava, o sol foi se posicionando às minhas costas, esquentando a nuca e as panturrilhas. Haja Sundown.

Parei no Posto Sertanejo, às 12h 56, em Paranapólis (SP). Hora do almoço. Prato comercial com bisteca de porco. Fazia muito calor. Parecia verão.

19 quilômetros adiante, passei por Murutinga do Sul (SP) e 24 quilômetros à frente, alcancei o trevo de Mirandópolis (SP). Eram 15h 30. 

Havia pedalado 798 quilômetros desde a saída de Brasília (DF). Mais nove quilômetros e passei pela pequena Lavínia (SP) e, 19 quilômetros depois, abandonei a SP-300, na saída 566, chegando a Valparaíso (SP), na região da Alta Noroeste. Eram 17h 17. 

O pôr do sol foi um espetáculo. Hospedei-me no Hotel dos Viajantes, em frente à antiga estação ferroviária da Noroeste Paulista.

Pôr do Sol em Valparaíso (SP). Foto: Fernando Mendes.

Depois do banho, fui fazer o reconhecimento da cidade. Muito próspera, Valparaíso (SP) ostenta a marca do "desemprego zero", graças às indústrias ligadas à agropecuária. Os 20 mil habitantes vivem muito bem e não vi favelas ou moradias similares na periferia. 

Degustei delicioso bife a cavalo. Após, fui ao Siber local enviar notícias. O estabelecimento é muito disputado pelos adolescentes. Fiquei quase uma hora à espera de um computador disponível. 

Voltei ao Hotel dos Viajantes. Continuei a leitura das aventuras do Ubernauta, mas foi por pouco tempo. O sono chegou, o livro caiu no chão e acordei quando o trem da meia-noite, indo de Bauru (SP) para Corumbá (MS), apitou forte, por várias vezes, ao atravessar a cidade. 

Devido à proximidade do hotel com a estação, o quarto tremeu um pouco e foi possível ouvir o barulho provocado pelo atrito das rodas metálicas contra os trilhos, quando os freios foram acionados. 

Voltei a dormir antes mesmo que o extenso comboio atravessasse a cidade.

 13º dia. 15/07/2004. Valparaíso (SP) a Lins (SP). 
136 quilômetros.

Acordei com o quarto sendo invadido pela claridade. O sol estava alto, com seus raios entrando pelas frestas da cortina e acertando meus olhos como espadas.

Era 5ª feira, dia 15 de Julho. Liguei a TV e assisti ao jornal local, atento à previsão do tempo. Nada de chuvas. As informações do Clima Tempo sinalizavam para mais um dia quente no Noroeste do Estado de São Paulo. Após o café, pernas alongadas e 136 quilômetros até a Lins (SP).

Ingressei na SP-300 às 8h 40. Ventava bastante, embora a noite tenha sido de calmaria e céu estrelado. Às 10h passei por Rubiacéia (SP) e completei o milésimo quilômetro pedalado. Tomei uma garrafa de 500 ml de água mineral para comemorar. Meu termômetro de bolso marcava 28º C e a tendência era de alta. Às 10h 37 estava passando por Guararapes (SP).

Às 11h 48 franqueei o perímetro urbano de Araçatuba (SP). Um relógio digital no canteiro central da Rodovia Marechal Rondon, assinalava 32º C. "A quanto vai a temperatura no verão"?, indagou minha curiosidade. O sol de inverno (?) por aquelas bandas é muito forte. 


Passei por Birigui (SP), às 12h 47 e pedalei, sem trégua, até Penápolis (SP), 37 quilômetros à frente, parando no Fazenda Auto Posto. Eram 15h.

Havia pedalado 1.082 quilômetros desde a saída de Brasília (DF). A maior parte do que foi planejado, estava sendo cumprido, salvo alguns imprevistos – e imprevistos fazem parte das viagens – tudo ia bem. Passei por Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e estava no Estado de São Paulo. 

Não me sentia cansado nem tão pouco entediado. Sentia-me feliz e tranquilo pedalando por terras tão distantes de casa e jamais alcançadas. 

Enquanto bebia água, sob a sombra de frondosa figueira no pátio do Fazenda Auto Posto, repassava cada dia de viagem, cada trecho percorrido, os obstáculos que driblei e os que possivelmente estavam por vir.


Subi na bike e toquei em frente. Não havia tempo a perder. O sol, a um palmo do horizonte, não espera por ninguém, muito menos por mim, ali parado, perdido em pensamentos.

Foram 23 quilômetros ininterruptos até atingir, às 16h 20, o Posto Quero-Quero. Pedalava bem. Fiz esse trecho em uma hora. Se levar em conta o calor e a rodovia com traçado ondulado, a média foi excelente. Girava desde às 8h da manhã. Após sorver duas latas de Coca, pedalei os 28 quilômetros finais daquele dia 15 de Julho.


Mas antes de abandonar a SP-300 e entrar em Lins (SP), parei a uns 500 metros da alça de acesso à cidade, subi em um pequeno promontório e testemunhei espetacular pôr do sol.


Entre 17h 47 e 17h 57, com mosquitos devorando minhas pernas, fiz uma sequência de fotos maravilhosas, mostrando o Astro Rei indo para o Japão.


O crepúsculo vespertino não poderia ter sido mais bonito, depois de um dia belíssimo, com céu claro e sem nuvens.

Às 18h pedalei os últimos metros, abandonei a SP - 300 na saída 435 e logo avistei a Pousada Barlavento, muito bem localizada – a menos de 200 metros da Rodovia Marechal Rondon. Pareceu-me recém-inaugurada. Muito limpa, bem decorada e bastante confortável.


O recepcionista ficou impressionado quando relatei o percurso pedalado [e a pedalar]. Os quartos ficam no térreo, não havendo o incômodo de subir escadas com a bike nas costas. Estava me sentindo em êxtase. 

Aquele dia 15 de Julho foi espetacular. Pedalei 136 quilômetros em 9 horas e 20 minutos – média geral de 14,7 km/h -, sol forte, estrada excelente e pouco vento.

À noite, após a maratona de banho, alongamento, lavagem de roupas, saí em busca de um Siber Boteco para enviar notícias. No caminho, uma churrascaria. Fui seduzido pelo cheiro que se espalhava pelo ar. O Siber ficou para mais tarde. Rodízio regado a alguns chopes bem gelados. Um jantar daqueles para fechar o dia com chave de ouro.

Voltei à Pousada Barravento. O sono me venceu em menos de cinco minutos. Sonhei que estava viajando de trem. 
           
                     14º dia. 16/07/200 Lins (SP) a Itápolis (SP) 

 126 quilômetros.


O sol voltou do Japão e encheu o quarto de luz logo cedo. Esqueci-me de fechar as cortinas. Fechei-as e voltei a dormir mais um pouco. Era muito cedo. Não iria à escola naquele dia. Portanto, com todo o direito que dispunha, dormi até às 8h. Foram 10 horas merecidas de sono. Há muito não dormia tanto.

Delicioso e farto café da manhã. Pernas no pedal. Eram 9h. Voltei à lida para encarar 126 quilômetros até Itápolis (SP), a cidade de pedras (ita = pedra – polis = cidade).

Passei por Cafelândia (SP) às 10h 20, depois de pedalar 22 quilômetros, ainda pela Rodovia Marechal Rondon (SP - 300). 

Indecente vento contra. 11 quilômetros à frente de Cafelândia (SP), abandonei a Rodovia Marechal Rondon, na saída 402, e ingressei na SP - 333, tomando a direção de Itápolis (SP). 

A rodovia é estreita e sem acostamento. A qualidade do asfalto não é das melhores, porém o movimento era menos intenso do que na Marechal Rondon. O sol maçaricava a pele. O termômetro de bolso marcava 31º C. 

O vento lateral e a média começou a cair. Parei às 12h 45 no Posto Caminhoneiro, uma pausa para refrescar. Faltavam 15 quilômetros para o momento mais esperado daquele dia: atravessar a Represa de Promissão, no Rio Tietê, sobre uma ponte de 2,6 quilômetros de extensão.

Às 14h, ao vencer um forte aclive, avistei, lá do alto, a grandiosidade da Represa de Promissão e a colossal ponte que transpõem o lago, que inundou uma área de (*) 530 km2 e acumula volume útil de 2.128 x 106m³ formado a partir do barramento do Tietê, que deu origem à UHE de Promissão ou Mário Lopes Leão.

(*)  O Lago Paranoá em Brasília (DF) alagou uma área de 38 km2, 14 vezes menor em relação à área alagada da Represa de Promissão.


Fotos: Fernando Mendes


Na entrada da ponte, à esquerda, parei num posto BR. Há um mirante no qual se contempla a grandiosidade da represa e a colossal ponte que a transpõe. Tirei belas fotos e refresquei-me com duas Cocas de garrafa [290 ml]. 

Disponível em: https://www.portosenavios.com.br/noticias/portos-e-logistica/hidrovia-tiete-parana>. Acesso: 31/07/2004.

Fiquei a observar um rebocador que empurrava várias chatas contendo soja. Vantagem comparativa do transporte hidroviário em relação ao rodoviário: um comboio formado por quatro chatas e uma empurradora corresponde à capacidade de transporte de 240 caminhões com carretas. Eis a importância da Hidrovia Tietê-Paraná.

Porém, segundo um estudo detalhado sobre as hidrovias, faz-se necessária uma análise equilibrada, que inclua de forma explícita os custos e benefícios, pois a opção de escoar mercadorias pelos rios trás impactos ambientais.

Mesmo quando um rio é naturalmente navegável, a ocupação humana de suas margens e várzeas e o aproveitamento como meio de transporte, produzem alterações de grande monta (destruição de matas galerias e matas ciliares, desmoronamento das margens, assoreamento do leito fluvial, poluição das águas por dejetos humanos, pelo óleo combustível das embarcações, das dragas de garimpo e mercúrio). 


Embora a hidrovia pareça – inicialmente – a melhor relação custo-benefício para escoamento de cargas, não podemos ignorar as alterações que o meio sofrerá.

Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e8/Bacia_tiete_parana.png>. Acesso: 31/07/2004.

O Tietê sofreu inúmeras intervenções humanas com a construção de seis usinas hidrelétricas (mapa acima - nomes em verde), todas equipadas com eclusas, que possibilitam às embarcações transporem o desnível criado entre o leito do rio e a barragem.


Em vista do menor custo de transporte representado pela hidrovia, empresas agroindustriais vêm instalando equipamentos de moagem de milho, soja e arroz para escoamento da produção desses grãos destinados aos mercados interno e externo. 


Às 14h 30 iniciei a travessia da ponte sobre a Represa de Promissão. Pedalei bem devagar para curtir a paisagem e aquele momento tão esperado desde o planejamento da viagem.

O Brasil que poucos brasileiros conhecem estava, mais uma vez, descortinando-se para mim e o Tietê, que muitos julgam ser um rio morto, não foi derrotado.

Ao atingir a margem oposta, dei a última olhada naquela paisagem deslumbrante e segui meu caminho.

Itápolis (SP) estava a 58 quilômetros à frente. O tempo permanecia firme, com céu claro, temperatura em 33ºC e o pôr do sol prometia.

As condições da estrada continuavam ruins e o acostamento [estreito] apresentava-se bastante esburacado. O movimento era tranquilo, mas o vento lateral não dava trégua. 

Atravessei uma região muito plana na qual predominam fazendas voltadas à pecuária e o gado pasta à solta. Pedalava junto às cercas. Os animais ficavam olhando-me fixamente e, não raro, ensaiavam uma corrida, como se quisessem me desafiar. E assim, atravessei a SP-333, bem no centro do Estado de São Paulo, sob o paralelo 21ºS.

A partir do trevo que dá acesso a Borborema (SP), uma placa anunciava “início do trecho sob concessão da Triângulo do Sol”. Imediatamente percebi a melhora na qualidade do asfalto e na largura do acostamento. 

Passei por Borborema (SP), no meu través oeste, e os 31 quilômetros finais foram percorridos em uma hora e meia, o que elevou um pouco a média horária, prejudicada, até então, pela estrada ruim e vento lateral.

O Sol estava quase alinhado com o horizonte quando abandonei a SP-333 para entrar na cidade de Itápolis (SP). Eram 17h 50. 

Foto: Fernando Mendes.

Foi um dia esplêndido. 126 quilômetros pedalados em pouco mais de 8 horas. A viagem estava ótima. 

Quando o Sol estava para se pôr, dei o click e fotografei-o, encerrando em grande estilo um dia maravilhoso de pedaladas e paisagens. Foi o último dia que vi o sol na viagem. 

Saí para jantar e enviar notícias para casa. Quando voltava para o hotel, pude perceber nuvens pesadas sobre Itápolis (SP). Percebi a temperatura despencando, depois de um dia com marcas térmicas acima dos 30ºC. 

Cobertor quando fui deitar-me. Durante a madrugada, o tempo virou radicalmente.


                    15º dia. 17/07/2004

Itápolis (SP) a São Carlos (SP) 126 quilômetros.


Pela manhã, céu cinza e vento marcando presença. É como seu eu pudesse ouvi-lo: “hoje eu vou te infernizar mais do que ontem”. Pressentimento ruim no ar.


Foto: Fernando Mendes

Às 9h desci a rua do hotel, subi a principal e logo estava de volta à SP-333. O vento castigava lateralmente. O termômetro marcava 20ºC. Nuvens baixas e escuras. O pior dos mundos.

Após o pedágio, abandonei a Rodovia SP-333 e ingressei na Washington Luís (SP-310), onde o curso mudou de norte para leste, ou seja, 90º. O vento que era de través (lateral) passou a ser de proa (frontal). Tive a sensação de pedalar e não sair do lugar. Eram 10h 30. 

Desde a saída de Itápolis (SP), havia pedalado apenas 27 quilômetros e gasto 1 hora e meia. A média estava muito baixa e, se mantida assim, não chegaria a São Carlos (SP) com a luz natural. Parei no Posto Vitória às 11h. 

A chuva começou leve e foi piorando. O moral estava em baixa; o vento, em alta. Às 12 h a chuva deu uma trégua; o vento, não.

Os 30 quilômetros seguintes foram percorridos em duas horas. A média continuava um horror. Fiz uma parada no Posto Kambuí. Eram 14h 35. Almocei. Voltou a chover levemente. Os alforjes molhados ficaram mais pesados. A média continuava a cair.

Quando passei por Araraquara (SP), às 16h 30, era noite. Tive que acender as luzes piscantes e colocar o colete refletivo. Faltavam 34 quilômetros para São Carlos (SP). Talvez tenham sido os 34 quilômetros mais longos de toda a viagem. 

Escureceu rapidamente. A chuva caía com força.Visibilidade precária. Com isso, tive que pedalar [ainda] mais devagar.

Lembrei-me da canção Lanterna dos Afogados, de autoria de Herbert Vianna: ♫♫♫♫ “Quando tá escuro e ninguém te ouve. Quando chega a noite. E você pode chorar. Há uma luz no túnel dos desesperados um cais de porto pra quem precisa chegar” ♫♫♫♫. “Eu estou na lanterna dos afogados” ♫♫♫♫.

Às 19h avistei as primeiras luzes de São Carlos (SP). Faltavam cinco [longos] quilômetros. "O cais de porto estava próximo", gritou o meu ser que, àquela altura dos acontecimentos, estava encharcado e batendo queixo de tanto frio, com a roupa molhada e colada ao corpo. “Meu reino por um banho quente”, pensei alto. 

Estava exausto e ensopado. O termômetro de um relógio digital, que fica na alça de acesso à área central, marcava 12ºC. Pessoas agasalhadas pelas ruas. 

Avistei o letreiro do Hotel Atobá. Preenchi tremulamente a ficha de hospedagem e fui para o quarto. Quando entrei debaixo da água quente do chuveiro, mal podia crer que havia conseguido chegar. Foi um banho demorado e merecido. 

"Uma massa polar excepcionalmente forte e abrangente derrubou as temperaturas no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País" noticiou o JN. Felizmente a jornada terminou quando as condições do tempo pioraram muito.

Quando saí para jantar, a temperatura havia caído para 10º C. Estava proibitivo ficar na rua com aquele frio patagônico. 

 Apaguei antes das 22h. Dormi o sono dos justos.


                 16º dia. 18/07/2004

São Carlos (SP) a Ribeirão Preto (SP)Ônibus.


Ao acordar e abrir a janela do quarto, vi o pior dos mundos: São Carlos (SP) estava sob forte aguaceiro. Fazia muito frio quando desci para o café da manhã. Deveria ser proibido sair de casa em dias assim, seja para fazer o que fosse. 

Voltei para o quarto e fiquei assistindo TV. Quando o Fala Brasil, jornal exibido pela TV Record terminou, saí à rua para algumas providências: mandar notícias para casa, sacar dinheiro e providenciar a volta para casa.

Restavam-me alguns dias até o recesso escolar terminar. Comprei uma passagem para Ribeirão Preto (SP), embarquei no Cometa das 13h e cheguei à Califórnia Brasileira às 14h.

Fui rever amigos e terminamos o dia saboreando os petiscos da Cervejaria Pinguim, regados a deliciosas tulipas de chopes.


                  17º dia. 19/07/2004

Ribeirão Preto (SP) a Brasília (DF)Ônibus.


Acordei às 10h. Arrumei as tralhas, almocei e passei a tarde terminando a leiturado Ubernauta. O dia foi menos frio que o anterior, mas tão nublado quanto.

Às 21h deixei o hotel e fui para a rodoviária, distante cinco quilômetros. Pontualmente às 22h 15 o ônibus, vindo de São Paulo (SP) encostou no Box, embarquei a bike no bagageiro e acomodei-me. 

Às 22h 30 zarpou em direção a Uberaba (MG), onde houve uma parada para o lanche da madrugada. Era meia-noite e meia.

Às 4h parada em Catalão (GO), onde estive pernoitando no 2º dia de viagem.

Às 6h da matina, parada para o café da manhã no Posto Ponte Alta, local do primeiro pernoite da viagem de bike. Fazia um frio de estalar os ossos.

Às 8h 40 cheguei à Rodoferroviária de Brasília (DF). Montei na bike e pedalei mais 10 quilômetros até a minha casa.

Cheguei com a sensação de missão cumprida. A viagem foi maravilhosa. Saí bem e cheguei melhor ainda, com muitas paisagens na mente e todas eternizadas nas fotos que tirei. 

Tudo que vale a pena [às vezes] exige [alguns] sacrifícios.

1.333 quilômetros pedalados por 4 estados, 3 regiões geográficas e 2 fusos horários. 

Brasília, 31 Julho 2004.



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