Estrada Real Petrópolis (RJ) a Ouro Preto (MG) a Diamantina (MG). Janeiro 2017





 1ª ETAPA

CAMINHO NOVO 438 km

PETRÓPOLIS (RJ) A OURO PRETO (MG)

CAINHO NOVO

438 km

DATA

TRECHOS

 

KM

DIA

TOTAL

DIA

TOTAL

ACUM

27/12/2016

Petrópolis (RJ) a Itaipava (RJ)

32

66

66

Itaipava (RJ) a Paraíba do Sul (RJ)

34

28/12/2016

Paraíba do Sul (RJ) a Monte Serrat (RJ)

21

69

135

Monte Serrat (RJ) a Matias Barbosa (MG)

24

Matias Barbosa (MG) a Juiz de Fora (MG)

24

29/12/2016

Juiz de Fora (MG) a Ewbank da Câmara (MG)

48

68

203

Ewbank da Câmara (MG) a S. Dumont (MG)

20

30/12/2016

Santos Dumont (MG) a Antônio Carlos (MG)

56

56

259

31/12/2016

Antônio Carlos (MG) a Barbacena (MG)

13

41

300

Barbacena (MG) a Ressaquinha (MG)

28

01/01/2017

Ressaquinha (MG) a Carandaí (MG)

30

62

362

Carandaí (MG) a Queluzito (MG)

32

02/01/2017

Queluzito (MG) a Conselheiro Lafaiete (MG)

20

44

406

Cons. Lafaiete (MG) a Ouro Branco (MG)

24

03/01/2017

Ouro Branco (MG) a  Ouro Preto (MG)

32

32

438






 27/12/2016

1°dia

Petrópolis (RJ) a Paraíba do Sul (RJ)

66 km

Acordei cedo e fui [a pé] ao Centro de Informações Turísticas de Petrópolis (RJ) (296.044 habitantes). Censo 2010 retirar o Passaporte da Estrada Real. O quiosque abriu com meia hora de atraso. De lá, voltei ao Hotel Grão Pará, arrumei as tralhas e, pela Estrada Mineira, uma rua suja, escura e favelizada, realizei as primeiras pedaladas para alcançar a distante Diamantina (MG), (47.952 habitantes. Censo 2010), 942 quilômetros à frente.

A Estrada Mineira abrigou os trilhos da (*) Estrada de Ferro Mauá, por onde circularam os trens que deixavam o Rio de Janeiro e se destinavam a Carangola (MG), Ponte Nova (MG) e Ubá (MG). Era o chamado “Expresso Mineiro”, que partia [diariamente] da capital do Estado, pontualmente às 7h 48.

(*) A Estrada de Ferro Mauá, oficialmente denominada Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis, foi a primeira ferrovia a ser estabelecida no Brasil. Inaugurada em 30 de abril de 1854, seu trecho inicial [14,5 quilômetros], ligava o Porto de Mauá a Fragoso, hoje bairro de Inhomirim, Baixada Fluminense. A EFM foi construída por Irineu Evangelista de Sousa (1813 – 1889), o Barão de Mauá. A extensão até Petrópolis e Areal, onde se iniciava subida da serra por cremalheira, aconteceu em 1856.

Disponível em: <http://www.ihgi.org/426732463>. Acesso: 31/03/2017.

Atravessei o Túnel da Cascatinha, outrora um túnel ferroviário; hoje túnel rodoviário, estreito e com pouco mais de 20 metros de extensão. Eram 10h 43. Na saída, segui pela Rua Quissamã, passei [às 11h] pela antiga estação Ferroviária de Cascatinha e cheguei a Itaipava [11h 57], Distrito de Petrópolis, também conhecida como a “Búzios Serrana”.

 

Com inúmeros condomínios fechados e de alto padrão, pequenos shoppings, com sofisticadas lojas de grifes, Itaipava (pedra redonda, em Tupi) é frequentada por parte da sociedade carioca. O distrito ainda é famoso por abrigar muitas pousadas com ampla infraestrutura, hotéis de alto padrão e sofisticados restaurantes. Parada para açaí em Correas, bairro de Petrópolis (RJ).

 

Alcancei o Castelinho de Itaipava às 12h 23 e almocei em Pedro do Rio, outro Distrito de Petrópolis, que abriga a Cervejaria Itaipava. Pela Rodovia RJ - 123 passei por Secretário, Subdistrito de Petrópolis. Eram 14h 15.

 

Desse ponto em diante, veio um trecho de 12 quilômetros em leito natural até o Arraial de Inconfidência, 3º Distrito de Paraíba do Sul, também conhecido por

 

Arraial de Sebollas, onde visitei o Museu de Sacro de Tiradentes, uma pequena casa na qual estão guardadas as relíquias do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), que, ao demonstrar sua insatisfação com a Coroa Portuguesa e APREGOAR A NECESSIDADE DA EMANCIPAÇÃO DA CAPITANIA DE MINAS GERAIS E NÃO DO BRASIL, foi condenado à forca e, posterior, esquartejamento, no episódio histórico conhecido como Inconfidência Mineira. 

 

Conta a tradição que a Coroa Portuguesa fez expor parte dos restos mortais do Alferes Tiradentes nessa localidade na tentativa de inibir outras conspirações contra a Coroa, principalmente no Caminho do Ouro.

Às 17h atravessei Queima Sangue, bairro de Paraíba do Sul (RJ). 


Foto: Fernando Mendes.

O bairro começou a ser criado após se tornar um ponto de parada dos tropeiros, pessoas que levavam o ouro através de muares. 

Quando os tropeiros passavam por Paraíba do Sul, eles fizeram de Queima-Sangue um ponto de parada para se abrigarem e aproveitaram o local para cauterizar as feridas das mulas e cavalos que utilizavam para transportar o ouro. 

Por isso, o bairro ganhou o nome de Queima-Sangue, pois naquele local era queimado o sangue dos animais para cicatrização. 

Segundo historiadores, o local exato deste ponto de parada é onde hoje está localizada a Praça Sebastiana Nunes.


Disponível em:<http://blogdequeimasangue.blogspot.com/p/historia-do-bairro.html>. 

Acesso: 01/03/2017.


Às 17h 25, outro bairro com nome estranho: Fernandó. Às 17h 45 cheguei a Paraíba do Sul (42.356 habitantes. Censo 2010) e hospedei-me no Hotel Itaoca. 

A tônica do 1º dia de viagem foi o calor senegalês ao longo dos 66 quilômetros percorridos entre Petrópolis (RJ) e Paraíba do Sul (PB). O trecho é muito urbano e, por extensão, bastante movimentado.

Dos quatro caminhos que constituem a Estrada Real, o Caminho Novo, que liga o Rio de Janeiro (RJ) a Ouro Preto (MG) tem, entre Petrópolis e Paraíba do Sul, 90% do percurso asfaltado. Foi um pedal bem tranquilo e com altimetria suave. Mais descidas do que subidas.

Diamantina a 880 quilômetros.


28/12/2016

2°dia

Paraíba do Sul (RJ) a Juiz de Fora (MG)

69 km

Paraíba do Sul (RJ). Foto: Fernando Mendes.

Setenta quilômetros percorridos sob forte calor, mas sem deixar o moral cair. Os primeiros 20 quilômetros foram em trecho de terra, com a estrada alternando pedaços bons e outros nem tanto. Existem muitas chácaras e haras, todos bem cuidados. Ambiente bucólico regido pelos sons da natureza. Impossível ficar indiferente.

 Trecho entre Paraíba do Sul (RJ) e a Pedra do Paraibuna. Fotos: Fernando Mendes.

A primeira etapa do dia terminou no povoado de Monte Serrat, pertencente ao Município de Levy Gasparian (RJ), às margens do Rio Paraibuna e aos pés da colossal Pedra do Paraibuna, grande formação rochosa em granito. É uma das mais belas atrações turísticas e naturais da região. Segundo dados fornecidos pelo IBGE, a pedra possui aproximadamente 890 metros de altura e, em vão livre, tem imenso paredão vertical, com cerca de 450 metros de altura. Esse monolito é o eterno vigilante da região. 

Pedra do Paraibuba. Foto: Fernando Mendes.

Outro atrativo desse bairro do município de Levy Gasparian (RJ) é a Igreja Nossa Senhora do Mont Serrat, inaugurada em 1869 pelo imperador D. Pedro II, o segundo e último monarca do Império, tendo reinado o País durante 58 anos (1831 – 1889).


 

Igreja Nossa Senhora do Mont Serrat e o Museu Rodoviário.

Fotos: Fernando Mendes.

Sua instalação, assim como as demais, serviu como local de parada na União e Indústria para substituição dos cavalos das diligências e descanso dos passageiros nas viagens entre Petrópolis (RJ) e Juiz de Fora (MG), no Segundo Reinado (1840 - 1889).

Idealizadas por Mariano Procópio Ferreira Lage, a Estrada e as Estações foram construídas pela Companhia União e Indústria. Adquirido em 1950 pelo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem para ser transformado em museu, tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1967 e aberto ao público em 1972, o museu, por meio dos objetos musealizados narra a trajetória dos primeiros caminhos e estradas, assim como dos transportes e meios de locomoção terrestres no País.

Fonte: Zenilda Ferreira Brasil Dissertação de Mestrado defendida em 2015.

Disponível em: < file:///C:/Users/sss/Documents/549-2301-1-PB.pdf>. Acesso: 01/03/2017.

A partir de Monte Serrat, o Estado do Rio ficou para trás. Bem-vinda Minas Gerais. 

 

Ponte sobre o Paraibuna. Divisa RJ/MG. Foto: Fernando Mendes.

Atravessei a Ponte sobre o Paraibuna e passei pelo Registro do Quinto, um prédio em ruínas, situado estrategicamente nos limites naturais entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, à margem esquerda do Rio Paraibuna, parada obrigatória para o recolhimento do Quinto, imposto cobrado pela Coroa Portuguesa que incidia sobre o ouro que seguia para a Corte (Rio de Janeiro).



Registro do Quinto. Foto: Fernando Mendes.


O prédio funcionava como uma espécie de alfândega interna, onde era feito o controle do tráfego de mercadorias e combate ao contrabando de ouro e diamantes. Eram também cobrados os direitos de passagem devidos à Metrópole. 

O prédio abrigou o Príncipe Regente, em 1822, quando por ali passou e nele nasceu a mãe do patrono do Exército brasileiro, o Duque de Caxias. 

Era também a passagem obrigatória do Tiradentes. Antes da Conjuração Mineira, Tiradentes foi também responsável pelo patrulhamento daquela área e conseguiu desmantelar caminhos alternativos usados pelos contrabandistas.

Fonte: Guia Estrada Real para caminhantes: RJ a J. Fora. Olivé Raphael, Ed. Estrada Real, 1999 página 87 com adaptações).

A estação de Paraibuna foi inaugurada em 1874. Foto: Fernando Mendes.

A  estação Paraibuna situa-se à margem esquerda do Rio Paraibuna, em território mineiro, muito próxima à divisa com o Estado do Rio de Janeiro. Os trens de passageiros pararam nessa estação entre 1874 e 1980. Atualmente, a linha opera com cargas e está sob a concessão da MRS Logística.

Segundo Gutierrez L. Coelho: "o prédio da estação lentamente se vai, esquecido, sem manutenção e invadido. A decadência, infelizmente, é um fato. Continuam também lá, sem assistência de qualquer tipo, a caixa d'água em ferro fundido, uma triste e já longínqua lembrança dos tempos da tração a vapor e o prédio majestoso da antiga aduaneira dos tempos do império. Comparando com fotos antigas a realidade hoje é realmente outra. Apenas a linha principal, não há mais desvios, está presente, desfilando por ela os trens de retorno de minério, uma serpente de gôndolas GDT vazias".

Disponível em:<http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_rj_linha_centro/paraibuna.htm>. 

Acesso: 01/08/2001.

Almocei em Simão Pereira (MG) e carimbei o passaporte em Matias Barbosa (MG), chegando a Juiz de Fora (555.284 habitantes. Censo 2010) junto com o pôr do Sol.

 

Em Juiz de Fora (MG) se localiza a Usina Hidrelétrica de Marmelos, em operação desde 5 de setembro de1889. A iniciativa da construção partiu do industrial mineiro Bernardo Mascarenhas, com objetivo de ampliar sua produção de tecidos, que buscou, por vários anos, uma forma mais moderna e prática de movimentar os teares de sua empresa têxtil. Foi a primeira grande hidrelétrica da América do Sul a entrar em operação. É administrada pela CEMIG. Diamantina (MG) a 810 quilômetros.

Usina Hidrelétrica de Marmelos. Foto: Fernando Mendes.

29/12/2016

3º dia. 

Juiz de Fora (MG) a Santos Dumont (MG)

68 km

A saída de Juiz de Fora (MG) foi demorada: 1 hora e 15 minutos para atravessar o perímetro urbano e chegar ao 1° Marco da Estrada Real, no bairro de Barreira do Triunfo, às margens da BR-040. Após atravessá-la, começou a primeira etapa do dia: de Juiz de Fora (MG), em leito natural, até Ewbank da Câmara (MG) (3.927 habitantes. Censo 2010), ex-Distrito de Santos Dumont (MG), emancipado em 1962.

 

Trecho entre Juiz de Fora (MG) a Santos Dumont (MG). Foto: Fernando Mendes.

O caminho é quase todo paralelo à linha férrea da MRS Logística, criada em 1996, quando o governo federal transferiu à iniciativa privada, por meio de concessão e não privatização (*), a gestão do sistema ferroviário nacional. O vai e vem de enormes comboios não cessa. Nesse trecho, a ER atravessa uma região na qual há uma mescla de fazendas leiteiras e áreas de reflorestamento de eucaliptos. Existem várias marcações da Transpetro avisando do Gasoduto subterrâneo que corre paralelo ao caminho.

 (*) Ferrovias, assim como portos, aeroporto, rodovias, entre outros, são patrimônios da união e patrimônios não podem ser privatizados, e sim concedidos, por meio de leilões na Bovespa, à iniciativa privada, por prazos que variam de 25 a 30 anos, prorrogáveis ou não pelo Governo Federal. (Nota do Autor).

 


Comboio MRS Logística. Foto: Fernando Mendes.

Vencidos os 48 primeiros quilômetros, cheguei a Ewbank da Câmara (MG) (3.904 habitantes. Censo 2010) e saboreei delicioso almoço. O feijão estava o néctar dos deuses. O segundo trecho teve 20 quilômetros pedalados em áreas de pasto e mata.

 

Ewbank da Câmara (MG). Paróquia de Santo Antonio. Fotos: Fernando Mendes.

A chegada a Santos Dumont (MG) (47.559 habitantes. Censo 2010) foi mais cedo do que o previsto. Acomodei-me em excelente pousada no centro, a Pousada Dumont. Recomendo. 3° dia de viagem. Faltam 16 dias para Diamantina (MG). Hoje faz 15 anos que a cantora Cassia Eller partiu para cantar no céu. Diamantina (MG) a 732 quilômetros.

 



Chegada a Santos Dumont (MG). Foto: Fernando Mendes.

30/12/2016

4º dia. 

Santos Dumont (MG) a Antônio Carlos (MG)

56 km

De Santos Dumont (MG) a Antônio Carlos (MG), percorri 56 quilômetros, o maior trecho do Caminho Novo, majoritariamente em leito natural e escassos pontos de apoio. Os primeiros 14 quilômetros foram pedalados [em asfalto] na Rodovia Federal BR 499 , que liga Santos Dumont (MG) à pacata Cabangu (Caa - mata + bangu - escura).

BR - 499 e Estação Mantiqueira. Fotos: Fernando Mendes.

No quilômetro oito, abandonei a BR - 499 para conhecer Mantiqueira, um subdistrito de Santos Dumont, cortado pela linha férrea da MRS Logística. A localidade é muito pequena e nada de restaurante ou similar que oferecesse uma refeição, àquela hora, bastante desejada. A estação ferroviária, toda construída em tijolos, está em ruínas, a mesma ruína que se encontra a malha ferroviária do País. Tirei algumas fotos e até fiz [celular] um vídeo registrando a passagem de um comboio da MRS Logística. Contei os vagões: 150.



Estação Cabangu. Foto: Fernando Mendes.

E com o estômago clamando por víveres, voltei à BR 499 e percorri os 6,9 quilômetros finais [em asfalto] até Cabangu, localidade onde está o Museu Casa Natal de Santos Dumont 1, que não foi o inventor do avião, ou o Museu de Cabangu, numa área de 365 mil m² que guarda espelhos d’água, cascatas, quiosques, jardins, arvoredos e passarelas.

 


1 Existem ao menos documentos provando que os irmãos Wright construíram aviões muito antes de Santos Dumont. [...] A distância do principal voo do 14 – Bis foi 180 vezes menor que a do voo mais longo dos Wright em 1905. Um ano antes de Santos Dumont criar o 14 – Bis, os irmão americanos voaram cerca de cinquenta vezes, percorrendo uma distância de 39,5 quilômetros de uma só vez. [...] Em silêncio e secretamente Santos Dumont deve ter percebido a verdade dolorosa: o 14 – Bis não voava. No máximo, dava uns pulinhos. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil / Leandro Narloch, São Paulo: Leya, 2011, pp 251 e 255.


Museu Santos Dumont em Cabangu. Foto: Fernando Mendes.

É nesse cenário que está preservada, e aberta ao público, a casa onde nasceu Alberto Santos Dumont (1873 – 1932), que não foi o inventor do relógio de pulso2 como muitos acreditam.

 2 O Brasileiro certamente contribuiu para o relógio de pulso voltar à moda, mas a invenção do aparelho é de muito antes. Relógios assim eram comuns desde os tempos de Shakespeare – a rainha Elizabeth I (1533 – 1603) tinha um. Em 1868, a empresa Patewk Philippe reinventou a peça, que também foi usada por militares nos campos de batalha do século XIX, como na Guerra Franco – Prussiana. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil / Leandro Narloch, São Paulo: Leya, 2011, p.252.  


A lanchonete estava fechada. Dancei no almoço. A Serra da Mantiqueira apareceu com todo seu esplendor. Quando estava próximo dos 1.000 metros de altitude, as araucárias começaram a dar o tom na paisagem. A natureza impera, com o som da passarada, das cachoeiras e dos bovinos soltos pelo caminho.

 Não existem pontos de apoio ao longo do trecho Cabangu a Antônio Carlos (MG), exceto um povoado, do qual não me lembro do nome, no qual consegui fazer a única refeição do dia: cebolitos com Coca Cola. Àquela altura dos acontecimentos, não podia me dar ao luxo de recusar “fina” iguaria.

Fotos: Fernando Mendes.

 Às 15h 30 voltei à lida no pedal para encarar o trecho mais cascudo: subir a Serra do Trovão. O tempo mudou rapidamente, o dia virou noite e caiu uma chuva há muito desejada, que refrescou o ar quente e abafado. Em meio a raios e trovões, subi os quatro quilômetros da Serra do Trovão, todo em calcamento com pedras dispostas de forma irregular, sem maiores dificuldades. Pena não ter podido usar equipamento fotográfico com tanta chuva.


 Serra do Trovão. Foto: Fernando Mendes.

Cheguei à pacata Antônio Carlos (MG) (11.4560 habitantes. Censo 2010às 19h. Na Pousada Coliseu encontrei com quatro ciclistas de Vitória da Conquista (BA). Eles percorriam o Caminho Novo na direção contrária à minha: estavam indo de Ouro Preto (MG) para o Rio de Janeiro (RJ). A conversa fluiu fácil e o jantar, depois de um dia sem almoço, estava uma maravilha. Amanhã, último pedal de 2016. Sendo na Estrada Real, tá tudo certo. Diamantina (MG) a 676 quilômetros.


Antônio Carlos (MG). Foto: Fernando Mendes.

31/12/2016

5º dia 

Antônio Carlos (MG) a Ressaquinha (MG)

41 km

Foram 41 quilômetros pedalados tranquilamente, à exceção da travessia da cidade de Barbacena (MG), com trânsito frenético e todos parecendo apressados por conta do último dia do ano. Inexistem marcos da ER ao longo do perímetro urbano. O jeito foi perguntar aos nativos. E de pergunta em pergunta, cheguei ao bairro de Santo Antônio, depois de subir uma ladeira das arábias. Lá do alto foi possível ver a BR-040, ao fundo da paisagem. Uma descida, igualmente das arábias, me levou, por meio de um bairro periférico e com asfalto esburacado, até a Lanchonete Roselanches, localizada às margens da 040.

 Feijoada deliciosa no almoço, reforço no fôlego para encarar o trecho seguinte: Barbacena (MG) a Ressaquinha (MG), com 28 quilômetros. Os haras predominam. Cada um mais top que o outro. As formações da Mantiqueira são percebidas no visual e sentidas nas subidas, algumas longas, outras ainda maiores. Etapa marcada pela calma e pelos sons da natureza. Bem diferente dos sons urbanos e ensurdecedores de Barbacena (MG).

Foto: Fernando Mendes.

 A chegada a Ressaquinha (MG) (4.834 habitantes. Censo 2010) foi tranquila e o último marco desse trecho da ER fica em frente ao Empório da Empada, que oferece muitas opções dessa iguaria.  A cidade é atravessada pela BR-040 e o ponto alto é a Paróquia de São José, construída em 1939. As pinturas da igreja são de autoria do Padre Joseph Buttgens, influenciado pela arte hindu. Esse mesmo padre pintou a Catedral de Nova Déli, na Índia.

Paróquia de São José. Foto: Fernando Mendes.

 Dirigi-me à Pousada Estrada Real para pernoite. A proprietária me informou que o estabelecimento não estava recebendo hóspedes porque a família iria comemorar a passagem do ano em Juiz de Fora (MG). O jeito foi me hospedar num hotel zero estrela, localizado no andar acima do Empório da Empada, de frente para a BR 040. E da varanda, assisti à tímida queima de fogos à meia-noite. Mesmo não me sentindo cansado, adormeci rapidamente.

 Viajar está entre as coisas que mais amo nesta vida. Se vivi muitas vidas, creio que passei a maioria delas viajando. Diamantina (MG) a 635 quilômetros.

01/01/2017

6º dia 

Ressaquinha (MG) a Queluzito (MG)

62 km


1ª foto de 2017.

Pedalei os primeiros 62 quilômetros de 2017 atravessando paisagens belíssimas. Nos primeiros 30 quilômetros até Carandaí (MG), girei por altitudes que variaram entre 1.050 e 1.200m. Estrada é larga e o solo bem compactado. Pareceu-me que ninguém quis sair de casa no primeiro dia do ano. Caminhos vazios. Imperava absoluto, pedalando entre fazendas leiteiras e plantações de eucaliptos. Às 12h 30, cheguei a Carandaí (25.044 habitantes. Censo 2010).

 

Fotos: Fernando Mendes.

Almocei assistindo Escolinha do Professor Raimundo. Depois, sob Sol saariano, tomei a proa de Queluzito (MG). Pedalei por três quilômetros na BR-040 até o Posto Fiscal, onde um marco da ER indica início do trecho [em terra] até Queluzito (MG). A partir desse ponto a Estrada [Real] se eleva em relação à BR-040, seguindo-a paralelamente, corroborando para aquela tese, defendida por alguns que, a rodovia [BR 040], em muitas etapas, foi construída sobre o leito da Estrada Real. Teorias à parte, o percurso Carandaí (MG) a Queluzito (MG) mescla estradão e trilhas, que passam por várias fazendas. Haja abre e fecha de porteiras.

 





Fotos: Fernando Mendes.

Muito gado solto pelos pastos que atravessei, sempre acompanhado por bandos de maritacas barulhentas. E ao fundo disso tudo, o esplendor da Mantiqueira, com suas rochas graníticas refletindo a luz do Sol. Em Pedra do Sino, Distrito de Carandaí (MG) e onde se localiza a fábrica do Cimento Tupi, a Estrada Real intercepta a BR-040 perpendicularmente. Atravessei-a, rumando para Cristiano Otoni (MG) (5.260 habitantes. Censo 2010). A altimetria, até então suave, começou a mostra-se severa com um trecho de trilha bastante técnico e inclinado [para cima]. O primeiro pedal do ano não podia ser mais maravilhoso. Cheguei a Queluzito (1.947 habitantes. Censo 2010) na boca da noite.

 





Fotos: Fernando Mendes.

A Lua Nova, posicionada no Oeste, deu-me as boas vindas, lembrando o sorriso do gato da Alice no País das Maravilhas. Dia maravilhoso. Pedal aos sons da natureza. Diamantina (MG) a 487 quilômetros.


02/01/2017

7°Dia

Queluzito (MG) a Ouro Branco (MG)

44 km

Penúltima etapa do Caminho Novo da Estrada Real, que liga o Rio de Janeiro (RJ) a Ouro Preto (MG). O trecho Queluzito (MG) a Ouro Branco (MG) é curto [45 quilômetros] e quase todo asfaltado. E veio a transição da Serra da Mantiqueira para a Serra do Espinhaço. A altimetria tornou-se cascuda e encardida.

 

À medida que Queluzito (MG) ficava para trás, as subidas foram mostrando a cara. O ponto alto do dia ficou por conta da travessia de uma área de reflorestamento com eucaliptos, sombreada e maravilhosa.

 





O restante da etapa aconteceu em pedaços fortemente urbanizados, como a travessia de Conselheiro Lafaiete (125.421 habitantes. Censo 2010), com trânsito intenso e tumultuado, igual na Tailândia.

 

Entre Lafaiete (MG) e Ouro Branco (MG), a Estrada Real é sobreposta à Rodovia MG 129, com sobe e desce frenético. Bem-vinda Serra do Espinhaço (*)

(*) Considerada a única cordilheira do Brasil, a Serra do Espinhaço tem aproximadamente 1.000 quilômetros de extensão, parte em Minas Gerais e parte na Bahia. Possui o maior afloramento de calcário do País, jazidas de ouro, ferro, bauxita e manganês. Estima-se que sua idade geológica seja de 2,5 bilhões de anos. Funciona como divisor de águas. A leste, todos os rios tendem ao Atlântico, enquanto que a oeste inflam o sistema hídrico do São Francisco. A largura da Serra do Espinhaço varia de 50 a 100 quilômetros. Vales e picos são interpostos, configurando um terreno bastante acidentado. É Reserva da Biosfera, contém muitas áreas de proteção e outras de preservação, além de reservas particulares. 

Fonte: Brasília-Paraty, somando pernas para dividir impressões. Weimar Pettengil – Brasília – Editora Thesaurus, p.90.

No acesso a Ouro Branco (38.249 habitantes. Censo 2010) localiza-se uma casa, em estilo colonial, na qual Tiradentes, em suas perambulações pela região, ocasião em que apregoava a necessidade de a Capitania de Minas Gerais [e não o Brasil] se livrar do domínio colonial português, usava-a para pernoite. É conhecida como Fazenda Carreiras.

Fazenda Carreiras. Foto: Fernando Mendes.

Como muitos dos monumentos históricos, de um país sem memória histórica, a casa encontra-se abandonada. Lamentável. Diamantina (MG) a 530 quilômetros.

 

03/01/2017

8°Dia Ouro Branco (MG) a Ouro Preto (MG) 32 km

script do dia: distância curta [30 quilômetro], subidas longas e inclinadas. E que subidas. Trecho 100% asfaltado, percorridos na Rodovia Estadual MG -129.

 

Igreja Matriz de Santo Antonio em Ouro Branco (MG) e Serra do Itatiaia. 

Fotos: Fernando Mendes.

A Estrada corta a RPPN Serra de Ouro Branco (Reserva Particular do Patrimônio Natural) e a altimetria é muito acidentada. Na saída de Ouro Branco (assim chamavam o ouro ainda não bem formado), um aclive de três quilômetros me levou a 1.560m de altitude. Depois, descida animal me fez descer a 1.100m. E assim, nesse incessante sobe e desce, sempre paralelamente à Serra do Itatiaia, um subgrupo da Serra do Espinhaço, percorri o trajeto entre Ouro Branco (38.249 habitantes. Censo 2010) e Ouro Preto (74.036 habitantes. Censo 2010).

 

Rodovia MG - 129. Fotos: Fernando Mendes.

Cheguei à antiga Vila Rica (*) a tempo de retirar, no Centro de Informações Turísticas, o certificado de execução do Caminho Novo da Estrada Real e degustar saboroso café expresso. 

(*) Vila Rica de Albuquerque e depois Vila Rica de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto. Em 1823, após a Independência do Brasil, Vila Rica, fundada em 1711, recebeu o título de Imperial Cidade, conferido por D. Pedro I do Brasil, tornando-se oficialmente capital da então província das Minas Gerais e passando a ser designada como Imperial Cidade de Ouro Preto. Em 1897, a mudança da capital para Belo Horizonte (MG) provocou um esvaziamento da cidade (aproximadamente 45 % da população), inibindo o crescimento urbano nas décadas seguintes, fato que contribuiu para preservação do seu Centro Histórico.

Disponível em: <https://www.ouropreto.com.br/dados-gerais>. 

Acesso: 31/07/2017.

Chegada a Ouro Preto (MG). Foto: Fernando Mendes.

Início da segunda etapa da viagem: Ouro Preto (MG) a Diamantina (MG), agora pedalando pelo Caminho do Sabarabuçu até Cocais (MG). Diamantina (MG) a 442 quilômetros.


2ª ETAPA

 

CAMINHO DO SABARABUÇU 

 193 km

 

OURO PRETO (MG) A COCAIS (MG)

DATA

CAMINHO DO SABARABUÇU



 KM DIA

 

TOTAL DIA

ACUM

04/01/2017

OURO PRETO (MG) A SÃO BARTOLOMEU (MG) A GLAURA (MG) A ACURUÍ (MG)

50

50

50

05/01/2017

ACURUÍ (MG) A RIO ACIMA (MG)

24

59

109

RIO ACIMA (MG) A HONÓRIO BICALHO (MG)

10

HONÓRIO BICALHO (MG) A RAPOSOS (MG) 

13

RAPOSOS (MG) a SABARÁ (MG)

12

06/01/2017

SABARÁ (MG) A CAETÉ (MG)

44

44

153

07/01/2017

DESCANSO EM CAETÉ (MG)

08/01/2017

CAETÉ (MG) A COCAIS (MG)

40

40

193


04/01/2017

9°dia

Ouro Preto (MG) – São Bartolomeu (MG) – Glaura (MG) – Acurui (MG)

50 km

Saída para São Bartolomeu e Glaura. Foto: Fernando Mendes.

Dia de muito calor, subidas honestas, muito sombreamento pelo caminho e paisagens lindas marcaram os 50 quilômetros da etapa. Até São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto (MG), a estrada empina fortemente para cima nos primeiros quilômetros e a Antiga Vila Rica foi ficando pequena, lá em baixo, dentro de um buraco.

 

Vencida essa parede, caminho largo e muita sombra. Esse trecho termina no simpático e bucólico distrito de “São Bartolomeu, acanhada joia barroca do século XVIII”, anotou o Instituto Estrada Real em: http://www.institutoestradareal.com.br/cidades/sao-bartolomeu/143>. Acesso: 1º/03/2017.

 

Igreja Matriz em São Bartolomeu. Pousada São Bartolomeu. Fotos: Fernando Mendes.

Nessa acanhada joia, o tempo parece ter preguiça de passar. A Igreja Matriz é uma das mais antigas e imponentes de Minas Gerais. Lugar modesto e ruas com calçamento de pedras. Gente simples e receptiva, sempre fazendo perguntas sobre minha viagem.

A fartura de frutas na cidade induziu seus moradores à fabricação de doces caseiros, tradição reconhecida na cidade. O ponto alto é a Festa da Goiaba (doce caseiro mais popular da localidade).

Tomei delicioso açaí e parti rumo a Glaura, outro Distrito de Ouro Preto, igualmente simpático e bucólico, com ruas calcadas e casas bem arrumadas. Na saída [de Glaura] para Acuruí, distrito de Itabirito (49.768 habitantes), uma chuva forte veio amenizar o calor. E veio com força, raios, trovões e granizo. Plec, plec e plec no capacete. 

Igreja Santo Antonio das Garças Brancas em Glaura. Fotos: Fernando Mendes.

Primeira chuva do ano. Durou pouco, mas foi suficiente para refrescar e levar os restos de 2016.

Uma ascensão de 200 metros nos quatro quilômetros finais para chegar a Acuruí. Isso me deu a dimensão do que é o Caminho do Sabarabucu. As paisagens que vi compensaram o esforço. Diamantina (MG) a 412 quilômetros. Acuruí, em tupi-guarani, significa "rio de pedras”.

            05/01/2017

10°Dia

Acuruí (MG) Rio Acima (MG) – Honório Bicalho (MG)

Raposos (MG) Sabará (MG)

59 km

Dia muito, muito puxado [55 quilômetros]. Na 1ª etapa, foram 20 quilômetros muito acidentados entre Acuruí e Rio Acima (9.924 habitantes. Censo 2010).

Saída de Acuruí (MG). Foto: Fernando Mendes.

Após o 3°morro que subi, parei de contá-los e passei a bebericar as belezas do caminho. Nada de eucaliptos. Muita mata nativa preservada, que produz sombra pela Estrada Real. Sombra necessária num dia tão quente.

Almocei em Rio Acima (MG), carimbei o passaporte e encarei o trecho [13 quilômetros], até Honório Bicalho, distrito de Nova Lima (MG), (89.900 habitantes. Censo 2010) localidade muito carente, com casinhas inacabadas e tijolos expostos, dando a dimensão do ocorrido: a grana não foi suficiente para o acabamento. Assim estão as casas, dispostas ao longo da única rua asfaltada.

 

Rio Acima (MG). Foto: Fernando Mendes.

Inicialmente, o distrito de Honório Bicalho se chamava Faria Garcês. O nome atual deriva de uma estação ferroviária construída em 1890, cujo nome, Honório Bicalho, foi uma homenagem ao engenheiro que participou da construção de obras públicas em portos e ferrovias brasileiras, sendo chefe na construção da Estrada de Ferro D. Pedro II.

Disponível em: https://www.caminhoreligiosodaestradareal.com/honorio-bicalho-mg/. Acesso: 01/03/2017. 

 

Fui obrigado a seguir para Raposos (16.230 habitantes. Censo 2010) pela Rodovia Estadual MG - 030. Motivo: esse trecho da Estrada Real, que liga Honório Bicalho a Raposos, está interditado. Apenas 10 quilômetros. Fácil.

 

Na última etapa do dia - Raposos a Sabará - a Estada Real corre paralela ao Rio das Velhas e sobre antigo leito ferroviário da falecida RFFSA. São 12 quilômetros de total planura. Nada mal depois de um dia de subidas insanas, aquela que o ciclista chora e a mãe não vê.


Estada Real paralela ao Rio das Velhas e sobre antigo leito ferroviário. 
Foto: Fernando Mendes.

Diamantina a 369 quilômetros. 

06/01/2017

11°Dia

Trecho: Sabará (MG) a Caeté (MG)

44 km

Antes de partir para Caeté (MG), uma visita à bicicletaria em Sabará (MG) (134.382 habitantes. Censo 2010para substituir as pastilhas de freio. Depois, carimbar o passaporte no Hotel Vila Real. Lá chegando, fui seduzido por delicioso aroma de feijoada. Eram 12h. Decidi partir somente após degustar essa iguaria. Sábia decisão. Melhor sair bem alimentado.

 

O trecho entre Sabará (MG) e Morro Vermelho [18 quilômetros], Distrito de Caeté (MG), é deslumbrante. Altimetria bem plana em estrada de terra larga, igual à Ponte Rio - Niterói. Solo bem compactado e muita sombra. Em vários trechos, a ER passa sob enormes pontes da Ferrovia da Vale do Rio Doce.

 Pontes da Ferrovia da Vale do Rio Doce. Fotos: Fernando Mendes.

Na chegada a Morro Vermelho, o destaque fica por conta da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré (século XVIII). Um temporal se anunciou, mas ficou na ameaça. 

Igreja de Nossa Senhora de Nazaré. Fotos: Fernando Mendes.

A partir desse ponto, a Estrada Real empina forte para cima. Passei a pedalar em altitudes que variam entre 1.100 e 1.200m. Lá em baixo, os trilhos da Ferrovia da Vale vão serpenteando o Espinhaço nas partes mais baixas.

 



Ferrovia da Vale. Fotos: Fernando Mendes.

Não tardou para Caeté (MG) (43.739 habitantes. Censo 2010) aparecer dentro de um enorme buraco, como é a localização de muitas cidades ao longo da Estrada Real. Cheguei ao centro às 18h, com os sinos da Igreja Matriz de Bom Sucesso (século XVIII) anunciando a hora do Ângelus.

 

Igreja Matriz de Bom Sucesso  em Caeté (MG). Foto: Fernando Mendes.

Segundo dia de Lua Crescente. A cada etapa cumprida desta viagem, a certeza de que está sendo a mais maravilhosa de todas as jornadas que fiz pedalando pela Estrada Real e seus quatro caminhos. Diamantina (MG) a 314 quilômetros.

07/01/2017, não rolou pedal.

Ao acordar, senti que o corpo pedia repouso. Passei o dia na maior preguiça.


08/01/2017

12°Dia

Trecho: Caeté (MG) a Cocais (MG)

40 km

Após a saída de Caeté (MG), fui contornando a Serra da Piedade até o extremo leste, quando o caminho toma o rumo de Cocais, Distrito de Barão de Cocais (MG) e a Piedade foi ficando para trás, diminuindo de tamanho, vista pelo retrovisor da bike.

 

A origem e o significado da palavra Caeté provem da língua indígena e quer dizer: - mata virgem, mato verdadeiro, segundo Teodoro Sampaio, citado por Nelson de Sena em seu Anuário Histórico e Cartográfico de Minas Gerais, edição de 1909, página 282.

 

Ao meio-dia, alcancei Antônio dos Santos, Distrito de Caeté (MG). Parada para almoço. Fazia muito calor. Segui os 20 quilômetros finais, boa parte deles, pedalando numa área aberta com pouca sombra e muito silêncio. Um cenário para contemplação e reverências.

 

Ironicamente, a parte mais difícil do trajeto - acredite se quiser - foi uma descida com descenso 200 metros em quatro quilômetros. Impossível descer essa ladeira nas condições descritas e montado na bike. Isto porque têm muitas valas feitas pelo escoamento das águas das chuvas, além de pedras soltas, que dificultam o equilíbrio. Morro abaixo, desembarcado da bike. Nem sempre as subidas são as vilãs nos trajetos.

 

Cocais (MG). Foto: Fernando Mendes.

Cheguei a Cocais (2.803 habitantes. Censo 2010) às 17h. Concluí o Caminho do Sabarabuçu, 2ª etapa das três que planejei percorrer pela Estrada Real. Difícil afirmar qual delas é a mais bela.  

Início da terceira etapa da viagem: Cocais (MG) a Diamantina (MG), agora pedalando pelo Caminho dos Diamantes até Diamantina (MG), 263 quilômetros à frente.


3ª ETAPA

DISTRITO DE COCAIS (MG)

A DIAMANTINA (MG) 263 km

DATA

TRECHOS

KM

TOTAL DIA

TOTAL ACUM

09/01/2017

DISTRITO DE COCAIS (MG) 

A BOM JESUS DO AMPARO (MG)

26

26

26

10/01/2017

BOM JESUS DO AMPARO (MG) 

A IPOEMA (MG)

13

43

69

IPOEMA (MG) 

A NOSSA SENHORA DO CARMO (MG)

14

NOSSA SENHORA DO CARMO (MG) 

A ITAMBÉ DO MATO DENTRO (MG)

16

11/01/2017

ITAMBÉ DO MATO DENTRO (MG) 

A MORRO DO PILAR (MG)

34

103

12/01/2017

MORRO DO PILAR (MG) 

A CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO (MG)

25

128

13/01/2017

CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO (MG) 

ITAPANHOACANGA (MG)

47

175

14/01/2017

ITAPANHOACANGA (MG) AO SERRO (MG) 

26

201

15/01/2017

SERRO (MG) A SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS (MG) 

29

230

16/01/2017

SÃO GONÇALO DO RIO DAS PEDRAS (MG) A DIAMANTINA (MG)

33

263



09/01/2017

13°dia

Cocais (MG) a Bom Jesus do Amparo (MG)

26 km

Acordei tarde, pois o trecho do dia foi curto, apenas 26 quilômetros, metade deles numa área de reflorestamento de eucaliptos. Ao terminar a travessia, a Estrada Real desemboca na Rodovia BR 262, que liga BH a Vitória (ES). Almocei num posto BR, atravessei a 262 e continuei pela Estrada Real - leito natural - até Bom Jesus do Amparo (5.923 habitantes. Censo 2010). Encontrei com meu grande amigo e Xará Fernando Gonçalves e a conversa fluiu fácil. A bike foi lavada e lubrificada. Diamantina a 244 quilômetros.

Amigo e Xará, Fernando Gonçalves. Foto: Fernando Mendes.


10/01/2017

14°dia

Bom Jesus do Amparo (MG) a Itambé do Mato Dentro (MG)

43 km

Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Foto: Fernando Mendes.


Os primeiros 13 quilômetros até Ipoema (MG) foram feitos em asfalto novo e altimetria com muitos sobe e desce. Almocei em Ipoema (MG) (2.746 habitantes, sendo 1.374 homens e 1.372 mulheres. Censo 2010), distrito de Itabira (MG). Fiz a química digestiva revendo a Igreja de Nossa Senhora da Conceição. O Museu do Tropeiro, infelizmente, estava fechado, pois era horário de almoço.

 

O trecho a seguir, com 15 quilômetros até o Distrito de Senhora do Carmo, pertencente a Itabira (MG), foi percorrido em leito natural, com subidas generosas e calor saariano. Em Senhora do Carmo, parada para degustar deliciosos pastéis de queijo. Não tinha Coca; encarei guaraná genérico.

 Qual não foi a minha surpresa quando a funcionária da lanchonete me informou que o trecho de Senhora do Carmo a Itambé do Mato Dentro (MG) (15 quilômetros) está asfaltado. Maravilha. Com essa falta de chuvas mais robustas, os trechos em leito natural estão muito empoeirados. A última etapa do dia foi feita em asfalto novo e farto em subidas.

 

Cheguei a Itambé do Mato Dentro (MG) (2.242 habitantes. Censo 2010), depois de pedalar 43 quilômetros desde a saída de Bom Jesus do Amparo (MG), junto com a chuva de fim de tarde, muito fraca.  A última vez que estive por essas paragens foi em junho de 2014. Naquele ano, preferi a Estrada Real à Copa do Mundo, ou melhor, ao 7 x 1. Diamantina a 200 quilômetros.


11/01/2017

15°dia

Itambé do Mato Dentro (MG) a Morro do Pilar (MG)

34 km

Atravessei 36 quilômetros sem qualquer tipo de apoio. Nem bar, nem povoados, restaurantes ou comunidades. Essa é a maior dificuldade desse trecho da Estrada Real. Na saída de Itambé do Mato Dentro (MG) um problema na fixação do alforje direito, porém solucionado rapidamente.

 Após o fim do calçamento e início do trecho em leito natural, veio uma subida de respeito, com 10 quilômetros de extensão e poucos intervalos planos. Essa é a tônica da maioria das cidades ao longo da Estrada Real. Foram nascendo sempre na parte baixa do relevo para facilitar a captação de água. Na chegada, muitas descidas; na saída, subidas honestas. E mantendo a "tradição”, na saída de Itambé do Mato Dentro (MG), tome subida pela proa.

 Após o décimo quilômetro, a Estrada Real passa por enormes rochas sedimentares, dispostas de forma aleatória às margens do caminho. São imponentes e belas. Daí a origem do nome Itambé, que em língua tupi quer dizer: pedra afiada. Parece uma paisagem lunar.


Fotos: Fernando Mendes.

Rio do Peixe. Foto: Fernando Mendes.


Do alto da Serra, a 900m de altitude, senti o mundo aos meus pés. Que paisagem maravilhosa. Ao fundo, o colosso e a imponência das formações da Serra do Cipó. É para ganhar o dia ver esse espetáculo.


Serra do Cipó. Fotos: Fernando Mendes.

Desse ponto em diante, a Estrada Real inclina fortemente para baixo, dando um refresco para pernas e pulmões. E desce, desce até chegar ao Vale do Rio do Peixe, com piscinas naturais e águas cristalinas.

 

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar . Foto: Fernando Mendes.

Cheguei à pacata Morro do Pilar (MG) (3.378 habitantes. Censo 2010) às 18h, a Hora do Ângelus, e com chuva se avizinhando. A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar não tem estilo próprio, apesar de a cidade ter sido importante ponto de apoio às tropas que seguiam para Paraty, levando, em alforjes presos às mulas, o ouro extraído em Vila Rica, atual Ouro Preto (MG).

O arraial (Gaspar Soares) que deu origem à cidade surgiu no alto de um morro, onde o bandeirante paulista Gaspar Soares encontrou ouro, em 1701. Ali, construiu uma capela dedicada à Nossa Senhora do Pilar. Há registros de um desmoronamento em 1743, que teria matado 18 escravos e interrompido as atividades mineradoras. 

Morro do Pilar (MG) abrigou o primeiro alto-forno siderúrgico do Brasil, na Fábrica de Ferro Gusa do Brasil - a Real Fábrica de Ferro de Morro do Pilar - que em 1814 conseguiu fazer a primeira corrida de ferro no alto forno A pioneira fábrica funcionou, em regime de produção, mais ou menos regular, de 1814 até cerca de 1830, época em que encerrou suas atividades, de acordo com Carneiro de Mendonça em seu livro "O Intendente Câmara".

 

Pelos mais variados interesses, a produção de ferro gusa foi transferida para a vizinha Itabira (MG), terra natal do poeta Carlos Drummond de Andrade. E assim, Morro do Pilar (MG) parou no tempo e mantém um ar bucólico e preguiçoso até hoje. Diamantina (MG) a 164 quilômetros.


12/01/2017

16°dia

Morro do Pilar (MG) a Conceição do Mato Dentro (MG)

25 km

Apesar da pequena quilometragem do dia - 27 km -, o calor foi intenso, tanto quanto a altimetria. Sabendo que a etapa não conta com apoio, a exemplo de ontem, decidi partir após o almoço.

 O passaporte foi carimbado numa loja - pasmem - que serve café expresso. Tomei 500 ml de açaí e encerrei com delicioso café. Deixei Morro do Pilar às 14h 30, sob Sol saariano e rumei para Conceição do Mato Dentro. Com 15 minutos de pedal, trovoadas e vento forte. Prenúncio de chuva que, infelizmente, ficou na promessa. O trecho é muito bonito, com o Espinhaço mostrando suas formações sem nenhum pudor. Na 1/2 do caminho encontrei o Cássio, ciclista Potiguar, que está percorrendo a Estrada Real de Diamantina a Paraty (RJ). Ficamos um tempo conversados, passei umas informações, nos despedimos e segui rumo a Conceição do Mato Dentro (MG) (18.198 habitantes. Censo 2010).

 







Fotos: Fernando Mendes.

A três quilômetros da chegada a Conceição MoDato, a Estrada Real desemboca na Rodovia MG - 010, que vem de BH e, após descida alucinante, cheguei ao Down Town local. Eram 18h 30.

Aproveitei o que restava de luz natural e fui à Igreja do Bom Jesus de Matozinhos, uma das mais belas da Estrada Real, embora não seja em estilo barroco.

 

Em 1931, encontrava-se em péssimo estado de conservação e foi totalmente demolida e substituída por uma construção moderna. Edificação recente, sem ter um significado artístico - arquitetônico, o atual Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos merece menção por ser centro de romaria, que se realiza anualmente pelas festas do Jubileu, entre 14 e 24 de junho, desde os tempos coloniais.

A decisão de construir a igreja foi tomada pela irmandade em reunião no dia 14 de março de 1931. O lançamento da pedra fundamental ocorreu em 8 de novembro do mesmo ano. O projeto é de autoria do arquiteto Mario Moreira. As linhas arquitetônicas são bastante ecléticas, variando do mourisco ao neogótico. A entronização da imagem do Bom Jesus no Santuário se deu a 12 de maio de 1934.

Disponível em:<https://pousadadagameleira.com.br/atrativos-historicos-culturais-de-conceicao-do-mato-dentro-mg/santuario-do-bom-jesus-de-matozinhos/>. Acesso: 1º/03/2017.

Diamantina a 137 quilômetros.

13/01/2017

17°dia

Conceição do Mato Dentro (MG) a Itapanhoacanga (MG)

47 km

 

Na saída de Conceição do Mato Dentro (MG) choveu muito forte. Foi uma delícia pedalar sob forte aguaceiro, que atenuou do calor insano, que senti desde a saída de Petrópolis (RJ), 18 dias atrás, quando a aventura teve início.

 

 Choveu até a parada para o almoço, que aconteceu no pequeno Distrito de Córregos, 432 habitantes, sendo 246 homens e 186 mulheres – Censo 2010 -, fundado há 308 anos e pertencente a Conceição do Mato Dentro (MG).

 

Igreja de Matriz de Nossa Senhora de Aparecida. Foto: Fernando Mendes. 


O ponto alto em Córregos é a Igreja de Matriz de Nossa Senhora de Aparecida. Presume-se que a sua construção ocorreu entre os anos de 1745 e 1748. Porém, na fachada estão gravadas, em cima da porta, as datas de 1872 e 1994. Possivelmente, é uma referência às reconstruções que ocorreram na igreja. Durante muitos anos esquecido e abandonado, o órgão da Igreja Matriz de Nossa Senhora Aparecida, ressurge para nos revelar segredos, informações históricas e de organaria (fabricação, conservação ou a reparação de órgãos) até então ignoradas.

 Disponível em:< http://cmd.mg.gov.br/distritos/corregos/igreja-matriz-de-nossa-senhora-aparecida-de-corregos>. Acesso: 1º/03/2017. 

Fundado por bandeirantes em 1702, o Distrito de Córregos pertenceu ao Serro (MG) até o ano de 1851, passando a ser distrito de Conceição do Mato Dentro (MG). Situado em um vale de difícil acesso, no início de sua formação foi núcleo de mineração de ouro e diamantes.

 

Córregos ou Nossa Senhora Aparecida de Córregos tem seu casario tipicamente colonial distribuído em uma pequena praça e algumas ruas. São casas térreas e alguns sobrados, simples e antigos.

 Almoço simples e pedal girando, agora sem chuva, até chegar à pacata e simpática Santo Antônio do Norte - 662 habitantes, sendo 347 homens e 315 mulheres, Censo 2010 que abriga a charmosa Igreja do Rosário.  A localidade mantém a beleza paisagística de seu sítio e preserva, em decorrência da estagnação econômica, suas características do período colonial.

 Tapera, como também é conhecida, tem apenas uma rua. Quem ali conseguir a façanha de se perder, ganhará um prêmio. Com o passaporte carimbado, toquei em frente, ou melhor, toquei para cima, pois a última etapa inclui subir a vertente Sul da Serra da Escadinha, [quatro quilômetros] e depois descer a vertente Norte [oito quilômetros] para chegar a Itapanhoacanga, distrito de Alvorada de Minas (MG).

 

Quando cheguei ao alto da serra, senti-me no topo do mundo. Escalada que rendeu belas fotos. Desci rapidamente e cheguei à desconhecida Itapanhoacanga (MG) (1.700 habitantes. Censo 2010), localidade com o nome mais estranho encontrado ao longo dessa imensa estrada chamada Real. Itapanhoacanga (Ita=pedra. tapanhuna = negra. acanga = cabeça. Ou seja: pedra cabeça de negro).

 Itapanhoacanga fica encravada em um vale muito profundo e cercada pela Serra do Espinhaço, que recebe denominações locais de Serra do São José, também chamada de “Serra da Escadinha”. Ao longo do Caminho dos Diamantes – trecho compreendido entre Diamantina (MG) e Ouro Preto (MG) -, o Espinhaço recebe diversas nomenclaturas dadas pela população nativa.

 

Existem monumentos religiosos e ricas manifestações culturais. O pequeno vilarejo é símbolo da época em que esse diminuto distrito, na porção central de Minas Gerais, era o mais rico garimpo de ouro do Serro Frio (arraial que deu origem à cidade do Serro-MG).

A reforma da Igreja de São José (edificação barroca construída entre 1746 e 1787) está emperrada há 17 anos. Aguarda a liberação de verba. A situação é tão precária que as imagens e peças sacras foram retiradas e levadas para um local mais seguro.

 

Disponível em http://pt.slideshare.net/AndrSchetino/estrada-real-23863559>.

Acesso: 1º/03/2017.

Diamantina a 89 quilômetros. 

14/01/2017

18°dia

Itapanhoacanga (MG) ao Serro (MG)

26 km

Deixei Itapanhoacanga pouco antes das 11h e rumei na direção de Alvorada de Minas (MG), que teve sua ocupação com o início da mineração do ouro no Rio do Peixe, a partir de 1712.

Em Alvorada de Minas (MG) (3.666 habitantes. Censo 2010) carimbei passaporte, bati uma tigela de açaí na padoca e fui encarar as subidas honestas até o Serro (MG), com a ER asfaltada nesse trecho. Cheguei ao Serro (MG) (21.427 habitantes. Censo 2010) no momento de um apagão que durou horas.

O nome da região, dado pelos índios, era Ivituruí (ivi = vento, turi = morro, huí = frio) na língua tupi-guarani. Dai derivou Serro Frio atual Serro (MG), uma das mais belas e antigas cidades históricas de Minas Gerais.

 Serro é nome de queijo e queijo é sinônimo de Serro. A cidade se orgulha de produzir o mais saboroso e conhecido produto mineiro: o famoso "Queijo do Serro" artesanal, tipo Minas. No estado ele é conhecido também como "queijo minas" (não é curado nem frescal). O motivo do diferenciado sabor, comparável aos melhores do mundo, ou ainda não está devidamente explicado, ou está guardado a sete chaves.

Os antigos o creditavam ao capim gordura, excelente pastagem nativa da região, hoje quase desaparecida. Como permaneceu a mesma qualidade, atualmente alguns apontam a composição do solo (terreno calcário e úmido) e o clima, como os responsáveis pelo delicado sabor. 

 

Disponível em:< https://www.serro.mg.gov.br/portal/turismo/0/9/758/queijo-do-serro>. Acesso: 1º/03/2017.

 

Sem energia elétrica, a cerveja do jantar desceu quente. Mas a refeição estava uma delícia. Pouco antes da meia-noite a energia foi restabelecida. Impossível dormir sem ar-condicionado. Diamantina (MG) a 64 quilômetros.

15/01/2017

19°dia 

Serro (MG) a São Gonçalo do Rio das Pedras (MG)

29 km

A tão esperada chuva chegou e me acompanhou pelo percurso de hoje, quase todo feito em asfalto. Na saída do Serro (MG), parada para degustar açaí e tomar delicioso expresso.

 

Atravessei a ponte sobre o Rio do Peixe e, após, subida honesta de quatro quilômetros. Almocei assistindo Escolinha do Professor Raimundo, no Distrito de Três Barras, 23 quilômetros à frente e pertencente ao Serro (MG).

 

O núcleo humano de Três Barras fica às margens do Rio Jequitinhonha e abriga a charmosa Igreja de São Geraldo (*).

 

 

(*) Templo modesto, mas que se destaca entre o rarefeito casario local. A fachada é bastante singela, com torre única e central salientada pela cobertura em telhado de quatro águas, numa feição tipicamente mineira. Embora sem nada que a distingue especialmente, a Capela de São Geraldo, comove pelo despojamento e simplicidade. Capela de São Geraldo ocupa o lugar, com arquitetura tipicamente mineira. Ressalta as características dos tempos coloniais, destacando-se pela simplicidade de seu contorno em tom azul, pela torre central única e por seu telhado de quatro águas com seu conjunto arquitetônico e natural. A modesta capela de São Geraldo registra a religiosidade do povo do distrito.

 

Disponível em:< https://www.serro.mg.gov.br/portal/noticias/0/9/747/tres-barras>.

Acesso: 1º/03/2017.

 

A chuva apertou e logo passei por Milho Verde, também Distrito do Serro (MG) e lugar de pousadas e cachoeiras em profusão. Essa remota localidade abriga a minúscula Capela do Rosário, que ficou conhecida ao sair no encarte do LP “Caçador de Mim”, de Milton Nascimento, lançado pela Gravadora Ariola, em 1981. Carimbei passaporte na Pousada do Moraes e pedalei bem tranquilo os sete quilômetros finais, chegando a São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro, às 19h. Fui rever o Sr. Ademil e colocar a conversa em dia. Diamantina (MG) a 32 quilômetros. Há três semanas, estava a 942 quilômetros.

 

Partindo da constatação de que há muito pouca documentação sobre a Capela de Nossa Senhora do Rosário de Milho Verde (MG), o autor do artigo foi surpreendido com o dado - confirmado por muitos moradores antigos da localidade - de que a construção não data do século XIX, como criaram muitos especialistas, mas sim da década de 50 do século XX.

Essa constatação originou uma reflexão sobre a "autenticidade" do edifício, que, diferentemente de muitas construções da mesma época no interior brasileiro, não possuem absolutamente nada de "kitsch". Uma possível explicação para esse fato é o total isolamento em que se encontrava Milho Verde na década de 1950, não sendo servida a localidade por luz elétrica, portanto, não compartilhando das informações da indústria cultural e, por isso, com um alto grau de "imunização" em relação ao "kitsch" por ela difundido.

 

Kitsch: substantivo com origem no alemão que descreve uma coisa com mau gosto (âmbito da estética). Conteúdo criado para apelar ao gosto popular.

 

Disponível em:< https://www.serro.mg.gov.br/portal/noticias/0/9/748/Milho-Verde>.

Acesso: 1º/03/2017.

16/01/2017

20°dia

São Gonçalo do Rio das Pedras (MG) a Diamantina (MG)

32 km

Acordei com o forte barulho da chuva sobre a cobertura que dá acesso dos quartos à sala de café da Pousada Fundo de Quintal. Tomei café e zarparei. Como não sou de açúcar, o aguaceiro não me impediu de sair. O trecho estava bem enlameado e deveras escorregadio.

Seguia com cautela. Passei pelo bucólico povoado do Vau, subdistrito de Diamantina (MG), quando a chuva estiou. Daquele ponto em diante, o asfalto cobriu o leito natural do caminho histórico. “a marcha do progresso é a minha grande dor”, conforme está na canção Mágoa de Boiadeiro, composição de Índio Vago e Nonô Basílio, imortalizada na voz de Sérgio Reis.

A paisagem da Serra do Espinhaço é belíssima e as formações chegam à beira da Estrada Real. As subidas são fortes. Cheguei a Diamantina (MG) (47.952 habitantes. Censo 2010) às 14h 30. Essa foi a mais top viagem que fiz pela ER, não desmerecendo as demais. 

CHEGUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!
























































Comentários

  1. Casino & Gambling | Dr.md.com
    The 서귀포 출장안마 world's best casino and 창원 출장마사지 gambling resource 청주 출장마사지 is your 춘천 출장샵 home for 안성 출장안마 all things casino, gambling, poker, roulette, blackjack, poker, video poker,

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Boa leitura e sinta-se à vontade para comentar. Obrigado

Postagens mais visitadas deste blog

Passeio de Bike pelo Vale Histórico e Costa Verde. Outubro 2019.

Estrada Real. Conceição do Mato Dento (MG) a São Lourenço (MG). Junho 2014.

Viagem de Bike Brasília (DF) - Uberlândia (MG) - Romaria (MG) - Coromandel (MG) - Paracatu (MG) - Brasília. Fevereiro 2010.