Viagem de Bike. Brasília (DF) a Curitiba (PR). Julho 2007.

 








 
REGIÃO SUL

 





Roteiro Inverno 2007

 Brasília (DF) X Curitiba (PR)

 

Data

 

De

 

Para

 

Distância/dia

 

Acumulado

 

02/07/2007

Brasília (DF)

Abadiânia (GO)

120 km

120 km

03/07/2007

Abadiânia (GO)

Goiânia (GO)

80 km

200 km

04/07/2007

Goiânia (GO)

Morrinhos (GO)

130 km

330 km

05/07/2007

Morrinhos (GO)

Itumbiara (GO)

90 km

420 km

06/07/2007

Itumbiara (GO)

Prata (MG)

110 km

530 km

07/07/2007

Prata (MG)

Frutal (MG)

90 km

620 km

08/07/2007

Frutal (MG)

São José do R. Preto (SP)

110 km

730 km

09/07/2007

S.J.R.Preto (SP)

Lins (SP)

130 km

860 km

10/07/2007

Lins (SP)

Marília (SP)

75 km

935 km

11/07/2007

Marília (SP)

Ourinhos (SP)

94 km

1.029 km

12/07/2007

Ourinhos (SP)

Joaquim Távora (PR)

77 km

1.106 km

13/07/2007

J. Távora (PR)

Wenceslau Brás (PR)

53 km

1.159 km

14/07/2007

W. Brás (PR)

Castro (PR)

132 km

1.291 km

15/07/2007

Castro (PR)

Curitiba (PR)

157 km

1.448 km

14 dias de viagem. Total pedalado: 1.448 km

Média de 103 km/dia




02/07/2008

Brasília (DF) a Abadiânia (GO)

120 quilômetros

        

Deixei Brasília (DF) - 2.051.146 hab. Censo 2000 - numa manhã ensolarada de inverno, dia 2 de Julho de 2007, para percorrer, em 14 dias, os 1.448 quilômetros que separam a Capital Federal de Curitiba (PR) 1.587.315 hab. Censo 2000. Tudo foi planejado meticulosamente, como de hábito. O roteiro, os pernoites, as rodovias a percorrer e o meu retorno para casa.

A maior parte do trajeto está dentro da área tropical do Brasil (aproximadamente 1.170 quilômetros dos 1.448 quilômetros a percorrer). Dessa maneira me preocupei, nesse trecho, com quedas bruscas de temperaturas, uma vez que o inverno em área tropical NÃO é marcado pelo frio e SIM pela estiagem.

De Brasília (DF) à divisa do Estado de São Paulo com o Estado do Paraná, o tempo esteve firme, nada de chuvas e, em todos os pernoites, dormia com o ar-condicionado do quarto ligado. Fez muito calor do 1º ao 10º dia de viagem, apesar da estação ser o inverno. Mas a partir do ingresso no Estado do Paraná, o tempo virou e o bicho pegou.

INÍCIO DA VIAGEM. FOTO: FERNANDO MENDES.

Às 9h 42 do dia 2 de Julho de 2007, acionei o controle remoto para abrir o portão da garagem. Subi a rampa de acesso à área externa e senti que a bike estava pesada. 14 dias assim, pensei. E vamos em frente. 

Pelo Eixo Rodoviário Norte (Rodovia DF-002), alcancei o Marco Zero da cidade, que assinala a passagem da Asa Norte para a Asa Sul. Continuei firme pelo Eixo Rodoviário Sul (Rodovia DF-002), até alcançar o acesso ao Zoológico, feito pela Rodovia DF-051. Três quilômetros à frente, deixei essa rodovia e, pela alça de acesso à direita, ingressei na BR-450, abandonando-a em frente ao Museu da Memória Candanga. 

Virei à direita e ingressei na DF-075, que passa pelo Núcleo Bandeirante e Riacho Fundo – Regiões Administrativas do DF – e termina no quilômetro ZERO da BR-060, Rodovia Federal que liga Brasília (DF) a Goiânia (GO) e segue até Bela Vista (MS), fronteira com o Paraguai, totalizando 1.459 quilômetros de extensão.

A partir do MARCO ZERO da BR-060, que fica sob o viaduto de acesso a Samambaia, uma das Regiões Administrativas do DF, até a divisa do DF/GO, são 30 quilômetros de retas intervaladas por descidas e subidas suaves. Parei na Lanchonete Coyote. Eram 12h 39. Tomei água e enchi o Camelback.

DIVISA DF/GO. FOTO: FERNANDO MENDES.

Logo após a divisa, um trecho da BR-060, com alto índice de acidente, é conhecido pelo nome de “Sete Curvas”. É um traçado muito acidentado no qual a rodovia vence um forte aclive com quatro curvas fechadas. No declive, mais três curvas igualmente fechadas. Essas curvas “desapareceram”, pois a duplicação da estrada retificou o traçado original. O morro continua lá. As subidas e as descidas também, embora o novo traçado, além de duplicado, tem curvas abertas, menos fechadas. 

Passadas as Sete Curvas, atravessei as pontes sobre os Rios Descoberto e Areias e girei até a fábrica da cerveja Schincariol, localizada ao lado do Posto Fazendão. Eram 14h 30. Até esse ponto, foram 82 quilômetros e 5 horas de viagem. Fazia muito calor. Parecia verão. Renovei o protetor solar, tomei uma Coca e segui na proa de Alexânia (GO), 13 quilômetros à frente, cumpridos em 40 minutos. Poderia ter sido mais rápido, porém os quatro quilômetros que antecedem Alexânia (GO) são em aclive acentuadamente forte. Haja pernas.

Atravessei o perímetro urbano de Alexânia (GO) - 20.047 hab. IBGE 2000 - às 15h 10. Parei para tomar água de coco. Faltavam 30 quilômetros para Abadiânia (GO) - 11.452 hab. IBGE 2000 -, local do 1º pernoite. Esses 30 quilômetros finais do 1º dia são assim divididos: 15 quilômetros em declive único até a ponte sobre o Rio Corumbá e os 15 quilômetros restantes em aclive único até Abadiânia (GO). Cheguei às 17h e hospedei-me no Hotel Azevedo, que não é nenhuma Brastemp, mas quebrou o galho.

PÔR DO SOL EM ABADIÂNIA (GO). FOTO: FERNANDO MENDES.

Faltava pouco para o pôr do Sol. Deixei as tralhas no hotel e fui à rua registrar esse espetáculo. Em quase todas as cidades nas quais pernoitei durante essa viagem, fiz esse registro. Depois das fotos, banho e saída para degustar uma tigela de açaí (500 ml) com banana e delicioso sanduíche de peito de frango. O céu estava estrelado, o ar bem fresco, mas meu corpo muito quente. Transpirava durante a caminhada de volta ao hotel. Dormi com ventilador ligado e, no meio da madrugada, tive que trocar de camisa, pois a que estava usando encontrava-se toda suada. E assim, em (1) Abadiânia (GO), passei a 1º noite da viagem.

(1) É precária a infraestrutura existente no município de Abadiânia (GO). Isso explica o vínculo de dependência mantido com outros centros mais desenvolvidos, mais acentuadamente com Anápolis (GO) e Goiânia (GO). A proximidade de Abadiânia com esses grandes centros é considerada, por alguns, como "fator de entrave ao desenvolvimento", por criar elevado grau de dependência, ao mesmo tempo em que beneficia o núcleo de maior poder de atração. No entanto, mesmo sem dispor de equipamentos urbanos necessários ao atendimento da população, a sede do município expande-se aleatoriamente, originando lotes residenciais em diferentes zonas da periferia da cidade.


Disponível em:<https://www.cidade-brasil.com.br/municipio-abadiania.html>. 

Acesso: 01/08/2007.



03/07/2008

 Abadiânia (GO) a Goiânia (GO)

80 quilômetros


Acordei às 8h. Tomei café na padaria anexa ao Hotel Azevedo. Expresso, pão de queijo, vitamina de banana e barras de cereais. Retornei ao Azevedo, arrumei as tralhas para começar o 2º dia de viagem. E veio a 1ª baixa. Ao limpar a lente esquerda dos óculos de Sol, a armação quebrou. Não havia levado sobressalente. O jeito foi ir à ótica local e adquirir outro par de óculos. Apesar da precariedade do lugar, encontrei uns muito bons. E assim, comecei meu 2º dia de jornada, com apenas 80 quilômetros até Goiânia (GO).

De óculos novos e todo pimpão, saí de Abadiânia (GO) e ingressei na BR-060 às 9h 30. Esplêndida manhã. A temperatura era de 22º C e o Sol brilhava forte. Nenhuma previsão – felizmente – de chuva.  

Vento contra e moderado me fez pedalar forte na saída de Abadiânia (GO) para Goiânia (GO). Longa reta estende-se por seis quilômetros, vindo, a seguir, forte descida até a ponte sobre o Rio das Antas. Daí para frente, fortes subidas até a fábrica da Ambev, a maior cervejaria da América Latina, com a associação das marcas Brahma e Antárctica. Parei em frente à cervejaria às 10h 30. Água de coco adquirida de ambulantes que vendem coisas à beira da rodovia. Tem de tudo. A seguir, passei pela Polícia Rodoviária de Anápolis (GO). Eram 10h 50. À minha direita, um pátio repleto de carros e motos destruídos em acidentes ou apreendidos. Lacraias apodrecendo ao relento. Um ferro-velho a céu aberto.

 Mais algumas pedaladas, cheguei ao trevo de acesso a Belém (PA). Naquele ponto, outrora, o trânsito era confuso e quase sempre congestionado por conta da rotatória que marca o encontro da BR-060 com a BR-153, a rodovia Transbraliana (2)

Agora, um moderno viaduto passa sobre a rotatória deixando a confusão do trânsito abaixo da ponte. Foi a primeira vez que passei pedalando pelo recém-inaugurado viaduto.

ENTRONCAMENTO BR 153 - 060. ANÁPOLIS (GO). 


(2) A Rodovia Transbrasiliana (BR-153) é a quarta maior rodovia do Brasil, ligando Belém (PA) a Aceguá (RS), fronteira com o Uruguai, totalizando 4.923 quilômetros de extensão. (Nota do Autor). 

Após transpor o viaduto, que marca o contorno rodoviário de Anápolis (GO) 288.085 hab. IBGE 2000 -, passei pelo DAIA (Distrito Industrial de Anápolis  - GO) às 11h 30 sob Sol forte e vento moderado. Faltavam 55 quilômetros para Goiânia.

Às 13h passei por Terezópolis de Goiás - 5.083 hab. Censo 2000 -, município recentemente emancipado e que sobrevive de intenso comércio às margens da BR 060. Em ambos os acostamentos ambulantes se aglomeram para vender coisas aos viajantes. A beira da estrada me pareceu ser a maior oferta de empregos do município. Parei numa feira depois da barreira eletrônica e tomei caldo de cana. Que calor fazia naquele início de tarde. 25 quilômetros à frente ou duas horas pedalando forte, cheguei a Goiânia (GO) - 1.093.007 hab. Censo 2000 - e hospedei-me no Hotel Xantara, às margens da estrada.

Às 16h, de banho tomado e roupa leve, fui ao BB sacar uns reais, almocei, voltei ao hotel e fiquei no frescor do ar-condicionado do quarto. De lá não saí até à noite. Jantei no hotel e dormi cedo. No dia seguinte, 130 quilômetros me aguardavam até Morrinhos (GO), cidade na qual o transporte público é feito por moto-táxis. Não circulam ônibus.

04/07/2008

  Goiânia (GO) a Morrinhos (GO)

130 quilômetros


Era dia 4 de Julho, 231º aniversário da independência dos EUA. Deixei Goiânia (GO) às 9h 30, com céu claro e sem nuvens, típico do inverno no Brasil Central. O Estádio Serra Dourada passou no meu través oeste e segui pelo movimentado Anel Rodoviário que contorna a Capital de Goiás, com trânsito frenético, muitos barracos às margens da rodovia - alguns no acostamento - crianças, alheias ao intenso movimento de veículos e, por extensão, aos perigos da estrada, empinavam pipas e corriam atrás daquelas que foram cortadas e estavam a cair. Muitas aglomerações de pessoas esperando condução nos pontos, pedestres, cachorros, ciclistas [na contramão] e carroças deram cores finais ao quadro típico dessas áreas periféricas das grandes cidades brasileiras. Foi preciso muita calma.

 Quando atravessei a divisa dos Municípios de Goiânia e Aparecida de Goiânia - 336.392 hab. Censo 2000 -, senti que o movimento na rodovia arrefeceu (esfriou). Pedalei [rapidamente] até Hidrolândia (GO) - 13.086 hab. Censo 2000 -, a cidade das jabuticabas e das águas minerais, 35 quilômetros à frente. Fiz a primeira parada do dia no trevo de acesso a Caldas Novas (GO) - 49.660 hab. Censo 2000 -, 62 quilômetros depois de ter deixado Goiânia. Eram 12h 50. Percorri [esse trecho] em 3h e 20 minutos, com média de 19,3 km/h.

O AUTOR.

 Encostei a bike no Posto Floresta, sob nova direção. O proprietário, um catarinense, que trabalha no estabelecimento com a família. Veio do Sul. “Vim para vencer”, disse-me orgulhosamente. Ficou surpreso quando falei de onde vinha e aonde ia. Tomei água e continuei. Voltei à lida das pedaladas às 13h 30.  

Dez quilômetros à frente, às 14h, atravessei a pequena Professor Jamil (GO) – 3.403 hab. Censo 2000 – distrito criado com a denominação de Professor Jamil Safady e elevado à condição de município em 16/01/1991. Morrinhos (GO) a 55 quilômetros. 

Percorri, após atravessar Professor Jamil (GO), 31 quilômetros em 1 hora e meia, chegando ao trevo de acesso a Pontalina (GO) - 16.556 hab. Censo 2000 - às 16h. 

As obras de duplicação seguem em ritmo acelerado. Nos 24 quilômetros restantes para alcançar Morrinhos (GO), avistei um caminhão esguichando água na terra, que encontrava-se pronta para receber a primeira camada asfáltica. Não hesitei. Mantive a bike a certa distância da traseira do veículo-regador de modo que os jorros de água caíam sobre mim, refrescando-me. Foi um alívio para o calor.

O AUTOR.

CHEGADA A MORRINHOS (GO). FOTO: FERNANDO MENDES.

 Às 17h 20 pedalava pelo perímetro urbano de Morrinhos (GO) - 36.990 hab. Censo 2000. Curitiba (PR) a 1.160 quilômetros, menos do que quando saí de Brasília (DF).

FOTO: FERNANDO MENDES.

Jantei farto prato comercial e fiz caminhada de duas horas após a refeição. Quando voltei ao Hotel Sena, precisei tomar outro banho. Meu corpo estava muito quente. Foram 130 quilômetros naquele dia, percorridos em 8 horas e sob Sol forte. Inverno em áreas tropicais é assim: quente e com baixa umidade do ar. Dormi bem. Não escutei barulho algum.

05/07/2008

Morrinhos (GO) a Itumbiara (GO)

90 quilômetros

Ao acordar, assustei-me com a hora. Passava das 9h. Eu havia dormido quase 13 horas. Mas não me estressei. Naquele dia tive apenas 90 quilômetros até Itumbiara (GO). Estava tudo sob controle. Tomei farto café da manhã e deixei Morrinhos (GO) às 10h 40. O céu estava sem nuvens e o Sol agradável. Os 90 quilômetros entre Morrinhos (GO) e Itumbiara (GO) foram vencidos em cinco horas de pedal, média de 18 km/h. Longas retas, poucos aclives e declives marcam o trecho.

SAÍDA DE MORRINHOS (GO). FOTO: FERNANDO MENDES.

BR - 153. Foto: Fernando Mendes.

       Em Itumbiara (GO) - 81.430 hab. Censo 2000 - hospedei-me no Hotel Órion, às margens da BR-153. Cheguei cedo, eram 15h 30, o que me possibilitou, pela primeira vez, desde a saída de Brasília (DF), dormir à tarde. Que delícia. Ao acordar, registrei o pôr do Sol, visto da janela do quarto do hotel. 

PÔR DO SOL EM ITUMBIARA (GO). FOTO: FERNANDO MENDES.

      Em Itumbiara (GO), venci a 1ª etapa da viagem sem problemas. A estrada com pista duplicada e o movimento de veículos abaixo da média, proporcionaram pedal tranquilo e seguro, excetuando-se o calor e da baixa umidade relativa do ar.  Após terminar delicioso jantar, à base de massa, saí do Hotel Órion e fui dar uma volta pela orla do Rio Paranaíba, que atravessa a cidade e divide Goiás (GO) de Minas Gerais (MG), e conhecer a Ponte Pênsil Afonso Pena (3).
 

(3) A Ponte Pênsil Afonso Pena foi inaugurada em 1909 e recebeu o nome em homenagem ao Presidente da república Afonso Augusto Moreira Pena, que governou o Brasil entre 1906 e 1909.

Após a construção da Rodovia BR 153, no decorrer da década de 1960, o movimento passou para a ponte construída para atender à rodovia [BR 153].


No inicio da década de 1970, com a construção da Usina hidrelétrica de Itumbiara (Furnas), engenheiros da estatal mudaram o lugar de origem da Ponte Afonso Pena para atender à Vila Operária na cidade de Itumbiara (GO), com o canteiro da obra na localidade denominada Araporã (MG).

Afonso Pena [a Ponte],  um dos cartões postais de Itumbiara (GO), completou, em 15 de novembro de 2006, 97 anos.


A estrutura é de ferro, suspensa, do tipo pênsil e apoiada por pilastras que sustentam apenas as extremidades. Começou a ser construída em 1908, no então povoado de Santa Rita do Paranaíba, atraindo pessoas de vários pontos da região para acompanhar sua instalação. Até que, no dia 15 de novembro de 1909, foi inaugurada. Em 1972, passou a ser usada apenas por carros de passeio.


A ponte [de ferro] veio da Alemanha até o Rio de Janeiro de navio. Seguiu, posteriormente, até Uberlândia (MG), de trem, e, em carro de boi, chegou a Itumbiara (GO).


A construção significou a ligação do Centro-Oeste brasileiro com as outras regiões do País, pois une as regiões Sul e Sudeste ao Sul goiano, Mato Grosso do Sul (MS) ao Mato Grosso (MT).


O Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan), visitou a Ponte Afonso Pena e anunciou que vai solicitar seu tombamento como patrimônio histórico nacional. Mas até hoje o laudo não foi divulgado e, segundo informações, o processo de tombamento ainda está sendo analisado.


Em 2005, a Prefeitura de Itumbiara (GO) fez uma revitalização da ponte e instalou uma iluminação especial, realçando o formato da obra, que passou a ser chamada também de Ponte de Cristal. À noite, pode ser vista da Avenida Beira-Rio e se tornou um dos pontos mais visitados pelos itumbiarenses e visitantes, uma das imagens mais fotografadas.


Disponível em:<https://www.visiteobrasil.com.br/centro-oeste/goias/regiao-dos-lagos/historia/itumbiara>. Acesso: 01/08/2007.


PONTE PÊNSIL.

Ponte. Foto [s.d] color. Disponível em: <https://www.visiteobrasil.com.br/centro-oeste/goias/regiao-dos-lagos/historia/itumbiara>. Acesso: 01/08/2007.


06/07/2008

Itumbiara (GO) a Prata (MG)

110 quilômetros

Deixei o Hotel Órion às 10h. Ele se localiza a poucos metros da ponte sobre o Rio Paranaíba, que separa Goiás de Minas Gerais e, por extensão, a Região Centro-Oeste da Região Sudeste do País.

DIVISA GO/MG. FOTO: FERNANDO MENDES.

Registrei minha passagem pela divisa estadual, atravessei a ponte pela área lateral para pedestres (empurrei a bike) e, terminada a travessia, ingressei em Minas Gerais, no Município de Araporã (MG) - 5.309 hab. Censo 2000 -, um dos 35 municípios que constitui o Triângulo Mineiro (4). Eram 10h 20 de uma manhã esplendidamente linda, céu sem nuvens, vento fraco e a promessa de muito calor, o calor de inverno do Brasil, o maior país tropical da Terra.

(4) Diferentemente do que muitos dizem, pensam ou entendem, o Triângulo Mineiro NÃO é formado somente pelos municípios de Araguari, de Uberlândia e de Uberaba. O Triângulo Mineiro é uma das dez regiões de planejamento do Estado de Minas Gerais e é constituído por 35 municípios, conforme mapa e tabelas que se seguem.

Os 35 Municípios do Triângulo Mineiro -  53.719 km² 

Municípios

População

Municípios

População

A. Comprida

2.093

Ituiutaba

92.727

Araguari

106.403

Iturama

31.495

Araporã

6.113

L. Oeste

6.492

C. Dourada

2.470

M. A. de Minas

18.348

C. Verde

18.680

Pirajuba

3.694

C. Florido

6.570

Planura

10.289

Canápolis

11.313

Prata

25.511

Capinópolis

15.302

Santa Vitória

15.492

Carneirinho

8.859

S. F. de Sales

5.167

Cascalho Rico

2.799

Tupaciguara

23.076

Centralina

10.219

Uberaba

287.760

C. Gomes

3.087

Uberlândia

608.369

C. das Alagoas

20.426

União de Minas

4.593

Conquista

6.580

Veríssimo

3.667

Delta

6.600

Total (35)

1.460.591

Fronteira

13.983

Disponível em:<   www.triangulomineiro.com>. Acesso: 01/08/2007.

Frutal

51.766

Gurinhatã

6.194

Indianópolis

6.244

Ipiaçu

4.191

Itapagipe

14.019


 

Até Centralina (MG) 10.236 hab. Censo 2000 -, considerada a Princesinha do Triângulo Mineiro, foram 18 quilômetros pela pista nova, fechada ao tráfego e, portanto, pedalando bem à vontade. O ideal para quem viaja de bike seria uma ciclovia ou coisa que o valha, para maior segurança do ciclista. Mesmo em acostamentos largos e em bom estado de conservação, a passagem de ônibus e caminhões, além do barulho, representam riscos pela proximidade e pelo deslocamento de ar.

             O Brasil elevou as rodovias à condição de cultura e arte e mal consegue manter as estradas em razoável estado de conservação. Desejar ciclovias nos moldes europeus é, no mínimo, uma utopia.
 

De Centralina (MG) a Canápolis (MG) - 10.663 hab. Censo 2000 - foram 15 quilômetros, pedalados em pista duplicada e aberta ao tráfego. A Obra ficou um espetáculo. Asfalto novo e todo pintado com faixas divisórias brancas. Sinalização vertical igualmente nova. Dá gosto viajar numa estrada assim, independente do meio de transporte utilizado.


Por volta das 11h 45, parei na Barraca do Carlinhos, que serve suco de abacaxi, a iguaria do município, gratuitamente. Fazia um calor senegalês sob um Sol saariano. Devo ter tomado uns cinco copos de suco de abacaxi. 


Canápolis (MG) rivaliza com Monte Alegre de Minas (MG) para ver quem produz mais o melhor abacaxi da região. Os dois municípios têm nesse cítrico a maior renda e geração de empregos.  No trevo de acesso a Canápolis, existe um enorme abacaxi, que dá as boas vindas aos visitantes.


FOTO: FERNANDO MENDES.

Retomei as pedaladas às 12h 15. Mais 23 quilômetros por uma BR-153 novinha em folha e duplicada. Cheguei, às 13h 30, ao trevo de acesso a Ituiutaba (MG), outra grande cidade do Triângulo Mineiro, que abriga 89.091 habitantes. Censo 2000. A partir desse ponto, a estrada não é mais duplicada.


Os 50 quilômetros seguintes até Prata (MG) – local do pernoite daquele dia - foram feitos em uma BR-153 esburacadíssima e, pior, sem acostamento. Nem sinal de obras de duplicação.


Foi desse instante em diante que aquela sensação do desconhecido se apossou de mim. Parecia ter perdido a vontade de continuar a viajar em decorrência do estado lamentável da estrada. 50 quilômetros sem acostamento é bem diferente de 50 quilômetros com acostamento. A média horária, que até então estava muito boa – 20 km/h –, começou a cair rapidamente. Quase não conseguia pedalar pelo asfalto. Olhava pelo retrovisor e via um movimento pesado. Nas raras vezes que usei o precário asfalto, logo tinha que voltar para o mato. Isso, além de cansar demais, torna a viagem perigosa. Em alguns trechos, vi buracos que caberiam minha bicicleta deitada dentro deles; e sobrava espaço. Os veículos, embora trafegassem no máximo a 30 km/h, faziam zigue e zague (5) desviando das crateras. Num determinado trecho – a descida de acesso à ponte sobre o Rio Tijuco, que separa os municípios de Monte Alegre de Minas (MG) - 18.006 hab. Censo 2000 - e Prata (MG), a bike foi mais eficiente em relação a qualquer outro veículo.


(5) Essa palavra vem do francês "zigzag", com "G" e sem hífen.


Os buracos eram tantos, que eu conseguia contorná-los mais rapidamente e atrás de mim, vinha uma comitiva de carros, ônibus e caminhões. Essa descida é íngreme e, portanto, todos desceram mais lentamente do que eu. Ao passar sobre o Tijuco, a cabeceira da ponte tem uma cratera de lado a lado da estrada. Os pesados tiveram mais dificuldades para vencer esse enorme buraco. No meio da ponte existem buracos menores, mas nem por isso menos perigoso.


Depois da ponte sobre o Tijuco, veio uma subida insana. Tive que aguardar naquilo – que um dia foi chamado de acostamento – a passagem de muitos veículos porque agora o acostamento sumiu de vez, ou melhor, foi engolido pelo mato e os buracos me pareceram piores a partir daquele ponto. Foi com grande alívio que avistei um posto Texaco – o único nesses 50 quilômetros – e parei. Precisava de um tempo.


O AUTOR.

Mas não podia ficar parado demasiadamente, uma vez que o Sol escorria para o horizonte. No inverno os dias são mais curtos. Eram 16h 30. Havia feito 40 quilômetros em 3 horas. Faltavam 10 quilômetros para a cidade de Prata (MG) 23.576 hab. Censo 2000 -. Naquelas condições gastaria, pelo menos, mais 1 hora e meia. Chegaria às 18h com alguma luz natural. Chegaria, se o pneu traseiro não tivesse sido furado por enorme prego, que parecia estar ali a me esperar. Troquei a câmara furada pela nova com a pouca luz natural que restava. Terminada a operação, pedalei os 10 quilômetros finais na escuridão. Menos mal. Depois do posto Texaco, apareceu um pseudo acostamento. E aquela sensação ruim não me abandonava. Os 50 quilômetros entre o trevo de acesso a Ituiutaba (MG) e a cidade de Prata (MG) estão mais do que precários.


Às 19h 30, depois de pedalar hora e meia na penumbra, avistei o inconfundível logotipo do Ramada Palace Hotel, às margens da BR-153. Senti a bike bambear, o pneu dianteiro estava furado. Deixei para me preocupar com isso no dia seguinte. Precisava de um banho e de uma boa janta.


Ao me deitar, liguei a TV do quarto e o Canal Sport TV apresentava a retrospectiva da Copa 82, a XII Copa Mundial de Futebol, realizada na Espanha. No dia 5 de Julho de 1982, no Estádio Sarrià, em Barcelona, o Brasil perdeu o jogo, que o levaria às semifinais, nos pés mais competitivos dos italianos, a começar por Paolo Rossi, o Bambino de Ouro, que fez os três gols na vitória por 3 X 2. 


Detalhe: o Brasil precisava  de um empate para prosseguir na Copa. O jogo estava em 2 X 2 até os 36 minutos do segundo tempo, quando a Itália marcou o terceiro tento e mandou a Seleção de volta para casa mais cedo do que o esperado.


Adormeci com a TV ligada. Acordei alta madrugada para desligá-la. Estava quente dentro do quarto. Saí e fui pegar um ar mais fresco. Vi o pneu dianteiro da bike murcho. Aquilo me encheu de desânimo. Voltei a dormi. Sonhei que estava jogando bola numa praia. Depois entrei no mar e ondas gigantes vinham em minha direção.


07/07/2008

Prata (MG) a Frutal (MG)

90 quilômetros


O café da manhã, apesar de farto e o dia com céu claro, não me animaram. Sentia o moral baixo. Parecia que estava perdendo o gás para continuar a viagem. Queria prosseguir, mas não conseguia me animar. Quando me lembrei daquele pneu furado, e que teria que consertá-lo antes de partir, deu vontade de voltar para o quarto e dormir até o outro dia. Remendo providenciado. Saí por volta das 10h para percorrer 90 quilômetros até Frutal (MG). A partir da cidade de Prata (MG), a BR-153 volta a ser uma estrada em boas condições. Nada de buracos e acostamento muito bom. O traçado, uma planura. Comecei a pedalar forte para compensar o atraso na saída. Quando completei os primeiros 40 quilômetros, com média de 22 km/h, o pneu traseiro furou. Aquilo estava me deixando muito desanimado. Não é comum acontecer isso, muito menos com aquela frequência. Efetuei a troca da câmara furada pela que foi remendada na saída de Prata (MG). Retomei a viagem. Logo apareceu uma borracharia à beira da estrada. Remendo feito e garantia de “estepe”.

Ao meio dia e meia, passei pelo trevo de acesso à BR-262, que segue para Campo Florido (MG) e Uberaba (MG). Parei no Posto Paiol e almocei. Relaxei degustando deliciosa refeição. A química digestiva foi feita pedalando.

Imprimi um ritmo mais veloz e consegui retomar a média dos 22 km/h, aproveitando-me das retas e da planura do traçado. Pedalei por 61 quilômetros sem trégua. Puxava a água pelo cano do Camel Back. Às 16h pit stop no Posto Laranjão. Tomei um delicioso suco [de laranja] misturado à acerola e comi uns espetinhos de frango. O ritmo foi tão fortes nesse trecho que recuperei o tempo perdido com pneus furados. 

O moral voltou a subir. Retornei à estrada. A bike sambou. Pneu furado. O traseiro, novamente. Não era possível aquilo. Voltei a ficar estressado. Providenciei a troca. Passei os dedos cuidadosamente na parte interna do pneu para ver se sentia algum objeto pontiagudo e não removido, que poderia estar causando tantas baixas em apenas um dia. Senti algo espetar meu dedo. Era uma fina limalha de ferro, semelhante a um clipe que prende papel. Tirei-a usando uma pinça, que sempre tenho na bagagem. 

O problema parecia ter sido resolvido. Notei, também, que os pneus estavam bem gastos. Mas como a troca estava prevista para ser feita durante a viagem, resolvi trocá-los ao chegar à cidade para o pernoite daquele dia. Às 16h 30 retornei à lida. Após 20 quilômetros – percorridos em uma hora – cheguei a Frutal (MG) – 46.566 hab. Censo 2000

O Plaza Hotel é vizinho a uma bicicletaria. Troquei ambos os pneus. Comentei com o mecânico que estava tendo problemas com furos em excesso. Ele substituiu a fita que protege a câmara de ar do contato [ou atrito] com os parafusos que fixam raios. Imaginei ser esse contacto que estava a “beliscar” a câmara de ar, furando-a com freqüência. 

Achei graça quando ele me disse que o pneu que escolhi “é importado moço". "É muito caro”. Perguntei o preço e ele respondeu com olhar assustado “dezessete reais cada um”. Creio que nunca imaginou vender, de uma vez, o único par de pneus importados que havia na loja. 

Pela atenção e boa vontade que teve em me atender – a loja estava fechando quando cheguei – dei-lhe R$ 50,00 e disse que podia ficar com o troco. O cara empalideceu. Creio que nunca recebeu uma gorjeta tão alta. Ficou mais feliz do que pinto no lixo. 

Voltei ao Plaza, tomei banho e jantei no bar anexo. Pela TV, assisti Fluminense 1 X Corinthians 1, pelo Campeonato Brasileiro. Jogo ruim (de assistir).

          Caminhei um pouco depois do jantar pelas ruas desertas de Frutal (MG) (6) e fui dormir por volta das 22h. Não sentia mais aquela sensação de desânimo. Com pneus novos e as fitas das câmeras igualmente novas, me deixaram mais tranqüilo. "Oxalá não tenha pneus furados até o final da viagem", pensei.
 
ÚNICA FOTO DO DIA. MORAL BAIXO.

(6) O nome Frutal foi originado da abundância de jabuticabas na área onde a cidade foi fundada, em 1892. A base econômica é a agropecuária e a cana-de-açúcar. Também se destaca na produção de abacaxi (terceira maior produtora do país), grãos (em especial soja e milho) e na pecuária leiteira.

Acesso: 01/08/2007.

08/07/2008

Frutal (MG) a São José do Rio Preto (SP)

110 quilômetros


O AUTOR

Era dia de domingo. Ruas vazias. Às 9h voltei à BR-153. Foram as últimas pedaladas por Minas Gerais. A divisa com o Estado de São Paulo veio após 47 quilômetros, pedalados com dificuldade devido ao vento contra. Apesar do traçado plano, foram três horas para atingir a divisa dos Estados de Minas Gerais e São Paulo, marcada pelo Rio Grande. 


No lado mineiro, está o município de Fronteira - 9.024 hab. Censo 2000 - e no lado paulista, fica o município de Icém - 6.772 hab. Censo 2000.Parei no Restaurante Peixe Vivo, logo após a ponte que transpõe o Rio Grande. As mesas estão dispostas num deck elevado, com vista privilegiada da Usina Hidrelétrica de Marimbondo (AHE - Aproveitamento Hidrelétrico), administrada pela Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais). 


USINA HIDRELÉTRICA DE MARIMBONDO. FOTO: FERNANDO MENDES.

Degustei saboroso filé de dourado e tomei refrescante banho na praia local. Àquela hora, o calor era forte. Muita gente também se refrescava nas límpidas águas do rio. A opção de lazer na região é reunir a família naquele restaurante, comer bom peixe e se refrescar em águas tão deliciosas.


Depois de uma hora curtindo lugar tão belo, voltei à lida. Eram 13h 15. Havia atravessado – pelo eixo da BR-153 – os Estados de Goiás, de Minas Gerais e começava a pedalar pelo Estado de São Paulo. Faltavam 60 quilômetros para São José do Rio Preto (SP), cidade na qual fiz o pernoite daquele dia de domingo.


No Estado de São Paulo, a BR-153 mantém o sentindo norte/sul. Estende-se da ponte sobre o Rio Grande (divisa MG/SP) até a ponte sobre o Rio Paranapanema (divisa SP/PR), totalizando 321 quilômetros em pista simples (mão dupla).



BR - 153 ATRAVESSANDO ESTADO DE SÃO PAULO.


Os primeiros 24 quilômetros pedalados na BR-153 - em terras paulistas - me conduziram a Nova Granada (SP) - 17.020 hab. Censo 2000Venci esse trecho em pouco mais de uma hora. Pausa refrescante para caldo de cana. Eram 14h 30. Até ali, a rodovia é desprovida de acostamento, transformado em canteiro de obras. Mas o movimento era pequeno. A partir de Nova Granada (SP), o acostamento é largo e está liberado. Mais 11 quilômetros e cheguei a Onda Verde (SP) - 3.413 hab. Censo 2000 -, o antigo Povoado dos Castores, distante 27 quilômetros de São José do Rio Preto (SP), local de pernoite daquele domingo ensolarado, almoço maravilhoso e pedal top!


O nome ONDA VERDE originou-se do relevo da região, no qual há um terreno ondulado, com o verde natural da vegetação. Contudo, a impressão que essa paisagem nos transmite, juntamente com o vento, é de uma imensa Onda no mar Verde. O município é grande produtor de algodão.


Disponível em:<https://www.ondaverde.sp.gov.br/?pag=T1RjPU9EZz1PVFU9T0dVPU9HST1PVEE9T0dFPU9HRT0=&idmenu=214>. 

Acesso: 01/08/2007 (com adaptações).


Cheguei a São José do Rio Preto (SP) - 358.523 hab. Censo 2000 -, cidade cujo nome deriva da mistura entre o padroeiro, São José, e o Rio Preto, rio que banha o município.Eram 17h.. Foi um dia de pedal leve e moral alto. Nada de pneus furados. Parece que o reparo nas fitas protetoras, feito em Frutal (MG), surtiu o efeito desejado. 


Demorei quase uma hora para chegar ao Hotel Dumont, localizado na área central. O trânsito é confuso e as ruas estreitas. Pedia informação e as pessoas falavam comigo como se eu conhecesse o lugar. “Vai pela rua tal. Quando chegar ao mercado tal, vire à direita, na esquina da casa da Toinha”. “Olha, eu não conheço nada por aqui” “Rua tal e mercado tal e casa da Toinha, são desconhecidos para mim”. Se estou a perguntar, é porque não conheço, ora bolas. Até que uma senhora, com muita boa vontade, me informou, com precisão, como chegar ao centro da cidade. Indicou os pontos de referência e, depois de pedalar por 50 minutos, cheguei ao Hotel Dumont, recém-inaugurado e cheirando a novo. O Sol acabara de se pôr.


Lago da Represa de São José do Rio Preto. Foto: Fernando Mendes.

Após banho merecido, fui à caça de algo para jantar. Passei na porta de uma casa de massas que me pareceu ideal. E foi. Lasanha deliciosa. Na volta ao hotel, cortei caminho pela passarela suspensa da Estação Rodoviária, evitando a travessia de uma avenida muito movimentada. Qual não foi a minha surpresa ao ouvir alguém me chamando. Era o Marcelo, professor de História da mesma escola na qual trabalhamos. Ele foi a São José do Rio Preto (SP) visitar a mãe. Estava esperando o ônibus para Brasília (DF). Conversamos bastante e atualizei-o quanto à minha viagem. Voltei ao hotel. Fazia uma semana que estava viajando. Pedalei 730 quilômetros até São José do Rio Preto (SP). Havia chegado à metade do caminho.



09/07/2008

São José do Rio Preto (SP) a Lins (SP)

130 quilômetros


Nada como uma segunda-feira sem trabalho. Nada como começar a semana pedalando, sob um céu CAVOK, iniciais, em inglês, de Ceiling And Visibility OK (teto e visibilidade OK, o popular céu de brigadeiro). 

CAVOK é sigla que os pilotos em toda a Terra e em todas as línguas, usam para se referir às condições atmosféricas perfeitas, como às daquela manhã ensolarada no Centro-Norte do Estado de São Paulo. Nada como começar um pedal sob condições meteorológicas e emocionais ideias.

BR - 153 na região de Bady Bassit (SP). Foto: Fernando Mendes.

Pouco antes das 10h , consegui me livrar do trânsito pesado e confuso de São José do Rio Preto (SP) e [re] ingressei à BR-153 – seguindo, como fiz desde Brasília (DF) – a proa sul/sudoeste. 18 quilômetros à frente, às 11h, passei por Bady Bassit (SP) – 11.550 hab. Censo 2000 – cujo gentílico é bassitense

O primeiro nome da comarca foi Borboleta (final século XIX) e a mudança para Bady Bassit ocorreu em 1963, homenagem a um político da região. De acordo com dados da Prefeitura, o município comporta 36 indústrias, 745 casas comerciais e 285 prestadoras de serviços, num total de 1.066 empresas.

BR - 153 na região de Bady Bassit (SP). Foto: Fernando Mendes.

   35 quilômetros à frente de Bady Bassit (SP), passei por José Bonifácio (SP) – 28.714 hab. Censo 2000As atividades agrícolas mantém a base socioeconômica do município, destacando-se a rizicultura. Aos poucos, culturas foram sendo introduzidas, entre elas o café, o milho e a soja. A pecuária, outra atividade de grande importância local, também promoveu o desenvolvimento de José Bonifácio (SP) que, além da alta produção de leite, possibilitou a instalação de indústrias de conservação de carnes, tanto bovinas como suínas (IBGE).

O AUTOR.

Ao meio dia e meia atravesse rapidamente o perímetro urbano de José Bonifácio (SP) - 28.714 hab. Censo 2000. Programei o almoço em Ubarana (SP) 4.220 hab. Censo 2000 -, 31 quilômetros à frente, no Restaurante Canoas, às margens do Rio Tietê.  

Almoço da melhor qualidade, à base de filé de peixe, arroz, feijão e salada. Bem alimentado, fui dar uma volta e tirar fotos a partir da ponte [na BR - 153] de onde é possível ter uma visão magnífica da represa que deu origem à Usina Hidrelétrica de Promissão e da câmara de acesso à eclusa. Eram 14h 17.

Ponte sobre o Rio Tietê em José Bonifácio (SP). Foto: Fernando Mendes.

Usina Hidrelétrica de Promissão - Mário Lopes Leão - (à esq.) e Eclusa (à dir.).
Rio Tietê em José Bonifácio (SP). Foto: Fernando Mendes.

A GUERREIRA. FOTO: FERNANDO MENDES.


 Às 14h 20 montei na bike determinado a pedalar os 50 quilômetros finais até Lins (SP) no stop. E consegui.

 Às 17h 20 Guaiçara (SP) - 9.211 hab. Censo 2000 - passou no meu través oeste, abandonei a BR-153 e, pela alça de acesso, ingressei na SP-300, Rodovia Marechal Rondon, para alcançar o perímetro urbano de Lins (SP) - 65.952 hab. Censo 2000. O Hotel Barlavento fica às margens da estrada. Fácil de encontrar.

Depois do banho curtir o ar fresco na varanda do hotel. Foi um dia de muito, muito calor. Assim é o inverno nos trópicos. Sentei-me numa confortável cadeira de vime e, enquanto contemplava as últimas claridades no oeste, repassei os 860 quilômetros pedalados até Lins (SP). Quase mil. Sentia-me emocional e fisicamente muito bem. 

Um aroma delicioso de churrasco se fez sentir. Na recepção me informaram que a churrascaria fica a duas quadras do hotel. Como se estivesse levitando, persegui o aroma e jantei deliciosa e fartamente. Que bela maneira de terminar uma segunda-feira. Não houve tempo para TV ou leitura. Apaguei antes do terceiro carneirinho.


10/07/2008

Lins (SP) a Marília (SP)

75 quilômetros

Era para a alvorada ser às 7h. Não foi possível. Acordei às 9h, depois de dormir por doze horas ininterruptas. Deixei o Hotel Barlavento às 10h, ingressei na Rodovia Marechal Rondon (SP-300) para alcançar a alça de acesso à BR-153 e continuar na proa de Marília (SP), seguindo rumo sul. 

A partir do retorno à BR-153, constatei que o acostamento havia sumido. Pedalava pelo mato que cobria a beirada da estrada. O asfalto piorou muito e a média horária caiu.

Saída de Lins (SP). Foto: Fernando Mendes.

 Os primeiros 17 quilômetros foram tensos. Venci-os pedalando devagar e prestando atenção para não encontrar “armadilhas” sob o mato que cobria aquilo que um dia foi um acostamento.

Cheguei ao trevo de acesso a Getulina (SP) - 10.370 hab. Censo 2000 - às 11h 12. Parei num posto BR e “matei” a primeira Coca do dia. Como estava cedo para almoçar, não comi nada. Deixei para fazê-lo 20 quilômetros à frente, em Guaimbê (SP) - 5.207 hab. Censo 2000 . Almoço delicioso. Filé de peixe do Tietê com pirão, arroz e uma boa pimenta. Belo repasto para combinar com o calor dos trópicos.

Não foi possível voltar ao pedal depois de farta refeição (repasto). Deitei-me num banco atrás do restaurante, longe do barulho da estrada e sob frondosa sombra de uma mangueira. Tirei uma toalha do alforje e transformei-a em travesseiro. Dormi por uma hora. Valeu. Ao despertar, alonguei-me e voltei à lida do pedal. Eram 13h 17.

BR 153. Foto: Fernando Mendes.

Embora faltassem apenas 38 quilômetros para Marília (SP), o trecho foi muito duro. A falta de acostamento, o asfalto precário e as fortes subidas fizeram a média cair e a paciência aumentar. Não passava dos 11 km/h. O mato estava mais alto nesse trecho em relação ao início da viagem, em Lins (SP). Havia buracos e valas escondidos sob a vegetação e fazia o caminho que melhor me parecia, embora, às vezes, isso não se constatava. Foram três horas de pedal lento sob sol senegalês e calor saariano. 

Às 16h 30, depois de subir uma serrinha invocada, comecei a pedalar pelo Contorno Rodoviário da cidade de Marília (SP), muito movimentado e formado por descidas alucinantes e subidas insanas. Não vi nenhuma placa indicando a entrada da cidade. Parei num posto Shell e fui informado que atrás [do posto] tem um hotel. 

Não me recordo o nome do estabelecimento, mas lembro-me que era bem mais ou menos. Tomei um merecido banho e cochilei até a hora do jantar. Quando o calor cedeu à leve brisa da noite, fui à caça de algo para comer. 

Caminhei por meia hora até o centro e jantei num self service. Mas o que me atraiu mesmo no estabelecimento foi o ar condicionado. A comida estava razoável. Fiz o trajeto de volta ao hotel uma barra de chocolate, a sobremesa. Ao entrar no quarto, me senti na sucursal do inferno. O ventilador de teto fazia mais barulho do que ventilava. E assim foi a minha noite em Marília (SP) 197.342 hab. Censo 2000 

Noite longa, sono leve, mosquitos em profusão e quarto abafado. A certa altura dos acontecimentos, creio que desmaiei de tanto cansaço e nada mais me incomodou. Sonhei que pedalava e não saía do lugar.


11/07/2008

Marília (SP) a Ourinhos (SP)

94 quilômetros


Estava escuro quando acordei. Pensei ser madrugada. Não era. O tempo havia fechado geral. Às 8 horas da manhã, o céu estava cinzento e as nuvens muito baixas. Não gostei do que vi. 

Tomei café da manhã na padaria vizinha ao hotel. Ao retornar, vi as nuvens espalhando-se e o Sol esforçava-se para vencê-las. Mormaço. Para sair de Marília (SP), uma volta enorme para vencer o Contorno Rodoviário e alcançar a BR-153. Gastei uma hora nesse périplo. Subidas alucinantes e trânsito pesado. Mais um dia de muito calor.

De volta à BR-153, sempre na direção geral sul, segui rumo ao Vale do Rio do Peixe. Para alcança-lo, desci a Serra de Ocauçu, atravessei a ponte sobre o Rio do Peixe e, em seguida, subi a Serra de Ocauçu. Um espetáculo o traçado da rodovia, tanto descendo quanto subindo a serra.

Serra do Ocauçu. Foto: Fernando Mendes.

Serra do Ocauçu. Foto: Fernando Mendes.

Serra do Ocauçu. Foto: Fernando Mendes.

Serra do Ocauçu. Foto: Fernando Mendes.

Serra do Ocauçu. Foto: Fernando Mendes.

Serra do Ocauçu. Foto: Fernando Mendes.

Serra do Ocauçu. Foto: Fernando Mendes.

Serra do Ocauçu. Foto: Fernando Mendes.

Serra do Ocauçu. Foto: Fernando Mendes.

Serra do Ocauçu. Foto: Fernando Mendes.

Serra do Ocauçu. Foto: Fernando Mendes.

Terminei de subir a Serra de Ocauçu às 12h 44. Hora do almoço. Mas demorou a aparecer um estabelecimento que resolvesse o meu problema. Somente às 14h cheguei a um posto BR. O mormaço cedia e, aos poucos, deu lugar ao Sol inclemente. Pelo menos uma notícia boa: dali para frente, traçado retilíneo até Ourinhos (SP). O acostamento reapareceu. Faltavam 60 quilômetros para deixar o Estado de São Paulo e ingressar no Estado do Paraná. 

Pedalei muito forte pelo tal retão, parei no único posto naquele trecho e alcancei Ourinhos (SP) - 93.868 hab. Censo 2000 - às 17h 07. O tempo fechou e escureceu rapidamente. Fui à borracharia remendar uma câmara de ar e sacar uns reais no BB. Após, hospedei-me no Ouro Hotel, na área central.

 Depois do banho, jantar no Bon Vivant Restaurante e, após o dejejum, caminhada. Noite agradável. Não estava aquele calor infernal dos dias anteriores. Começou a ventar de forma fraca e, surpreendentemente, virou uma ventania. As árvores balançavam, ouvi barulho de portas e janelas batendo e alguém falando na rua: “vai chover”!

Voltei para o hotel e cama. Dormi rapidamente. De madrugada, acordei ao som daquilo que julguei ser chuva, mas era o vento, e muito forte.  Tirei o cobertor do armário. Não gostei nada daquilo. Dormi até às 7h.


12/07/2008

Ourinhos (SP) a Joaquim Távora (PR)

77 quilômetros


Ao acordar, às 7h e abrir a janela, o cenário não era animador. Um frio de rachar os ossos, céu encoberto, nuvens baixas e a temperatura em 10ºC.

oltei para cama e a vontade foi ficar por ali até a situação melhorar. Liguei a TV e a previsão do tempo, exibida no Bom Dia Brasil, anunciava "a chegada de uma massa polar às regiões Sul e Sudeste, derrubando as temperaturas e trazendo chuva e frio". “Ferrou”, pensei. O tempo virou radicalmente. Calças compridas e casaco foram indispensáveis naquele momento.

Saí de Ourinhos (SP) às 9h com temperatura na marca de 12ºC. Atravessei a ponte sobre o Rio Paranapanema que, naquele ponto, assinala a divisa dos Estados de São Paulo e Paraná. A poucos metros após a divisa, passei pelo 1º pedágio da viagem.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

BR 153. Foto: Fernando Mendes

Quase lá. Foto: Fernando Mendes.

Chegada a Wenceslau Braz (PR). Foto: Fernando Mendes.

Pedalar sob frio intenso não é nada bom. Muito agasalhado comecei a transpirar. Em meia hora, a blusa sob o casaco estava ensopada de suor. Troquei-a. Esse ritual se repetiu por três vezes naquela etapa. Se tirasse o casaco, tremia de frio; com casaco, transpirava horrores. Continuei agasalhado e suando.

Em Jacarezinho (PR) - 39.625 hab. Censo 2000 -, 27 quilômetros após a divisa SP/PR, efetuei a primeira troca de blusa. Precisava beber algo quente. Após 23 quilômetros cheguei a Santo Antônio da Platina (PR) - 39.943 hab. Censo 2000 -, segunda troca blusa. Nesse ritmo de trocas, chegaria ao local de pernoite sem blusas limpas para o dia seguinte. Havia percorrido 50 quilômetros desde a saída de Ourinhos (SP). Fiz esse trecho em cinco horas. Média medíocre de 10 km/h. Passo de cágado.

Almocei em Santo Antônio da Platina (PR) às 14h. Sentia o moral baixo, frio intenso e ritmo lento. Aquele cenário foi bastante desanimador. Depois de pedalar 1.000 quilômetros de Brasília (DF) a Ourinhos (SP) sob forte calor, a virada no tempo foi um balde de água fria no meu ânimo. Prefiro calor ao frio. Mas não podia ficar lamentando.

Nove quilômetros à frente de Santo Antonio da Platina (PR), abandonei a BR - 153 e acessei a Rodovia Estadual PR - 092. Com média tão baixa e troca de câmara de ar furada, não foi preciso fazer muitas contas para saber que não chegaria a Siqueira Campos (PR) - 16.000 hab. Censo 2000 - antes do pôr do Sol. Alternei Joaquim Távora (PR), 27 quilômetros à frente.

O trecho até Joaquim Távora (PR) foi árduo. Muitas subidas e vento contra. Um arremedo de Sol se fez notar. Tirei o casaco e troquei a quarta blusa do dia. E como tudo que está ruim pode piorar, o pneu traseiro furou. Quase chorei. Retirei os alforjes da garupeira, virei a bike para que as rodas ficassem voltadas para cima, retirei a roda traseira, com espaçador afastei o pneu e saquei a câmara furada, coloquei uma nova e repeti a operação de forma inversa. Agora a pior parte: encher o pneu. Naquela hora passou um motoqueiro. Parou. Quando viu a luta que eu travava com a bomba para inflar o pneu, retirou do bagageiro da moto uma bomba muito melhor que a minha e rapidamente o pneu estava ok. Agradeci e segui meu rumo.

Faltavam 20 quilômetros para Joaquim Távora (PR). E vieram mais subidas pela proa. Às 16h parei num posto BR e juro que se ali tivesse um hotel me renderia sem o menor problema. Apenas nove quilômetros restantes e as pedaladas cada vez mais lentas. Sentia-me moído e com desconfortável dor no quadril direito. Estava no meu limite. Quando apareceu a placa indicativa de Joaquim Távora - 9.661 hab. Censo 2000 -, acesso a 1.000m, rezei.

Acomodei-me num modesto hotel e saí para jantar sob um frio intenso. O corpo doía. Naquela noite precisava descansar muito para encarar o dia seguinte. Na volta ao hotel, lavei as 4 blusas que usei no dia. Quando fui colocá-las no varal, vi o pneu traseiro da bike vazio. Não pude crer. Resolvi consertá-lo para não deixar a tarefa para o dia seguinte. Quando terminei, sentia-me exausto e a dor no quadril direito aumentando. Dormi um sono agitado e sem sonhos. Senti falta da minha casa.

13/07/2008

Joaquim Távora (PR) a Wenceslau Bráz

53 quilômetros



Acordei às 6h me sentindo exausto por ter dormido pouco e mal. Tomei café e saí sob intenso nevoeiro e com temperatura em 10ºC. As blusas que lavei não secaram totalmente. Coloquei-as na bagagem, mesmo umedecidas. Logo teria que trocá-las. Parti às 9h, na esperança de a temperatura subir. Ledo engano.

     Até Siqueira Campos (PR), onde deveria ter pernoitado se a etapa do dia anterior não fosse tão cascuda, pedalei 25 quilômetros, chegando às 12h. Parei num restaurante à beira da estrada. A dor no quadril direito aumentando. 

      Quando comecei a me servir no self service, senti uma forte pontada no quadril direito. Bambeei e quase caí. Matei a xarada na hora: estava tendo uma crise renal aguda. Sentei-me e respirei fundo. Fui ao balcão e perguntei a um dos atendentes se eu poderia falar com o proprietário do estabelecimento. “O senhor está se sentindo bem”, perguntou-me o atendente. Respondi laconicamente: “Não”. O dono chegou. Disse a ele que precisava ir à farmácia, pois estava tendo uma crise renal. Como o restaurante fica a cinco quilômetros passado o perímetro urbano de Siqueira Campos (PR), jamais voltaria até lá pedalando. Rapidamente ele tirou o carro da garagem e levou-me. A dor estava no limite do suportável. 

Chegamos ao hospital público da cidade. Estava lotado. Desisti. Pedi que me levasse a uma farmácia. Tomei uma injeção de Voltarem e a dor, como num passe de mágica, sumiu. Voltamos ao restaurante, almocei bem, agradeci a ajuda e retornei à lida do pedal.

Sentia-me bem e segui. O Sol apareceu entre nuvens, a temperatura subiu, livrei-me do casaco e pedalei até Wenceslau Brás (PR) - 19.559 hab. Censo 2000 -, chegando ao cair da noite. Hospedei-me num hotel meia boca à beira da estrada, jantei e voltei ao quarto para ver a abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio.

Refiz as contas e concluí que, no dia seguinte, deveria ir para Castro (PR) e, assim, tirar o atraso provocado pelos percalços após a saída de Ourinhos (SP). Era imperioso sair cedo. Aos primeiros cantos dos galos.

Em virtude do forte estresse do dia, nada de fotos.

14/07/2008

Wenceslau Brás a Castro (PR)

132 quilômetros


Deixei Wenceslau Brás (PR) às 6h. Aos poucos a madrugada deu lugar às primeiras claridades alaranjadas no leste e o Sol elevou-se no horizonte, vindo do Japão. Mas a temperatura continuava baixa: 11ºC. 

Aqueci-me pedalando, sem tréguas, por 36 quilômetros até alcançar Arapoti (PR) - 23.884 hab. Censo 2000 -, chegando às 8h 37. Média de 18 km/h. Precisava manter esse ritmo. Faltavam 96 quilômetros para Castro (PR).

Rápida parada para reforçar o fraco café da manhã daquele dia. Missão cumprida, pedal na estrada. A qualidade do asfalto piorou muito nos 18 quilômetros entre Arapoti (PR) e Jaguariaíva (PR) - 30.780 hab. Censo 2000 -, localidade na qual, felizmente, deixei a esburacada PR 092 e ingressei, às 11h, na maravilhosa PR 151, duplicada, com asfalto novo e sinalizações horizontais e verticais novíssimas. Meno male. Castro (PR) a 78 quilômetros.

PR 092 na saída de Arapoti (PR). Foto: Fernando Mendes.

Dez quilômetros após ingressar na PR 151, passei pela 2ª Praça de Pedágio. Eram 11h 30. Minha meta era alcançar, 37 quilômetros à frente do pedágio, Piraí do Sul (PR) - 21.647 hab. Censo 2000 - e lá almoçar. A altimetria deu uma maneirada e como o asfalto estava em ótimas condições de uso, consegui chegar a Piraí do Sul (PR) um pouco antes do previsto, às 13h 14. Almocei no Restaurante Família Brasil, uma das melhores refeições em todo o trajeto. Saladas bem servidas, arroz, feijão, churrasco das mais variadas carnes e múltiplas opções de sobremesa.

Quase não consegui sair do restaurante. Eram 14h 30 quando a bike começou a rodar pela PR 151. Castro (PR) estava a apenas 31 quilômetros. O tempo abriu e o ar ficou bem aquecido, mas nada de calor como nos primeiros dias da jornada. Parava apenas para beber água. O feijão estava um pouco salgado. 

Foto: Fernando Mendes.

PR 151. Maravilhosa rodovia. Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

PR 151. Maravilhosa rodovia. Foto: Fernando Mendes.

PR 151. Maravilhosa rodovia. Foto: Fernando Mendes.

"Missão dada é missão cumprida". Foto: Fernando Mendes.

Às 16 h cheguei a Castro (PR) 63.581 hab. Censo 2000 -, Cidade Mãe do Paraná e Capital Nacional do Leite. Percorri 132 quilômetros em 10 horas de pedal. Bati meu recorde na viagem e consegui voltar ao cronograma. O moral voltou a subir depois de três dias com muito frio, pouco rendimento e uma crise renal superada. As coisas voltaram a dar certo. Viagem de bike sem perrengues, não é viagem. É passeio.

Tive quase 2 horas de luz natural para fotografar o Centro Histórico e depois fui hospedar-me no Central Palace, hotel familiar fundado em 1960, no centro da cidade.

Central Palace Hotel. Foto: Fernando Mendes.

Paróquia de Santana. Foto: Paraná Turismo.


Jantei na Pizzaria Le Toth. Um colosso. Voltei ao hotel e, antes das 21h, fui dormir o sono dos justos. Que dia maravilho. Faltavam apenas 157 quilômetros para Curitiba (PR).

15/07/2008

Castro (PR) a Curitiba (PR)

157 quilômetros


Foi o último dia da jornada. Acordei por volta das 7h. Permaneci deitado e relembrando todas as etapas da jornada ciclística. E que jornada. Sensação de que a viagem começara há poucos dias. Mas fazia 14 dias desde a saída de Brasília (DF) ou 1.291 quilômetros prazerosamente pedalados.

Passagem por Carambeí (PR). Foto: Fernando Mendes.

Às 8h deixei o Central Palace Hotel. Na saída do estacionamento, acessei a Rua Cipriano Marques de Souza. A poucos metros, virei à esquerda e ingressei na Av. Major Otávio Novaes até atingir a alça de acesso à PR 151 e tomar o rumo de Carambeí (PR) - 14.860 hab. Censo 2000 - 23 quilômetros à frente.

O dia estava ideal para pedalar. Vento fraco e temperatura amena, na casa dos 18ºC. Rodovia duplicada, acostamento largo e movimento regular. E sob essas condições esplêndidas, voei baixo até Carambeí (PR), onde cheguei às 10h. 

BR 376. Foto: Fernando Mendes.

BR 376. Foto: Fernando Mendes.

Parei no Posto do Juninho. Hidratação reposta, segui firme no pedal até Ponta Grossa (PR) - 273.616 hab. Censo 2000. Foram 30 quilômetros percorridos em 1 hora e meia, incluindo o Contorno de Ponta Grossa (PR), que evita atravessar uma cidade de quase 300 mil habitantes. Findo o Contorno, cheguei ao trevo no qual abandonei a PR 151 e passei a pedalar pela BR 376, a rodovia que me levou a Curitiba (PR), 108 quilômetros à frente. A última do trajeto.

Assim que entrei na BR 376, pit stop num posto BR. Era hora do almoço e o estômago clamava por víveres. Eram 12h. Alimentado e hidratado, toquei o barco por 16 quilômetros até o Parque Estadual de Vila Velha (PR), criado pelo Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Paraná (1966), para proteger 18 km² de formações rochosas, classificadas como um dos sítios geológicos mais importantes do País, devido às impressionantes esculturas naturais, esculpidas pelas erosões eólica e pluvial nos arenitos do Grupo Itararé (formações geológicas pertencentes à Bacia do Paraná).

Conheci esse parque em 1991, quando fiz uma viagem [de carro] de Curitiba (PR) a Foz do Iguaçu (PR). Não entrei para rever as belas  e impressionantes formações de arenito devido o adiantar da hora. Não poderia chegar a Curitiba (PR) sob o manto da noite. Da rodovia, avista-se parte das formações. Cada uma tem suas particularidades, conforme fotos que se seguem.

Proa de Navio.

O Camelo

A Bota

A Taça

O Parque

Acesso: 01/08/2007.

Logo após passar [de passagem] pela entrada do Parque Nacional de Vila Velha, parei no Restaurante Panorâmico, no KM 517 da BR 376. Parada obrigatória em virtude da infinidade de quitutes à venda. Como havia almoçado muito bem, dei preferência aos doces. Àquela hora senti que precisava de açúcar na veia: doce de leite, coca-cola e, para arrematar, delicioso café expresso, o único descente que saboreei desde a saída de Brasília (DF). Estava uma tarde deliciosa. Céu claro, temperatura amena e nada de vento. Suspirei. Curitiba (PR) estava a apenas 90 quilômetros. Estava quase lá.

Às 13 h 15 voltei à BR 376 e, segundo pesquisas antes de iniciar o trecho até Curitiba (PR), encarei 46 quilômetros dos quais a maior parte em ascensão, terminando na Praça de Pedágio de São Luis do Purunã, localizada na cota altimétrica de 1.150m. Apesar da distância larga e da altimetria nada generosa, percorri a etapa Restaurante Panorâmico à Praça de Pedágio em 2 horas e meia. Eram 15h 45. Parada providencial. Curitiba (PR) a 44 quilômetros.

Quase lá. Foto: Fernando Mendes.

Passada a Praça de Pedágio, começou a descida da Serra de São Luís do Puruña (sub grupo da Serra do Mar), 16 quilômetros para baixo, compensando tudo que subi no trecho anterior. O visual é belíssimo e a tarde com tempo claro emoldurou a paisagem como num quadro. Curvas abertas, outras nem tanto, mas a descida é muito bem sinalizada e a velocidade máxima [e controlada por radares] é de 40 km/h. Em alguns pontos, se não acionasse os freios da bike, ultrapassaria alguns veículos com facilidade. Mas isso seria uma insanidade, até porque a ultrapassagem ocorreria pelo acostamento. 

Por segurança, não tirei fotos durante a descida. Não convêm parar. O acostamento é estreito nas curvas, exatamente onde as paisagens são mais belas. 

Foto: Fernando Mendes.

Sem me empolgar, desci devagar e em segurança. Quando o declive terminou (fui da cota altimétrica 1.162m à cota 903m), estava em Campo Largo (PR) - 92.782 hab. Censo 2000 -, município pertencente à Região Metropolitana de Curitiba. Eram 16h 11. Faltavam [apenas] 28 quilômetros, o trecho mais duro do dia, com trânsito intenso, típico do fim de tarde, a tal hora do rush (pressa, em inglês). 

O movimento crescia à medida que a Capital do Paraná se agigantava à minha frente. Apesar do frenesi no trânsito, cheguei bem e hospedei-me no Barigui Park Hotel, em frente ao Parque Barigui, bem na entrada da cidade. Assim, evitei pedalar por uma Curitiba desconhecida para mim. Pontualmente às 18h, dei por encerrada a jornada de 14 dias entre Brasília (DF) e Curitiba (PR).

Após o jantar, fui de táxi à Rodoferroviária de Curitiba, adquiri uma passagem de volta para casa, marcada para às 9h 40 do dia seguinte. De volta ao hotel, desmontei a bike, envolvi o quadro, as rodas e os alforjes em plástico bolha. Acertei com taxista a ida à Rodoviária [no dia seguinte] para às 8h.

No horário marcado, o ônibus deixou Curitiba (PR) rumo a Brasília (DF) e percorreu em 24 horas de viagem o mesmo trajeto que fiz em 14 dias pedalando.





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