Brasília (DF) a Paracatu (MG). Bate Volta. Outubro 2001.

 



 

Roteiro Bate e Volta. Brasília -  Paracatu - Brasília.

Oito horas da manhã de sexta-feira, 12 de outubro de 2001, dia das crianças e da padroeira do Brasil, Nossa Srª Aparecida. O céu estava cinza, mas sem ameaça de chuvas. Poucas pessoas se aventuraram a sair às ruas, afinal era feriado e o tempo estava convidativo para ficar na cama até mais tarde. Mas eu tinha outros planos: ir de Brasília (DF) a Paracatu (MG), de bicicleta - bate e volta - e realizar mais uma aventura.

 Nesses 30 anos que moro na Capital Federal, passei inúmeras vezes por Paracatu a caminho do Rio de Janeiro (RJ), ora de carro, ora de ônibus; mas de bicicleta foi a 1ª vez. O passeio foi maravilhoso. Em quatro dias, pedalei 504 quilômetros, uma média de 125 quilômetros por dia.

Saí pelo Eixo Rodoviário (Eixão), fechado ao trânsito por ser feriado, e tomei o rumo da Saída Sul, alcançando a BR-450, que dá acesso à BR-040. Eram 9h. Os primeiros 20 km foram percorridos em 1 hora. Faltavam 120 km para Cristalina (GO), cidade na qual fiz o 1º pernoite.

Às 9h 40, atingi o Posto da Polícia Rodoviária Federal e ingressei na BR-040, a Rodovia Federal que liga Brasília-DF ao Rio de Janeiro (ver mapa). Até ali, havia pedalado 33 km. O Sol não deu as caras. O tempo estava nublado (fator positivo). O calor atrapalha um pouco quando se pedala por longas distâncias. Em contrapartida, as fotos, com tempo nublado, não ficaram boas.

Cruzei a divisa do DF com GO no km 8 e atravessei os municípios que fazem parte do Entorno Imediato do DF: Valparaízo e Cidade Ocidental, além de alguns núcleos urbanos que logo serão elevados á condição de municípios, pois incham exponencialmente. São cidades-dormitório, dotadas de infraestrutura deficiente e ocupação desordenada do solo. A população depende de Brasília para tudo, até para o lazer. Nesse trecho o trânsito é intenso e muitas pessoas trafegam às margens da rodovia, atravessando-a em diversos pontos e ignorando as passarelas. Carros velhos, com mais ferrugem do que lataria, misturam-se ao caótico trânsito daquela área, além das carroças, que estão sempre presentes e completando o caos.

Em decorrência do feriado prolongado, foi possível sentir a intensidade do movimento de automóveis que deixavam o DF naquela sexta-feira. Às 10h50, passei pelo trevo de acesso a (*) Luziânia (GO) e fiz a 2ª parada, no Posto3 Irmãos, que mais parece uma cidade à beira da estrada, com boutique, casa de produtos veterinários, farmácia, churrascaria e vídeo-locadora. Faturei duas tigelas com salada de frutas e renovei o estoque de água. A partir de Luziânia (GO), a rodovia passa a ser em mão dupla, mas as condições do acostamento, ao longo de todo o percurso, são excelentes.

 (*) O Município de Luziânia (antiga Santa Luzia) tem sua origem vinculada à mineração, que no século XVIII motivou muitos sertanistas ao desbravamento das terras centrais do Brasil.

                Deve-se ao paulistano Antônio Bueno de Azevedo a primeira penetração no território que constitui hoje o município de Luziânia quando em fins de 1746, acompanhado de amigos e inúmeros escravos, partiu, da localidade de Paracatu – MG, rumo ao noroeste (NW), até alcançar as margens de um rio ao qual denominou São Bartolomeu, em homenagem ao santo do dia. Em 13 de dezembro daquele ano, seguiu viagem rumo oeste, fixando residência no local que ele denominou Santa Luzia. A fundação do povoado prendeu-se à mineração de ouro existente na região, cuja extração intensificou-se a ponto de, em pouco tempo, contar com cerca de dez mil pessoas, incluindo escravos.

                Em 25 de março de 1747, tendo como oficiante o padre Luiz da Gama Mendonça, celebrou-se a primeira missa, a que assistiram mais de seis mil pessoas. A portaria de 30 de outubro de 1749 elevou Santa Luzia à categoria de Julgado. Por Alvará de 21 de dezembro de 1756, foi erigida a freguesia de natureza coletiva.

 A 06 de dezembro de 1758 foi então Santa Luzia elevada à categoria de Comarca Eclesiástica, sendo nomeado vigário o padre Domingos Ramos, em abril de 1758, a fim de que se fossem mais bem exploradas as minas chamadas de "Cruzeiro" e iniciou-se a construção de célebre Rego Saia Velha, de 42 quilômetros de extensão, feito por milhares de escravos, cuja construção durou dois anos ininterruptos e que, por ocasião de sua inauguração, registrou-se grande motim no arraial.

            A riqueza extraída dos solos da região de Santa Luzia era, em grande, parte transferida, através de pesados tributos, à Coroa Portuguesa, contribuindo, dessa maneira, para a sua hegemonia política e econômica. Por outro lado, a parte que coube aos exploradores foi transferida aos centros urbanos maiores, como pagamento de bens e serviços, escassos na região. Assim sendo, pouco ficou na cidade de Luziânia, para atestar a sua condição de centro aurífero, na província de Goiás.

            Em fins de 1700 a mineração começou a declinar e muitas famílias foram abandonando a arraial e se fixaram na zona rural, passando a dedicar-se à lavoura e à criação de gado. O arraial foi elevado à condição de Vila pela resolução do conselho do Governo, em 1º de abril de 1833, tendo sido instalado solenemente em 7 de abril do ano seguinte. Em 5 de outubro de 1867 a vila passou à categoria de Cidade. Por força do decreto-lei nº 8.305, de 31 de dezembro de 1943, Santa Luzia passou a denominar-se Luziânia.

            Desde a sua fundação até 1850, Santa Luzia pertenceu à comarca de Vila Boa. Pela Lei provincial de 19 de julho de 1850, foi incorporada à Comarca de Corumbá de Goiás, com sede em Bonfim (atual Silvânia). Em 1871, pela Lei nº 492, de 29 de julho foi criada a Comarca de Imperatriz (Formosa), com sede em Luziânia, sendo nomeado Juiz o Dr. Coriolando Luiz Xavier Brandão. Pela Lei estadual nº 22, de 1892, foi criada a comarca de Lagoa Formosa, passando a sede da comarca de Luziânia para aquela cidade. Quinze anos depois, pela Lei nº 25 de julho de 1907, foi restabelecida a Comarca de Santa Luzia, com sede na mesma cidade, sendo instalada em 4 de fevereiro de 1908, pelo Juiz de Direito Osorico Gozada Siqueira.

Fonte: Casa da Cultura de Luziânia com adaptações.

Deixei Luziânia, a antiga Santa Luzia, às 11h20 e rumei na direção SE, fazendo a 3ª parada no Posto Corujão, no qual cheguei às 12h. Um discreto mormaço fez a temperatura subir e deu a impressão de que o tempo firmaria. Mas ficou apenas na ameaça. Após este ponto, vem um declive de três quilômetros, a serra do Mane Preto. Trata-se de uma vertente de chapada por onde a estrada foi construída. É uma ladeira morro abaixo com três curvas em forma de “S” e a bicicleta pega um embalo e tanto. Por isso é preciso fazer, guardadas as devidas proporções, o mesmo que os motoristas de veículos pesados fazem: descer com a mão (no caso do ciclista) no freio, se não a bicicleta pega velocidade e uma pedra no caminho pode interromper o passeio antes da hora de ele acabar. Para uma viagem dessas, é preciso ser cuidadoso. Essas bravatas de descer uma ladeira daquelas a 60, 65 km/h, para depois contar vantagens, não é comigo. Desci a serra do Mane Preto com a mão no freio e sempre que a velocidade, segundo o meu marcador, atingia 36 km/h, mão no freio. Mão no freio e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

As primeiras chuvas chegaram com a primavera. Irão se intensificar a partir do verão, e isso transforma, todos os anos, a paisagem natural do cerrado de amarelada em verde. Do alto da serra do Mané Preto, a paisagem é muito bonita. Um tapete verde estendeu-se sobre o solo, antes com a vegetação amarelada e torrada pelas queimadas. Do alto, é possível identificar as áreas de pasto, cortadas por vários córregos com as matas-galerias preservadas. Existe uma abundância de veredas repletas de buritis, uma árvore da família das palmáceas semelhante à palmeira e que agrupa dezenas de ninhos das mais variadas espécies de pássaros, como a maritaca e o tucano.

O rio São Bartolomeu, citado no histórico da antiga Santa Luzia, divide os municípios de Luziânia e Cristalina. Atravessei a ponte de 300 m de vão às 13h e fiz a 4ª parada no Pão com Lingüiça, uma lanchonete à beira da estrada, onde a principal iguaria da casa dá nome ao estabelecimento. Encarei um pão com lingüiça, afinal era hora do almoço e, de mais a mais, pedalar tem isso de bom: come-se de tudo e queima-se de tudo. Fiz uma parada de 30 minutos. Realizei alguns exercícios de alongamento, principalmente para as costas, e às 13h 45 segui meu rumo.

 Às 14h 30, passei pelo Posto 81, ponto de parada obrigatória para degustar suco de tamarindo. Delicioso. Do Posto 81 até Cristalina, cidade do 1º pernoite são 22 quilômetros de subida. A cidade dos cristais localiza-se no ponto mais alto do Planalto Central. A altitude do município é de 1.250 m, contra 1.100m de Brasília. Logo, de Brasília a Cristalina, têm mais subidas do que descidas. Gastei 1h 30 para completar os 22 quilômetros finais do 1º dia.

Cheguei a Cristalina (*) pontualmente às 16h. Foram 142 quilômetros, percorridos em exatas 8 horas, uma média de 18 km/h, levando-se em conta o tempo das paradas. Sem considerar o tempo de paradas, a média subiu para 21 km/h.

 (*) Considerada uma das maiores reservas de cristais descobertas no Planeta, Cristalina está localizada em cima de jazidas quase intermináveis de cristais de quartzo. Além disso, é um pequeno paraíso ecológico, cercado de fazendas que hoje são áreas de preservação permanente, cujos donos têm consciência da importância ecológica da região. A cidade é cercada por bonitas cachoeiras de fácil acesso.  Cristalina tem 15 grandes minas de quartzo e goza da fama de ter os melhores cristais do mundo – superiores até mesmo aos da Alemanha -, graças à altitude. Por isso, uma das maiores atrações é o artesanato dessas pedras brilhantes, que para muitos místicos têm poderes purificadores. Os cristais foram descobertos no século XVIII e deram origem ao povoado, que inicialmente foi chamado de São Sebastião dos Cristais, em homenagem aos bandeirantes que desbravaram a região. Em 1918, com a emancipação política, a cidade passou a ser chamada apenas de Cristalina. Os cristalinos se gabam de ter "a melhor água potável do país". Também é um povo animado: as festas costumam durar até dez dias, sendo que a festa agropecuária que acontece no Parque de Exposições é uma das mais tradicionais da região.

Fonte: Prefeitura Municipal de Cristalina

No dia seguinte, sábado, dia 13 de outubro, deixei Cristalina (GO) às 9 h, retomei a BR-040 e segui para Paracatu (MG), distante 111 km, assim divididos: 62 km em território goiano e os 49 restantes em terras mineiras. Às 12h 30 atravessei a ponte sobre o rio São Marcos, com 270 m de vão e que divide os Estados de GO e MG. Essa ponte divide duas Unidades da Federação e também a região Centro-Oeste da região Sudeste. O marco quilométrico no acostamento volta ao zero e como a estrada atravessa uma área de leito de rio, logo após a ponte encarei uma subida de três quilômetros até o Posto Fiscal. A partir daquele ponto, trechos de retas alternam-se com pequenos aclives e declives, exceto depois do Posto Ranchão, quando uma descida forte atinge o fundo de um vale e, a seguir, vem uma subida insana.



No marco quilométrico de nº 35, Paracatu foi avistada. Como a maioria das cidades interioranas do Brasil, a maior cidade do Noroeste mineiro, localiza-se em um vale em forma de U, um sítio urbano que cresceu pelas encostas desse vale. Eram 15h 30. O tempo estava nublado, mas sem ameaça de chuvas. Desci a serra da Tiririca, uma pirambeira de oito quilômetros morro abaixo. Trata-se de um trecho bastante sinuoso, sujeito a neblina e com cinco curvas em S. Existe 3ª faixa na pista de subida e a sinalização horizontal é constituída de uma tinta amarela refletiva e com “olhos de gato” na faixa central e acostamento. Lembro-me que no inverno de 1989, a caminho do Rio, em meu carro, desci a serra da Tiririca às 5 h da manhã. A neblina tomava conta da paisagem. Com auxílio da sinalização especial, desci a serra por instrumentos.

Cheguei ao centro de Paracatu (*) às 16h. Fiz a segunda etapa da viagem em 7 horas. Fui para o Hotel Walsa e mais tarde degustei aquela macarronada, mas sem quiabo. Adormeci lendo “Estação Carandiru”, de Drauzio Varella, lançado em 1999 e prêmio Jabuti de livro do ano de não ficção. Esse livro me foi dado por minhas queridas filhas (Daniela e Suzana) no último dia dos pais. Recomendo a leitura. Varella é médico cancerologista e iniciou, em 1989, trabalho voluntário de prevenção à AIDS na Casa de Detenção, o maior presídio do país, conhecido como Carandiru e abrigando 72.000 presos.

 



(*) Estrategicamente localizada no centro da região NW de Minas Gerais, a 240 quilômetros de Brasília, a 490 de Belo Horizonte e 350 do Triângulo Mineiro. Paracatu é uma cidade de belos contrastes. A cidade barroca com o pé no presente, de fazendas típicas, possui também inúmeras cachoeiras, grutas intrigantes, rios extensos, que colocam a região como um dos maiores potenciais de turismo ecológico e rural do Estado de Minas Gerais. As belas fazendas, que ainda conservam o charme mineiro, a parte histórica da cidade, com suas casas coloniais e igrejas marcadamente barrocas, são ícones de um passado rico e de uma história que se mistura com a própria história de Minas Gerais. Poucos lugares reúnem tantas vantagens. Belezas naturais, água em abundância, terras férteis e planas, fácil acesso para os grandes centros consumidores e mais de 200 anos de história e cultura.

O interior do Brasil foi esquadrinhado pelos bandeirantes, pelos pecuaristas e pelos aventureiros durante todo o período colonial. Segundo o historiador Antônio de Oliveira Mello, a região Noroeste de Minas Gerais foi visitada, conhecida e perscrutada desde o final do século XVI. Ele reuniu indícios de que as bandeiras de Domingos Luis Grau (1586-1587), Antônio Macedo (1590), Domingos Rodrigues (1596), Domingos Fernandes (1599) e Nicolau Barreto (1602-1604), palmilharam aquela região.

Em 1744 os bandeirantes Felisberto Caldeira Brant e José Rodrigues Frois comunicaram à Coroa o descobrimento das minas do vale do Paracatu. Existem indícios de que o arraial havia sido fundado muitos anos antes, pois a essa época se tinha conhecimento da existência de casas de morada e igrejas no local. Após essa descoberta, não surgiu no cenário das Gerais nenhuma nova região aurífera de importância. Portanto, “A última grande descoberta aurífera das Minas Gerais ocorreu no Vale do rio Paracatu no início do século XVIII”.

A conquista da região vinha sendo estruturada há muitos anos. Em 1722, quando Tomás do Lago Medeiros recebeu a patente de Coronel de Paracatu, o direito de guardamoria (repartição anexa às alfândegas) e o privilégio de distribuição das datas de terras daquela região, o ouro não havia sido descoberto, mas a região era conhecida e havia a expectativa da descoberta de metais preciosos por ali.

Em documento datado de 1722, era exigida dele, como contrapartida pelos privilégios recebidos, zelar pela boa composição do povoamento a ser estabelecido naquelas paragens: terá grandíssimo cuidado com aqueles que entrarem na dita conquista, haja toda quietação e sossego, para o que aproveitara muito não levar, em sua companhia, criminosos nem malfeitores. Preferível, era, pessoas que iam sozinhos, não por fugirem à justiça, mas por buscar a conveniência nos descobrimentos.

Os cuidados que as prováveis regiões mineradoras mereciam das cortes portuguesas indicam a importância dessa atividade para a economia da época.

Descoberto o ouro, a atração exercida pela abundância com que este fluía de seus veios d’água contribuiu para o rápido crescimento do Arraial de São Luiz e Sant’Anna das Minas do Paracatu. Após período de grande crescimento, o arraial foi elevado à condição de Vila com o nome de Paracatu do Príncipe, em 1798, por um alvará de D. Maria (a louca).

A efêmera riqueza logo se dissipou e o declínio produtivo do ouro aluvial provocou a decadência econômica da Vila. Dos tempos de glória, a cidade conservou duas igrejas construídas no século XVIII – tombadas pelo patrimônio histórico – que abrigam uma grande coleção de imagens sacras dos séculos XVIII e XIX.

A cidade retomou seu crescimento com base na agropecuária e viveu uma efervescência cultural no século XIX, da qual ainda hoje se orgulha. Daquela época ainda existe um conjunto arquitetônico com características particulares e um interesse por todos os tipos de manifestações artísticas e culturais.

Em meados do século XX, com a construção de Brasília, a região tomou novo impulso e Paracatu beneficiou-se da sua situação às margens da BR-040. A transferência da Capital Federal para o interior do País havia sido sugerida durante o período monárquico por José Bonifácio de Andrada, que apontou como ideal a localização da comarca de Paracatu. A modernidade chegou trazendo inúmeras transformações, que vão desde um incremento da economia até uma mudança de mentalidade, que inclui novos valores, nova arquitetura e novo estilo de vida.

Paracatu conta hoje com uma agricultura altamente tecnificada, implantada em larga escala; com uma pecuária intensiva; uma exploração mineral das mais modernas do mundo; convivendo com uma exploração agrícola rudimentar de subsistência e uma pecuária extensiva. No campo da mineração, o antigo método do garimpo foi interditado.

A cidade se mantém como pólo irradiador de cultura, de tecnologia e de desenvolvimento dentro da região Noroeste de Minas Gerais e se orgulha de sua gente hospitaleira, laboriosa e da sua tradição artística e cultural.

Fonte: site da Prefeitura Municipal de Paracatu – Internet – com adaptações.

 



No domingo - primeiro dia do Horário Brasileiro de Verão - deixei Paracatu às 8h, tomei o rumo geral Noroeste e logo de cara oito quilômetros de subida pela proa, a serra da Tiririca. Foi um belo aquecimento para aquela manhã fria, fazia 18º C, o tempo nublado, com formações baixas, os nimbos-estratos, que são nuvens baixas e cinzentas das quais a chuva (ou neve), de um modo geral, cai continuamente; é a nuvem chuvosa do mau tempo. No alto da serra, um tímido nevoeiro se formava. No horizonte, era possível ver a aproximação dos nimbos-estratos, que vinham pelo través oeste.

Às 11h 30, atravessei a divisa MG/GO e parei na Lanchonete São Marcos, no Posto Fiscal onde os caminhoneiros têm que mostrar as notas das mercadorias que carregam. Comi quatros pastéis de carne recém-fritados e detonei uma Coca-Cola. (tudo que se come é queimado). A senhora que atende no balcão, esposa do dono, disse-me que mês no passado, um aventureiro passou por aquele posto vindo de Cuiabá (MT) e indo para Porto Seguro (BA). Um dia chegarei lá.

E começou a chover. Foi uma chuva leve, intermitente, que mal molhou o asfalto, mas veio acompanhada de vento, com fortes rajadas de aproximadamente 35 km/h (64 kt), desequilibrando-me, por vezes. A chuva leve e contínua durou até a chegada a Cristalina (GO), que ocorreu às 15 h. Detonei um rodízio na principal (e única) churrascaria de Cristalina. Voltei ao hotel, dormi até às 19h e depois li Estação Carandiru até Meia-Noite.

Na segunda-feira, 15 de outubro, dia do professor, acordei tarde. Chovia de forma leve e fazia frio. Cristalina, como disse anteriormente, é uma cidade localizada a grande altitude. Fazia 15º C e a preguiça impediu-me de começar a 4ª e última etapa às 7 h da manhã, na verdade 6h, por causa do horário de verão. Como não tinha hora para chegar a Brasília, dormi de novo até às 8h. Café da manhã reforçado para encarar os 142 quilômetros finais, provavelmente sob chuva, e com vento contra. Pontualmente às 9h, desci a rua principal e ingressei na BR-040 rumando para casa, na Asa Norte, onde pretendia chegar às 17 h. Pretendia.

A chuva, a partir de Luziânia, ficou mais intensa, o trânsito na região do Entorno estava pesado e, para completar, o pneu traseiro furou, bem em frente ao Catetinho, aquele palácio de tábuas de no qual JK despachava durante os dias que permanecia em Brasília, acompanhando as obras de construção da Nova Capital. Com todos esses entraves, gastei uma hora a mais, em relação à viagem de ida, para fazer Cristalina (GO) – Brasília (DF).

Às 18h, na hora da Ave-Maria, abri o portão eletrônico da garagem do prédio onde moro. Mais uma viagem foi completada. É muito boa essa sensação de tirar os planos da gaveta e executá-los. Mais tarde, de banho tomado e devidamente alimentado, abri a minha caixa de mensagens do correio eletrônico e, para minha surpresa, havia uma mensagem que continha dizeres que resumem bem os meus projetos, sonhos e viagens.

 O importante é não largarmos mão dos nossos sonhos, pois se eles morrem, a vida se torna como um pássaro de asa quebrada que não pode voar.

 

Brasília, 20 de outubro de 2001.

 

 

 


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