Rio de Janeiro (RJ) a Juiz de Fora (MG) Julho 2001.

Rio de Janeiro (RJ) a Juiz de Fora (MG) 

Bate e volta - Julho 2001



Dias

Trechos

Distâncias

Tempo 

15.07

Leblon a Itaipava

122 km

10 h

16.07

Itaipava a Paraíba do Sul

56 km

8 h

17.07

P. do Sul a Juiz de Fora

77 km

9 h

18.07

Juiz de Fora a Itaipava

101 km

7 h

19.07

Itaipava ao Leblon

115 km

7 h

Total

 

471 km

 


No dia 15 de julho de 2001 iniciei a viagem de bicicleta indo do Rio de Janeiro (RJ) a Juiz de Fora (MG) e de volta ao Rio de Janeiro (RJ), saindo do Leblon às 6h da manhã, com temperatura de 17ºC. Atravessei a Rua General San Martín, a Avenida Borges de Medeiros e ingressei na ciclovia, que vai até o Aeroporto Santos Dumont.


A claridade visível no leste mostrou-me que teríamos um dia belíssimo, com sol forte e céu claro. Ao deixar a Rua Francisco Otaviano, cheguei à Avenida Atlântica, Posto Seis, onde foi possível tirar as primeiras fotos do passeio. 

Rio de Janeiro: do nascer ao pôr do sol, com muito samba no pé e ...
Nascer do Sol em Copacabana.

Passei pela quadricentenária Praça XV às 7h e, às 7h 30, pela Rodoviária Novo Rio. Após, pedalei pela Avenida Brasil até o Trevo das Missões, início da Rodovia Washington Luis, a BR-040, que liga o Rio de Janeiro (RJ) a Brasília (DF). 


Praça XV no século XVII

Acesso: 01/08/2001.

Praça XV (Rio de Janeiro) – Wikipédia, a enciclopédia livre
Praça XV no século XXI.

Acesso: 01/08/2001.

No km 109 deixei a BR-040 e entrei na BR-116, trecho Rio (RJ) – Teresópolis (RJ). No pedágio, localizado no km 135, alcançado às 9h 30, encontrei com o Aldo Luiz, meu irmão, que fez esse trajeto no Jipe e com a bicicleta no teto.


Pedágio CCR km 135. Foto: Fernando Mendes.

Às 10h, atravessamos a Rio - Teresópolis pela passarela suspensa e percorremos os bairros de Imbariê, Piabetá, Parada Angélica, Fragoso e Raiz da Serra. Trata-se de uma área densamente habitada e com precárias condições de moradia e de vida. Assemelha-se a Bangladesh. 


Chafariz e praça abandonados são as referências em Raiz da Serra ou Vila Inhomirim (*) para o início da subida até Petrópolis (RJ). São 17 km de ladeira até a Cidade Imperial. O piso da estrada é de paralelepípedos e a vegetação faz sombra em quase todo o trajeto. Lamentável é a forma de ocupação humana desordenada que vem ocupando as margens dessa estrada.


(*)  "Inhomirim" é um termo oriundo da língua tupi. Significa "campo pequeno", por meio da junção de nhum ("campo") e mirim ("pequeno").

Em Raiz da Serra ainda encontra-se a fonte ‘’Pico da Rainha’’, atualmente inativa.
Disponível em:<
http://geografiaurbanaufrrj.blogspot.com/2014/12/memorias-de-mage-uma-abordagem_3.html >. Acesso: 01/08/2001.


Em 1698, a Coroa Portuguesa tomou a decisão de abrir um novo caminho para a região das minas de ouro, ligando-as à Baía da Guanabara. Este caminho ficou conhecido como Caminho Novo. Até então, a única via de acesso para os sítios auríferos, partindo do Rio de Janeiro, era via Paraty. De Parati, o viajante, que ia para as regiões auríferas, localizadas em Ouro Preto (MG) e Diamantina (MG), vivia um calvário: escalava a serra do Mar, passava por Cunha (SP) (antiga Facão) e chegava ao Vale do Paraíba, onde está a cidade de Barra Mansa (RJ). 

A partir dali, iniciava outra escalada, desta vez pela serra da Mantiqueira, passando por Guaratinguetá e a Garganta do Embaú. Vencida a serra, seguia até chegar a Tiradentes (MG), depois São João Del Rey (MG) e finalmente Ouro Preto (MG). 

Esse caminho era o único conhecido até 1698, ano eu que a Coroa Portuguesa determinou a abertura de um caminho, mais curto para se chegar do Rio a Ouro Preto e vice e versa. Esse novo caminho é a Estrada Real, que começa em Raiz da Serra, Baixada Fluminense e termina em Ouro Preto (MG). 

Por esse caminho, D. Pedro II e toda a Corte chegavam a Petrópolis (RJ).

Caminho do Inhomirim ou Caminho Novo, mais curto para se 
chegar do Rio a Ouro Preto e vice e versa.

caminho [s.d] tela color. Disponível em:
<
http://www.isca.org.br/historia.asp>. 
Acesso: 01/08/2011
.

Em 1720, a Coroa Portuguesa determinou exclusividade do tráfego do ouro oficial pelo Caminho Novo. Dentre as medidas tomadas, decidiu-se a construção de um atalho que substituísse o trecho inviável da serra do Couto, próximo a Petrópolis, devido à sua quase inviabilidade e falta de segurança. O projeto previa a substituição do trecho entre o rio Piabanha e a Baía da Guanabara por um caminho mais rápido e praticável. Esta variante, concluída em 1725, ficou conhecida popularmente como Caminho do Inhomirim, Caminho da Serra da Estrela ou Caminho do Proença. O nome oficial era Atalho do Caminho Novo. Este atalho foi habilitado, então, com Caminho Geral do Ouro e tinha início no Cais dos Mineiros (atual Praça XV) na cidade do RJ.

Fonte: Guia Estrada Real para caminhantes: RJ a J. Fora. Olivé Raphael, Ed. Estrada Real, 1999 pp 17 e 18, (com adaptações).


Às 13h, depois de pedalarmos 17 quilômetros ladeira acima, chegamos à bucólica Petrópolis (RJ), pelo bairro Alto da Serra, alcançando a Rua Teresa, famosa pelo comércio de roupas. 

 

Abandonamos a Rua Teresa e seguimos paralelamente ao rio Palatinado, aquele canal poluído que atravessa a Cidade Imperial rumo à Rodoviária De lá, pelo antigo leito da Estrada de Ferro, hoje Estrada Mineira, passamos por Cascatinha, Correias, Nogueira, e Itaipava, local do 1º pernoite, no Hotel Vila Rica, às margens da BR-040, no km 54. Uma beleza de lugar. 

 

Ao chegarmos, sauna e depois um belo jantar: macarrão com quiabo. Estava uma delícia. Eu pedalei nesse dia 122 km. O Aldo Luiz, que iniciou a viagem no início da trilha, na Baixada Fluminense, pedalou 58 km.

Túnel no antigo leito da Estrada de Ferro, hoje Estrada Mineira. 
Foto: Fernando Mendes.

No dia seguinte, 16 de julho, 51º aniversário do vexame da seleção brasileira em pleno Maracanã, quando o Brasil perdeu a IV Copa do Mundo de Futebol para o time mais competitivo do Uruguai, iniciamos a segunda etapa da viagem. O trecho percorrido foi de Itaipava (RJ), a cidade das cerâmicas, até Paraíba do Sul (RJ), a rainha das águas minerais. 

Paraíba do Sul (RJ), a rainha das águas minerais. Foto:Fernando Mendes.

Esse trecho tem apenas 56 quilômetros. Embora pareça uma distância pequena, o percurso é muito acidentado e com longos aclives. Foi um dia de paisagens muito bonitas.

 

Deixamos Itaipava às 9h e pegamos uma estreita estrada de terra perpendicular à BR-040 e paralela ao rio Piabanha, mais poluído do que nunca. Passamos por Pedro do Rio, Secretário, Fagundes e Inconfidência, antigo Arraial de Sebollas. (É com “S” mesmo).


  Os moradores desse singelo e bem cuidado distrito de Paraíba do Sul cultuam hoje a memória de Tiradentes. E têm razões de sobra para tanto. Em 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, o Escrivão da Alçada lavrou a seguinte certidão: “Certifico que o réu Joaquim José da Silva Xavier foi levado ao lugar da forca levantada no Campo de São Domingos e nela padeceu de morte natural (sic) e lhe foi cortada a cabeça e o corpo dividido em quatro quartos; e, de como assim passou na verdade, lavrei a presente certidão e dou fé.” Metidos em sacos grandes de salmoura, a cabeça foi para Vila Rica (atual Ouro Preto) para exposição e execração pública e os membros decepados de Tiradentes, conforme a sentença seriam espalhados pela Estrada Real, nos lugares onde o morto pregava a revolução. Um desses locais era Sebollas.

Fonte: Guia Estrada Real para caminhantes: RJ a J. Fora. 

Olivé Raphael, Ed. Estrada Real, 1999 p. 60.


Em Inconfidência, antigo Arraial de Sebollas, visitamos o Museu Tiradentes.

Inconfidência. Foto: Fernando Mendes.

Museu Tiradentes. Foto: Fernando Mendes.

Seguimos nosso caminho e chegamos a Queima-Sangue (*), minúsculo bairro de Paraíba do Sul (RJ), seis quilômetros à frente de Inconfidência. 


(*) O bairro começou a ser criado após se tornar um ponto de parada dos tropeiros, pessoas que levavam o ouro através de muares. 

Quando os tropeiros passavam por Paraíba do Sul, eles fizeram de Queima-Sangue um ponto de parada para se abrigarem e aproveitaram o local para cauterizar as feridas das mulas e cavalos que utilizavam para transportar o ouro. 

Por isso, o bairro ganhou o nome de Queima-Sangue, pois naquele local era queimado o sangue dos animais para cicatrização. 

Segundo historiadores, o local exato deste ponto de parada é onde hoje está localizada a Praça Sebastiana Nunes.


Disponível em:<http://blogdequeimasangue.blogspot.com/p/historia-do-bairro.html>. 
Acesso: 01/08/2001.


Capela de Nossa Senhora Aparecida em QUEIMA-SANGUE.

igreja foto color [s.d] disponível em:<
http://blogdequeimasangue.blogspot.com/p/santa-padroeira.html>. Acesso: 01/08/2001.

Quatro quilômetros à frente de Queima-Sangue, passamos por Fernandó, bairro de Paraíba do Sul (RJ) muito simpático no qual encontramos com uma turma de caminhantes que fazia a Estrada Real a pé. Foram sete dias de caminhada. Eles são de Campinas (SP) e eles são caminhantes profissionais. Fizeram a Caminho de Santiago de Compostela, aquela trilha de 1º mundo que começa na França e vai até a Espanha, passando pela região basca de ambos os países e atravessando os Pirineus, que marca a fronteira franco-hispânica.


Fernandó, bairro de Paraíba do Sul (RJ). Foto: Fernando Mendes.

A seguir veio Santo Antonio, outro bairro de Paraíba do Sul (RJ) e logo depois estávamos atravessando a ponte do lá vai um, a única que corta o rio Paraíba do Sul na cidade de mesmo nome. 

 

Seguimos o rumo paralelo ao rio, atravessamos a BR-393, a Rodovia do Aço, que liga Volta Redonda (RJ) a Além Paraíba (MG), pegamos uma estrada de terra e chegamos à Pousada Betânia. 

 

Paramos para o 2º pernoite. Fomos muito bem recebidos pelos donos do estabelecimento, o Sr. Quincas e a Srª Teresa. Antes do Jantar (e que jantar), o Sr Quincas nos serviu uma cachacinha da terra da melhor qualidade. Mais tarde, a turma de Campinas chegou para pernoite. Conversamos bastante com eles e depois, cama.

 

No dia 17, terceiro e último dia de viagem até o antigo sítio do Juiz de Fora, tivemos 77 quilômetros pela proa. Deixamos Paraíba do Sul (RJ) às 9h10 e logo de cara uma ladeira de 3,5 quilômetros. Foi para aquecer. 

Pousada Betânia.Foto: Fernando Mendes.

Trecho Paraíba do Sul à divisa RJ/MG. Foto: Fernando Mendes.

Trecho Paraíba do Sul à divisa RJ/MG. Foto: Fernando Mendes.

Trecho Paraíba do Sul à divisa RJ/MG. Foto: Fernando Mendes.

Trecho Paraíba do Sul à divisa RJ/MG. Foto: Fernando Mendes.

Seguimos rumo à divisa RJ/MG, onde pedalamos por um trecho da Rodovia União-Indústria, outrora BR-3, antiga ligação do Rio de Janeiro (RJ) a Juiz de Fora (MG).  Atualmente, a BR - 3, é denominada BR - 040, rodovia radial, que liga Brasília (DF) ao Rio de Janeiro e vice e versa.

Rodovia União-Indústria, outrora BR-3. Foto: Fernando Mendes.

Rodovia União-Indústria, outrora BR-3. Foto: Fernando Mendes.

Aquele trecho me trouxe doces recordações dos tempos das viagens de ônibus do Rio para Brasília e de Brasília para o Rio. Era a etapa da viagem preferida. A estrada estreita, cheia de curvas, paralela à linha do trem e o esplendor e a imponência da Pedra do Paraibuna ao fundo. 

Pedra do Paraibuna. Foto: Fernando Mendes.

Pedra do Paraibuna. Foto: Fernando Mendes.

Pedalar por ali foi uma doce viagem pelo passado. Eu tinha 12 anos e, até os 18, passava por aquelas bandas quando ia de Brasília (DF) para o Rio de Janeiro (RJ) e vice e versa. 

Em 1979 inauguraram a retificação do traçado da BR-040, duplicada e administrada pela CONCER. A União Indústria deixou de fazer parte da rota Rio X Brasília.

Lembrei-me também da nossa viagem de carro para Brasília (DF) (fevereiro de 1972), época em que nos mudamos do Rio de Janeiro (RJ) para a Capital Federal. Seis dentro do fusca vermelho do papai. Na época eram cinco penosas horas de viagem do Rio a Juiz de Fora (MG), muitas curvas e algumas eventuais vomitadas, além, é claro, da guerra de biscoitos no banco de trás. 

Tempos bons e bem aproveitados, por isso as recordações são doces e as saudades daqueles tempos nos fazem bem. Foi muito relembrar tudo isso. 

O céu estava de um azul especial e o contraste das fotos que tirei da Pedra do Paraibuna, das corredeiras do Rio Paraibuna e da Estrada de Ferro ficou maravilhoso.

Infelizmente o Museu Rodoviário 1, que fica às margens da rodovia União Indústria e a poucos metros da divisa RJ/MG, estava fechado à visitação. Atravessamos a ponte sobre o rio Paraibuna 2 e, em seguida, a linha do trem. Bem-vinda Minas Gerais. Próxima parada, Simão Pereira (MG), 8 quilômetros à frente.


  1. O Museu Rodoviário de Paraibuna foi montado nas dependências da antiga estação de troca de cavalos das diligências que trafegavam pela Estrada União-Indústria. As estações de troca tinham mais ou menos o mesmo propósito que os pontos de parada de ônibus das estradas de hoje têm. 

Fonte Guia Estrada Real para caminhantes: RJ a J. Fora. Olivé Raphael, Ed. Estrada Real, 1999, p. 79.

 2. Nos tempos do ouro, a travessia do rio Paraibuna era feita um pouco mais rio acima (a montante) de onde hoje está a ponte da estrada de ferro. Alguns autores, diferentemente, dizem que a atual ponte foi construída sobre os pilares da antiga. Um desenho da ponte, feito há mais de 150 anos por Rugendas, revela que a ponte era coberta. Esse cuidado era necessário, pois aumentava sua vida útil uma vez que [as pontes] eram feitas de madeira. 

Em 1842, a ponte que Rugendas desenhou, foi queimada à época da Revolução Liberal, de forma a dificultar o avanço das tropas “corretivas” do Duque de Caxias, que marchavam em direção ao território mineiro.

Fonte Guia Estrada Real para caminhantes: RJ a J. Fora. Olivé Raphael, Ed. Estrada Real, 1999 p. 80 (com adaptações).

Ponte sobre o Rio Paraibuna. Século XVII. Divisa RJ/MG.

Disponível em:<https://www.wikiwand.com/pt/Caminho_do_Proen%C3%A7a>. 
Acesso: 01/08/2001.


Ponte sobre o Rio Paraibuna. Século XXI. Divisa RJ/MG. Foto: Fernando Mendes.

A estação de Paraibuna foi inaugurada em 1874. Foto: Fernando Mendes.

A estação de Paraibuna foi inaugurada em 1874. Foto: Fernando Mendes.

A  estação Paraibuna situa-se à margem esquerda do Rio Paraibuna, em território mineiro, próxima à divisa com o Estado do Rio de Janeiro. Os trens de passageiros pararam nessa estação entre 1874 e 1980. Atualmente, a linha opera com cargas e está sob a concessão da MRS Logística.

Segundo Gutierrez L. Coelho: "o prédio da estação lentamente se vai, esquecido, sem manutenção e invadido. A decadência, infelizmente, é um fato. Continuam também lá, sem assistência de qualquer tipo, a caixa d'água em ferro fundido, uma triste e já longínqua lembrança dos tempos da tração a vapor e o prédio majestoso da antiga aduaneira dos tempos do império. Comparando com fotos antigas a realidade hoje é realmente outra. Apenas a linha principal, não há mais desvios, está presente, desfilando por ela os trens de retorno de minério, uma serpente de gôndolas GDT vazias".

Disponível em:<http://www.estacoesferroviarias.com.br/efcb_rj_linha_centro/paraibuna.htm>. 

Acesso: 01/08/2001.

 Às margens da Rodovia União-Indústria, logo após cruzarmos a ponte e a linha do trem, à direita de quem segue para Juiz de Fora existe um casarão em ruínas onde funcionava, nos tempos da Colônia e do período aurífero, que na escola estudamos como ciclo do ouro, o antigo Registro do Paraibuna. 

Antigo Registro do Paraibuna. Foto: Fernando Mendes.


O prédio funcionava como uma espécie de alfândega interna, onde era feito o controle do tráfego de mercadorias e combate ao contrabando de ouro e diamantes. Eram também cobrados os direitos de passagem devidos à Metrópole. 

O prédio abrigou o Príncipe Regente, em 1822, quando por ali passou e nele nasceu a mãe do patrono do Exército brasileiro, o Duque de Caxias. 

Era também a passagem obrigatória do Tiradentes. Antes da Conjuração Mineira, Tiradentes foi também responsável pelo patrulhamento daquela área e conseguiu desmantelar caminhos alternativos usados pelos contrabandistas.

 Fonte: Guia Estrada Real para caminhantes: RJ a J. Fora. Olivé Raphael, Ed. Estrada Real, 1999 página 87 com adaptações).



 Não existem comprovações, mas é bem provável que naquele lugar, onde está o prédio em ruínas, tenha nascido a expressão “santo do pau oco”. Os contrabandistas colocavam ouro dentro de imagens ocas de santos, crendo que os fiscais, por pura superstição, não quebrariam as imagens, pois isso traria azar a quem o fizesse. Daí o termo santo do pau oco para se referir a uma pessoa sonsa, perigosa.

Às 11 h chegamos à pequena Simão Pereira (MG). Parada para lanche e pedalamos até Cotegipe, distrito de Simão Pereira (MG), sempre margeando a linha férrea da RMS Logística e o rio Paraibuna (na língua do gentio que existia por aquelas bandas, significa “rio impraticável de águas escuras”). 

Passamos por Matias Barbosa (MG) e, a seguir, Caetés, pequena localidade rural próxima a Juiz de Fora (MG).

Às 18h, na hora da Ave-Maria, chegamos a Juiz de Fora (MG) e demos por encerrada a aventura. Quer dizer, o Aldo Luiz deu por encerrada a aventura. De lá ele seguiu de carro para BH. Minha cunhada Isabel o esperava. 

Para mim, chegar a Juiz de Fora (MG) significou atingir a metade do caminho. No dia seguinte, 18 de julho, começou meu retorno para o Rio, pela BR-040, uma rodovia sob concessão da CONCER, a Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora - Rio, que iniciou a operação da BR-040 em 1º de março de 1996.  A rodovia é extremamente segura para ciclistas, mesmo que existam opiniões contrárias a esse respeito. 

Somente quem fez esse trecho, como eu fiz, sabe que a estrada é segura para ciclistas. Podem crer. Bikes são isentas da tarifa de pedágio.

18 de julho, às 9h50, deixei Juiz de Fora (MG) saindo pelo bairro Salvaterra e ingressando na BR-040 às 10h20. 

O dia estava esplendoroso. O céu sem qualquer tipo de formação. A temperatura de 19ºC. Ideal para pedalar. Fui até Itaipava, distrito de Petrópolis (RJ), 101 quilômetros adiante. Fiz esse trajeto em exatas 7h, chegando à cidade das cerâmicas às 16h 50. Pernoitei no Hotel Vila Rica, com direito a sauna e macarrão com quiabo.

Foto: Fernando Mendes.

No dia seguinte, 5º e último da aventura, deixei Itaipava às 9h, passei por Petrópolis (RJ) às 11h 30, desci a serra vislumbrando um cenário maravilhoso, impossível de se apreciar quando por ali passamos de carro ou de ônibus. Fotos sensacionais, principalmente nas pontes que antecedem os túneis do Papagaio e do Ouriço, registros impossíveis àqueles que descem a serra em veículos diferentes de bicicletas e motos.


Túnel do Papagaio. Foto: Fernando Mendes.


Túnel do Ouriço. Foto: Fernando Mendes.

Cheguei à Baixada Fluminense, em Xerém, às 12h 30. Sem problema algum atravessei toda a Baixada, chegando ao Trevo das Missões às 13h 30. 

Ingressei na Avenida Brasil na altura de Bonsucesso e passei pela Penha, Mercado São Sebastião, FIOCRUZ, Manguinhos e Caju. Às 14h 30 estava na Rodoviária Novo Rio. Segui pela Francisco Bicalho até alcançar a Avenida Presidente Vargas.

Castelo da Fiocruz, o eterno vigilante desta imensa Avenida chamada Brasil. 
Foto: Fernando Mendes.

Às 15h passei pela Candelária e, em seguida, Praça XV, Aeroporto Santos Dumont - local onde a ciclovia começa (ou termina, depende do referencial) -, fotos belíssimas no Museu de Arte Moderna (MAM), Monumento aos mortos da Segunda Guerra Mundial e da Enseada de Botafogo. 

Enseada de Botafogo. Foto: Fernando Mendes.

Segui pela ciclovia passando pelo Iate Clube, campo do Botafogo, Rio Sul, Canecão, atravessei o Túnel Novo e saí em Copacabana. A viagem estava quase terminando. 

Às 16h, atravessei o canal do Jardim de Alah, cruzando a última ponte entre tantas que atravessei nesses 471 km que pedalei do Leblon a Juiz de Fora e de Juiz de Fora ao Leblon. Abandonei a ciclovia na Rua Almirante Pereira Guimarães, atravessei a General San Martim e cheguei.

Fiz várias viagens de bicicleta. Todas maravilhosas.  Essa da Estrada Real foi especial. 

Antes de dormir, na véspera da partida para esta grande viagem, eu pensei em um lugar duas vezes mais longe do que Juiz de Fora. O Rio de Janeiro, óbvio. Devemos partir sempre pensando na volta.

 

Brasília, 1º de agosto de 2001.

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