Noroeste de Minas, Alto São Francisco, Alto Paranaíba. Verão 2012.

 

Vapor Benjamin Guimarães. Pirapora (MG). Pirapora (MG). 
Foto: Fernando Mendes.


Viagem de Bike  - Verão 2012.
Noroeste de Minas Gerais, Alto São Francisco e Alto Paranaíba.


DATA
RODOVIAS
TRECHOS
DISTÂNCIAS
(km)

ACUMULADOS
(km)
10/01/2012

BR-251

Brasília a Unaí
170 km
ÔNIBUS

11/01/2012
BR-251/MG-181
Unaí  a
Brasilândia 
de Minas
143 km
143

12/01/2012
MG-181
Brasilândia 
de Minas a 
 João Pinheiro
94 km
237

13/01/2012
BR-040
João Pinheiro a  Luizlândia 
do Oeste
82 km
319

14/01/2012
BR-365
Luizlândia 
do Oeste   aPirapora
114 km
433

15/01/2012

Passeio de Barco pelo Rio São Francisco/Barra do Guaicuí / 52 km


16/01/2012

BR-496

Pirapora a Corinto
139 km
624
17/01/2012
MG-220
Corinto a
Santo Hipólito  a Monjolo
45 km
669
MG-220
Monjolo a
Santo Hipólito a Corinto
45 km
714

18/01/2012

MG-220/BR-040
Corinto a
Três Marias
92 km
806

19/01/2012
BR-040/BR-365
Três Marias a
São Gonçalo do Abaeté
98 km
904

20/01/2012
BR-365
São Gonçalo 
do Abaeté a
Patos de Minas
102 km
1.006

21/01/2012

BR-365/MG-188

Patos de Minas  a Coromandel
119 km
1.125

22/01/2012

MG-188/GO-210

Coromandel a Davinópolis
80 km
1.205

23/01/2012
GO-210/GO-381/
GO-506/BR-050
Davinópolis  a Campo Alegre 
de Goiás
102 km
1.307

24/01/2012
BR-050
Campo Alegre 
de Goiás a Cristalina
115 km
1.422

25/01/2012

BR-040
Cristalina a Brasília
133 km
1.555
Brasília - Unaí - Brasilândia - João Pinheiro - Luizlândia - Pirapora - Corinto - Monjolos - Santo Hipólito - 3 Marias - S. Gonçalo do Abaeté - Patos de Minas - Coromandel - Davinópolis - C. Alegre - Cristalina - Brasília.
TOTAL
1.463
MÉDIA/DIÁRIA
97,53


10/01/2012 - 1º Dia. 
Brasília (DF) a Unaí (MG). 180 quilômetros (ônibus).

Às 6h da manhã fui acordado pelo barulho da chuva. Era tudo que eu não queria naquele amanhecer de 10 de Janeiro 2012. Chovia para cachorro. Permaneci deitado e desejando que o tempo melhorasse. Ledo engano. Terminado o café, nada de a chuva dar trégua. Pelo visto, ficaria assim por muito tempo. Às 8 horas, o Jornal Bom Dia Brasil noticiou: "chuva forte para Brasília e região". 

O trecho entre Brasília (DF) e Unaí (MG) é feito [de bike] em 12 horas. Não iria encará-lo sob aquele aguaceiro. Parti para o Plano B. 

Sob aquelas condições adversas, seria muito duro encarar 180 quilômetros com chuva no lombo. Informei-me acerca dos horários de ônibus entre a Capital Federal e Unaí (MG). Comprei [pela Net] passagem para o horário das 18h. 

Às 16 horas e sob chuva moderada, pedalei da minha casa à Rodoviária Interestadual de Brasília - DF. 

Foram 15 quilômetros, percorridos em 40 minutos. No guichê da Empresa Santa Isabel, troquei o voucher pelo bilhete de passagem e fiquei a esperar pelo embarque. 

Sem maiores problemas, acomodei a bike no bagageiro e, às 20h 30, desembarquei na Rodoviária de Unaí (MG) - 77.590 hab/IBGE 2010

Dessa forma, cheguei [seco] à maior cidade do Noroeste (NW) de Minas Gerais, em duas e meia horas de viagem. Choveu durante  o trajeto.

Fiz a escolha certa em percorrer esse trecho de ônibus. Acomodei-me num hotel no centro, jantei e fui dormir, torcendo para o tempo melhorar.

11/01/2012 - 2º Dia. 
Unai (MG) a Brasilândia de Minas (MG). 143 quilômetros.

Ao acordar, às 9 horas, não escutei barulho de chuva. Abri a cortina do quarto e vi que o tempo estava nublado. Menos mal. Tomei café, arrumei a bagagem e saí em busca de um carregador para celular, pois havia esquecido tal preciosidade em minha casa. Foi a primeira baixa da viagem. Demorei, mas encontrei. 

Ao partir para a jornada daquele 11 de Janeiro 2012, percebi que estava próxima à hora do almoço e o trecho daquele dia, segundo me informei, têm poucos pontos de apoio. Almocei no Posto Horizonte Mineiro, às margens da BR-251. Arroz, feijão, salada e belas costeletas de porco. 


Ao meio dia, segui na direção de Brasilândia de Minas (MG), 140 quilômetros à frente. O traçado é bastante plano. Unaí (MG) se localiza no Vale do Rio Preto e Brasilândia de Minas (MG) no Vale do Rio Paracatu. 

Um vale se emenda ao outro, com predomínio de altimetria predominantemente plana, percorrido em 8 horas e meia.


TREVO DE ACESSO A BRASILÂNDIA DE MINAS (MG). Foto: Fernando Mendes. 








BR - 251 LONGAS RETAS E MUITA PLANURA. Foto: Fernando Mendes. 


RIO PRETO. Foto: Fernando Mendes. 


RIO PRETO. Foto: Fernando Mendes. 


Foto: Fernando Mendes.

A BR-251 havia acabado de ser asfaltada entre Unaí (MG) e Brasilândia (MG), um alívio para a etapa. Depois de sucessivos dias de chuva, esse caminho estaria impraticável. Meno male

Foram 140 quilômetros silenciosos. O movimento na BR - 251 era pequeno e pude ouvir todos os sons da natureza, que ficaram por conta da passarada em festa, principalmente os papagaios e maritacas, os reis do barulho. Nada de subidas honestas e nem descidas fortes. Apenas longas e intermináveis retas. 

Às 18h, parei num diminuto povoado à beira da estrada. Vi suculentos pastéis na vitrine. Perguntei: "esses pastéis são de hoje?" e qual não foi a minha surpresa ao ouvir a mineirinha responder-me: "são de carne, sô!" Creio que ela entendeu que a minha pergunta era se os pastéis eram de ovo. Comi os quatro que estavam à mostra. 

Por volta das 19h cheguei ao trevo de acesso a Brasilândia de Minas (MG). Abandonei, naquele ponto, a BR- 251, com asfalto novíssimo, e ingressei na Rodovia MG- 188, cheia de buracos semelhante a um queijo suíço. Faltavam 20 quilômetros, percorridos em uma hora e meia. Mais parecia que a estrada havia sido vítima de um bombardeio aéreo.


Às 20h 30, com as últimas claridades no oeste, cheguei à pacata Brasilândia de Minas (MG) - 14.226/hab - IBGE 2010

Hospedei-me no Hotel Central, o único do município e jantei muito bem num self service anexo à rodoviária. 

Voltei para descanso num quarto abafado. O ventilador fixado no teto pareceu-me que despencaria a qualquer momento. Vedei os pavilhões auriculares com silicone e dormi profundamente, alheio à zoada de um carro de som, que tocou forró madrugada adentro. Benditos tapadores de ouvidos. Não viajo sem eles. Não vivo sem eles.


12/01/2012 - 3º Dia. 
Brasilândia de Minas (MG) a João Pinheiro (MG). 94 quilômetros.

Às 9h, depois de um café da manhã bem mais ou menos, parti no rumo de João Pinheiro (MG), 94 quilômetros adiante e pedalando placidamente pela Rodovia Estadual MG - 188.

Atravessei a ponte sobre o Rio Paracatu e comecei a pedalar numa reta que parecia interminável. E assim o traçado se manteve por uns 30 quilômetros. Ladeando a estrada, a paisagem do  cerrado é uma mescla de vegetação nativa, plantações de soja e pastagens a perder de vista.


Ponte sobre o Rio Paracatu. Foto: Fernando Mendes.

MG - 188 entre Brasilândia de Minas (MG) e João Pinheiro (MG).
Foto: Fernando Mendes.

Não há acostamento nesse trecho da MG - 188, embora o movimento fosse muito pequeno. Depois de duas horas pedalando numa reta, que começou em Brasilândia de Minas (MG), o terreno foi se elevando e algumas curvas em S serpenteiam a borda de chapada por vários quilômetros.

MG - 188 entre Brasilândia de Minas (MG) e João Pinheiro (MG). 
Foto: Fernando Mendes.

Quando a subida terminou, uma visão deslumbrante: de um lado o Rio Paracatu; do outro, o Rio da Prata. Faltavam 50 quilômetros para João Pinheiro (MG).

Foto: Fernando Mendes.

A partir desse ponto, a estrada inclinou para baixo numa descida alucinante, sem curvas, e que parecia não terminar mais.

MG - 188 entre Brasilândia de Minas (MG) e João Pinheiro (MG).
Foto: Fernando Mendes.

Não existem pontos de apoio no trecho entre Brasilândia de Minas (MG) e João Pinheiro (MG). Felizmente a temperatura estava moderada e a água (6 litros) foi suficiente.

Às 15h cheguei ao entroncamento da Rodovia MG-188 com a BR-040. Virei à direita, na direção de Brasília (DF), passei pelo Posto da PRF e desci uns 2 quilômetros para chegar ao downtown de João Pinheiro (MG) - 45.260 hab/IBGE 2010 -, que fica dentro de um buraco quente. 

Hospedei-me no Yara Hotel. Banho, almoço e soneca até às 18h, quando fui acordado pelo barulho da chuva. Foi rápida, típica de fim de tarde no verão. 

Mais tarde, deliciosa pizza com cerveja gelada. Fazia muito calor, mesmo passando das 21h. 

MG - 188 entre Brasilândia de Minas (MG) e João Pinheiro (MG)
Foto: Fernando Mendes.


13/01/2012 - 4º Dia. 
João Pinheiro (MG) a Luizlândia do Oeste (MG). 82 quilômetros.

Trecho com reduzida distância a percorrer. Por isso, saí depois do almoço, que ocorreu num self-service à beira da BR - 040, no perímetro urbano de João Pinheiro (MG).

Iniciei a [curta] jornada às 12h. Fazia um calor infernal, fruto do mormaço que maçaricava a pele. Nenhum sinal de chuva. 

Na saída de João Pinheiro (MG), forte subida de 2 quilômetros para dar início à digestão. Passei pela Posto da PRF [través oeste] e do trevo de acesso a Brasilândia de Minas (MG) [través leste]. 

Pedalei sem tréguas por 45 quilômetros até o Posto Oásis que, conforme o nome sugere, é o único ponto de apoio nesse trecho. Parada para reposição de água. O calor era sufocante. 

Do Posto Oásis até o Ribeirão das Almas, forte descida e, em seguida, subida igualmente forte; depois outra descida alucinante até o Rio Santo Antônio e, a seguir, subida de igual monta até Luizlândia do Oeste (MG) - 6.400 hab/IBGE 2010 -, pequeno distrito de São Gonçalo do Abaeté (MG), que cresceu em torno do entroncamento da BR - 040 (Brasília - Rio) com a BR - 365 (Ilhéus - BA a Uberlândia - MG). Tem 872 quilômetros de extensão.

Luizlândia do Oeste (MG).

Existe um amontoado de postos de combustíveis, oficinas, ferro - velhos, pequenos empórios e hotéis classificados como "modestos". 

Hospedei-me no Pirapatos Hotel, o que, segundo um amigo de Brasília, "o menos pior da região". 

Não existem agências bancárias. Os moradores se viram numa lotérica, que está sempre cheia. As pessoas ficam expostas ao sol saariano aguardando a vez em filas quilométricas. 

Sinal de celular ainda não chegou por lá. Hospitais também não. Ou seja, para resolver demandas do dia a dia, os moradores têm que se deslocar para Três Marias (MG), 51 quilômetros à frente. Em pleno século XXI, estava num lugar que parece viver no século passado.

À noite jantei no Posto Pirapatos - ida e volta a pé - e retornei ao hotel. A TV tem péssima recepção de sinal. Imagem tremida e com fantasmas. Restou ir para cama, que não depende de sinal de celular, TV ou Internet. No quarto, o ventilador produzia um vento quente, quase saariano, à semelhança do Siroco. Noite mal dormida.

Vento. Mapa [s.d] color. Disponível em: <https://www.climatempo.com.br/noticia/10-ventos-especiais>. Acesso: 05/02/2012.




14/01/2012 - 5º Dia. 
Luizlândia do Oeste (MG) a Pirapora (MG). 114 quilômetros.

Pontualmente às 10h, deixei o "século XX" para trás e, agora pedalando pela BR - 365, segui o rumo Nordeste (NE), na direção de Pirapora (MG). A altimetria é bastante peculiar nesse trecho.


Pedalei por imenso platô com 97 quilômetros de extensão, ladeado por lavouras de soja até tão extensas, que parecem tocar o céu. Levei duas garrafas de água mineral (1,5 litro) além de 1,4 litro nas duas caramanholas. 

Vencidos essa [quase] centena de quilômetros, veio o único ponto de apoio até Pirapora (MG): o Posto JR Faisão VI, localizado no trevo com a Rodovia MG - 161, acesso a São Romão (MG) que, à época de sua fundação (1668), teve o topônimo de Santo Antônio da Manga. Eram 15h 11. Pirapora (MG), a 21 quilômetros em descenso.

No retorno à BR - 365, a altimetria mostro-se generosa. Descida ininterrupta até a ponte sobre o Rio São Francisco que, naquele ponto, assinala a divisa natural entre os municípios de Buritizeiro (MG), localizado na margem esquerda do Rio São Francisco e Pirapora (MG) - 53.379 hab/IBGE 2010 -, na margem esquerda do Velho Chico. Eram 17h 17.

Foto: Fernando Mendes.


Chegada a Pirapora (MG). Foto: Fernando Mendes.

Às 17h 17 cheguei ao Hotel Canoeiros, localizado na margem direita do Rio São Francisco. O melhor do município.

Hotel Canoeiros. Foto: Fernando Mendes.

Não foi preciso sair para jantar. O hotel ofereceu excelente ceia. Da varanda do restaurante do Canoeiros, vislumbra-se a imponente ponte metálica da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil.

Ponte Marechal Hermes. Foto: Fernando Mendes.

A Ponte Marechal Hermes,  feita com ferro importado da Bélgicaliga os municípios de Pirapora (MG) e Buritizeiro (MG). Construída sobre o Rio São Francisco e inserida no projeto de expansão da Ferrovia Central do Brasil, pretendia interligar a então capital do Brasil, o Rio de Janeiro (DF), a Belém (PA). 
Inaugurada em 10 de novembro de 1922, a ponte ferroviária metálica é estruturada em treliça e com ligações rebitadas. O tombamento estadual, ocorrido em 1985, teve inscrição no Livro do Tombo Histórico, das obras de Artes Históricas e dos Documentos Paleográficos ou Bibliográficos.

Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br/index.php/programas-e-acoes/patrimonio-cultural-protegido/bens-tombados/details/1/84/bens-tombados-ponte-marechal-hermes>. Acesso: 05/02/2012.


Ponte Marechal Hermes. Foto: Fernando Mendes.

A ponte se apoia em 13 pilares de concreto. Tem extensão de 694 metros em 14 vãos, sendo dez centrais de 50 metros e os marginais de 35 metros. Apresenta 8,40 metros de largura e dois passeios laterais, colocados posteriormente, para uso dos pedestres. Estas passarelas são sustentadas por mãos francesas metálicas engastadas no vigamento horizontal inferior. Possuem piso de tábuas corridas assentadas sobre perfis de ferro. A proteção é feita por guarda-corpo metálico, cujo desenho contrasta com a estrutura principal por seu frágil aspecto. Na mesma época, foram colocadas, ao lado dos trilhos, peças de madeira para trânsito de carros.

Disponível: http://www.belgianclub.com.br/pt-br/heritage/ponte-marechal-hermes-pirapora>. Acesso: 05/02/2012.

Ponte Marechal Hermes. Foto: Fernando Mendes.


15/01/2012 - 6º Dia. 
PASSEIO NO VAPOR BENJAMIN GUIMARÃES E 
PEDAL ATÉ BARRA DO GUAICUÍ. 52 km.


O vapor Benjamim Guimarães foi construído em 1913, pelo estaleiro norte-americano James Rees & Sons e navegou alguns anos no Rio Amazonas sendo transferido para o Rio São Francisco em1920. Atualmente transporta turistas pelo rio, sendo o único em funcionamento. O tombamento estadual do Benjamim Guimarães foi aprovado em 1985 com inscrição no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Possui 43,85 metros de comprimento total e 7,96 metros de largura.

Disponível em< http://iepha.mg.gov.br/index.php/programas-e-acoes/patrimonio-cultural-protegido/bens-tombados/details/1/105/bens-tombados-vapor-benjamim-guimar%C3%A3es>. Acesso em: 05/02/2010.


A saída do vapor aconteceu às 10h. Com 6,5 nós de velocidade, o Benjamin Guimarães faz um passeio [sonolento] de 2 horas de duração, descendo o rio em 1 hora e voltando a seguir.

Fotos: Fernando Mendes.

Fotos: Fernando Mendes.

Fotos: Fernando Mendes.

Fotos: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Esperava mais desse passeio. Voltei ao hotel, almocei e dormi até às 17h. Desperto, peguei a bike e, pedalando pela BR-365, fui conhecer a pequena Barra do Guaicuí - 3.139 habitantes - IBGE 2010, onde o Rio das Velhas, principal afluente da margem direita, deságua no São Francisco.


Barra do Guaicuí, distante 29 quilômetros de Pirapora (MG), é um distrito do município de Várzea da Palma (MG). A localidade é conhecida pela barra do rio das Velhas, que deságua no rio São Francisco. O nome Guaicuí significa, em língua tupi, "rio das Velhas".

Rio das Velhas desaguando no Rio São Francisco.
Foto: 
http://www.sfrancisco.bio.br/aspbio/mortand.html>. Acesso: 05/02/2010.

O motivo de ir a esse lugar foi conhecer a Igreja Bom Jesus de Matozinhos, obra  inacabada desde o século XVII. Está datada de 1660 a 1679.  

Por algum motivo - que ninguém soube explicar - a obra está inconcluída. Há várias teses e lendas sobre o tema. Uma diz que os operários morreram de malária. Outra sustenta que a construção foi interrompida ao se constatar que o leito do Rio das Velhas, a menos de 10 metros de lá, inundava o templo em época de enchente.

No lugar em que deveria existir uma torre, não se sabe o porquê, vingou uma imponente gameleira. Como a árvore foi parar lá?” Acredita-se que foi obra de um passarinho, de um bem-te-vi. Tinha uma sementinha nas fezes do bichinho. A raiz da gameleira abraça parte do templo.


Igreja Bom Jesus de Matozinhos. Foto: Fernando Mendes.

Igreja Bom Jesus de Matozinhos. Foto: Fernando Mendes.

Igreja Bom Jesus de Matozinhos. Foto: Fernando Mendes.

Igreja Bom Jesus de Matozinhos. Foto: Fernando Mendes.

Igreja Bom Jesus de Matozinhos. Foto: Fernando Mendes.

Igreja Bom Jesus de Matozinhos. Foto: Fernando Mendes. 

A Igreja de Bom Jesus e o distrito inspiraram várias pessoas do meio cultural. Guimarães Rosa (1908-1967), por exemplo, descreveu Barra do Guaicuí em Grande sertão: Veredas, sua obra mais importante, publicada em 1956. 


O escritor mineiro escolheu Guararavacã do Guaicuí, como ele se refere ao povoado, para ser o lugar no qual Riobaldo Tatarana, o protagonista, descobriu que amava Diadorim, a personagem que se vestia de homem e que “nasceu para o dever de guerrear e nunca ter medo, e mais para muito amar, sem gozo de amor (...)”.

O templo inacabado é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha). 

Disponível em< www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/09/13/interna_gerais,687779/patrimonio-pede-socorro.shtml. Acesso em: 05/02/2010.

Às 20h e com o sol deslizando para o horizonte (2012 houve Horário de Verão), cheguei de volta a Pirapora(MG). Bate e volta que rendeu 52 quilômetros em terreno (rodovia BR - 365) totalmente plano.

Jantei deliciosa macarronada e cama, descanso merecido  para encarar a jornada do dia seguinte. 

16/01/2012 - 7º Dia. 
Pirapora (MG) a Corinto (MG). 139 quilômetros.


Às 10h deixei o Hotel Canoeiros e ingressei na BR - 365, mas por pouco tempo. Cinco quilômetros à frente, no trevo de acesso a Belo Horizonte, virei à direita e passei a pedalar pela BR - 496, que liga Pirapora (MG) a Corinto (MG). 


Todas as fotos desse dia ficaram fora de foco.
 Saída de Pirapora (MG) às 10h 11.

Chegada a Corinto (MG) às 18h 11. Foto: Fernando Mendes.

A BR - 496 tem um traçado paralelo à linha férrea da FCA, que liga o Terminal Integrador Pirapora (MG), localizado na Região Noroeste de Minas, à Estrada de Ferro Vitória Minas (EFVM), o caminho para chegar ao mar. Em igual paralelismo à rodovia, corre o Rio das Velhas, principal afluente [margem direita] do Rio São Francisco.

Os primeiros 35 quilômetros até Várzea da Palma (MG) - 35.804 hab/IBGE 2010, foram percorridos - sem tréguas - em duas horas. Cheguei às 12h 11 no Restaurante Sabor Mineiro. Almoço delicioso.

Mesmo não sendo a hora mais quente do dia, a temperatura era de 33ºC. Dureza voltar à lida do pedal com essa canícula (calor muito forte).

Às 13 horas, estava de volta à BR - 496, agora com 37 quilômetros pela proa - sem apoio algum - até a cidade de Lassance (MG) - 6.490 hab/IBGE 2010 -, onde Carlos Chagas identificou a Doença de Chagas.

Em duas horas cravadas de pedal, cheguei a Lassance (MG). Eram 15h. Essa é a hora mais quente do dia. A temperatura era de 36ºC, mas a sensação térmica ultrapassava os 40ºC. Quem mora nessa região suporta, na maior parte do ano, esse calor abrasador. 

Reposição de água no Posto Lassance e toquei em frente, agora com 62 quilômetros até Corinto (MG), passando pelos distritos de Beltrão e Contria. A partir desse último, começa uma subida de intensidade média (por 12 quilômetros) até alcançar o trevo de acesso a Corinto (MG), onde a rodovia estadual MG -220, que vem de Três Marias (MG) intercepta a BR - 496.

Virei à esquerda, ingressei na MG - 220 e logo cheguei ao centro da cidade de Corinto (MG) - 23.901 hab/IBGE 2010. Hospedei-me no Hotel Minas e jantei na Churrascaria Ponto Certo Corinto. 

Para o dia seguinte, programei pedalar pela MG - 220 [sem alforjes] até Santo Hipólito (30 km à frente de Corinto) e depois, Monjolos (15 km à frente de Santo Hipólito. Ambas ficam no Vale do Rio das Velhas e pertencem, igualmente, ao circuito Estrada Real.

17/01/2012 - 8º Dia. 
Corinto (MG) a Santo Hipólito (MG) a Monjolos (MG). 
Bate e Volta. 90 quilômetros.

Deixei as tralhas no hotel e, antes de sair de Corinto (MG) rumo ao rolé daquele dia, uma parada para conhecer a Matriz Nossa Senhora da Conceição.

Foto: Fernando Mendes.


Na saída de Corinto (MG), está a Locomotiva 526, que operou na Rede de Viação Sul Mineira, na Rede Mineira de Viação e na Viação Férrea Centro-Oeste. Ela [a 526] ligava Corinto (MG) a Diamantina (MG), com 147 quilômetros de extensão.


Locomotiva 526. Fotos: Fernando Mendes.

Um dos entroncamentos importantes para a história da ferrovia em Minas Gerais está em Corinto (MG), na região central do estado. Em 1904, quando a cidade era conhecida ainda como Curralinho, houve a inauguração da estação. O local era ponto de partida de linhas para Diamantina (MG), no Vale do Jequitinhonha, para Pirapora (MG) e 
Montes Claros (MG), no Norte do estado de Minas Gerais.

Disponível em:< http://g1.globo.com/mg/grande-minas/noticia/2016/10/chegada-da-ferrovia-central-do-brasil-ao-norte-de-minas-completa-90-anos.html>. Acesso: 05/02/2010.

Deixei a 526 para trás, atravessei os trilhos, hoje sob administração da FCA (Ferrovia Centro Atlântica) e, pela rua Ursulino Lima, cheguei à intersecção da BR - 135 com a MG - 220, que me levou, por meio de um traçado predominantemente plano, a Santo Hipólito (MG) - 3.420 hab/IBGE 2010 - e, posteriormente, a Monjolos (MG) - 2.360 hab/IBGE 2010

A partir de Monjolos (MG), a Rodovia MG - 220 passa a ser em leito natural e tem seu ponto final em Diamantina (MG), 88 quilômetros à frente. Mas essa etapa [até Diamantina - MG], ficou para outra ocasião.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Rio das Velhas. Foto: Fernando Mendes.


Ponte sobre o Rio das Velhas. Foto: Fernando Mendes.


Estação Ferroviária Santo Hipólito (MG). Foto: Fernando Mendes.

Totem Estrada Real.Foto: Fernando Mendes.

Às 12h 14 cheguei às duas pontes metálicas sobre o Rio das Velhas, erguidas por Keystone Bridge Companyempresa americana de construção de estruturas metálicas que, em 1875, instalou-as sobre o Rio das Velhas, por onde locomotivas fizeram, por quase oito décadas, o trajeto Belo Horizonte (MG) a Diamantina (MG). Carregou muitas pessoas e histórias a outros caminhos.

A Keystone Bridge Company localizava-se em Pittsburg, Estado da Pensilvânia (PA).
(Nota do Autor).

Foram necessárias duas pontes para transpôr o Rio das Velhas. Naquele ponto, o curso do bifurca-se em decorrência da existência de uma ilha, passando a ter dois leitos, que precisaram ser vencidos por duas estruturas metálicas.



Ponte sobre o Rio das Velhas. Foto: Fernando Mendes.

Ponte sobre o Rio das Velhas. Foto: Fernando Mendes.

Santo Hipólito (MG) localiza-se à margem direita do Rio das Velhas. É um lugar muito simpático e pacato. Por ser hora do almoço e estar muito quente, as ruas vazias sugeriram-me que era hora da siesta (aquele cochilo pós-almoço).

Fiz um lanche na Padaria e Lanchonete JR. Deixei o almoço para mais tarde, quando chegasse a Monjolos (MG).

SANTO HIPÓLITO-MG-IGREJA MATRIZ-FOTO:LEANDRO DURÃES - SANTO HIPÓLITO - MG
SANTO HIPÓLITO-MG-IGREJA MATRIZ-FOTO: LEANDRO DURÃES.

Terminando de atravessar o perímetro urbano, voltei à rodovia MG - 220 para completar os 15 quilômetros até Monjolos (MG). Traçado perfeitamente plano e belo visual do Rio Pardo Pequeno, paralelo à estrada.

 Rio  Pardo Pequeno. Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Rio  Pardo Pequeno. Foto: Fernando Mendes.

Às 14h 46 cheguei ao calçamento da cidade de Monjolos (MG) - 2.360 hab/IBGE 2010. Hora mais quente do dia, hora de procurar um lugar para almoçar. A Padaria Nogueira foi a única opção para aquela hora. Outro lanche. Nada de almoço.

Monjolo (MG) também foi rota do trem que ligava Belo Horizonte (MG) a Diamantina (MG). A estação poderia estar melhor preservada.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Segui pedalando por onde, outrora, o trem passava e não tardou a aparecer trechos da antiga Estrada de Ferro ,espremidos entre as rochas e uma ponte metálica sobre o Rio Pardo Pequeno. Que trecho espetacular.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: https://www.ferias.tur.br/fotos/3432/monjolos-mg.html>. Acesso: 05/02/2010.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.


Foto: Fernando Mendes.

Esse antigo leito ferroviário é hoje a Rodovia MG - 220, que termina em Diamantina (MG) e tem todo (ou quase todo) o seu trajeto assentado onde, outrora, existiram trilhos.

Pedalei, sem parar, os 45 quilômetros de volta a Corinto (MG). Cheguei ao cair da noite. Jantar e cama. Foi um dia muito proveitoso, com belas paisagens, ótimas fotos, mas bastante cansativo por conta do calor e a falta de almoço de verdade.


18/01/2012 - 9º Dia. 
Corinto (MG) a Três Marias (MG)
92 quilômetros (64 em leito natural).

Às 10h 46 vi Corinto (MG) sumindo pelo retrovisor da bike e, pela Rodovia MG – 220, rumei para Três Marias (MG), localizada na região do Alto São Francisco, 92 quilômetros à frente, dos quais 64 em leito natural, entre Corinto (MG) e o distrito de Andrequicé, 400 casas e 2 mil habitantes, segundo o blog, cujo endereço é: 


http://pensaeai.blogspot.com/2016/07/andrequice-distrito-de-400-casas-e-2.html>. Acesso: 05/02/2010.

No trecho em leito natural entre Corinto (MG) e Três Marias (MG) - 64 quilômetros - não há pontos de apoio. Sabendo disso, previne-me com quatro garrafas de água mineral de 1,5 litro, totalizando seis litros, dois sanduíches e três bananas obtidas no café da manhã.

O piso é repleto de costelas de vaca, que diminui sobremaneira a média horária do trecho. Os eucaliptos dão o tom do caminho.

Rodovia MG - 220. Foto: Fernando Mendes.

 

Rodovia MG - 220. Foto: Fernando Mendes.

A soma do calor senegalês com piso ruim da estrada, adicionado à poeira quando passavam veículos - principalmente caminhões carregando toras de eucalipto -, tornaram esse trecho sem asfalto bastante penoso. Garganta seca o tempo todo. 

A ingestão de água foi acima da prevista. O precioso líquido acabou quando faltavam 9 quilômetros para a pequena Andrequicé (distrito de Três Marias - MG), alcançada às 15h. Estava com a goela seca e com dificuldade para engolir. Tenso.

Hidratei-me num bar na entrada do distrito e a jornada, retomada às 15h 20, ficou mais tranquila: trecho asfaltado [e plano] até Três Marias (MG), 28 quilômetros adiante.

Às 17h, cheguei ao ponto no qual a Rodovia MG - 220 "deságua" na BR - 040. Daí até o Restaurante e Posto Mar Doce, foram mais 15 minutos de pedal. 

Desse posto de combustíveis, avista-se parte da colossal Represa de Três Marias, resultado do barramento do Rio São Francisco, que originou uma Unidade de Produção de Energia Elétrica, ou Usina Hidrelétrica de Três Marias (UHE - Três Marias). 

A criação do lago foi feita (1957) pela antiga Suvale (atual Codevasf) e a usina hidrelétrica foi erguida nos governos JK e Jango, entre 1957 e 1962.

Na cota máxima, o reservatório acumula volume da ordem de 21 bilhões de m3 de água. A área alagada é de 1.040 km2, 2,7 vezes maior em relação à área da Baía da Guanabara (380 km2).

Represa de Três Marias. Foto: Fernando Mendes.

Hospedei-me no Hotel Hebron, no centro da cidade de Três Marias (MG). Confortável, limpo e barato. Tudo que eu precisava depois do dia mais puxado de toda a jornada. O trecho em leito natural parece que suga as energias e deixou-me deveras cansado. Nada como uma noite de sono reparador.

19/01/2012 - 10º Dia. 
Três Marias (MG) a São Gonçalo do Abaeté (MG)98 quilômetros .


Às 10h deixei o Hotel Hebron pela rua Marechal Deodoro da Fonseca. Fui empurrando a bike - a rua é contramão - até alcançar o trevo de acesso à BR - 040. Atravessei o terço final do perímetro urbano com intenso movimento de veículos [leves e pesados] em ambos os sentidos.

A antiga CMM (Cia. Mineira de Metais), que pertenceu à Votorantim,  passou à minha direita [través leste], às margens da estrada. 

Atualmente chama-se Nexa Resources, empresa global de mineração e metalurgia de metais não-ferrosos, resultado da fusão da brasileira Votorantim Metais e a peruana Milpo. Está entre as cinco maiores produtoras mundiais de zinco eletrolítico. A sede fica em Luxemburgo, na Europa.

Após a Nexa Resources, vem forte descida, que termina na ponte sobre o Rio São Francisco. Impossível passar por essa ponte e ficar indiferente à paisagem que se descortina em ambos os lados.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

As comportas da Barragem de Três Marias estavam abertas.
Foto: Fernando Mendes.

Ponte Rodoviária sobre o Rio São Francisco. Foto: Fernando Mendes.

Rio São Francisco a caminho do Norte de MG e Região Nordeste. 
Foto: Fernando Mendes.

Ponte Rodoviária sobre o Rio São Francisco.
Foto: Fernando Mendes.



Ponte Rodoviária sobre o Rio São Francisco.
Foto: Fernando Mendes.

Eram 10h 25, muito cedo para almoçar. Digo isso, porque sob a Ponte Rodoviária, encontra-se o restaurante Rei do Peixe. Pratos maravilhosos. Segui meu rumo. Após concluir a travessia, o município de Três Marias (MG) ficou para trás. Pedalava agora pelo município de São Gonçalo do Abaeté (MG). Ou seja, o São Francisco marca o limite entre as duas localidades.

Passei pelo Posto Beira Rio, no través leste. 

Través, em náutica [ciclismo também] é cada um dos lados da embarcação [da bike idem]. É perpendicular à linha longitudinal da bike. (NDA - Nota do Autor).

Via, a certa distância, a enorme parede que se aproximava: a subida do Hotel Fazenda Tia Dora, que serpenteia uma borda de chapada, com três quilômetros de extensão. Nada fora do contexto. Como saí de uma área beira rio, subida pela proa.

Vencida essa ascensão, pedalei por um longo trecho plano até chegar uma descida forte, que termina na ponte sobre o Rio Curral das Éguas e, após forte subida, vem o DTCEA - TRM, que  passou no meu través oeste, no km 252.

Nesse ponto [muito alto] está localizado o DTCEA-TRM (DESTACAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO DE TRÊS MARIAS - MG). 

Três Marias (MG) foi escolhida para receber a instalação deste destacamento como ponto geográfico estratégico. Minas Gerais, na região Sudeste, está muito perto da área desta jurisdição, e tem a ajuda dos equipamentos para que as aeronaves que vão em direção a Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) possam receber cobertura no entorno de 400 quilômetros, ao redor de Três Marias (MG). (NDA).

Logo a seguir, o terreno inclina fortemente para baixo. Veio a longa descida - 5 quilômetros - até alcançar a ponte sobre o Rio Abaeté, um importante afluente do São Francisco. Terminada a travessia [da ponte], forte subida de 5 quilômetros vencida em pouco mais de meia hora.

Às 14h, depois de pedalar 40 quilômetros desde a saída de Três Marias (MG), cheguei ao distrito de Canoeiros. Parada para o almoço. Calor saariano.


Pouco antes das 15h deixei Canoeiros, após delicioso almoço, e pedalei forte por 12 quilômetros para alcançar [pela segunda vez] o distrito de Luizlândia do Oeste, pertencente a São Gonçalo do Abaeté (MG). Estive por ali no dia 13/01/2012, onde pernoitei antes de começar a jornada [no dia 14/01] rumo a Pirapora (MG). Seis dias depois [19/01], estava de volta e agora a caminho de São Gonçalo do Abaeté (MG). 

Atravessei o perímetro urbano. Parada no Posto Pirapatos para [re] hidratação e cheguei ao grande trevo, que marca a intersecção da BR - 040 com a BR - 365. 

Como seguia pela BR - 040 no rumo Norte (Proa 0º), contornei 3/4 do trevo, entrei na BR - 365 e passei a pedalar na proa [ou rumo] 270º, ou seja, oeste. Eram 15h 15.


Pedalava de frente para o Sol, que escorria para o horizonte, mas ainda teria umas 4 horas de luz natural. Com o Horário de Verão em vigor, o Sol se põe por volta das 20h. Sentia a pele ser maçaricada pelos raios solares, principalmente no rosto. Faltavam 41 quilômetros para o trevo de acesso a São Gonçalo do Abaeté (MG).

Seria um trecho percorrido, no máximo, em duas horas. Ledo engano. A BR - 365 estava em péssimo estado de conservação, os buracos eram largos e fundos na pista e no acostamento e os veículos trafegavam em zigue e zague. Por várias vezes eu precisei parar a bike, sair do acostamento e entrar no mato para a passagem de vários autos. Muito tenso. 

Foram 4 horas para percorrer esses 41 quilômetros. Cheguei ao trevo de acesso a São Gonçalo do Abaeté (MG) - 6.252 hab/IBGE 2010 - às 19h 30. Ainda teria uns 11 quilômetros pela MG - 060 até alcançar a área urbana do município. Desisti. Hospedei-me num hotel bem mais ou menos no Posto Caxuxa Veredas, às margens da BR - 365 e em frente ao trevo de acesso à cidade. 

Os 41 quilômetros finais e repletos de buracos foram tensos e desgastantes. Por isso a opção em não entrar na cidade. Jantei no restaurante do posto e fui dormir. Precisava.

20/01/2012 - 11º Dia. 
São Gonçalo do Abaeté (MG) a Patos de Minas (MG)
102 quilômetros.



Noite mal dormida. Hotel mais ou menos. Foi o único dia da jornada em que acordei cedo. Às 7h estava na lanchonete do Posto Caxuxa tomando café. Parti às 7h 30. O dia estava nublado e havia ameaça de chuvas.

Pedalei os 102 quilômetros do dia na esburacada e mal conservada BR - 365. Em 2 horas, percorri parcos 20 quilômetros e cheguei à desconhecida Varjão de Minas (MG) - 6.605 hab/IBGE 2010 -. Pedalar 20 quilômetros em duas horas - média de 10 km/h - foi o resultado da buraqueira na estrada. Pedalava muito devagar. Veículos em zigue zague, mesmo cenário do dia anterior.

Parei no único posto do perímetro urbano de Varjão de Minas (MG), cortado pela BR - 365. Eram 9h 30. O tempo continuava fechado, com jeito de chuva.

Pouco antes das 10h, voltei à lida do pedal. O próximo posto estava 45 quilômetros à frente. As condições da estrada melhoraram a partir de Varjão de Minas (MG). Dividi esse trecho a seguir da seguinte forma: 20 quilômetros e parada para comer rapaduras compradas em São Gonçalo e os 25 quilômetros seguintes, no stop, até o Posto Parati, na área do município de Presidente Olegário (MG).

Fiz os 45 quilômetros em 2 horas. Nada mal. Parei para almoçar. Era meio-dia e a fome "bateu" forte, pois havia tomado café da manhã às 7h. Faltavam 27 quilômetros - ou 1 hora e 1/2 - para chegar a Patos de Minas (MG). Por isso não tive pressa em almoçar e muito menos em voltar à estrada. Àquela hora, o tempo havia aberto o mormaço deixou o ar quente e abafado.

Deixei o Posto Parati às 13h 30. O Sol venceu as nuvens e torrava a pele com força. Nada de chuva.

Às 15h cheguei ao trevo de acesso a Patos de Minas (MG) - 138.836hab/IBGE 2010 -. Pela Avenida JK cheguei ao centro e hospedei-me no Lago Hotel, na Avenida Piauí, próximo à rodoviária e à Lagoa Grande, espaço público muito usado para  caminhadas,  andar de bike, se refrescar do calor infernal que fazia às 16h, ou seja, ponto de recreação da cidade.

À noite jantei no Beira Lago Restaurante e depois curti a química digestiva caminhando ao redor da Lagoa Grande e desfrutando de uma leve brisa que amenizou o calor infernal daquele dia.

 PATOS DE MINAS (MG)

  PATOS DE MINAS (MG)

  PATOS DE MINAS (MG)

  PATOS DE MINAS (MG)

  PATOS DE MINAS (MG)

PATOS DE MINAS (MG). Fotos: https://www.patosemdestaque.com.br/noticias/?n=nJriG2Idum>. Acesso: 05/02/2002.

O pôr do Sol aconteceu pouco depois das 20h (Horário de Verão em vigor). Voltei ao Lago Hotel e cama. Descanso necessário. Hotel razoável. Rua muito barulhenta. Era sexta-feira, dia de balada. Felizmente não viajo sem meus tapadores auriculares à base de silicone. Silêncio garantido.

21/01/2012 - 12º Dia. 
Patos de Minas (MG) a Coromandel (MG)119 quilômetros.

Acordei às 9h. Dormi por 12 horas ininterruptas. Protetores auriculares + cansaço = sono maravilhoso. Fica a dica.

O tempo estava abafado. Às 10h, deixei o Lago Hotel pela Avenida Piauí e, na primeira esquina, virei à direita e ingressei na Avenida Doutor Marcolino, que se transforma em Avenida JK, levando-me à BR - 365.




A próxima cidade pós-Patos de Minas (MG) é Guimarânia (MG), 56 quilômetros à frente. Esse trecho é muito deserto e sem postos de combustíveis. O único ponto de apoio é o Q
uiosque Mineiro, que serve almoço feito em fogão à lenha e preparado em panelas de ferro. O aroma era agradável, mas ainda estava cedo para almoçar. 

Eram 11h 30 e o café da manhã no hotel foi farto e bem servido. Deixei almoço para a cidade de Guimarânia (MG), 28 quilômetros à frente, onde cheguei às 13h. Refeição deliciosa e barata no Auto Posto Beira Rio. O calor continuava em alta e a sensação de abafamento, fruto de um mormaço intenso, reduzia o ânimo em pedalar.

BR - 365. Foto: Fernando Mendes.

Quinze quilômetros à frente do Auto Posto Beira Rio, às 14h,  abandonei a BR - 365 e comecei a pedalar pela Rodovia Estadual MG - 188, caminho para Coromandel (MG), distante 63 quilômetros. A distância, via a nuvem do mau tempo, os cumulonimbusabreviado por Cb. 

Começou a ventar forte, vento contra, sinal inequívoco de que a tempestade vinha em minha direção. Que alívio ao calor e à sensação de abafamento.

Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.



Foto: Fernando Mendes.

O nome cumulunimbus é a combinação das palavras [em latim] cumulusque quer dizer amontoado, e de nimbus, que quer dizer chuva. (NDA)

E choveu forte ao longo de quase todo trajeto até Coromandel (MG) - 27.551/hab - IBGE 2010 -. Chuva abençoada. Esse trecho é marcado por altimetria predominantemente em descenso, saindo dos 1.165m, no início da MG - 188, e terminando em 889m, na chegada a Coromandel (MG). O movimento de carros foi quase nenhum, acostamento estreito e a chuva caindo com força. 


Cheguei ao Coró, maneira como os locais chamam carinhosamente a cidade, às 18h. A chuva havia passado e o calor que se desprendia do asfalto tornava a atmosfera abafada, outra vez. Hospedei-me no Hotel Alemão. Confortável e localizado no centro da cidade, próximo a bares, restaurantes e quiosques que servem lanches. Optei pelo jantar. Espaguete à bolonhesa.

O ponto alto do Hotel Alemão foi o ar condicionado. Mesmo sendo 21h, o calor era forte, apesar da chuva intensa que caiu horas antes. Era sábado, dia de balada. Muita muvuca na rua defronte ao hotel. Donos de carros disputando qual deles tocava a música mais alta, motos com escapamentos abertos e, à medida que o álcool vai fazendo efeito, os sons de conversas e risadas aumentam. Mas meus tapadores auriculares me deixaram longe dessa fuzarca e dormi a noite toda, por 12 horas consecutivas.

22/01/2012 - 13º Dia. 
Coromandel (MG) a Davinópolis (GO)80 quilômetros.

A partir de Coromandel (MG), a Rodovia MG - 188 deixou de ser meu caminho. Na saída, ingressei na Rodovia BR - 352, que me levaria até Davinópolis (GO). Levaria, se a ponte sobre o Rio Paranaíba, que marca a divisa MG/GO, estivesse liberada ao trânsito. 

Ponte da BR-353 que deveria ligar Minas Gerais ao estado de Goiás está inacabada  — Foto: TV Integração/Divulgação


Falta o encabeçamento do lado mineiro. Obra se arrasta há 40 anos.
Gastos passam dos R$ 3 milhões.

Fonte foto: http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2017/03/gastos-com-ponte-inacabada-ha-40-anos-em-mg-passam-de-r-3-milhoes.html Acesso: 05/02/2010.


Depois do café da manhã, voltei para o quarto e vi TV até às 10h. Saí logo a seguir. Deixei o almoço para a cidade de Abadia dos Dourados (MG), 23 quilômetros à frente com altimetria generosa: 90% em descenso. Entrei no perímetro urbano às 11h 12.


Foto: Fernando Mendes.

Foto: Fernando Mendes.

Almocei no Restaurante Nunes e deixei Abadia dos Dourados (MG) - 6.704/hab - IBGE 20180 - ao meio - dia e meia. Sol entre nuvens e o calor não dava trégua. Mormaço das arábias.

Por ocasião do planejamento desta cicloviagem, fiquei sabendo da ponte inacabada. No Restaurante Nunes, o proprietário me informou: "uns 40 quilômetros à frente, entrar numa estrada de chão que te levará até a balsa". Entendido.

Como a BR -352 tem essa ponte inconcluída, à medida que pedalava, o movimento de veículos tornava-se menor. Reinei absoluto no caminho. Passado os 40 km informado a mim durante o almoço, cheguei à entrada da tal "estrada de chão". Aproveitei que um nativo passava pelo local carregando várias varas de pescaria e confirmei se a entrada é ali. Ele disse-me que sim. Fui em frente.

BR - 352. Foto: Fernando Mendes.

BR - 352. Foto: Fernando Mendes.

A água acabou. Por sorte, ao passar por uma propriedade na dita "estrada de chão", pedi à proprietária para fazer o favor de encher as caramanholas com precioso líquido. Ela disse-me para eu me apressar: "moço, a balsa para às 5 horas" [da tarde]. Agradeci e toquei em frente. Eram 16h. Faltava uma hora para o serviço de travessia terminar.


Acesso à balsa. Foto: Fernando Mendes.


Acesso à balsa. Foto: Fernando Mendes.


A estrada em leito natural corta uma área bem plana, é larga e o piso não tem costelas de vaca. Pedalei sem trégua por 18 quilômetros até avistar vários carros em longa fila. Cheguei à balsa. Meu relógio marcava 17h 10. Fui empurrando a bike até à margem do rio. Um ajudante do balseiro disse-me: "enquanto tiver carronóis trabaia". Meno male. A travessia estava garantida.

Travessia Rio Paranaíba. Foto: Fernando Mendes.


Travessia Rio Paranaíba. Foto: Fernando Mendes.


Travessia Rio Paranaíba. Foto: Fernando Mendes.

A balsa é movida a braços. Cabos de aço amarrados entre as margens do rio servem de base para deslocar a embarcação. O estado de conservação é assustador e, mesmo com todas essas características sinistras, vários carros entraram na balsa. Travessia tensa que durou 12 longos minutos. Cheguei do outro lado às 18h. Bem-vindo Estado de Goiás. Minas Gerais ficou para trás. Estava em Davinópolis - 2.133 hab/IBGE 2010-, a cidade que não tem hotel. Por essa eu não esperava.

Num posto de combustíveis, um dos frentistas me informou: "na rua atrás tem uma casa que aluga quarto". Foi lá mesmo. Não havia outra opção. Foi uma noite de terror. Quarto apertado (4m X 2,5m), cama de solteiro, sem ventilador, mosquitos fazendo a festa no sangue do hóspede, carros passando sobre os paralelepípedos da rua e provocando enorme barulho, motos com escapamentos abertos, carros desfilando com som nas alturas. Os tapadores auriculares ajudaram pouco. A janela do quarto fica quase no rés do chão da rua. Noite de terror.


23/01/2012 - 14º Dia. 
Davinópolis (GO) a Campo Alegre (GO)102 quilômetros.


Impossível dormir bem num cenário desses. Tomei café da manhã na Panificadora Pão de Mel.



Optei em seguir pelas Rodovias Estaduais GO - 301 e GO - 506 para conhecer a Ponte dos Carapinas (526 metros de extensão), sobre o Rio São Marcos. Ela [a ponte] foi construída para atravessar a represa ou reservatório que alagou uma área de 218 km². Essa massa líquida movimenta duas turbinas que acionam dois geradores, pondo em funcionamento a Usina Hidrelétrica de Serra do Facão  (UHE ou AHE), com capacidade de gerar 210 megawatts (MW) de energia, o suficiente para atender a uma cidade, do tamanho de Guarulhos (SP), com 1,2 milhão de habitantes.


Ponte dos Carapinas. Foto: Fernando Mendes.

Ponte dos Carapinas. Foto: Fernando Mendes.

Ponte dos Carapinas. Foto: Fernando Mendes.

Ponte dos Carapinas. Foto: Fernando Mendes.

Ponte dos Carapinas. Foto: Fernando Mendes.



Atravessei a Ponte dos Carapinas. O visual do lugar é maravilhoso. Parte da estrada (GO - 506) ficou submersa por ocasião do represamento do Rio São Marcos. Foi construído um contorno [da área alagada], com 12,73 km de extensão, para compensar a parte da rodovia [ GO - 506] que ficou submersa. O trecho novo é espetacular.


Represa UHE Serra do Facão. Foto: Fernando Mendes.

Rodovia GO - 506. Foto: Fernando Mendes.

Rodovia GO - 506. Foto: Fernando Mendes.


Rodovia GO - 506. Foto: Fernando Mendes.

Valeu muito ter feito o desvio pelas Rodovias GO - 309 e GO - 506. Quando a Ponte dos Carapinas foi inaugurada [11/2009] vi a reportagem pela TV e planejei uma ida ao local, assim que fosse possível. No Verão 2012, foi possível.

Cheguei à pequena Pires Belo (GO), distrito de Catalão (GO), localizada às margens da BR -050, que liga Brasilia (DF) a Santos (SP), às 14h. Almocei no Posto Pacheco e, agora pedalando pela BR - 050, rumei para o norte, na direção de Campo Alegre (GO), 40 quilômetros à frente.


Foto: Fernando Mendes.

Cheguei cedo ao Confort Palace Hotel. Eram 15h 30. Estava precisando de banho gelado para arrefecer a temperatura da carcaça. Dormi até às 18h.

À noite fui jantar no Posto Xará, às margens da BR - 050 e comecei a sentir aquele gosto de fim de férias, fim de viagem. Até ali, havia pedalado 1.307 quilômetros. Nem parecia. 

Às 22h, quando fui deitar, a temperatura rondava a casa dos 30ºC. Ainda bem que o ar-condicionado do quarto regulou bem a temperatura e o sono chegou fácil e rápido. Acordei várias vezes para beber água. Sentia-me desidratado.

24/01/2012 - 15º Dia. 
Campo Alegre (GO) a Cristalina (GO)115 quilômetros.


Acordei cedo e, ao sair do quarto para ir ao salão do café da manhã, tive a sensação de entrar numa sauna. Àquela hora [8h] a temperatura, segundo o termômetro digital preso à parede do corredor, era de 28ºC. Haja.

Às 9h 30 saí de Campo Alegre (GO) - 6.057 hab/ IBGE 2010 - pela Avenida São Paulo acessei a BR - 050 e dei início à lida do pedal daquela 3ªf, penúltimo dia de viagem. O calor era abrasador.

Às 11h passei pela Pamonharia Paneira. Muito cedo para almoçar. Deixei para fazê-lo no Restaurante Sonho Verde, 42 quilômetros à frente, que alcancei às 14h. Almocei deliciosa macarronada. Há um hotel anexo ao restaurante. Que vontade de por ali ficar e curtir o ar condicionado do quarto até o dia seguinte. Prevaleceu a disciplina. Voltei ao pedal às 15h.

Os 35 quilômetros restantes para alcançar Cristalina (GO) apresenta uma ascensão generosa, piorada com vento contra. Pedalava e parecia não sair do lugar. Foi penoso esse trecho, mas cheguei a Cristalina (GO) - 46.568 hab/IBGE - 2010 - às 17h 49. 

Hospedagem no Hotel Catavento, às margens da rodovia e, na minha opinião, o melhor da comarca para pernoite. As opções para jantar são ótimas. Cerveja gelada. Ar-condicionado do quarto refrescou deveras o ambiente.

25/01/2012 - 16º Dia. 
Cristalina (GO) a Brasília (DF)133 quilômetros.


Às 9h deixei a cidade dos cristais, almocei no Posto Corujão, 57 quilômetros à frente, ao meio-dia e meia. Passei por Luziânia (GO) - 174.546/hab - IBGE 2010 -, às 14h e cheguei à minha casa, na Asa Norte, às 18h.

Foram maravilhosos 1.463 quilômetros pedalados por lugares inéditos e outros repetidos, mas prazerosos em revê-los.

Brasília (DF), 05/02/2012.










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